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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Giap, Memórias Centenárias da Resistência.

O imperialismo e as classes dominantes dos países explorados não são invencíveis, podem ser derrotados política e militarmente, esse foi o legado do General Giap¹, dirigente do Partido Comunista e organizador do  Exército do Povo do Vietnã.

¹ Vo Nguyen Giap (província de Quang Binh, 25 de agosto de 1911 — Hanói, 4 de outubro de 2013.



Ficha Técnica:
Direção: Sílvio Tendler
Fotografia: Paula Damasceno
Montagem: Felipe Vianna
Trilha Sonora Original: Henrique Peters e Vinícius Junqueira4
Produção executiva: Ana Rosa Tendler
Imagens de Arquivo: Estúdios Fílmicos de Hanói
Entrevista de Vo Giap: gravada em Hanói, Vietnam 2003.
Caliban Produções Cinematográficas.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Revolução, um Fantasma que não foi Esconjurado.*

 Florestan Fernandes

   Hobsbawm, em um livro inteligente e provocativo, procurou demonstrar que o drama da Europa consistia na conjunção (ou tradição) de intelectuais revolucionários e uma sociedade que repele a revolução. Durante a leitura senti o historiador, que vivera o pós-bolchevismo, lidando sutilmente com convicções íntimas e a justificação dos erros da União Soviética nas questões internas do partido, dentro de suas fronteiras, e na política internacional de concessões à "guerra fria".



   Nós, no Brasil, nem isso poderíamos fazer. Os nossos partidos de esquerda viram-se forçados a um oportunismo tortuoso, compensado com momentos de exaltação teórica, e só uma vez chegaram à prática, com a experiência da Aliança Nacional Libertadora (ANL), em 1935. Esse "revolucionarismo subjetivo" começou a sofrer retificações, exatamente na época em que ruiu a "guerra fria" e se proclamou o novo credo burguês da "morte do socialismo". Os intelectuais, na maioria, quando desligados da prática preferem salvar a pele, para não sacrificar a consciência... houve um deslocamento nem sempre coerente e encoberto em direção à social democracia, que não seria um mal em si. O mal procedeu na disposição de ceder terreno sem luta e na instrumentalização da social democracia para a condição de mão esquerda da burguesia. Esse processo continua e nos ameaça com a perda das poucas alternativas partidárias de construção de uma sociedade nova.

   Gostaria de tratar do tema como sociólogo. Na PUC, por exemplo, onde passei a lecionar no último trimestre de 1977, deparei com uma oferta rica de cursos. Havia um que focalizava a organização social. Em um ímpeto automático, perguntei por que não havia um curso que tratasse não apenas da mudança social, mas especificamente da revolução social. Aí estariam dados os dois polos: a ordem e a sua reprodução; a ordem e sua transformação radical ou pelo avesso. Meus colegas do curso de pós-graduação, que eram abertos à reflexão crítica, logo endossaram essa complementação necessária.

    De uma perspectiva macrossociológica, a revolução é mais importante que a estabilidade social, vistas como assuntos específicos. Os evolucionistas foram combatidos por causa da predominância de abordagens mecanicistas e positivistas. Não existiria, porém, "evolução social da humanidade" ignorando-se mudanças sociais abruptas, provenientes de invasões, difusão cultural e mudanças sociais que adaptassem a ordem a inovações que conduziam à reforma social e à revolução.

   Se ultrapassássemos os raciocínios circulares, a ordem social não ganharia muito com a obsessão comparativa. Especialmente em sociedades estratificadas, nas quais a ordem social pode conter contradições e tensões mais ou menos violentas em virtude de sua constituição. É um mito postular que os dinamismos reprodutivos são mais importantes que os transformadores. Nessas sociedades, a estabilidade procede do monopólio do poder por uma categoria social, uma casta, um estamento ou uma classe. Como explicaram Marx e Engels em A ideologia alemã, o monopólio do poder e a estabilidade vinculam-se à supremacia ou à dominação predominante.

   Isso não pressupõe, por si só, a existência de tensões e de contradições que exijam algum tipo de mudança social. E a revolução (como a reforma social, de outro ângulo) cria as motivações da rebelião. A dominação de classe, que nos interessa aqui, tende a reforçar a estabilidade e a prolongar a ordem social existente além da capacidade de tolerância e submissão de outras classes ou dos sem-classes, que chegam a uma visão negativa da ordem social e terminam por desejar explodi-la, eliminando a ordem prevalecente e a dominação de classe.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Vocação Subalterna

Ney Nunes

23/11/2020

"A experiência das alianças, dos acordos, dos blocos com o liberalismo social-reformista no Ocidente e com o reformismo liberal (democratas-constitucionalistas) na revolução russa, demonstrou, de maneira convincente, que esses acordos não fazem senão embotar a consciência das massas, não reforçando, mas debilitando o significado real da sua luta, unindo os lutadores aos elementos menos capazes de lutar, aos elementos mais vacilantes e traidores."¹

   É pura perda de tempo esperarmos que indivíduos, partidos, ou classes sociais, impregnados de uma “vocação subalterna”, expressem qualquer proposição que avance além da dependência e da colaboração com propostas e projetos das classes dominantes.

 


   Esse é o caso da pequena burguesia, seja ela proprietária dos meios de produção ou assalariada (vulgarmente denominada classe média). Em todo o desenvolvimento histórico do capitalismo a pequena burguesia nunca pretendeu substituir a classe dominante. Nos períodos de calmaria da luta de classes, quando uma certa estabilidade econômica e política prevalece, a pequena burguesia apresenta-se geralmente atrelada aos partidos da grande burguesia. Já quando esse sistema entra em crise, a luta de classes e a polaridade política agudizam-se, é muito comum ocorrerem embates onde segmentos pequeno-burgueses ficam dilacerados entre a grande burguesia e o proletariado. Nos dois casos, estabilidade ou crise do sistema, não se verifica um projeto de poder independente da pequena burguesia com relação às duas classes fundamentais no capitalismo. 

Os partidos vinculados à pequena burguesia, inclusive os chamados “de esquerda”, sejam eles socialistas ou comunistas, não podem fugir dessa “vocação subalterna”, típica da classe predominante tanto nos seus órgãos dirigentes, como na sua base social. Isso explica o contorcionismo político dos reformistas e revisionistas de todos os matizes. Mesmo quando usam e abusam de uma fraseologia radical, esses embusteiros vulgares não conseguem ocultar suas contradições, porque negam hoje, o que pregavam ontem. Se antes falavam em ruptura, revolução, etc., ao verem-se diante de uma rotineira disputa eleitoral são sugados pela “lógica do capital” que tanto criticavam. Correm como galinhas desesperadas em busca das migalhas, dando respaldo político aos que falam em “governar para todos”, “inclusão social”, “defesa da democracia” e outros enganos do mesmo tipo, quando, na prática, já aplicaram ou se colocam a disposição para gerir os planos de exploração capitalista. 

O partido que tem projeto de poder, um programa socialista, anti-imperialista e revolucionário, não pode, de forma alguma, ficar refém de uma classe social com essa miserável “vocação subalterna”. Para ser digno desse programa e do nome comunista é preciso estar vinculado organicamente ao proletariado, a classe que está no polo oposto da grande burguesia, portanto, aquela que reúne condições de abraçar esse programa e desempenhar um papel dirigente na revolução.

¹ Lenin, em "Marxismo e Revisionismo"

Edição: Página 1917.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Homens Brancos Sem Estudos

Quando a Esquerda Assume o Discurso Neoliberal

Francesc Xavier Ruiz Collantes*


No atual panorama político e ideológico, encontramos o fato de que a direita tem duas posições extremistas. Uma é a posição da direita nacional-nativista ou mesmo nacional-etnista, nesse sentido temos casos como Trump, Bolsonaro, Le Pen, etc. Outra posição extremista é a do neoliberalismo. O liberalismo mudou nas últimas décadas para um liberalismo extremo que busca a extensão da lógica do mercado, controlada pelas elites, em todas as esferas da vida política e social e a substituição da sociedade e do Estado pelo mercado global. 

Na ausência da esquerda no palco do debate, a disputa política e ideológica está se estabelecendo entre as duas posições extremas da direita. A esquerda dos países ocidentais e desenvolvidos parece ter identificado o nacional-nativismo como seu principal inimigo e, nessa situação, começou a assimilar o discurso do neoliberalismo em alguns aspectos fundamentais. Se trata de um passo a mais no caminho do seu desaparecimento como alternativa.

Biden e Harris, o neoliberalismo ditando o discurso da esquerda pós-moderna.


Temos visto como, diante da disputa entre o nacional-nativismo e o neoliberalismo nas últimas eleições presidenciais norte-americanas, a esquerda internacional optou pelos representantes do neoliberalismo, Biden e Harris. É bem possível que em alguns casos fosse para apoiar o "mal menor", mas nesta operação foi assumido o discurso próprio daquele que se considera "mal menor". 

A atribuição de um discurso político ou social a uma determinada ideologia baseia-se em algumas características fundamentais desse discurso. Por exemplo: quais personagens, individuais ou coletivos, aparecem; quais funções cada um desses personagens desempenha; quais valores sustentam a estrutura do discurso, seu desenvolvimento e suas conclusões, como esses valores são compreendidos, etc.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Sobre os sujeitos emergentes:

 A validade do caráter revolucionário da classe trabalhadora e de seu partido de vanguarda.

Diego Torres*

O papel da classe trabalhadora

Desde sua criação, o socialismo científico se distingue de outras teorias ao identificar na sociedade existente uma força social destinada a destruir o capitalismo e edificar uma nova sociedade. Essa força social é a classe trabalhadora. Desde os primeiros trabalhos marxistas, desde os primeiros manuscritos, como por exemplo, A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, O Manifesto Comunista ou Os Princípios do Comunismo, “o principal elemento da doutrina de Marx e Engels foi a clarificação do papel histórico do proletariado como o criador da sociedade socialista” [1].

Manifestação operária na França.

Marx e Engels basearam suas proposições em uma profunda análise da economia capitalista. Quais são as condições, características e qualidades da classe trabalhadora para ser destinada a cumprir esse papel?

Em primeiro lugar, é a classe mais explorada na sociedade capitalista. Suas condições de vida são determinadas pelo fato de que sua existência, prazeres e pesares, vida e morte, dependem exclusivamente da venda de sua força de trabalho a um capitalista e das condições desta venda, dadas por flutuações de mercado. Essas condições de vida, esse interesse vital, os levam a lutar constantemente até a morte contra a classe capitalista, e torna o proletariado o adversário mais consequente e firme do sistema capitalista.

Isso não é puramente uma observação empírica; é baseada na descoberta da teoria do mais-valor, que permanece completamente válida. A presente crise capitalista de superprodução e superacumulação vieram para destruir as últimas ilusões daqueles que pensam que na economia a esfera da circulação poderia se desenvolver independentemente da esfera da produção e das leis que a governam.

Em segundo lugar, a classe trabalhadora está ligada ao desenvolvimento das forças produtivas. Enquanto trabalhadores, não estão ligados ao passado da produção, com os remanescentes de antigos sistemas de produção, mas sim com o desenvolvimento e o futuro da produção.

Isso significa, contra muitas avaliações, que o desenvolvimento material do capitalismo, a grande indústria, não ameaça a existência do proletariado enquanto uma classe, não destrói suas posições na sociedade; na verdade, esse desenvolvimento impele o crescimento numérico dos trabalhadores e aumenta seu papel na vida social.

É metodologicamente inconsistente tomar um período curto de tempo para avaliar o desaparecimento do proletariado. A lei da proletarização da população mostra seu impressionante alcance quando nós analisamos o capitalismo como um todo. Por exemplo, em meados do século XIX nos EUA, a classe trabalhadora, trabalhadores e suas famílias, constituíam menos de 6% da população. Na Alemanha, não passavam de 3%. Em meados do século XX, essa cifra havia crescido para metade da população em ambos os casos. Hoje em dia, de acordo com a OIT, em escala global, a classe dos trabalhadores que não possuem meios de produção e que vendem sua força de trabalho em troca de um salário tem oscilado em torno de 65% da população desde os anos 1980.

Isso significa que os interesses e aspirações da classe trabalhadora coincidem com a orientação geral do desenvolvimento das forças produtivas. O nível de desenvolvimento atingido pelas forças produtivas requer a supressão da propriedade privada dos meios de produção. Na verdade, isso é anunciado pela supressão relativa da propriedade privada sobre meios concentrados e centralizados, mesmo sob o capitalismo, com o crescimento das sociedades anônimas e monopólios [2]. Desprovida de toda a propriedade privada sobre os meios de produção, a classe trabalhadora não pode ter grande estima por ela. Na verdade, a propriedade privada dos meios de produção é a base para a exploração do trabalhador pelo capitalista, motivo pelo qual a sua supressão e substituição pela propriedade social é a única forma que a classe trabalhadora tem para se emancipar.

O fato de que, apesar disso tudo, a classe trabalhadora conta com qualidades, derivadas de sua posição na produção, consideradas indispensáveis para o trabalho revolucionário, não escapou aos mestres do socialismo científico.

Por exemplo, nós já falamos sobre seu crescimento numérico constante, “o movimento proletário” – disseram Marx e Engels no Manifesto Comunista – “é o movimento independente da grande maioria pelo interesse da grande maioria”.

Não se trata, no entanto, apenas do aspecto quantitativo, mas também da agência da própria burguesia que ao concentrar os meios de produção, junta milhares de trabalhadores sob os tetos das fábricas, normalmente situadas em polos da concentração de capital, ou seja, nas grandes cidades. Assim, o proletariado supera a dispersão e a isolação. Conforme problemas de ordem subjetiva são superados e o nível de consciência de classe aumenta, os trabalhadores podem se unir e se organizar melhor do que qualquer outra classe.

Essa concentração da classe trabalhadora é independente de certos processos temporais. Pode haver períodos de tempo e países em que uma seção dos capitalistas opta por descentralizar ou seccionar o processo produtivo. Essa opção obedece, geralmente às condições em que é conveniente para capturar mais mais-valor ou dispersar temporariamente a classe trabalhadora e dificultar sua organização, quando o sacrifício é considerado necessário. De toda forma, essa opção é revertida após algum tempo, e o processo geral mostra que a tendência do capital aponta para a concentração. Isso é comprovado pelo crescimento ininterrupto dos monopólios, pelo fato que uma grande porcentagem da classe trabalhadora trabalha diretamente para eles e o seu reflexo no crescimento ininterrupto das concentrações urbanas.

Além disso, a classe trabalhadora é a classe mais capaz, por meio de suas próprias condições, de se organizar. O trabalho nas grandes empresas acostuma o trabalhador ao espírito do coletivismo, de disciplina severa, a ações conjuntas e à solidariedade. Por exemplo, Engels fala sobre sua rigorosa disciplina, adjetivada como militar, em A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, e Lenin sublinha em seus Cadernos sobre o Imperialismo como o capitalista acostuma a classe trabalhadora a uma extraordinária precisão em cada movimento. E tudo isso antes da vigilância e controle que as novas tecnologias de informação e telecomunicações permitiram!

De todas as classes oprimidas, a classe trabalhadora é a mais capaz de desenvolver sua consciência e aceitar uma ideologia científica. O avanço da indústria demandou mais e mais trabalhadores educados. A manipulação de máquinas complexas e valiosas que sustentam a produção hoje demanda um alto grau de preparação científica e um nível cultural muito maior do que formações econômicas precedentes.

Essa é a soma de todas as condições históricas e econômicas que tornam a classe trabalhadora a classe mais militante e revolucionária da sociedade. Essas condições históricas e econômicas mantém sua força nos dias de hoje.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Sobre a "Declaração de La Paz" e a Poeira Socialdemocrata nos Olhos do Povo.

   

   Há poucos dias, por ocasião da posse do novo presidente da Bolívia, Luis Arce, foi divulgada a chamada "Declaração de La Paz", um texto assinado por "personalidades de esquerda" e "lideranças progressistas" de 11 países. Entre as assinaturas está a de Alexis Tsipras, presidente do socialdemocrata SYRIZA, cujo governo administrou o capitalismo na Grécia durante o período 2015-2019. A bárbara política antipopular contra o povo grego, o desmantelamento dos direitos populares dos trabalhadores, a repressão das lutas populares, a defraudação de expectativas que o SYRIZA fomentou nas camadas populares, levaram o partido de direita, o ND, para o governo. O governo de "direita" encontrou uma "estrada pavimentada" pelo governo de "esquerda" de SYRIZA, tanto para a continuação da política antipopular nos assuntos internos, como na política externa. O SYRIZA esteve encarregado de desenvolver relações estreitas com o governo de Donald Trump, através de um "acordo estratégico com os EUA", elaborado pelo seu governo e ratificado pelo ND, que prevê a multiplicação e expansão das bases militares da US-NATO na Grécia, etc.

Posse de Arce na Bolívia: a socialdemocracia gerindo a crise capitalista.


   Claro, entre os signatários também estão outros representantes da velha e da nova socialdemocracia, que foram testados na gestão do capitalismo contra os povos, como José Luis Zapatero (socialdemocrata, ex-primeiro ministro da Espanha), Dilma Russef (socialdemocrata, ex-Presidente do Brasil), Rafael Correa (ex-presidente do Equador e um dos representantes do chamado “Socialismo do século XXI), Pablo Iglesias (do“ Podemos ”, hoje ministro na Espanha), além de oportunistas politicamente falidos como Jean-Luc Mélenchon (de "França Insubordinada").

   O próprio texto nada mais é do que um manifesto de absolvição do sistema capitalista. Distorce o caráter da crise capitalista, afirmando que sua causa é a Covid-19, culpa exclusivamente a versão neoliberal de sua gestão pelo fracasso absoluto de todos os governos burgueses em enfrentar a pandemia, exalta a democracia burguesa e condena o extrema direita, entre outras coisas, celebrando indiretamente a eleição de Biden nos Estados Unidos ...  

   O exposto, embora não tenha sido uma surpresa, é pelo menos uma provocação, quando por exemplo vemos a assinatura do presidente do SYRIZA, cujo governo degradou ainda mais o sistema de saúde pública na Grécia, não abriu nenhum dos hospitais que fecharam em 2013, reduziu ainda mais o orçamento do estado para a Saúde, reduziu o número de médicos, enfermeiros e leitos de UTI. Alexis Tsipras, que comemora a derrota de Trump, a quem qualificou de "diabolicamente bom", participando de todos os planos dos EUA-OTAN em nossa região. Com a assinatura deTsipras veio o Acordo de Prespa para a expansão da OTAN criminosa nos Balcãs. Durante o governo do SYRIZA, a polícia reprimiu a manifestação da PAME e o movimento popular que protestava contra o tratado grego-americano. O SYRIZA, que na "Declaração de PAZ" supostamente se preocupa com a extrema direita, governou por 5 anos junto com o partido de extrema direita, ANEL. E estes são apenas alguns exemplos indicativos de uma lista muito longa ...

   Este tipo de declarações pretendem mais uma vez lançar poeira nos olhos dos povos, pelo papel e responsabilidades de todos os tipos de administradores de "esquerda" da barbárie capitalista. Por mais que as forças da socialdemocracia, como o SYRIZA, tentem voltar a se apresentar como forças "pró-povo" e "progressistas", há muitas provas e muita experiência. Eles foram registrados para sempre pelo povo grego e outros povos como forças antipopulares que serviram plenamente aos interesses do capital, dos monopólios e dos imperialistas.

Publicado no jornal “Rizospastis” do KKE (Partido Comunista da Grécia), em 14/11/2020.

Fonte: https://inter.kke.gr/es/articles/Sobre-la-Declaracion-de-La-Paz-y-el-polvo-socialdemocrata-en-los-ojos-de-los-pueblos/

Edição: Página 1917.

 

 

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Os 103 Anos da Revolução Socialista de Outubro

    Comemoramos 103 anos da Grande Revolução Socialista de Outubro; a 7 de novembro de 1917 (25 de outubro no velho calendário), o triunfo da classe trabalhadora mundial sobre a burguesia e o capitalismo, o acontecimento histórico que marcou o caminho para a emancipação dos explorados e a construção do novo mundo, socialismo-comunismo. O Partido Comunista do México celebra esta data com reflexão e estudo, mas acima de tudo, com lutas, ações militantes e práticas cotidianas que materializam o objetivo histórico da Revolução Socialista. Por isso, o PCM aponta algumas de suas posições a respeito da vasta experiência teórica e prática que a Grande Revolução Socialista de Outubro legou aos revolucionários e à classe trabalhadora de todo o mundo.



Época do imperialismo e das revoluções proletárias

       A Grande Revolução Socialista de Outubro confirmou que vivemos a época do imperialismo, a última fase do capitalismo que traz consigo as contradições objetivas e materiais necessárias a uma época de revoluções socialistas. Vladimir Ilyich Lenin, o grande líder bolchevique, que continuou a obra do comunismo científico de K. Marx e F. Engels, comprovou na prática histórica que o capitalismo é regido por leis internas de desenvolvimento que, ao atingir seu limite de concentração de capital torna-se decadente, o limiar da Revolução Proletária. O livre mercado ou livre competição não é mais a característica essencial do capitalismo, mas monopólio; a fusão do capital bancário com o capital industrial dá origem ao capital financeiro, à oligarquia financeira, parasitário e especulativo que submete todas as instituições políticas e jurídicas ao seu poder econômico; a predominância da exportação de capital sobre a exportação de mercadorias, o acúmulo de capital em poucas mãos gera a incursão do capital em todos os ramos de produção dos países atrasados ​​para subjugá-los.  Assim, os grandes monopólios dividem o mundo, seus recursos naturais e matérias-primas até formarem blocos imperialistas; a guerra constante como resultado da divisão do mundo na luta sem fim para subir na hierarquia da cadeia de dominação imperialista. As relações de propriedade privada sobre os meios de produção, acumulação e centralização, o domínio do capital sobre o trabalho, tornam-se um freio ao progresso social. A Revolução Socialista de Outubro foi, entre outros fatores, o resultado de uma primeira guerra imperialista mundial pela divisão do mundo, transformada em uma guerra civil de classes sociais. Lenin confirmou com o triunfo da Revolução Socialista de outubro de 1917 que a luta é nacional na forma, mas internacional no conteúdo, que a fase imperialista do capitalismo é o prelúdio das revoluções socialistas. 

O Partido de novo tipo

     A Grande Revolução Socialista de Outubro demonstrou que as revoluções não surgem espontaneamente, mas são organizadas, como afirmou Lenin. Não basta apontar as condições materiais objetivas, os limites históricos do capitalismo e esperar que ele caia. O fator subjetivo, a consciência de fora do movimento operário, o papel da organização revolucionária, a vanguarda política fundida com as ideias avançadas do marxismo-leninismo é um elemento histórico essencial para o triunfo da Revolução Socialista. O partido de um novo tipo, a organização das organizações, exemplificada pelo partido bolchevique, mostra que somente através de uma única disciplina, com unidade programática e ideológica nos princípios do marxismo-leninismo, a revolução é possível. A necessidade de quadros políticos profissionais a tempo inteiro, cuja única tarefa é fazer a revolução, são elementos essenciais para avançar rumo ao objetivo histórico. O caráter conspiratório da organização, como premissa necessária para enfrentar a máquina repressiva do Estado burguês. O cérebro coletivo, o Estado-Maior do proletariado como classe que dialeticamente combina o sentido democrático e centralizado de acordo com a realidade concreta, são apenas algumas das conclusões deixadas pela Grande Revolução Socialista de Outubro. 

A classe operária como sujeito revolucionário

     A classe trabalhadora é e continua a ser a classe social mais revolucionária quando toma consciência de seu papel histórico. Única classe social que gera valor com a exploração de seu trabalho, aquela que por sua condição de produção social é a geradora de capital, a única que corporifica todas as contradições históricas das classes exploradas e oprimidas da sociedade moderna. Os escravos assalariados, excluídos da participação política da democracia representativa burguesa, na verdade, ao formar sindicatos, organizações e seu partido político, eles se tornam o embrião do novo estado proletário. O poder operário nasce, se exerce e se expande a partir dos centros de produção, como demonstra o surgimento dos Soviets, formas superiores de organização da democracia operária. O fato histórico de que os trabalhadores conscientes não só têm o poder de produzir, mas de destruir a velha máquina burocrática e parasitária burguesa por uma nova, de natureza executiva e decisiva. A ditadura do proletariado como premissa essencial para a eliminação das classes sociais, a construção do socialismo-comunismo; ditadura para a burguesia, democracia para os trabalhadores. 

A arte da insurreição

     A Revolução Socialista como culminação de um processo histórico de combinação de todas as formas de luta da classe trabalhadora em determinados momentos. A insurreição de outubro de 1917 na Rússia mostrou que é a forma mais elevada de luta de classes, que surge da união embrionária e lutas econômicas, por melhores salários; para ser transformada em ações políticas da classe trabalhadora como um todo em formas pacíficas, parlamentares, extraparlamentares, massivas, militares e violentas. A violência revolucionária como fator indispensável das classes exploradas para conseguir sua emancipação. As mudanças profundas das sociedades e seus modos de produção não são alcançadas com reformas políticas, etapas ou métodos pacíficos; o caráter de dominação de uma classe sobre outra é violento, um fato objetivo. A insurreição e a violência organizada, contrária aos métodos caudilhistas e de indivíduos isolados; por ações violentas organizadas com ampla participação da classe trabalhadora como um todo, maturidade e consciência de que a revolução, como dizia F. Engels, é “a coisa autoritária que existe; o ato pelo qual uma parte da sociedade impõe sua vontade à outra por meio de fuzis, baionetas e canhões ”. Tese comprovada na Revolução de Outubro e na história da humanidade e da luta de classes. O ato pelo qual uma parte da sociedade impõe sua vontade à outra por meio de fuzis, baionetas e canhões ”. Tese comprovada na Revolução de Outubro e na história da humanidade e da luta de classes.

Socialismo-comunismo como alternativa

     A Grande Revolução Socialista de Outubro demonstrou que uma sociedade diferente do capitalismo é possível, o socialismo-comunismo. Que das entranhas do velho e arcaico modo de produção capitalista, o novo emerge; um modo de sociedade baseado na propriedade coletiva dos meios de produção, com relações sociais livres da exploração do homem pelo homem, livres da anarquia do mercado, pelo planejamento econômico com certeza de subsistência, livre de ignorâncias metafísicas e para o equilíbrio científico entre o homem e a natureza. O socialismo, estado superior de progresso humano iniciado com a Revolução de Outubro de 1917, mostrou que é possível resolver os grandes problemas da humanidade como a alimentação, a habitação, a saúde, a educação, o desemprego, as guerras, o desenvolvimento da a ciência, tecnologia, espaço exterior, arte e cultura. Problemas que em séculos e até hoje, no capitalismo não puderam ser resolvidos, devido à sua essência contraditória a favor do lucro e da criação de capital acima de tudo. A Revolução Socialista de Outubro é um piscar de olhos na linha do tempo da história humana. Uma experiência histórica revolucionária e abundante, necessária e vigente apesar do revés que representou a contrarrevolução no bloco socialista. Uma experiência que deve ser estudada desde suas bases materiais e objetivas, longe de falácias subjetivas e preconceituosas, baseadas em crenças moralizantes de elaboradas versões de canetas anticomunistas e contrarrevolucionárias.

No marco do 103º aniversário da Revolução Socialista de Outubro, o PCM convida os elementos mais conscientes da classe trabalhadora a se juntarem às fileiras do partido, a lutar de forma decidida, permanente e com uma estratégia de poder bem definida pelo poder operário, pelo socialismo-comunismo. Hoje, mais do que nunca, quando a confusão ideológica prevalece e o capitalismo busca sempre e sempre recompor sua crise endêmica através da demagogia, por meio de gestões socialdemocratas afinadas com o poder dos monopólios. Hoje, mais do que nunca, é uma necessidade histórica estudar o Marxismo-Leninismo e a Revolução Socialista de Outubro, fortalecer as fileiras do Partido Comunista, organizar, preparar e lutar, até alcançar as vitórias das revoluções proletárias do século XXI. 

No meio da pandemia Covid-19, quando o capital mostra mais uma vez que é incompatível com a existência da raça humana, a Grande Revolução Socialista de Outubro indica a direção, o Norte, pelo qual o proletariado deverá avançar para cumprir sua tarefa histórica. 

Proletários de todos os países, uni-vos! 

O Comitê Central do Partido Comunista do México

Edição: Página 1917.

 

 

Marxismo e Reformismo*

     Há  107 anos  Lenin  apontava  nesse  artigo o  quanto   é   nefasta  a  influência  do reformismo sobre  a classe  trabalhadora  e sua  ajuda na extensão da dominação burguesa. Mas,  ainda  hoje,   depois  de  um  século  da   mais  completa  integração das correntes reformistas ao capitalismo, vemos ardilosos politiqueiros, autointitulados procuradores de Lenin na Terra, pregando e praticando a mais abjeta subordinação à velha socialdemocracia e suas versões pósmodernas.

   

Lenin

12 Setembro de 1913

     Os marxistas, diferentemente dos anarquistas, reconhecem a luta por reformas, isto é, por melhorias na situação dos trabalhadores que deixam como antes o poder nas mãos da classe dominante. Mas, ao mesmo tempo, os marxistas travam a luta mais enérgica contra os reformistas, que direta ou indiretamente limitam as aspirações e a atividade da classe operária às reformas. O reformismo é um logro burguês dos operários, que permanecerão sempre escravos assalariados, apesar de determinadas melhorias, enquanto existir a dominação do capital. 



     A burguesia liberal, dando reformas com uma das mãos, retira-as sempre com a outra, redu-las a nada, utiliza-as para subjugar os operários, para os dividir em diversos grupos, para perpetuar a escravidão assalariada dos trabalhadores. Por isso o reformismo, mesmo quando é inteiramente sincero, transforma-se de fato num instrumento de corrupção burguesa e enfraquecimento dos operários.¹ A experiência de todos os países mostra que, confiando nos reformistas, os operários foram sempre enganados. 

   Pelo contrário, se os operários assimilaram a doutrina de Marx, isto é, tomaram consciência da inevitabilidade da escravidão assalariada enquanto se conservar a dominação do capital, então não se deixarão enganar por nenhumas reformas burguesas. Compreendendo que, conservando-se o capitalismo, as reformas não podem ser nem sólidas nem sérias, os operários lutam por melhorias e utilizam as melhorias para continuarem uma luta mais tenaz contra a escravidão assalariada. Os reformistas procuram dividir e enganar os operários com esmolas, afastá-los da sua luta de classe. Os operários, conscientes da falsidade do reformismo, utilizam as reformas para desenvolver e alargar a sua luta de classe. 

     Quanto mais forte é a influência dos reformistas sobre os operários tanto mais fracos são os operários, tanto mais dependentes da burguesia, tanto mais fácil é para a burguesia reduzir as reformas a nada por meio de diversos subterfúgios. Quanto mais independente e profundo, quanto mais amplo pelos seus objetivos for o movimento operário, quanto mais livre ele for da estreiteza do reformismo, tanto melhor os operários conseguirão consolidar e utilizar as melhorias isoladas.

*Trecho do artigo "Marxismo e Reformismo"

Edição: Página 1917.


sábado, 7 de novembro de 2020

Revolução de Outubro: Patrimônio dos Trabalhadores do Mundo!*

   O Sete de Novembro é um marco histórico na luta dos trabalhadores contra a exploração capitalista. A revolução socialista triunfou há 103 anos na Rússia derrotando liberais, reacionários e reformistas, eternos serviçais da burguesia. Abaixo reproduzimos o comunicado de Lenin, já como Presidente do Conselho dos Comissários do Povo, conclamando operários, soldados e camponeses a redobrar a mobilização e o enfrentamento aos burgueses e seus lacaios: “Prendei e entregai ao tribunal revolucionário do povo todos os que ousem prejudicar a causa popular, quer esse prejuízo se manifeste na sabotagem (deterioração, travamento, subversão) da produção”.


Camaradas operários, soldados, camponeses, todos os trabalhadores!

Lenin

A revolução operária e camponesa venceu definitivamente em Petrogrado, dispersando e prendendo os últimos restos do reduzido número de cossacos enganados por Kérenski. A revolução venceu também em Moscou. Antes de ali terem chegado alguns comboios com forças militares vindos de Petrogrado, em Moscou os cadetes e outros kornilovistas assinaram as condições de paz, o desarmamento dos cadetes e a dissolução do Comitê de Salvação. 

Petrogrado 1917, a revolução derrotou reformistas e reacionários.


Da frente e das aldeias chegam todos os dias e a todas as horas notícias de que a maioria esmagadora dos soldados nas trincheiras e dos camponeses nos uezd apoia o novo governo e as suas leis sobre a proposta da paz e a entrega imediata da terra aos camponeses. A vitória da revolução dos operários e dos camponeses está assegurada, pois a maioria do povo já se ergueu a seu favor. 

É completamente compreensível que os latifundiários e os capitalistas, os altos empregados e funcionários, estreitamente ligados à burguesia, numa palavra, todos os ricos e todos os que estão com os ricos, acolham hostilmente a nova revolução, se oponham à sua vitória, ameacem paralisar a atividade dos bancos, sabotem ou paralisem o trabalho de diferentes instituições, o obstaculizem por todos os meios, o entravem direta ou indiretamente. Todo o operário consciente compreendeu perfeitamente que encontraríamos inevitavelmente tal resistência, toda a imprensa partidária dos bolcheviques o assinalou muitas vezes. As classes trabalhadoras não se assustarão um só instante com essa resistência, nem cederão minimamente perante as ameaças e as greves dos partidários da burguesia. 

A maioria do povo está por nós. A maioria dos trabalhadores e dos oprimidos de todo o mundo está por nós. A nossa causa é a causa da justiça. A nossa vitória está assegurada. 

A resistência dos capitalistas e dos altos empregados será quebrada. Nenhuma pessoa será privada por nós dos seus bens sem uma lei especial do Estado sobre a nacionalização dos bancos e dos consórcios. Esta lei está a ser preparada. Nenhum trabalhador perderá um só copeque; pelo contrário, ser-lhe-á prestada ajuda. O governo não quer introduzir quaisquer outras medidas que não sejam o mais rigoroso registo e controle, que não seja a cobrança sem ocultação dos impostos anteriormente estabelecidos. 

Em nome destas justas reivindicações, a imensa maioria do povo uniu-se em torno do governo provisório operário e camponês. 

Camaradas trabalhadores! Lembrai-vos que vós próprios dirigis agora o Estado. Ninguém vos ajudará se vós próprios não vos unirdes e não tomardes nas vossas mãos todos os assuntos do Estado. Os vossos Sovietes são a partir de agora órgãos do poder de Estado, órgãos plenipotenciários e decisivos. 

Uni-vos em torno dos vossos Sovietes. Reforçai-os. Lançai mãos à obra na base, sem esperar por ninguém. Estabelecei a mais rigorosa ordem revolucionária, esmagai implacavelmente tentativas de anarquia por parte de bêbados, arruaceiros, cadetes, contra-revolucionários, kornilovistas e outros semelhantes. 

Introduzi o mais rigoroso controlo da produção e do registo dos produtos. Prendei e entregai ao tribunal revolucionário do povo todos os que ousem prejudicar a causa popular, quer esse prejuízo se manifeste na sabotagem (deterioração, travamento, subversão) da produção ou na ocultação de reservas de cereais e de víveres, quer na retenção de carregamentos de cereais ou na desorganização dos caminhos-de-ferro, dos correios, telégrafos e telefones ou em geral em qualquer resistência à grande causa da paz, à causa da entrega da terra aos camponeses, à causa da aplicação do controlo operário sobre a produção e a distribuição dos produtos. 

Camaradas operários, soldados, camponeses e todos os trabalhadores! Ponde todo o poder nas mãos dos vossos Sovietes. Guardai, protegei como as meninas dos olhos, a terra, os cereais, as fábricas, os instrumentos, os produtos, os transportes — tudo isto será desde agora inteiramente vosso, patrimônio de todo o povo. Gradualmente, com o acordo e a aprovação da maioria dos camponeses, na base da experiência prática deles e dos operários, marcharemos firme e tenazmente para a vitória do socialismo, que os operários avançados dos países mais civilizados consolidarão e que dará aos povos uma paz duradoura e os libertará de todo o jugo e de toda a exploração.

19 de Novembro de 1917. 

O Presidente do Conselho de Comissários do Povo

 V. Uliánov (Lenin)

Edição: Página 1917.

*A Revolução bolchevique de Outubro (26 de Outubro, de acordo com o calendário juliano) teve início em 7 de Novembro de 1917 (no atual calendário gregoriano).


terça-feira, 3 de novembro de 2020

"Acompanhando as Massas Peronistas" (Ao abismo)

 Leandro Gamarra

   Ao presidente Alberto Fernández já não pedimos que exproprie Vicentín¹ ou institua o imposto sobre a fortuna por decreto.

Repressão para expulsar famílias sem teto em Guernica.


   O que pedimos a você neste momento do jogo é que pelo menos controle o preço de um quilo de limões, ou de uma dúzia de ovos, cada vez mais fora do alcance do bolso do trabalhador. 

   Não é uma piada. Porque se analisarmos em profundidade neste contexto de pandemia global causada por um vírus, é um verdadeiro absurdo que um assalariado não possa garantir algo tão básico quanto a possibilidade de incorporar uma boa dose de vitamina C e de proteínas em seu metabolismo e no de seus filhos através dos alimentos que ele produz. Principalmente em um país onde o solo produziu, só em 2019, 134 milhões de toneladas de cereais e oleaginosas a um valor de mercado, incluindo subprodutos de 33.962 milhões de dólares. As dores são nossas, as commodities dos outros ...

   Mas caramba, o que vamos pedir a um governo que, sem a menor vocação para deter as mãos do grande capital, deixou o destino de milhões de trabalhadores, em sua maioria precários e sem cobertura de saúde, forçados aos caprichos do deus do mercado, enfrentarem diariamente a possibilidade de contágio em troca de um salário que não dá para nada, ou de um miserável bico.

   Porque não é mais o vírus. Digamos de uma vez por todas, Alberto Fernández não consegue mais parar nem um táxi.

   Não somos astrólogos nem iluminados, bastava raciocinar com instinto e consciência de classe para anteciparmos há pouco mais de um ano, quando avisamos aos nossos e aos demais que este seria um governo de ajuste e repressão. Não é preciso ser um gênio para saber como pode se desenvolver o bloco bonapartista do esquema republicano burguês, neste caso representado pela ménage troi Alberto-Cristina-Massa, quando quem o precede na administração do Estado não deixa nem um tostão para fazer política, ou para criar a ilusão populista de uma suposta redistribuição de riqueza. Não senhores. Quando não há mais soja a 600 dólares a tonelada, ou quando o capitalismo global ainda tenta se recuperar da crise de 2008 (mais a crise que está por vir), o populismo, como sempre aconteceu na história, tira a máscara, mostra os dentes de classe e sua pouca propensão a reduzir a renda dos mais ricos.

   Nesse panorama de devastação, no dia 29 de outubro, ocorreram dois fatos, um notório, o outro nem tanto, que definem de forma categórica a política antipopular dessa continuidade Macrista denominada “Frente de todos”.

   Por trás dos fatos sinistros da triste manhã de Guernica, onde as forças repressivas a mando da patética dupla Kicillof-Berni espancaram e, inclusive balearam mulheres, crianças e homens desarmados (fato que foi festejado pelo próprio Eduardo Feinmann no seu programa de rádio), foi divulgada na área financeira a notícia de que os títulos da dívida argentina já estão sendo negociados como antes da última troca. Traduzido para quem acertadamente sente que os movimentos das finanças são um hieróglifo: após o anúncio com grande alarde da última troca com redução de juros, em pouco menos de 4 meses a Argentina se vê novamente diante da possibilidade de um calote, isto é, às portas de uma nova troca de títulos de dívida. Sem contar as duras medidas que estão negociando nas sombras com a “muito sensível diretora do FMI, porque viveu quando criança a pobreza de um país comunista” – segundo as palavras do atual presidente.

   Até o economista burguês Julián Yosovitch explica: “Quando o título é avaliado em sua paridade, o que começamos a fazer é determinar quanto valerá o novo título a ser entregue em troca como resultado do processo de reestruturação, ou o que este bônus permitirá que você recupere após a reestruturação. Ou seja, se trada de um valor de recuperação no qual o mercado especula quanto valerá cada um desses títulos quando não sirvam para outra coisa, mas para serem trocados pelos novos títulos que serão entregues em reestruturação da dívida ".

   É que além das proclamações e slogans nac & pop, quem sabe melhor do que ninguém que a dívida argentina é impagável são os mesmos usurários. E para isso contam com governos como este, ou o de Macri, que arbitram o tempo todo a favor dos seus interesses, seja emitindo e endividando internamente o Estados, seja pedindo socorro aos organismos financeiros internacionais quando já não houver mais um único peso para financiar a administração do Estado burguês. Sempre desenhando esquemas de reestruturação permanente que nada mais fazem do que aperfeiçoar o sistema de Dívida Perpétua instalado por sangue, fogo, tortura e desaparecimentos pela ditadura há quase 45 anos. Essa é a verdade. Todo o resto é papelão pintado. Ou colocado de uma forma mais marxista, essa é a realidade efetiva que se oculta por trás das aparências e as supostas “boas intenções” do bonapartismo.

   Continuar sustentando o contrário, tratando de disfarçar o que aos olhos de todo o planeta é uma nova demonstração das limitações do sistema político do capitalismo para resolver os problemas fundamentais dos trabalhadores, é seguir ajoelhando a militância diante do fato irreversível de um fracasso histórico sem precedentes. Fique claro, os dirigentes que conduziram o PC a formar parte de um governo que ajusta, reprime e assassina, são e serão os únicos responsáveis.

Notas do editor:

¹ Conglomerado agropecuário argentino que possui cerca de 25 empresas, principal cerealífera do país, está em processo de quebra e sob investigação judicial por fraude em empréstimos e fuga de capitais.

Edição e tradução: Página 1917.

Fonte: https://revistacentenario.com/acompanando-a-las-masas-peronistas-al-abismo/

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