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domingo, 18 de novembro de 2018

Outubro e nós (Parte III)


Ângelo Novo (*)



Caminhando um caminho novo

Passar diretamente da clandestinidade para o poder deixou Lenine um pouco tonto, segundo confidenciou na altura aos seus camaradas. Mas não perdeu muito tempo a meter-se ao trabalho, com os seus hábitos meticulosos de sempre. A 26 de outubro, no segundo dia do II Congresso dos Sovietes de Deputados Operários e Camponeses, foram aprovados os cruciais decretos (ukases) da paz e da terra. Lenine passou uma boa parte da noite anterior a redigir este último, baseando-o numa resenha das petições contidas nos mandatos aos deputados ao congresso dos sovietes camponeses, publicada nos respetivos Izvestia. Esperava deste modo erguer uma barreira de defesa da revolução de outubro absolutamente intransponível para os seus inimigos (1). E não se enganaria, embora tenha assim dado início a uma relação sinuosa e frequentemente desencontrada com as expetativas dos pequenos e médios camponeses russos.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A Revolução dos Explorados

Lenin (discursando) e Trotsky (junto ao palanque).
   A Revolução Russa apontou o caminho para superar as calamidades provocadas pelo capitalismo, a instauração de um governo do povo trabalhador, o socialismo. Mas, decorridos 101 anos, o domínio burguês sobrevive no mundo, causando ainda mais miséria, violência e destruição. 
   A paz, a justiça e o progresso, tão almejados pela imensa maioria da humanidade, continuarão sendo uma utopia até que os explorados consigam se unir para colocar abaixo o poder dos parasitas burgueses.  


domingo, 4 de novembro de 2018

Abaixo o Horário de Verão

Trabalhadores a espera do ônibus na madrugada.
   Que me desculpem os adoradores do horário de verão, mas não consigo simpatizar com algo que sacrifica os que pegam na labuta mais cedo e, na sua maioria, moram longe dos seus locais de trabalho.
   Se acordavam três e meia ou quatro da madrugada, após a entrada em vigor do novo horário, passam a levantar antes das três da matina. Começam sua jornada enfrentando ruas escuras, desertas e perigosas até pegar a sua primeira condução.
   Esse pessoal é o tal do proletariado, simpatizo com eles.
   Abaixo o horário de verão!

                                                                                                                                       Ney Nunes

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Em Memória dos que Tombaram

Nossos soldados foram combater o nazifascismo.
   Lutamos contra o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial, nela foram mortos 443 dos nossos soldados na Itália e mais 1081 brasileiros perderam a vida nos navios mercantes e de passageiros afundados pelos ataques covardes dos submarinos alemães.
   Transcorridos mais de setenta anos, a quinta coluna nazifascista ressurgiu das trevas e quer tomar o poder no Brasil. Estão travestidos de verde e amarelo, encobrindo com as cores da nossa bandeira a sua ideologia perversa. Usam a mentira, a manipulação e as ameaças para atingir seus objetivos.
    Não existe patriotismo naqueles que pretendem submeter o Brasil aos interesses de uma potência estrangeira. Não existe justiça naqueles que defendem escravizar nosso povo trabalhador. Não existem valores democráticos naqueles que pregam a prisão, tortura e morte dos seus opositores. 
   Neste domingo, vamos nos unir numa grande frente, assim como fez o nosso povo para combater as agressões nazifascistas na Segunda Guerra Mundial. Em memória dos que tombaram nessa luta, temos o dever de votar em Fernando Haddad e derrotar, mais uma vez, o nazifascismo!

                                                                           Ney Nunes


terça-feira, 23 de outubro de 2018

Um Voto Antifascista

   
    A última vez que votei num candidato petista, foi no segundo turno da eleição presidencial de 2002. Passados dezesseis anos, os motivos para não votar no PT permanecem e, até mesmo, aumentaram. Entre esses motivos, dois se destacam: a política de conluio com interesses empresariais e o  envolvimento nos escândalos de corrupção associado com os demais partidos burgueses. O quê, então, poderia justificar uma mudança nesse posicionamento?
    A questão é que hoje estamos sob o risco iminente de uma vitória eleitoral das forças políticas mais reacionárias do país, agrupadas em torno da candidatura do ex-capitão Jair Bolsonaro, um fascista declarado, capacho dos EUA, adepto da tortura de presos políticos e que já afirmou, de viva voz, a intenção de prender e banir do país os brasileiros que fizerem oposição ao seu governo. Além disso, suas propostas são uma ameaça clara ao patrimônio público e ao que resta dos nossos direitos sociais tão duramente conquistados. 
    Não restam dúvidas de que esta eleição difere por completo das anteriores. O fascismo está esmurrando nossa porta, votar nulo nesse segundo turno seria como entregar as chaves nas mãos desses assaltantes, facilitando sua entrada. Sem retirarmos nenhuma das nossas críticas aos governos petistas e afirmando que não temos acordo com seu programa de governo, declaramos nosso apoio ao candidato Fernando Haddad. Um voto contra a barbárie fascista!

Ney Nunes

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Eles Não Estão Escondendo Nada

Disseram em alto e bom som:
Que vão prender, torturar e matar opositores.
Que vão reduzir ao mínimo os direitos sociais.
Que vão cortar ainda mais os gastos em saúde e educação.
Que vão entregar o que resta do patrimônio público para os grandes empresários.
Que vão prestar obediência ao imperialismo norte-americano, sob o risco de envolver o Brasil em guerras para defender os interesses dos EUA.
Bolsonaro e Mourão, mensageiros da barbárie.
Você pode votar no candidato fascista, você pode votar nulo, só não poderá dizer depois que não sabia.



quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Eficácia Comprovada

     A democracia burguesa comprova toda a sua eficácia ao renovar, a cada eleição, a expectativa do povo trabalhador em melhorar as condições de vida sem debelar a causa maior das suas mazelas: o capitalismo.

Ney Nunes

sábado, 15 de setembro de 2018

O Voto Inútil no Mal Menor


     Em toda eleição burguesa ele aparece, às vezes tímido, envergonhado e só no segundo turno, em outras, chega apavorado, aos berros, já no primeiro. Dessa vez, estão gritando logo no primeiro turno: “o perigo é iminente, vamos nos defender votando no mal menor” e, pelo jeito, seja ele quem for. Reconheçamos, tem “mal menor” para todos os gostos e estômagos.

     Essa estratégia vem sendo posta em prática faz muito tempo, os resultados são palpáveis, o principal deles é a desmoralização e enfraquecimento de qualquer alternativa política independente da classe trabalhadora frente à hecatombe capitalista. O voto inútil no mal menor não impediu a continuidade e o avanço do sistema de exploração sobre o povo trabalhador, a restrição das liberdades democráticas e a aproximação da barbárie.
      Os “bem intencionados” acometidos pelo complexo de subalternidade, que me desculpem, mas passar a vida apostando em soluções vindas dos que nos pisoteiam e daqueles que colaboram com os exploradores, nunca contribuiu positivamente com a luta pela emancipação da classe trabalhadora, muito pelo contrário, essa estratégia só nos reservou derrotas.
     
Ney Nunes

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Míseros Farsantes

Ney Nunes

07/09/2018


        

         Hoje, sete de setembro, celebramos a independência do Brasil. Uma independência que jamais se completou e, pelo contrário, vem retroagindo nas últimas décadas sob a hegemonia neoliberal. Um dos aspectos mais gritantes dessa involução, nós podemos observar pela mudança ocorrida em nossa pauta de exportações nos últimos trinta anos. Nesse período a economia brasileira foi sendo reconfigurada, o país voltou a ser grande produtor/exportador de commodities agrícolas e minerais e, ao mesmo tempo, aumentou o peso da importação de bens manufaturados, serviços e tecnologia. Cabe, então, a pergunta: o que fizeram e estão fazendo os ditos "patriotas" diante desse processo de recolonização do país? Pelo visto, nada, ou pior, desfilam com a camisa da seleção brasileira de futebol e batem continência para a bandeira norte-americana.

   Como consequência dessa recolonização, aprofunda-se a nossa subalternidade política, econômica e tecnológica diante das potências imperialistas. O grande risco que corremos, por sermos um país de dimensões continentais com mais de duzentos milhões de habitantes, em sua grande maioria concentrados nos grandes centros urbanos, é o de sofrermos uma aceleração violenta da decadência social provocada pelo desemprego crônico e massivo. Uma situação tão explosiva que poderá se tornar uma ameaça, inclusive, a nossa integridade territorial. A classe dominante brasileira faz muito tempo que abandonou qualquer resquício de projeto nacional, portanto, está nas mãos do proletariado a tarefa de libertar o Brasil da recolonização e instituir uma verdadeira independência econômica e soberania política.

    Estes que se autodenominam "patriotas", mas não se dispõem a combater essa dinâmica de subordinação aos ditames do imperialismo, na verdade, não passam de míseros farsantes, são traidores da nação brasileira adornados de verde-amarelo.

Edição: Página 1917

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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Campo de Batalha

Astrojildo Pereira* - 1934

Astrojildo Pereira
"Nada poderão as massas laboriosas esperar do sistema capitalista, mascare-se este seja como for, nem dos partidos feudais e burgueses, pequeno-burgueses ou sedicentes "operários" e "socialistas", todos sem exceção ao serviço dos fazendeiros e capitalistas. Ademais de refletirem as contradições internas próprias do regime, as diferenças de programas, de tática e de finalidade de todos estes partidos, quando existem tais diferenças, consistem unicamente na maneira pela qual pensam poder oprimir as massas em benefício do capitalismo. Só o Partido Comunista, que é o partido de classe do proletariado revolucionário, pode guiar as massas na luta, nas grandes e nas pequenas batalhas. Porque o Partido Comunista é o único partido verdadeiramente anticapitalista."

Astrojildo Pereira (1890-1965), jornalista e escritor, militante anarquista e depois comunista, fundador do PCB, foi o seu segundo secretário-geral (1922-1930), em substituição a Abílio de Nequete que renunciou ao cargo quatro meses após a fundação do partido.


quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O Brasil Contra o Nazifascismo

Ney Nunes

    Há 75 anos, no dia 31 de julho de 1943, ocorreram dois eventos da Segunda Guerra Mundial na costa brasileira que não deveriam ser esquecidos. O primeiro, um combate em alto mar que é motivo de orgulho para nossa Força Aérea, ele aconteceu por volta das nove horas da manhã daquele dia, no litoral do Rio de Janeiro, quando o submarino alemão U-199 foi bombardeado e posto a pique por um avião da FAB. O segundo se daria doze horas após o primeiro, um ataque traiçoeiro e covarde ao Bagé, navio mercante brasileiro de carga e passageiros, desferido pelo submarino alemão U-185 na altura do litoral de Sergipe. 

    No primeiro evento desse dramático dia 31 de julho, o U-199 que já havia desfechado alguns ataques contra navios mercantes entre o litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo, tendo inclusive afundado o cargueiro inglês Henzada, se encontrava à espreita dos comboios que sairiam do porto do Rio. O Capitão-Tenente Hans Werner Kraus, comandante do U-199, na época um dos mais modernos e possantes submarinos da marinha nazista, ordenou o ataque contra um desses comboios, o que possibilitou a sua localização pelas patrulhas aéreas.


Primeiro Tenente-Aviador Alberto Martins Torres

  

O hidro-avião Catalina, modelo PBY-5, armado com metralhadoras e cargas de profundidade, pilotado pelo aspirante-aviador Alberto Martins Torres (1919-2001), chegou na posição indicada e visualizou o submarino na superfície. Enfrentando as metralhadoras antiaéreas dos alemães, o Catalina mergulhou para o ataque, conforme relatou o aspirante Torres no seu livro de memórias:

Quando acentuamos um pouco o mergulho para o início efetivo do ataque, o U-199 guinou fortemente para boreste completando uma curva de 90 graus e se alinhou exatamente com o eixo da nossa trajetória, com a proa voltada para nós. Percebi uma única chama alaranjada da peça do convés de vante, e, por isso, efetuei alguma ação evasiva até atingir uns cem metros de altitude, quando o avião foi estabilizado para permitir o perfeito lançamento das bombas. Com todas as metralhadoras atirando nos últimos duzentos metros, frente a frente com o objetivo, soltamos a fieira de cargas de profundidade pouco à proa do submarino”.

O U-199 disparando conta o Catalina

     A coragem e destreza do piloto brasileiro e da sua tripulação foram decisivas para o sucesso nesse combate. O destino do U-199 estava selado, dos 61 homens a bordo do submarino alemão, 49 perderam a vida, apenas 12 foram resgatados e presos, entre eles, o comandante.

      O segundo evento nesse mesmo dia, não poderia ser descrito como um combate naval, porque o alvo do ataque não era militar, tratava-se do Bagé, que navegava de Recife para Salvador junto da costa, com 107 tripulantes e 27 passageiros, além de uma carga de borracha, castanhas, couro e algodão, uma embarcação mista (carga e passageiros), como era muito comum nessa época. Por volta das 21 horas, o navio brasileiro foi atingido por um torpedo disparado pelo submarino alemão U-185 sob comando do Capitão-Tenente August Maus. Em poucos minutos o Bagé afundava, resultando na morte de vinte dos seus tripulantes, entre eles, o comandante Arthur Monteiro, além de oito passageiros. O Bagé foi o maior navio mercante do Brasil afundado durante a Segunda Guerra Mundial.


    

Durante a guerra 34 embarcações brasileiras foram atacadas, destas, apenas uma era militar. No total, 1.081 pessoas perderam a vida nesses ataques, 270 em um deles apenas, o afundamento do navio de passageiros Baependi, no dia 15 de agosto de 1942.

     Os acontecimentos de 31 de julho de 1943 nos deixaram ensinamentos importantes sobre a natureza covarde e predadora do nazifascismo, a ideologia mentora desses ataques contra a nação brasileira. Ideologia que na atualidade volta à tona entre nós, pelas vozes de elementos travestidos de “patriotas”, mas que, na verdade, pretendem entregar a soberania e riquezas do nosso país para as potências imperialistas. Formam uma escória que não tem vergonha de defender publicamente os métodos covardes da perseguição, prisão, tortura e morte dos seus opositores. São os mensageiros da barbárie que volta a ameaçar o povo brasileiro e a humanidade.

    Que o exemplo desses brasileiros, ao não se curvarem diante da besta nazifascista, frutifique entre nós.

  






sexta-feira, 15 de junho de 2018

Coerção e Consenso na Política

Jacob Gorender*  - 1989
   
Jacob Gorender

    
     "Marx dá novo sentido à palavra ditadura, ao falar em ditadura de classe. Originalmente, o termo ditadura vem da antiga Roma, designando um governo necessariamente provisório, admitido em situações conflitivas, convulsivas, que deveria pôr ordem na vida pública, mas por um prazo determinado, retirando-se em seguida. O termo foi adotado na literatura política, com esta acepção de transitoriedade, até Marx. Para Marx, ditadura de classe será sinônimo de dominação de classe, designando uma situação duradoura.
       Por que a classe dominante exerce dominação de maneira discricionária, como uma ditadura? Porque ela faz o que lhe interessa e para isso não há limite real na lei. As leis obedecem aos interesses da classe dominante e se violam também no interesse da classe dominante. Mas a ditadura, por sua vez, pode ser exercida sob diferentes formas políticas. No caso da burguesia, tanto se exerce sob a forma de um regime plenamente discricionário, como através da república democrática, através de governos representativos e que, na linguagem usual, seriam aparentemente o oposto da ditadura.
      Em virtude de semelhante ambigüidade, o termo ditadura dá origem a numerosas confusões. O fato de, na linguagem mais usual, nós só o empregarmos como expressivo de governos discricionários, não nos permite compreender que, na terminologia de Marx, ele tem sentido de discricionário para a dominação burguesa geral, não se restringindo à forma que esta assume nos governos autoritários. A ditadura de classe pode se apresentar também sob a forma de governos parlamentares representativos e constitucionais, obedientes à legalidade."

*Jacob Gorender (1923-2011), Dirigente Comunista (PCB e PCBR), Escritor e Historiador, autor de:
O Escravismo Colonial, 1978, sobre o caráter da formação social brasileira nos períodos colonial e imperial; e Combate nas Trevas, 1987, sobre a ação da esquerda armada durante a Ditadura Militar.

Leia esse artigo na íntegra em: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/8497/10048

Desmascarando a Propaganda Enganosa do Governo e do Empresariado.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

O Último discurso e o Funeral de Berlinguer.



     O impressionante funeral de Enrico Berlinguer, secretário geral do Partido Comunista Italiano, o maior partido comunista do ocidente no século XX, evidenciou a enorme comoção popular e a força de um partido que, poucos anos depois, seria liquidado pela sua própria direção. A política de conciliação de classes e a consequente adaptação à democracia burguesa foram as causas da doença terminal do PCI.

domingo, 3 de junho de 2018

Cadê o Trem?

Antonio Pastori*  

O recente protesto dos caminhoneiros contra o aumento excessivo dos combustíveis levou vários comentaristas das mídias a trazerem para o debate a questão do transporte ferroviário. Muitos afirmam que se a carga fosse por ferrovia não haveria essa paralisação, porque o custo do transporte é menor, que o trem é o modo ideal para transportar cargas por longas distâncias (entre 200 e 1.000 km), é menos sujeito a acidentes e assaltos, polui menos, etc. Os comentários também lembravam a opção dos governantes pelo modo rodoviário e o consequente abandono das ferrovias a partir dos anos 1960. Como resultado dessa escolha insana, vale lembrar a crescente estatística de mortes nas estradas: mais de 50 mil/ano. Falou-se também da eficiência do transporte ferroviário sem, contudo, apresentarem os números que o comprovem.
A privatização acelerou a destruição do patrimônio ferroviário brasileiro.
Vejamos alguns dados comparativos para se transportar o equivalente a seis mil toneladas de carga por mil quilômetros. Um trem precisaria de 86 vagões; pelo modo rodoviário, seriam necessárias 172 carretas; o trem consumiria 36 mil litros de diesel; os caminhões entre 90 a 100 mil litros; o espaço ocupado pelo trem seria de 1,6 km; os caminhões formariam uma fila de 3,5 km; bastaria um único maquinista para conduzir essa carga por trem, contra 172 caminhoneiros, sem contar os ajudantes.

Os mais precipitados diriam que o trem eliminaria empregos. Ledo engano: os caminhões continuariam com seu papel importante na integração dos modos, porém percorrendo distâncias menores, podendo o caminhoneiro fazer mais viagens/dia. O caminhão, graças a sua enorme mobilidade, recolheria as cargas na origem levando-as até um Centro de Distribuição-CD para serem embarcadas no trem e levadas até outro CD, onde seria transbordada novamente para os caminhões levarem-nas ao seu destino final, não muito longe do CD. Voilà!

Esse modelo de integração modal (trem+caminhão) é simples, perfeito e funciona a contento em muitos lugares do mundo desenvolvido, inclusive nos BRICs. Mas, como jabuticaba só tem no Brasil, ainda não seria possível implanta-lo, simplesmente porque no nosso modelo jabuticaba ferroviária não há capacidade (trens) disponível para transportar carga geral. No Brasil funciona a lógica do corredor de exportação para transportar commodities como minério de ferro, aço, soja, milho e outras. Mais de 85% da carga transportada por ferrovia é produzida por empresas que são acionistas das concessionárias ferroviárias, que exploram a malha desde 1996.

Traduzindo em números, o Brasil movimentou 1.656 bilhão de toneladas por km, em 2015. Deste total 1.076 bilhão (65%) foi carregado via rodoviária e o restante por outros modos, sendo apenas 20% por trilhos. Em resumo, não tem espaço na ferrovia para carga geral como alimentos, bebidas, remédios, eletro-eletrônicos, cimento, tijolo, material construção civil, móveis, automóveis, produtos químicos, combustíveis, etc.
Teoricamente, se esse modelo de integração rodo-ferroviário estivesse funcionando em proveito da sociedade, a greve desses dias não teria causado tantos impactos negativos no abastecimento, até porque, nesse modelo racional haveria trens de passageiros de média e longa distância ligando o nosso País continental e, portanto, bem menos veículos e acidentes nas estradas.

Mas, infelizmente, não há chances de mudar tão cedo, pois o governo adora esse modelo: são divisas que a ferrovia trás para engordar a Balança Comercial. Inclusive o governo quer renovar as atuais concessões da jabuticaba ferroviária por mais trinta anos. Oremos, pois, para não sermos incluídos nas estatísticas de mortes nas estradas!

* Mestre em economia e Pós-graduado em Engenharia Ferroviária. Coordenador do Grupo Fluminense de Preservação Ferroviária - GFPF.

24/05/2018 - GFPF - Grupo Fluminense de Preservação Ferroviária
         
           
     

O Capitalismo Destruindo o Brasil.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Arrastando a Múmia

        Muitos se perguntam, o que segura Michel Temer no cargo? Um notório corrupto, repudiado e desprezado pela esmagadora maioria do povo, ainda assim, essa múmia segue no governo juntamente com seus comparsas.

    A questão é que o bloco das facções burguesas e do imperialismo, ao promoverem a remoção da presidente eleita, formaram uma aliança efêmera, ancorada exclusivamente na retirada dos direitos trabalhistas e previdenciários, privatização do que resta das estatais e no corte dos investimentos sociais, essas medidas foram implementadas em parte, ficaram de fora as privatizações e a reforma da previdência. Tanto é assim, que faltando quatro meses para as eleições, esse bloco não logrou se unificar em torno de uma candidatura presidencial.  


Uma figura repudiada pela maioria esmagadora do povo brasileiro.

    A resultante disso foi a continuidade da crise econômica e social, fermento para a crise política que não para de se agravar na sequência das denúncias de corrupção envolvendo os partidos que dão sustentação à democracia burguesa.

    Considerando o descrédito das suas lideranças, a maioria delas está presa ou respondendo a processos, fica cada vez mais difícil articular uma saída eleitoral estável do ponto de vista burguês. Esse é o dilema atual das mais poderosas facções burguesas. Diante dele, talvez estejam na iminência de ter que apelar para um novo "Collor", dessa vez piorado: o fascista Bolsonaro.

     Mas, por enquanto, seguirão arrastando a múmia.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Democracia Burguesa no Brasil e Repressão (III)

Em Memória da Comuna


Por Vladimir Ilyich Lênin

Já se passaram quarenta anos desde a proclamação da Comuna de Paris. Seguindo a tradição, o proletariado francês honrou a data com comícios e manifestações em memória dos homens da revolução de 18 de março de 1871. No final de maio voltará a levar coroas de flores às tumbas dos communards fuzilados durante a terrível “semana de maio” e a jurar, diante delas, que lutará sem descanso até o triunfo completo de suas ideias, até dar por cumprida a obra por eles legada.
Por que o proletariado – não apenas o francês como o de todo o mundo – honra os combatentes da Comuna e seus precursores? Qual é a herança da Comuna?
A Comuna surgiu espontaneamente; ninguém a preparou de modo consciente ou sistemático. A desgraçada guerra contra a Alemanha, os sofrimentos das privações impostas pelo cerco militar, o desemprego operário e a ruína da pequena burguesia; a indignação das massas contra as classes superiores e contra as autoridades, que haviam demonstrado uma incapacidade absoluta; a surda efervescência no seio da classe operária, descontente de sua situação e ansiosa por um novo regime social; a composição reacionária da Assembleia Nacional, que fazia temer os destinos da República, foram as causas que concorreram com outras muitas para impulsionar a população parisiense para a revolução do 18 de março, que colocou de improviso o poder nas mãos da Guarda Nacional, em mãos da classe operária e da pequena burguesia, que havia se unido a ela.
Foi um acontecimento histórico sem precedentes. Até então, o poder estivera, em geral, nas mãos dos latifundiários e dos capitalistas, quer dizer, de seus mandatários, que constituíam o chamado governo. Depois da revolução de 18 de março, quando o governo do senhor Thiers fugiu de Paris com suas tropas, sua polícia e seus funcionários, o povo ficou dono da situação, e o poder passou para as mãos do proletariado. Porém, na sociedade moderna, o proletariado, avassalado no econômico pelo Capital, não pode dominar na política se não rompe as cadeias que o amarram ao Capital. Daí que o movimento da Comuna deveria adquirir inevitavelmente um matiz socialista, isto é, deveria tender ao aniquilamento do domínio da burguesia, da dominação do capital e à destruição das próprias bases do regime social contemporâneo.
1871: Operários e populares tomam Paris.
A princípio, tratou-se de um movimento heterogêneo e confuso. A ele somaram-se também os patriotas, na esperança de que a Comuna reiniciaria a guerra contra os alemães e levasse a um desenlace venturoso. Apoiaram-no também os pequenos lojistas, em perigo de arruinamento se não se adiasse o pagamento das letras vencidas e dos aluguéis – adiamento este que lhes era negado pelo governo, mas que a Comuna lhes concedeu. Por último, no começo também simpatizaram em certo grau com o movimento os republicanos burgueses, temerosos de que a reacionária Assembleia Nacional (os ruralistas, os violentos latifundiários) restabelecesse a monarquia. Porém, o papel fundamental nesse movimento foi desempenhado, naturalmente, pelos operários (sobretudo os artesãos parisienses), entre os quais se havia espalhado, nos últimos anos do Segundo Império da França, uma intensa propaganda socialista –muitos deles, inclusive, eram filiados à Internacional.
Somente os operários revelara-se fiéis à Comuna até o fim. Os republicanos burgueses e a pequena burguesia não tardaram em apartar-se dela: uns assustaram-se com o caráter revolucionário socialista do movimento, com seu caráter proletário; outros se afastaram quando viram que a Comuna estava inevitavelmente condenada à derrota. Apenas os proletários franceses apoiaram seu governo sem temor nem vacilo; só eles lutaram e morreram por ele, quer dizer, pela emancipação da classe operária, por um futuro melhor para os trabalhadores.
Abandonada por seus aliados de outrora e sem poder contar com nenhum apoio, a Comuna havia de ser derrotada. Toda a burguesia francesa, todos os latifundiários, especuladores da bolsa e fabricantes, todos os grandes e pequenos ladrões, todos os exploradores uniram-se contra ela. Com a ajuda de Bismarck (que pôs em liberdade 100 mil soldados franceses, prisioneiros dos alemães, para esmagar a Paris revolucionária), essa coalizão burguesa logrou confrontar com o proletariado parisiense os camponeses atrasados e a pequena burguesia de províncias e cercar meia Paris com um anel de ferro – a outra metade havia sido cercada pelo exército alemão. Em algumas cidades importantes da França (Marselha, Lyon, Saint-Etienne, Dijon e outras), os operários também tentaram tomar o poder, proclamar a Comuna e acudir a Paris. Tais intentos, porém, logo fracassaram, e Paris, que havia sido o primeiro local a desfraldar a bandeira da insurreição proletária, ficou abandonada a sua própria força, condenada a uma morte certa.
Para que uma revolução social triunfe, são necessárias pelo menos duas condições: um alto desenvolvimento das forças produtivas e um proletariado preparado para tal. Contudo, em 1871, nenhuma dessas condições estava dada. O capitalismo francês encontrava-se ainda pouco desenvolvido; a França era, então, fundamentalmente um país de pequena burguesia (artesãos, camponeses, lojistas etc.). Da mesma forma, não existia um partido operário; a classe operária não tinha preparação nem havia passado por um grande treinamento e, em sua massa, sequer tinha uma noção totalmente clara de quais eram seus objetivos nem como se poderia alcançá-los. Não havia uma organização política séria do proletariado nem sindicatos e cooperativas fortes…
Mas o que faltou à Comuna foi, principalmente, tempo, isto é, possibilidade para perceber a situação das coisas e empreender a realização de seu programa. Não teve tempo para iniciar essa tarefa quando o governo, entrincheirado em Versalhes e apoiado por toda a burguesia, iniciou as operações militares contra Paris. A Comuna teve de pensar, antes de tudo, em sua própria defesa. E até seu fim, que ocorreu na semana de 21 a 28 de maio, não houve tempo para pensar com seriedade em outra coisa.
Por certo, em que pese a essas condições tão desfavoráveis e à brevidade de sua existência, a Comuna teve tempo de aplicar algumas medidas que caracterizam bastante seus verdadeiros sentido e objetivo. Substituiu o exército permanente, instrumento cego em mãos das classes dominantes, pelo armamento de todo o povo; proclamou a separação da Igreja do Estado; suprimiu a subvenção ao culto (o soldo que o Estado pagava aos padres) e deu um caráter estritamente laico à instrução pública, com o que assestou um rude golpe aos soldados de batina. Pouco foi o que se pôde fazer no terreno puramente social. Esse pouco, porém, mostra com suficiente clareza seu caráter de governo popular, de governo operário: foi suprimido o trabalho noturno nas padarias, foi abolido o sistema das multas – essa exploração consagrada pela lei, com que se vitimavam os operários – e, finalmente, foi promulgado o famoso decreto de entrega de todas as fábricas e oficinas abandonadas ou paralisadas por seus donos às cooperativas operárias, com o fim de retomar a produção. E, para sublinhar, seu caráter de governo autenticamente democrático, proletário, a Comuna dispôs que a remuneração de todos os funcionários administrativos e do governo não fosse superior ao salário normal de um operário, nem passasse em nenhum caso dos 6 mil francos anuais (menos de 200 rublos ao mês).
Todas essas medidas mostravam eloquentemente que a Comuna constituía uma ameaça de morte ao Velho Mundo, baseado no avassalamento e na exploração. Essa era a causa de a sociedade burguesa não poder dormir tranquila, enquanto o ajuntamento de Paris ostentasse a bandeira vermelha do proletariado. E, quando a força organizada do governo pôde, afinal, dominar a força mal organizada da revolução, os generais bonapartistas, esses generais batidos pelos alemães mas garbosos frente a seus compatriotas vencidos, esses Rennenkampf e Méller-Zakomelski franceses fizeram uma matança como jamais se havia visto em Paris. Cerca de 30 mil parisienses foram mortos pela soldadesca enfurecida; uns 45 mil foram detidos, executados logo muitos e desterrados ou enviados a trabalhos forçados milhares deles. No total, Paris perdeu 100 mil filhos, entre os quais se encontravam os melhores operários de todos os ofícios.
A burguesia estava satisfeita. “Agora, acabou-se com o socialismo, por um longo tempo!”, dizia seu sanguinário chefe, o diminuto Thiers, quando ele e seus generais afogaram em sangue a sublevação do proletariado de Paris. Mas de nada serviram os grunhidos desses corvos burgueses. Não passariam ainda seis anos da derrocada da Comuna, enquanto se achavam muitos de seus lutadores em presídio ou no exílio, quando na França iniciou-se um novo movimento operário. A nova geração socialista, enriquecida com a experiência de seus predecessores e em absoluto desencorajada pela derrota que sofreram, recolheu a bandeira caída das mãos dos combatentes da Comuna e levou-a adiante com firmeza e valentia aos gritos de “Viva a revolução social! Viva a Comuna!”. E três ou quatro anos mais tarde um novo partido operário e a agitação que levantara no país obrigaram as classes dominantes a pôr em liberdade os communards que o governo ainda mantinha presos.
Honram a memória dos combatentes da Comuna não só os operários franceses, senão também o proletariado de todo o mundo, pois ela não lutou apenas por um objetivo local ou nacional estreito, mas pela emancipação de toda a humanidade trabalhadora, de todos os humilhados e ofendidos. Como combatente de vanguarda da revolução social, a Comuna ganhou a empatia onde quer que sofra e lute o proletariado. A epopeia de sua vida e de sua morte, o exemplo de um governo operário que conquistou e reteve em suas mãos durante mais de dois meses a capital do mundo e o espetáculo da heroica luta do proletariado e seus padecimentos depois da derrota têm levantado até hoje a moral de milhões de operários, têm alentado suas esperanças e têm conquistado sua simpatia para o socialismo. O troar dos canhões de Paris despertou de seu sono profundo às camadas mais atrasadas do proletariado e deu um impulso à propaganda socialista revolucionária em todas as partes. Por isso não morreu a causa da Comuna, por isso segue vivendo até hoje em cada um de nós.
A causa da Comuna é a causa da revolução social, é a causa da completa emancipação política e econômica dos trabalhadores, é a causa do proletariado mundial. E, nesse sentido, é imortal.
[Publicado originalmente em Rabochaya Gazeta, n. 4-5, 15 de abril de 1911). Tradução de Pedro Castro, para o Marxist Internet Archive, com revisão de Alexandre Linares.]

domingo, 27 de maio de 2018

Democracia Burguesa no Brasil e Repressão (II)


    As privatizações foram a tônica na política econômica dos anos 90, contaram com uma maciça propaganda do oligopólio midiático, mas, além disso, o uso da repressão para garantir os leilões foi uma constante nos governos (Collor, Itamar e FHC) da democracia burguesa desse período.


Brutal repressão contra os manifestantes na privatização da Vale em 1997.

Na privatização da Light, em 1996, manifestantes são presos. 

Dezembro de 1994, violenta repressão no leilão da Embraer.

Aparato repressivo para garantir a privatização da CSN, abril de 1993.


Manifestação contra a venda da Vale do Rio Doce


segunda-feira, 21 de maio de 2018

O Brasil Afunda em Desemprego, Miséria e Violência

Ney Nunes

      A mídia burguesa tenta de todas as formas “tapar o sol com a peneira”, mas a dura realidade vai se impondo aos olhos de todos, pelo menos daqueles que não perderam a capacidade de, minimamente, entender o que se passa a sua volta.

     As informações divulgadas pelo IBGE na semana passada sobre os 27 milhões de desempregados e subempregados, assim como, dados sobre o crescimento da inadimplência e o aumento do número de imóveis (residenciais e comerciais) desocupados, apenas confirmam a gravidade da situação em que vive a maioria do povo trabalhador.

      As saídas individualistas da crise, como o apregoado e incentivado “empreendedorismo”, esbarram na atual derrocada econômica onde até mesmo empresas, antes solidamente estabelecidas, reduzem drasticamente suas atividades ou simplesmente fecham as portas, o que faz dos novos pequenos e micros empresários sérios candidatos à falência.


É difícil esconder a decadência econômica.
     

     Os cortes nos gastos sociais fazem com que os serviços públicos sofram uma contínua deterioração, além do que, são sobrecarregados pela proletarização crescente de segmentos da chamada classe média, antes usuários dos serviços privados, como educação e saúde.

     As grandes cidades, já inchadas pelo avanço do agronegócio e da mecanização nas lavouras que expulsaram as populações rurais, tornam-se reféns da violência, acossadas pelo banditismo que há muito tempo deixou de ser algo residual para se transformar, com o aumento da crise social, num fenômeno de massa.

     Some-se a isso tudo a degeneração do Estado Burguês, do seu aparato de governo, jurídico, parlamentar e chegamos ao atual estado de coisas, verdadeira antessala da barbárie. Situação típica dos países entregues a sanha do imperialismo, onde a classe dominante há muito tempo abriu mão de qualquer projeto de soberania nacional.

      O governo Temer é o resumo dessa decadência burguesa, mas essa crise vai muito além da podridão de um governante, dos seus ministros e da sua base parlamentar. A crise é do sistema de dominação e exploração capitalista, ela não terá, portanto, solução fora das transformações estruturais, a partir da constituição de um bloco de forças do proletariado, dos assalariados da classe média, dos pequenos proprietários do campo e da cidade e da intelectualidade progressista, em oposição ao atual bloco dominante da burguesia e do imperialismo.     

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Gramsci e a Hegemonia Burguesa no Regime Parlamentar

Antonio Gramsci
"O exercício "normal" da hegemonia, no terreno clássico do regime parlamentar, caracteriza-se pela combinação da força e do consenso, que se equilibram variadamente, sem que a força suplante muito o consenso, ou melhor, procurando obter que a força pareça apoiada no consenso da maioria, expresso pelos chamados órgãos da opinião pública - jornais e associações - os quais, por isso, em determinadas situações, são artificialmente multiplicados. Entre o consenso e a força situa-se a corrupção-fraude (característica de certas situações de exercício difícil da função hegemônica, apresentando o emprego da força muitos perigos), isto é, a desarticulação e a paralisação do antagonista ou dos antagonistas através da absorção dos seus dirigentes, seja disfarçadamente, seja, em caso de perigo emergente, abertamente, para lançar a confusão e a desordem nas fileiras adversárias."

Antonio Gramsci (Maquiavel, a Política e o Estado Moderno, p. 116, Editora Civilização Brasileira, 2ª edição, 1976.)

terça-feira, 15 de maio de 2018

Democracia Burguesa no Brasil: O Mito Reforçado.


Ney Nunes

          Se considerarmos a vigência da constituição de 1988, completamos três décadas de regime político democrático burguês em nosso país. Para o senso comum, reforçado diuturnamente pelo oligopólio midiático, vivemos numa “democracia”, assim mesmo, sem nenhuma caracterização de classe, como se o regime político fosse neutro e não estivesse subordinado aos interesses da burguesia.

      Antes de mais nada, é preciso dizer que a mudança de regime ocorrida nos anos oitenta do século XX, quando transitamos da ditadura empresarial-militar para a democracia burguesa, foi uma mudança progressiva do ponto de vista da luta do proletariado. Saímos de um regime obscurantista e repressivo, onde a manifestação pública de oposição ao governo implicava em correr o risco de prisão, tortura e morte, para outro, onde, em princípio, pelo menos isso estaria descartado.

     
O golpe de 1964, ditadura empresarial-militar.

  Dito isso, precisamos esclarecer que os dois regimes, a ditadura empresarial-militar instalada após o golpe de 1964 e a democracia burguesa consolidada com a constituição de 1988, têm algo relevante em comum: os dois respondem ao interesse fundamental da classe dominante, ou seja, a continuidade e o desenvolvimento do capitalismo.
      Vejam que o caráter progressivo da democracia burguesa foi relativo à ditadura e, de forma alguma, pode ser uma conceituação estática. Superada essa transição, a democracia burguesa se revela muito mais apetrechada no sentido de cumprir a missão primordial de todo sistema político burguês: a garantia do desenvolvimento capitalista. Nesse momento, o seu caráter progressivo, do ponto de vista da luta de classes, se dissolve. Para confirmarmos essa tese é suficiente verificar como nos últimos trinta anos as diversas esferas do poder do Estado atenderam as demandas das classes dominantes. 

Sarney e Ulisses, constituição de 1988 resguarda o poder do capital.
      

            É inequívoco que o regime político, consolidado com a constituição de 1988, mostrou-se muito mais eficiente no sentido de preservar a hegemonia burguesa e de protegê-la das intempéries da luta de classes. Mesmo agora, sofrendo com um desgaste nunca visto nos últimos trinta anos, vendo todas as suas instituições envolvidas em escândalos de corrupção, esse regime segue atacando o proletariado, aprovando leis, emitindo decisões judiciais e executando políticas em favor dos interesses burgueses.

     A superioridade da democracia burguesa reside justamente nesta sua capacidade de parecer o que, na verdade não é, ou seja, uma verdadeira democracia. Como falar em democracia, eleições livres, direitos iguais, etc., quando tudo favorece o poder econômico dos oligopólios empresariais, dessa minoria parasitária detentora do capital. Essa realidade é mascarada por todos os meios disponíveis na sociedade, mas, sem dúvida, o mais eficiente deles é a cooptação de agentes políticos oriundos das próprias classes exploradas, ou daqueles que se arvoram como seus representantes. Esses cooptados passam a agir em consonância com o projeto burguês, dividindo o exército proletário, desorganizando e desmoralizando a única classe em condições de levantar uma alternativa de poder frente à burguesia.

2013, a democracia burguesa em ação.

     Os apressadinhos que correm para salvar a “democracia”, sob o argumento de que ela estaria ameaçada, estão reforçando o mito de uma democracia ilusória, dissociada dos interesses de classe. Deveriam refletir sobre qual é a democracia que estão querendo salvar. A ilusória ou a burguesa? A ilusória não precisa de salvação porque não existe. Já a democracia burguesa, essa é bem concreta e está em pleno vigor no Brasil, suas instituições têm desferidos golpes e mais golpes contra as liberdades democráticas e os direitos elementares do povo trabalhador. Em vez de socorrer esse decadente regime político burguês, nossa atuação deve ir em sentido contrário, expondo sua verdadeira face de classe, de exploração do povo trabalhador e levantando a bandeira da democracia proletária, socialista, dos produtores, nesta, o poder político e econômico não ficará nas mãos de uma minoria parasitária.

 



 
                                                                                      

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