Lenin
As exportações de capitais
influenciam no desenvolvimento do capitalismo dos países para onde são
destinadas, acelerando-o extraordinariamente. Se, em consequência disso, a
referida exportação pode, até certo ponto, ocasionar uma estagnação do
desenvolvimento nos países exportadores, isso só pode ter lugar em troca de um
alargamento e de um aprofundamento maiores do desenvolvimento do capitalismo em
todo o mundo.
Os países que exportam
capitais podem quase sempre obter certas "vantagens", cujo caráter
lança luz sobre as particularidades da época do capital financeiro e dos
monopólios. Eis, por exemplo, o que dizia em outubro de 1913 a revista
berlinense Die Bank:
"No mercado
internacional de capitais está a representar-se desde há pouco tempo uma
comédia digna de um Aristófanes. Numerosos Estados, desde a Espanha até aos
Balcãs, desde a Rússia até à Argentina, do Brasil à China, apresentam-se,
aberta ou veladamente, perante os grandes mercados financeiros, solicitando,
por vezes com extraordinária insistência, a concessão de empréstimos. Os mercados
não se encontram atualmente numa situação muito favorável, e as perspectivas
políticas não são animadoras. Mas nenhum dos mercados monetários quer negar o
empréstimo com receio de que o vizinho se adiante, o conceda e, ao mesmo tempo,
obtenha certos serviços em troca desse financiamento. Nas transações
internacionais deste gênero o credor obtém quase sempre algo em proveito
próprio: um favor no tratado de comércio, uma mina de carvão, a construção de
um porto, uma concessão lucrativa ou uma encomenda de armas."
O capital financeiro criou a
época dos monopólios. E os monopólios impõem seus métodos: a utilização das
"relações" para as transações proveitosas substitui a concorrência no
mercado aberto. É muito corrente que entre as cláusulas do empréstimo se
imponha o gasto de uma parte do mesmo na compra de produtos ao país credor, em
especial de armamentos, barcos, etc. A França tem recorrido frequentemente a
este processo no decurso das duas últimas décadas (1890-1910). A exportação de
capitais passa a ser um meio de incrementar a exportação de mercadorias. As
transações têm um caráter tal que, segundo diz Schilder
"delicadamente", "confinam com o suborno". Krupp na
Alemanha, Schneider em França e Armstrong na Inglaterra constituem outros
tantos exemplos de empresas intimamente ligadas com os bancos gigantescos e aos
governos, das quais é difícil "prescindir" ao negociar um empréstimo.
A França, ao mesmo tempo que
concedia empréstimos à Rússia, "impôs-lhe", no tratado de comércio de
16 de Setembro de 1905, certas concessões válidas até 1917: o mesmo se pode dizer
do tratado comercial subscrito em 19 de Agosto de 1911 com o Japão. A guerra
alfandegária entre a Áustria e a Sérvia, que se prolongou, com um intervalo de
sete meses, de 1906 a 1911, foi devida em parte à concorrência entre a Áustria
e a França no fornecimento de material de guerra à Sérvia. Paul Deschanel
declarou no Parlamento, em janeiro de 1912, que entre 1908 e 1911 as firmas
francesas tinham fornecido material de guerra à Sérvia no valor de 45 milhões
de francos.
Num relatório do cônsul
austro-húngaro em São Paulo (Brasil) diz-se: "A construção das ferrovias
brasileiras realiza-se, na sua maior parte, com capitais franceses, belgas,
britânicos e alemães; os referidos países, ao efetuarem-se as operações
financeiras relacionadas com a construção dessas ferrovias, garantem a reserva das
encomendas dos materiais de construção ferroviária."
O capital financeiro estende
assim as suas redes, no sentido literal da palavra, em todos os países do
mundo. Neste aspecto desempenham um papel importante os bancos fundados nas
colônias, bem como as suas sucursais. Os imperialistas alemães olham com inveja
os "velhos" países coloniais que gozam, neste aspecto, de condições
particularmente "vantajosas". A Inglaterra tinha em 1904 um total de
50 bancos coloniais com 2279 sucursais (em 1910 eram 72 bancos com 5449
sucursais); a França tinha 20 com 136 sucursais; a Holanda possuía 16 com 68;
enquanto a Alemanha tinha "apenas" 13 com 70 sucursais. Os
capitalistas americanos invejam por sua vez os ingleses e os alemães: "Na
América do Sul - lamentavam-se em 1915, cinco bancos alemães têm 40 sucursais,
5 ingleses 70 sucursais ... A Inglaterra e a Alemanha, no decurso dos últimos
vinte e cinco anos, investiram na Argentina, no Brasil e no Uruguai um bilhão
de dólares aproximadamente; como resultado disso dominam 46 % de todo o comércio
desses três países."
Os países exportadores de capitais dividiram o mundo entre si, no sentido figurado do termo. Mas o capital financeiro também conduziu à partilha direta do mundo.
Edição: Página 1917
Fonte: O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo, 1916.
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