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terça-feira, 30 de março de 2021

Contra o capitalismo, o fascismo e a opressão da burguesia e dos seus governos só existe um caminho:

a resistência e a luta da classe operária e das massas!

Nas últimas semanas, em vários estados, os/as petroleiros/as têm partido mais uma vez para a luta por várias razões: assédio moral, falta de segurança, privatização.

Nós, trabalhadores e trabalhadoras, enfrentamos um momento de gravíssima deterioração de nossas condições de vida sob o capitalismo no Brasil. Neste momento se somam e se reforçam reciprocamente três catástrofes: a pandemia, a crise econômica e a crise política, sob a forma de uma ofensiva burguesa.

Nesse cenário extremamente difícil, a classe operária e as massas lutam com grandes sacrifícios para sobreviver, tentam criar formas novas de apoio mútuo e solidariedade entre si e os seus, e buscam resistir ao desemprego e à exploração capitalista com greves e manifestações. Embora essas ainda sejam pequenas e estejam dispersas, e atualmente muito dificultadas pela pandemia, não há outro caminho para a libertação a não ser o da luta, contando com nossas próprias forças.

Os vendedores de ilusões, os reformistas de ideologia burguesa infiltrados entre as massas, buscam enganá-las com promessas de uma vida melhor, dentro do capitalismo, sem luta, apenas votando em seus candidatos e apoiando seus conchavos com os patrões. No entanto, a libertação das classes dominadas somente pode ser conquistada pelas próprias classes dominadas.

sexta-feira, 26 de março de 2021

Manoel Alves Ribeiro, o "Seu Mimo", um comunista histórico.

Manoel Alves Ribeiro

   
   Manoel Alves Ribeiro, o "Seu Mimo", nasceu em Imaruí, Santa Catarina, em 13 de março de 1903 e faleceu em Florianópolis, 29 de Setembro de 1994. Operário desde jovem, foi mineiro, ferreiro e depois eletricista,  trabalhou na construção da Ponte Hercílio Luz,  militante e dirigente do Partido Comunista Brasileiro desde a fundação do partido em Santa Catarina na década de 1930. Em 1959 é eleito vereador pela legenda do Partido Social Progressista (PSP), legenda utilizada pelos comunistas devido a ilegalidade do PCB.  Em 1980 sai do partido acompanhando a ruptura de Luiz Carlos Prestes.

"Eu julgo hoje o capitalismo no Brasil e no mundo, um edifício que quer ruir, eu não vou lá colocar uma estaca para segurá-lo. Se eu puder dou um pontapé para ele cair de uma vez."

Assista a entrevista com "Seu Mimo", realizada em 1989.
 

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quinta-feira, 25 de março de 2021

A Reconstrução Revolucionária do PCB (Partido Comunista Brasileiro)

 Ivan Pinheiro (*)


(Intervenção no Seminário Internacional promovido pelo Partido Comunista do México, em 23/11/19, nos marcos das comemorações de um século de luta dos comunistas mexicanos e dos 25 anos da reconstrução do seu partido)

Ivan Pinheiro fala no Seminário Internacional do PCM.

Deixo aqui uma saudação, certamente compartilhada pela militância do meu Partido, às delegações dos diversos Partidos presentes e a todos os convidados a este importante Seminário Internacional, nomeadamente aos camaradas do Partido Comunista do México (PCM), uma referência fundamental na reconstrução revolucionária do Movimento Comunista Internacional (MCI).

Tive o privilégio de assistir ao V Congresso do PCM, em 2014, em nome do PCB, e testemunhar o que penso ter sido o momento de um salto de qualidade desse partido marxista-leninista de fato (e não por auto proclamação), vocacionado a se constituir na vanguarda da classe operária mexicana e seus aliados, no caminho ao socialismo e ao comunismo.

Impressionou-me, para além da energia e jovialidade de sua militância e da qualidade política e ideológica dos seus quadros, a composição social positivamente equilibrada do conjunto dos delegados, com uma presença proletária significativa e indicativa das possibilidades de inserção do Partido na classe operária e entre os trabalhadores em geral.

As trajetórias do PCM e do PCB nas últimas décadas guardam algumas diferenças e semelhanças. Uma destas é que nossos Partidos foram vítimas de maiorias reformistas nos respectivos Comitês Centrais que, para empreender a sua liquidação, se aproveitaram da crise do MCI, em meio aos desvios revisionistas que acabaram por degenerar e liquidar por dentro o Partido Comunista da União Soviética (PCUS), culminando com a contrarrevolução que levou à derrota as experiências de construção do socialismo na União Soviética e no Leste Europeu.

sábado, 20 de março de 2021

CHINA: SUA INFLUÊNCIA NA AMÉRICA LATINA E O INTERNACIONALISMO PROLETÁRIO

 ESCRITOS SOBRE A CHINA (I)



A República Popular da China e seu desenvolvimento geram debates e controvérsias entre os militantes e partidos comunistas de todo o mundo, existindo cada vez mais militantes e partidos comunistas que classificam abertamente a China como uma potência imperialista.

Do ano 2000 até hoje, a China redobrou sua importância e presença político-econômica na América Latina, transformando a região em um novo ponto de encontro para o confronto interimperialista com os Estados Unidos, algo que ainda confunde muitos comunistas .

velho imperialismo liderado pelos Estados Unidos e pela União Europeia está em uma profunda falência política, social e econômica, demonstrando amplamente, como disse Lênin, que o imperialismo é o capitalismo agonizante e em decadência; com sua nova crise econômica, agravada pela pandemia COVID-19, não há dúvida de que o protagonismo geopolítico do Ocidente está se desinflando pouco a pouco em favor do novo Imperialismo liderado pela China. Claro que os Estados Unidos percebem essa perda de controle e hegemonia como uma ameaça cada vez mais direta e empreguem muitos meios de propaganda para atacar a soberania (ver independência de Hong Kong) ou a credibilidade da China (ver a recente campanha sobre a origem da pandemia ou do caso de Xinjiang e dos uigures). Mas essas práticas não devem confundir o militante comunista a acreditar que o inimigo do meu inimigo é meu aliado . Pelo contrário, camaradas. É preciso desenvolver, de igual maneira, uma luta implacável contra este novo imperialismo. Mais implacável se possível no caso da China que, como a União Soviética após o XX Congresso do PCUS, tenta esconder suas práticas criminosas por trás da bandeira vermelha do proletariado e do comunismo. Deng Xiaoping, que alguns comparam à figura de Khrushchev na ex-URSS por seu papel oportunista, foi o promotor da modernização da economia socialista por meio da reforma e abertura da economia chinesa que, na prática, não foi mais do que um processo de transição para uma economia eminentemente imperialista, embora alguns, como Jiang Zemin, o tenham chamado eufemisticamente de transição para um socialismo de mercado.

quarta-feira, 17 de março de 2021

A GUERRA ESQUECIDA QUE PODE INCENDIAR O MUNDO

 Humberto Carvalho


Crédito: Giampaolo Rossi

Em abril deste terrível ano de 2021, completam-se sete anos de guerra entre a Ucrânia e as Repúblicas Populares de Donestk e Lugansk, da região de Donbass. 

Donbass é uma região rica em energia, situada ao leste da Ucrânia, na fronteira  sul da Rússia.

Devido a esses longos sete anos de duração, e por estar localizada em uma região afastada do “brilho ocidental” e, ainda, porque a Ucrânia é dominada pela extrema-direita corrupta e sanguinária cuja manutenção no poder (não só na Ucrânia) interessa ao império norte-americano, o Mundo parece ter esquecido essa tragédia que vive o povo de Donbass.

O motivo da guerra foi a separação dos oblasti (significa regiões, em russo, equivalentes aos nossos estados-membros) de Donestk e Lugansk que proclamaram sua independência da Ucrânia, denominando-se repúblicas populares e se uniram numa confederação, a Konfederatyvnaya respublika Novorosiya (República Confederativa da Novarússia) ou Soyúz Naródnij Respúblik (União das Repúblicas Populares).

A independência de Donbass, em grande medida incentivada pelas células locais do Partido Comunista e do Partido Socialista Progressista, ambos da Ucrânia, surgiu como uma reação ao golpe oligárquico e neonazista ocorrido em Kiev. Essa reação derrotou, ainda, o Partido da Região que apoiava o golpe de estado perpetrado em Kiev.

domingo, 14 de março de 2021

Contra a "Catequização" do Marxismo

Carlos Aquino G.*

07/2020

    Não é novidade que na prática política haja quem constantemente esteja        "refletindo por caminhos sinuosos" ou "pensando fora da caixa" - como dizia Marcos Mundstock a Daniel Rabinovich no genial "biólogo" de Les Luthiers sobre Terpsícore e o merengue -.

Como diz o velho ditado: "A ignorância é atrevida."



   Seguramente uma das explicações poderia ser encontrada no chamado efeito Dunning-Kruger, que levanta o caso da superestimação sobre si mesmas que possuem pessoas não qualificadas ou com conhecimento limitado em certas áreas, que tendem a ter pontos de vista desequilibrados e demasiado favoráveis ​​de suas habilidades, por isso eles “sofrem um duplo fardo: não só eles chegam a conclusões erradas e tomam decisões infelizes, mas sua incompetência os priva da capacidade de se dar conta disso.” [1]

   Dessa forma, embora alguns não tenham problemas em assumi-lo e aplicá-lo como tal, é fundamental insistir que o marxismo-leninismo não é um catecismo, não tem orações, ritos litúrgicos, pecados mortais, verdades imutáveis, nem seres imaculados. É uma superficialidade - compreensível em alguns casos, mas sempre imperdoável - para alguém que se diz comunista, simplesmente decorar frases para repeti-las mecanicamente, como se estivessem recitando versos do Alcorão ou da Bíblia.

   Há poucos meses, no breve escrito “Corrigir e fortalecer com avaliação autocrítica”, ressaltava que “O nosso ‘perfil próprio’ se demonstra na prática, não na quantidade de camisetas que temos do Che, nas frases de Lenine que nós aprendemos, nem quanto nos proclamamos marxistas-leninistas”.

   É muito grave conceber dogmaticamente [2] processos sociais e seus personagens destacados, ou as organizações políticas e seus dirigentes. Daí o pouco peso, valor e significado que têm os ataques espúrios que se fazem com citações pinçadas e descontextualizadas.

terça-feira, 9 de março de 2021

Por um Feminismo Revolucionário

Cecilia Zamudio

   No dia 8 de março se comemora a mulher trabalhadora revolucionária. A comunista Clara Zetkin propôs a comemoração na conferência de mulheres socialistas de 1910, para homenagear a luta das mulheres contra a exploração capitalista. É lembrado o assassinato, pelas mãos do grande Capital, de 129 operárias em greve, queimadas vivas em uma fábrica têxtil nos EUA: os donos da fábrica fecharam as portas com elas dentro e atearam fogo para fazê-las queimar (como medida de "dissuasão" para evitar que outras trabalhadoras seguissem seu exemplo de luta). Se comemora a luta pela justiça social, pelos direitos da classe trabalhadora, a luta contra o patriarcado e o capitalismo, cujos mecanismos estão perfeitamente articulados entre si. 


Mulheres operárias: mão-de-obra barata na indústria têxtil.
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  O 8 de março também foi marcado como uma data eminentemente revolucionária pelos acontecimentos de 8 de março de 1917 na Rússia czarista: milhares de mulheres foram às ruas clamando por seus direitos, contra a exploração e as guerras que a burguesia impunha ao povo: elas detonaram a Revolução de Outubro. Após a Revolução de Outubro, as mulheres conquistaram seus direitos econômicos, sociais, sexuais e reprodutivos: o direito de votar para todas as mulheres (não apenas para as proprietárias como na Grã-Bretanha), direito ao divórcio, direito ao aborto, plenos direitos de estudar e garantia de trabalho, moradia, saúde e educação, etc. Todos esses direitos ainda não estão garantidos na grande maioria dos países capitalistas. 

   Nós, mulheres, somos a parte mais atacada da classe explorada. Somos vítimas das guerras imperialistas, da pilhagem capitalista que empobrece regiões e países inteiros, das privatizações e da precariedade, e também somos vítimas do machismo incessantemente promovido pela mídia e por toda a indústria cultural do capitalismo. Porque o capitalismo se sustenta fragmentando e dividindo a classe explorada: é por isso que a indústria cultural do capitalismo difunde incessantemente paradigmas de discriminação como o machismo e o racismo. 

   Somos as trabalhadoras exploradas, estudantes, artistas, desempregadas e aposentadas que estão sendo privadas de uma vida digna, às vezes até de alimentação, moradia, acesso à saúde, acesso à educação, etc. Estamos privados de condições de trabalho e de remuneração dignas pelos capitalistas que tiram a mais-valia do nosso trabalho. Somos as mães cujo trabalho em casa não é reconhecido, aquelas que ficam na precariedade absoluta, sem pensão. Somos mulheres migrantes levadas a sofrer as piores explorações: em máquinas terríveis, borrifadas com veneno na agroindústria, condenadas à exploração da prostituição ou a serem coisificadas e saqueadas como "barrigas de aluguel". Nós somos as meninas estupradas e forçadas a dar à luz. Somos designados por este sistema como alvo das frustrações aberrantes que este sistema provoca, da misoginia que fomenta. Por isso galopa o feminicídio: porque a mídia banaliza a tortura e toda discriminação alienante funcional ao capitalismo, porque a violência exercida de forma estrutural arrasta seu ódio contra nós. Somos vítimas do capitalismo e de sua barbárie, vítimas do machismo que o próprio capital promove; mas também somos mulheres lutadoras e revolucionárias. 

segunda-feira, 8 de março de 2021

Lições de 1917: Greve Geral no Brasil e a Luta das Mulheres*

   Nos momentos de acirramento de crise econômica, as mulheres são uma das primeiras a sentirem o chicote contrarrevolucionário. Estão mais expostas às demissões ou mesmo são preteridas na contratação por conta dos direitos ligados ao sexo. O caso se agrava ainda mais no caso da mulher negra, como demonstramos em nossa “Plataforma Política de luta Pela Emancipação da mulher trabalhadora – Parte 1”: “A mulher negra no Brasil tem sua trajetória social marcada pela escravidão. Além dos trabalhos forçados, dos castigos, dos abusos sexuais por parte dos senhores e das humilhações, ainda estavam submetidas à ‘sinhá’ nas casas grandes” (Revista América Socialista, n°8, p.44)

Manifestação das operárias na Greve Geral de 1917 em SP.


   Não é de se estranhar que a primeira Greve Geral do Brasil, que iniciou em junho de 1917 e durou por 30 dias, tenha tido em sua dianteira as mulheres. O Movimento começou com a maioria feminina entre os 400 operários da fábrica têxtil Cotonifício Crespi e se espalhou rapidamente por outras fábricas de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Neste período o operariado feminino já ultrapassava os 50% do total, chegando em 1920 a 60% entre mulheres e meninas. Os grevistas de 1917 reivindicavam incialmente por aumento do salário, pela redução da jornada de trabalho para 8h e semana inglesa, aumento de 35% nos salários inferiores a $5000 e de 25% para os mais elevados, fim do trabalho para menores de 14 anos, abolição do trabalho noturno para mulheres, entre outras exigências parciais. À medida que a greve avançava as lutas parciais, ligadas ao aspecto econômico, puderam tomar uma tonalidade mais propriamente política, agregando a luta pela libertação dos presos durante o movimento, direito de associação para os trabalhadores e que nenhum operário fosse despedido por ter participado da greve.

   Um motivo específico dessa insurreição e que nos salta aos olhos é a permanência do assédio sexual outrora exercido sistematicamente sobre a mulher escrava. Nas indústrias, os malfeitores são os que ocupam os cargos de chefia e as vítimas não mais se restringem à cor da pele e sim à classe social que ocupam. Como se já não bastasse a carga opressiva da tripla jornada de trabalho sobre a mulher, que historicamente agregou os papéis de mãe e única responsável pelos trabalhos domésticos.

   No entanto, é preciso dizer que no caso de 1917 essa pressão exercida sobre as mulheres brasileiras não se dava por conta de uma crise econômica da indústria que as lançasse no desemprego e sim pelo contrário. Com a destruição das forças produtivas durante a Primeira Guerra, os produtos brasileiros ganharam um espaço significativo no mercado internacional. Isso exigiu um aumento na produção que não foi acompanhado do aumento do salário. O aparente progresso gerado pelo crescimento da indústria não se convertia na melhoria das condições de vida dos proletários, pois, desde 1914, isto é, desde o início da Primeira Guerra Mundial, o poder aquisitivo dos trabalhadores havia diminuído e a inflação aumentado.

   A precariedade dos meios de produção da indústria nacional exigia um acirramento da exploração do trabalho. As jornadas de trabalho chegavam a se estender por 16 horas diárias sem ter necessariamente um aumento salarial, pois ainda não se havia consolidado a legislação trabalhista, que apenas será conquistada 26 anos mais tarde. Além disso, a baixa produtividade impedia que se acumulasse um excedente para estoque. Este último fator foi fundamental para o sucesso parcial da Greve Geral, pois, ao parar a produção, a classe operária causava um prejuízo real ao patrão, já que não conseguia sequer suprir o mercado mais imediato. No entanto, por ainda não haver leis trabalhistas ou uma organização sindical que assegurasse o cumprimento das exigências feitas pelos grevistas, a maior parte das reivindicações foi sufocada pela repressão; apenas o aumento salarial e a redução da jornada de trabalho foram mantidos em alguns casos.

   A vitória e a derrota parcial do movimento, vista pelo viés marxista, demonstram a necessidade de construção de um Partido Revolucionário que possa agir dentro de sindicatos independentes para levar a espontaneidade do movimento em direção à sua organização consciente. Somente assim as conquista podem se tornar duradouras diante da reação da burguesia e de seu estado opressor.

   Outra lição que deve ser retirada da Greve Geral de 1917 diz respeito à importância da organização das mulheres trabalhadoras lado a lado com os trabalhadores, pois, somente assim, a classe trabalhadora cumprirá seu destino histórico: a revolução e a conquista do poder!

*Comissão de Mulheres da Esquerda Marxista -11/05/2017.

Fonte: https://www.marxismo.org.br/licoes-de-1917-greve-geral-no-brasil-e-a-luta-das-mulheres/

Edição: Página 1917.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Sobre a Democracia Burguesa e a Ditadura do Proletariado *

Lenin

Em tal estado de coisas, a ditadura do proletariado é não só inteiramente legítima como meio de derrubar os exploradores e reprimir a sua resistência, mas também absolutamente necessária para toda a massa dos trabalhadores como única defesa contra a ditadura da burguesia, que conduziu à guerra e prepara novas guerras.



A coisa principal que os socialistas não compreendem, e que constitui a sua miopia teórica que os torna prisioneiros dos preconceitos burgueses, que constitui a sua traição política em relação ao proletariado, é que na sociedade capitalista, quando há uma agudização algo séria da luta de classes que está na sua base, não pode haver meio termo, nada que não seja a ditadura da burguesia ou a ditadura do proletariado. Qualquer sonho com uma terceira via é uma lamentação reacionária de pequeno burguês. Testemunham-no tanto a experiência de mais de cem anos de desenvolvimento da democracia burguesa e do movimento operário em todos os países avançados como, particularmente, a experiência dos últimos cinco anos. Diz também toda a ciência da economia política, todo o conteúdo do marxismo, que explica a inevitabilidade econômica em qualquer economia mercantil da ditadura da burguesia, que só pode ser substituída pela classe desenvolvida, multiplicada, unida e fortalecida pelo próprio desenvolvimento do capitalismo, isto é, a classe dos proletários.

Outro erro teórico e político dos socialistas consiste na incompreensão de que as formas da democracia se modificaram inevitavelmente ao longo dos séculos, a partir dos seus germes na antiguidade, à medida que uma classe dominante ia sendo substituída por outra. Nas antigas repúblicas da Grécia, nas cidades da Idade Média, nos países capitalistas avançados, a democracia tem diferentes formas e um diferente grau de aplicação. Seria o maior absurdo pensar que a revolução mais profunda da história da humanidade, a passagem pela primeira vez no mundo do poder da minoria dos exploradores para a maioria dos explorados, possa verificar-se dentro dos velhos limites da velha democracia burguesa, parlamentar, possa verificar-se sem as mudanças mais radicais, sem a criação de novas formas de democracia, de novas instituições que encarnem as novas condições da sua aplicação, etc.

O que há de semelhante entre a ditadura do proletariado e a ditadura das outras classes é que ela é provocada, como qualquer outra ditadura, pela necessidade de reprimir pela força a resistência da classe que perde a dominação política. A diferença fundamental entre a ditadura do proletariado e a ditadura das outras classes — a ditadura dos latifundiários na Idade Média, a ditadura da burguesia em todos os países capitalistas civilizados — consiste em que a ditadura dos latifundiários e da burguesia foi a repressão pela violência da resistência da imensa maioria da população, isto é, os trabalhadores. A ditadura do proletariado, pelo contrário, é a repressão violenta da resistência dos exploradores, isto é, uma ínfima minoria da população, os latifundiários e os capitalistas.

Daqui decorre, por sua vez, que a ditadura do proletariado deve inevitavelmente trazer consigo não só a modificação das formas e das instituições da democracia, falando em geral, mas precisamente uma sua modificação que possibilite um alargamento nunca visto no mundo da utilização efetiva da democracia por parte dos oprimidos pelo capitalismo, por parte das classes trabalhadoras.

E, com efeito, essa forma da ditadura do proletariado, que foi já elaborada de facto, isto é, o Poder Soviético na Rússia, o Räte-System¹ na Alemanha, os Shop Stewards Committees² e outras instituições soviéticas análogas noutros países, todas elas significam e realizam precisamente para as classes trabalhadoras, isto é, para a imensa maioria da população, uma possibilidade efetiva de gozar os direitos e as liberdades democráticas como nunca existiu, nem mesmo aproximadamente, nas melhores e mais democráticas repúblicas burguesas.

A essência do Poder Soviético consiste em que a base permanente e única de todo o poder de Estado, de todo o aparelho do Estado, é a organização maciça precisamente das classes que eram oprimidas pelo capitalismo, isto é, dos operários e dos semiproletários (camponeses que não exploram trabalho alheio e que recorrem permanentemente à venda, ainda que apenas em parte, da sua força de trabalho). Precisamente as massas que, mesmo nas repúblicas burguesas mais democráticas, sendo iguais em direitos perante a lei, eram de fato afastadas, por mil processos e subterfúgios, da participação na vida política e do gozo dos direitos e liberdades democráticas, são hoje chamadas à participação permanente e necessária, e além disso decisiva, na direção democrática do Estado.

A igualdade dos cidadãos independentemente do sexo, religião, raça, nacionalidade, que a democracia burguesa prometeu em toda a parte e sempre, mas que não realizou em parte alguma nem podia realizar devido à dominação do capitalismo, realiza-a imediata e plenamente o Poder Soviético, ou ditadura do proletariado, pois só está em condições de o fazer o poder dos operários, que não estão interessados na propriedade privada dos meios de produção nem na luta para os repartir uma e outra vez.

A velha democracia, isto é, a democracia burguesa, e o parlamentarismo foram organizados de modo a afastar, mais que ninguém, precisamente as massas dos trabalhadores do aparelho de administração. O Poder Soviético, isto é, a ditadura do proletariado, está organizado, pelo contrário, de modo a aproximar as massas dos trabalhadores do aparelho de administração. Tal é igualmente o objetivo da união dos poderes legislativo e executivo na organização soviética do Estado e da substituição dos círculos eleitorais territoriais pelas unidades de produção, como as fábricas.

O exército não foi um aparelho de repressão apenas nas monarquias. Continua a sê-lo também em todas as repúblicas burguesas, mesmo nas mais democráticas. Só o Poder Soviético, como organização estatal permanente precisamente das classes que eram oprimidas pelo capitalismo, está em condições de destruir a subordinação do exército ao comando burguês e de fundir efetivamente o proletariado com o exército, de realizar efetivamente o armamento do proletariado e o desarmamento da burguesia, sem o que é impossível a vitória do socialismo.

* Trecho das Teses e Relatório Sobre a Democracia Burguesa e a Ditadura do Proletariado (I Congresso da Internacional Comunista, 2-6 de Março de 1919)

¹Sistema de Conselhos Operários

²Comités de Delegados de Fábrica que existiram na Grã-Bretanha.

Edição: Página 1917

segunda-feira, 1 de março de 2021

Líbia, a Serpente que Morde o Próprio Rabo

Guadi Calvo*

Enquanto líderes nacionais e de potências estrangeiras celebram os acordos de cessar-fogo no conflito da Líbia, uma guerra que não só promoveram, mas sim, foram participantes ativos e na qual se enriqueceram, utilizando, para si próprios, as contribuições "generosas" de governos ocidentais, nações pseudo democráticas, monarquias árabes, entidades internacionais e diversas holdings, principalmente da área de petróleo, todos em busca dos ricos recursos naturais do país em dissecação. O petróleo e ainda mais importante, para os tempos que virão: a água, já que a Líbia tem um dos aquíferos mais ricos do mundo.

Bandos armados em ação na guerra civil da Líbia. 


Após os acordos, firmados na cidade suíça de Genebra, no dia 5 de fevereiro, os 74 delegados dos diferentes grupos armados, com maior ou menor poder de fogo, escolheram os homens que terão a difícil tarefa de trazer ao país, uma vez mais, às eleições marcadas para o próximo dia 24 de dezembro. 

Sem dúvida muitos gabinetes do mundo “civilizado”, os mesmos que com metodologia e esmero  planejaram há mais de uma década a destruição da nação que até fevereiro de 2011 foi modelo e exemplo dos países do Terceiro Mundo, a uma velocidade vertiginosa já devem estar começando a traçar planos de reconstrução multimilionários, que o povo líbio terá de pagar. 

O novo governo ungido em Genebra, formado por homens do establishment da política, da diplomacia e da iniciativa privada, como é o caso do primeiro-ministro Abdul al-Dbeibah, cuja família era proprietária de empresas de construção e meios de comunicação, ele próprio na época de Khadafi, chefiou a construtora estatal Libyan Investment and Development Company, seu nome apareceu nos Panama Papers , ou de Mohammad Menfi, ex-embaixador na Grécia, como presidente do Conselho da Presidência , e Mossa al-Koni líder tribal da província de Fezan e Abdullah al-Lafi é deputado do Parlamento de Tobruk, ambos encarregados da vice-presidência.

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