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domingo, 7 de abril de 2024

Capitalismo e Ferrovias no Brasil

Neste mês de abril de 2024, registramos os 170 anos da inauguração da primeira ferrovia no Brasil. Aproveitando esse marco, vamos publicar uma série de artigos e trechos de livros que abordam história e atualidade do transporte ferroviário em nosso país. (Editor)

 

Locomotiva a vapor, Juiz de Fora-MG, 1964.

 

Douglas Apratto Tenório*

    A ferrovia é uma das invenções mas extraordinárias da humanidade. A aplicação da força expansiva do vapor a uma máquina móvel que circula sobre um caminho artificial, constituído por duas trilhas de ferro, é o ponto de partida para um novo período da história, em que o homem põe a seu serviço tais elementos, como forças cooperadoras, em suas atividades, na busca incansável de domínio.

    Decorrido mais de um século e meio de sua invenção e difusão, o transporte ferroviário não perdeu a sua importância e, hoje, mais do que nunca, ele se acha valorizado. Nem o automóvel nem o avião consegue diminuir a importância fundamental das ferrovias no contexto das comunicações. Somente um rio navegável ou uma costa litorânea bem proporcionada tem capacidade de transporte equivalente a uma via-férrea. Ela é um elemento importante para o desenvolvimento da vida coletiva. Não são poucos os estudiosos que comparam os problemas enfrentados pelos países integrados através do avião ou por outro tipo de transporte com aqueles países integrados por estradas de ferro, sobretudo os de grandes dimensões territoriais. Mostram esses especialistas as sérias implicações herdadas pelos primeiros  e os problemas menores enfrentados pelos últimos.

    Porém, a ferrovia teve seu lado negativo. Foi um eficiente instrumento de dominação e subjugamento, um agente da política de dominação mansa e de exploração sutil: o imperialismo econômico. Por conta disso, a história das ferrovias em países como o Brasil, põe em evidência os numerosos equívocos que nortearam sua política, os quais de difícil retificação, uma vez implantados, gravitam pesadamente sobre o corpo social, com serviços insuficientes quanto ao número, defeituosos quanto a qualidade, incorretos quanto aos traçados e, consequentemente, onerosos.

    As ferrovias de capital britânico exerceram, no Brasil, um papel muito significativo, tanto na parte econômica-política, como no processo de desenvolvimento social. Durante o período imperial até os primeiros anos do regime republicano, importantes transformações surgiram no plano das comunicações do país, impulsionadas, sobretudo, pelo transporte ferroviário, trazido pelo capital britânico e dirigido pelos seus prepostos aqui e na Inglaterra.

    [...] destacamos o surgimento do transporte ferroviário na esteira das grandes transformações econômicas e sociais que sacudiram o Brasil na segunda metade do século XIX e,  ao mesmo tempo, os benefícios e distorções cometidas na sua implementação, a partir dos interesses do exterior que dirigiram e ditaram os rumos a seguir, sem auscultar os verdadeiros interesses nacionais no setor, contribuindo sobremaneira para a lastimável situação em que se encontra na atualidade o transporte ferroviário brasileiro.

*Douglas Apratto Tenório, professor, doutor em história, jornalista, escritor, historiador. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Alagoas (1972), mestrado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (1992) e doutorado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (1994).

Fonte: Capitalismo e Ferrovias no Brasil; Douglas Apratto Tenório; HD Livros Editora, 1996.

Edição: Página 1917

    

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