Ney Nunes
29/04/2024
Primeiro de Maio, anos oitenta, Brasil. |
Ao final do século passado, mais precisamente entre o final dos anos setenta e os anos oitenta, quando vivíamos o ocaso da ditadura empresarial-militar instaurada com o golpe de 1964, participei ativamente de algumas manifestações do Primeiro de Maio. Embalados pelas greves que ressurgiam com força pelo país, em especial nas cidades com grandes concentrações operárias, conseguíamos mobilizar e construir atos do dia do trabalhador com conteúdo classista que reforçavam as bandeiras de luta do movimento sindical.
Nesses atos, os protagonistas eram os trabalhadores e suas organizações sindicais e políticas, não havia lugar para governantes e politiqueiros burgueses. Milhares de trabalhadores se reuniam com objetivo de demonstrar suas insatisfações e para reforçar as reivindicações diante da burguesia e do governo. O caráter internacional da luta de classes e a necessária unidade e solidariedade para enfrentar o capitalismo eram pontos destacados pelos oradores e nos muitos panfletos das organizações e partidos envolvidos com aquelas mobilizações.
A partir dos anos noventa, com as derrotas sofridas pela classe trabalhadora no Brasil e no mundo, derrotas que aprofundaram a exploração e a precarização do trabalho, começava um longo período de retrocesso nas lutas operárias e na consciência de classe. A descaracterização do Primeiro de Maio foi, entre os vários mecanismos para dissolver essa consciência classista, uma das mais significativas. O "Dia do Trabalhador" passa a ser chamado de "Dia do Trabalho", as concentrações combativas e de reivindicações se transformam em shows midiáticos com sorteios de prêmios, em vez dos dirigentes da luta operária, são os políticos burgueses os convidados de honra.
Assim, já temos três décadas dessa deformação do Dia Internacional dos Trabalhadores, chegando hoje ao ponto de vermos essas entidades sindicais esvaziadas, burocratizadas, dirigidas por uma camada de pelegos a serviço da subordinação ao patronato, convocarem atos de primeiro de maio sob o signo da conciliação de classes. Esses lacaios do capital transformaram o dia de combate da classe trabalhadora em dia de festa e de farsa.
O longo período de retrocessos na luta e na consciência de classe dos trabalhadores precisa chegar ao fim. Essa é uma premissa essencial para não cairmos de vez no poço sem fundo que nos reserva a barbárie capitalista. Levantemos bem alto a bandeira da solidariedade internacional da classe trabalhadora, contra os exploradores, contra a guerra imperialista e contra o genocídio na Palestina.
Pela paz entre os povos! Pelo Socialismo!
Edição: Página 1917
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