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sexta-feira, 29 de março de 2024

Cúmplice do Genocídio: Quem deu a Israel a arma do crime?

Ramzy Baroud*

 

"Embora muitos dos aliados tradicionais de Israel no Ocidente rejeitem abertamente o seu comportamento em Gaza, as armas de vários países ocidentais e não ocidentais continuam a fluir."

 

Mais de 9.000 mulheres palestinas foram mortas desde o início da guerra israelense na Faixa de Gaza. As mães foram a maior parte desses assassinatos cometidos por Israel, com uma média de 37 mães por dia desde 7 de outubro.

Fornecedores de armas são cúmplices do genocídio em Gaza.


Os números acima, do Ministério da Saúde Palestino em Gaza e da Sociedade do Crescente Vermelho, respectivamente, apenas transmitem parte do sofrimento vivido por 2,3 milhões de palestinos na Faixa de Gaza.

Não há um único sector da sociedade palestina que não tenha pago um preço elevado pela guerra, embora as mulheres e as crianças sejam as que mais sofreram, constituindo mais de 70 por cento de todas as vítimas do genocídio israelense em curso.

É verdade que estas mulheres e os seus filhos são mortos às mãos dos militares de Israel, mas são assassinados com armas fornecidas pelos EUA e outros países.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Francisco Martins Rodrigues, Última Entrevista

Esta entrevista foi concedida ao Blog Caminhos da Memória no final de janeiro de 2008, pouco antes de Francisco Martins Rodrigues* falecer, em 22 de abril de 2008, vítima de câncer. Nela o dirigente comunista revolucionário percorre os principais momentos da sua trajetória política até a Revolução dos Cravos.

Francisco Martins Rodrigues


Nascido em Moura, em 1927, Francisco Martins Rodrigues começou a interessar-se pela política na sequência da prisão do seu irmão José Leonel, vindo posteriormente a ingressar no MUD–Juvenil e no PCP. Fez parte do Comité Central e da Comissão Executiva deste partido a seguir à famosa evasão da cadeia de Peniche a 3 de Janeiro de 1960, da qual tomou parte. Nos anos seguintes entraria em ruptura com o PCP, fundando a FAP e o CMLP. Torna-se então na principal referência teórica do maoísmo desta primeira fase. Em Janeiro de 1966 é preso pela PIDE e condenado a dezanove anos de cadeia. Permanecerá nos calabouços da ditadura até ao dia 27 de Abril de 1974. Posteriormente, fez parte do PCP(R) e da UDP, de onde viria a sair, em meados da década de oitenta, para constituir o coletivo Política Operária.

O excerto que a seguir se apresenta trata dos anos de militância no MUD-J e no PCP. Aproveita-se para informar que um texto autobiográfico sobre o período será em breve lançado pela Dinossauro e a Abrente, com o título Os Anos do Silêncio. Mas avancemos para a conversa.

Nasceu no Alentejo, uma região onde o Partido Comunista sempre teve um peso particular. Foi aí que entrou na política?

Não. Os meus pais vieram para Lisboa, teria eu seis ou sete anos, e desde essa altura que passei a viver aqui.

O que é que os seus pais faziam?

O meu pai era funcionário público e a minha mãe era doméstica. O meu pai tinha sido opositor ao regime e, por isso, tinha muitos problemas. Durante a Guerra de Espanha, era eu criança, ele comprou, de propósito, um rádio e um grande mapa de Espanha. Punha-se a ouvir e dizia-nos para procurar no mapa as terras… Éramos crianças e estas coisas marcam.

Ele chegou a estar preso?
Não.

Nem ligações ao Partido Comunista?

Não, era uma pessoa que tinha seis filhos, preocupadíssimo em sustentar a família. Só que em casa desbobinava as suas opiniões. Ouvia por vezes a Rádio Moscou – era um pesadelo, o barulho que aquilo fazia, cheio de interferências… Não seria nenhum entusiasta da Rússia, mas dizia que aquilo era «um país diferente»…

Depois, o meu irmão mais velho – o único que ainda é vivo, os outros já morreram todos – foi preso, mais ou menos no tempo do Norton de Matos. Comecei a ir vê-lo à prisão, no Aljube e em Caxias, e isso aí marcou-me muito, porque ele lá dentro começou a ficar um bocado perturbado. Apanhou ano e meio por ter sido preso com outros a escrever nas paredes. Foi suficiente para darem cabo dele. Foi aí que comecei o meu tirocínio, a frequentar amigos que ele também tinha, a participar em encontros em cafés, a ter ligação ao MUD-Juvenil.

A entrada para o PCP é posterior?

Muito posterior. Eu estava interessado em entrar, mas não se entrava facilmente. Muito secretamente, um rapaz que era barbeiro nos Anjos e que já tinha estado preso, começou a dar-me uns Avantes¹, mas que dizia que não tinha ligação nenhuma. Todos diziam que não tinham ligação nenhuma… A malta mais nova era canalizada para o MUD-Juvenil para ver o que é que valia. A minha militância aí deve ter rondado os três anos. Fui da Comissão Central do MUD Juvenil e tornei-me funcionário do MUD-J na clandestinidade Ainda sou preso algumas vezes…

terça-feira, 26 de março de 2024

Lenin, Usos e Abusos

Ney Nunes*

26/03/2024



Ainda está para surgir quem faça um estudo aprofundado a respeito dos usos e abusos da obra de Lenin pelos embusteiros de todos os matizes. Será, com certeza, um trabalho hercúleo, uma obra que não poderá ser reunida num único livro, mas necessitará de vários volumes. Depois de um século do seu falecimento, Lenin continua a ser citado por inúmeros oportunistas, na tentativa de camuflar com verniz de esquerda as mais torpes e escabrosas manobras políticas. Manobras estas, em geral, visando sempre colocar o proletariado a reboque dos interesses burgueses.

É justamente o que vem ocorrendo na atual conjuntura. O crescimento de partidos de extrema-direita em vários países e sua ascensão ao governo via eleições, como por exemplo, Jair Bolsonaro no Brasil e Javier Milei na Argentina, suscitam as mais estapafúrdias análises por parte desses ideólogos do oportunismo e do reformismo. Seus artigos, na maioria das vezes, vêm acompanhados de comparações com os antecedentes da Revolução Russa e recheados de citações descontextualizadas do seu principal dirigente. Não satisfeitos em desvirtuar a trajetória política e a obra de Lenin, agregam frequentemente no rol das suas mistificações outros destacados revolucionários, como Trotsky, Gramsci e Mao.

quinta-feira, 21 de março de 2024

Armadilha Capitalista para Avanços Científicos

Prabhat Patnaik*

17/03/2024

Há um paradoxo no cerne do florescimento da ciência que ocorreu ao longo do último milênio. Em essência, esta eflorescência tem o potencial de aumentar imensamente a liberdade humana. Aumenta a capacidade do homem na dialética homem-natureza; a prática científica pretende ir além do “dado”, não apenas num sentido definitivo, mas como um movimento perpétuo através de um autoquestionamento incessante, de modo que esta prática seja potencialmente um ato coletivo de libertação. Mas esta promessa de liberdade continua significativamente por cumprir; e embora o seu potencial não tenha sido concretizado, esta eflorescência da ciência tem sido utilizada em grande medida para o domínio de alguns sobre outros seres humanos e outras sociedades. O paradoxo reside no fato de a prática científica que tem o potencial de aumentar a liberdade humana ter sido utilizada para aumentar a dominação, isto é, para atenuar a liberdade humana.




As raízes deste paradoxo residem no fato de que o desencadeamento do avanço científico exigiu a derrubada do domínio exercido sobre a sociedade pela Igreja (que, recorde-se, forçou Galileu a retratar-se); e esta derrubada só poderia ocorrer como parte da transcendência da ordem feudal, isto é, como parte da revolução burguesa, da qual a Revolução Inglesa de 1640 foi um excelente exemplo. O desenvolvimento da ciência moderna na Europa esteve, portanto, indissociavelmente ligado, desde o início, ao desenvolvimento do capitalismo; e isso deixou a sua marca indelével na utilização que foi dada aos avanços científicos.

Esta marca burguesa também teve importantes implicações epistêmicas com as quais os filósofos (como Akeel Bilgrami) se preocuparam, nomeadamente o tratamento da natureza como “matéria inerte” e a atribuição de uma “inércia” semelhante às populações indígenas em áreas remotas do mundo. (“gente sem história”) que “justificou” aos olhos europeus a aquisição de “domínio” tanto sobre a natureza como sobre populações tão distantes e, portanto, “justificou” o fenômeno do imperialismo.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Boicotar a Mídia Burguesa !

Faixa de Gaza: genocídio e destruição.


A cobertura do oligopólio midiático brasileiro sobre o genocídio praticado por Israel na Faixa de Gaza evidencia sua total subordinação ao imperialismo norte-americano e europeu. Ao classificar como terrorismo a resistência do povo palestino contra uma ocupação que já dura 75 anos, ao mesmo tempo em que não reconhece estar ocorrendo um genocídio cometido pelas tropas israelenses, esse oligopólio está respaldando o assassinato de dezenas de milhares de seres humanos, a limpeza étnica e crimes de guerra.


Mais de 13 mil crianças mortas nos ataques israelenses em Gaza

Não alimentem os inimigos do proletariado!

Nenhum centavo para a máquina de propaganda capitalista!

Cancelem suas assinaturas do oligopólio midiático burguês!


domingo, 17 de março de 2024

A luta do proletariado e das massas na luta de classes contra a burguesia e seus atuais limites

Coletivo Cem Flores
2023
Jamais reduziremos nossas tarefas ao apoio às palavras de ordem da burguesia reformista mais em voga. Perseguimos uma política independente e apresentamos apenas as reformas que são, sem dúvida, favoráveis aos interesses da luta revolucionária, que sem dúvida aumentam a independência, a consciência de classe e a eficiência de luta do proletariado.
                              Lenin: Mais uma vez sobre o Ministério da Duma (1906)

 

Após a derrota das experiências revolucionárias socialistas do século 20, que se somaram às crises do marxismo e do movimento comunista internacional, e diante da violenta crise que o capital atravessa, o proletariado e as demais classes trabalhadoras em todos o mundo sofreram muitas derrotas e recuaram de forma intensa no terreno da luta de classes. Suas teoria e organizações revolucionárias foram em grande parte abandonadas, desorganizadas ou derrotadas. Sua unidade e suas lutas apresentam enormes dificuldades para se firmarem e serem vitoriosas contra seus inimigos de classe. Concomitantemente, a burguesia passou à ofensiva em várias frentes, retomando e conquistando posições, avançando sobre as grandes massas para impor ainda mais exploração e opressão.
 
A luta do proletariado e das massas no Brasil é parte desse cenário geral. As lutas concretas dos explorados e oprimidos, que brotam da piora das suas condições de vida, encontram diversos e significativos limites políticos, ideológicos e organizacionais, que barram e impedem uma ação mais incisiva e efetiva contra o inimigo burguês e seus aliados. Um dos maiores desafios dos comunistas nesta conjuntura é transformar a crise e a ofensiva burguesa em oportunidades de avanço da luta e organização proletária.

Brasil: democracia burguesa em ação.


De forma mais concreta, são vários os fatores que limitam e emperram a luta do proletariado atualmente no Brasil. O desemprego elevado e a deterioração do mercado de trabalho, um dos principais efeitos da crise, criam um ambiente desfavorável para a luta sindical por melhores condições de trabalho, salários e benefícios, seja pelo aumento  de  concorrência  entre  trabalhadores empregados (formais e informais) e os que compõem o exército de reserva, seja pelo avanço do poder patronal. O reforço da repressão, desde a vigilância à repressão sanguinária, coloca aos explorados a exigência de um patamar mais elevado de organização. A prolongada ausência da posição revolucionária abre espaço para a influência crônica do reformismo e do oportunismo, que desorganizam e corroem os instrumentos de luta das massas, tornando-se verdadeiras armas do inimigo, sendo o exemplo claro a grande maioria dos sindicatos hoje.

sexta-feira, 15 de março de 2024

Velho Oportunismo, Surradas Justificativas

Ney Nunes*

"Hoje, a socialdemocracia nem mesmo pode ser caracterizada enquanto uma força política "reformista" ou "conciliadora". Em primeiro lugar, porque não pretende fazer reformas no capitalismo que possam reduzir  minimamente o grau de exploração dos trabalhadores e,  quando está no governo, se limita a fazer maquiagens visando ocultar os horrores do sistema."

 



    A socialdemocracia em nosso país, representada principalmente por um arco político reunindo: PT, PSOL, PC do B e PSB, nada mais é do que uma linha auxiliar da burguesia que, ao longo do tempo, vem dando inúmeras provas do seu mais completo servilismo aos interesses do capital e colaborando fortemente na estabilidade do regime político burguês. Nesse sentido, ela faz jus ao perfil socialdemocrata inscrito na história internacional, inaugurado com o apoio aos seus respectivos governos na carnificina da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e depois na reação contra a revolução alemã de 1919, quando foram assassinados os dirigentes comunistas Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.

    Hoje, a socialdemocracia nem mesmo pode ser caracterizada enquanto uma força política "reformista" ou "conciliadora". Em primeiro lugar, porque não pretende fazer reformas no capitalismo que possam reduzir  minimamente o grau de exploração dos trabalhadores e,  quando está no governo, se limita a fazer maquiagens visando ocultar os horrores do sistema. Em segundo lugar, ela não pratica conciliação entre as classes sociais, apenas gerencia o projeto da classe dominante e distribui migalhas a segmentos miseráveis da população visando a cooptação eleitoral e a contenção de possíveis revoltas. Lembrando que a política das migalhas e da cooptação está sempre combinada com a feroz repressão sobre a população das periferias e favelas, levada a cabo pela polícia militar e pelos bandos narcomilicianos.

    Com tudo isso, ao nos aproximarmos do período das eleições municipais, constatamos, mais uma vez, grupamentos e indivíduos autoproclamados “socialistas”, “comunistas” “revolucionários”, “anarquistas” e etc. se movimentarem em direção ao apoio eleitoral a essa socialdemocracia (mais do que tardia). Utilizando-se das surradas justificativas: “combate ao neoliberalismo”, barrar o avanço da direita “defesa da democracia diante da ameaça fascista”, como se neoliberalismo e fascismo não fossem crias do ventre capitalista. Estão, na verdade, tentando mascarar seu oportunismo político, seu reboquismo e sua permanente submissão à institucionalidade burguesa.

    A ação deletéria desses grupamentos, ao criarem falsas expectativas, ajuda a prolongar a existência do sistema de exploração que está nos encaminhando em direção à barbárie. Ao se associarem aos gestores do capitalismo, acabam por pavimentar o caminho das forças mais reacionárias da sociedade, razão pela qual, é imprescindível desmascará-los se queremos reconstruir a tão necessária política de independência do proletariado face aos seus inimigos de classe. 

Rio de Janeiro, 14/03/2024

Ney Nunes, eletricista, bancário, foi militante sindical, ex-dirigente do PCB e autor do livro "Guerra de Classes": https://clubedeautores.com.br/livro/guerra-de-classes



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