Índice de Seções

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Coerção e Consenso na Política

Jacob Gorender*  - 1989
   
Jacob Gorender

    
     "Marx dá novo sentido à palavra ditadura, ao falar em ditadura de classe. Originalmente, o termo ditadura vem da antiga Roma, designando um governo necessariamente provisório, admitido em situações conflitivas, convulsivas, que deveria pôr ordem na vida pública, mas por um prazo determinado, retirando-se em seguida. O termo foi adotado na literatura política, com esta acepção de transitoriedade, até Marx. Para Marx, ditadura de classe será sinônimo de dominação de classe, designando uma situação duradoura.
       Por que a classe dominante exerce dominação de maneira discricionária, como uma ditadura? Porque ela faz o que lhe interessa e para isso não há limite real na lei. As leis obedecem aos interesses da classe dominante e se violam também no interesse da classe dominante. Mas a ditadura, por sua vez, pode ser exercida sob diferentes formas políticas. No caso da burguesia, tanto se exerce sob a forma de um regime plenamente discricionário, como através da república democrática, através de governos representativos e que, na linguagem usual, seriam aparentemente o oposto da ditadura.
      Em virtude de semelhante ambigüidade, o termo ditadura dá origem a numerosas confusões. O fato de, na linguagem mais usual, nós só o empregarmos como expressivo de governos discricionários, não nos permite compreender que, na terminologia de Marx, ele tem sentido de discricionário para a dominação burguesa geral, não se restringindo à forma que esta assume nos governos autoritários. A ditadura de classe pode se apresentar também sob a forma de governos parlamentares representativos e constitucionais, obedientes à legalidade."

*Jacob Gorender (1923-2011), Dirigente Comunista (PCB e PCBR), Escritor e Historiador, autor de:
O Escravismo Colonial, 1978, sobre o caráter da formação social brasileira nos períodos colonial e imperial; e Combate nas Trevas, 1987, sobre a ação da esquerda armada durante a Ditadura Militar.

Leia esse artigo na íntegra em: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/8497/10048

Desmascarando a Propaganda Enganosa do Governo e do Empresariado.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

O Último discurso e o Funeral de Berlinguer.



     O impressionante funeral de Enrico Berlinguer, secretário geral do Partido Comunista Italiano, o maior partido comunista do ocidente no século XX, evidenciou a enorme comoção popular e a força de um partido que, poucos anos depois, seria liquidado pela sua própria direção. A política de conciliação de classes e a consequente adaptação à democracia burguesa foram as causas da doença terminal do PCI.

domingo, 3 de junho de 2018

Cadê o Trem?

Antonio Pastori*  

O recente protesto dos caminhoneiros contra o aumento excessivo dos combustíveis levou vários comentaristas das mídias a trazerem para o debate a questão do transporte ferroviário. Muitos afirmam que se a carga fosse por ferrovia não haveria essa paralisação, porque o custo do transporte é menor, que o trem é o modo ideal para transportar cargas por longas distâncias (entre 200 e 1.000 km), é menos sujeito a acidentes e assaltos, polui menos, etc. Os comentários também lembravam a opção dos governantes pelo modo rodoviário e o consequente abandono das ferrovias a partir dos anos 1960. Como resultado dessa escolha insana, vale lembrar a crescente estatística de mortes nas estradas: mais de 50 mil/ano. Falou-se também da eficiência do transporte ferroviário sem, contudo, apresentarem os números que o comprovem.
A privatização acelerou a destruição do patrimônio ferroviário brasileiro.
Vejamos alguns dados comparativos para se transportar o equivalente a seis mil toneladas de carga por mil quilômetros. Um trem precisaria de 86 vagões; pelo modo rodoviário, seriam necessárias 172 carretas; o trem consumiria 36 mil litros de diesel; os caminhões entre 90 a 100 mil litros; o espaço ocupado pelo trem seria de 1,6 km; os caminhões formariam uma fila de 3,5 km; bastaria um único maquinista para conduzir essa carga por trem, contra 172 caminhoneiros, sem contar os ajudantes.

Os mais precipitados diriam que o trem eliminaria empregos. Ledo engano: os caminhões continuariam com seu papel importante na integração dos modos, porém percorrendo distâncias menores, podendo o caminhoneiro fazer mais viagens/dia. O caminhão, graças a sua enorme mobilidade, recolheria as cargas na origem levando-as até um Centro de Distribuição-CD para serem embarcadas no trem e levadas até outro CD, onde seria transbordada novamente para os caminhões levarem-nas ao seu destino final, não muito longe do CD. Voilà!

Esse modelo de integração modal (trem+caminhão) é simples, perfeito e funciona a contento em muitos lugares do mundo desenvolvido, inclusive nos BRICs. Mas, como jabuticaba só tem no Brasil, ainda não seria possível implanta-lo, simplesmente porque no nosso modelo jabuticaba ferroviária não há capacidade (trens) disponível para transportar carga geral. No Brasil funciona a lógica do corredor de exportação para transportar commodities como minério de ferro, aço, soja, milho e outras. Mais de 85% da carga transportada por ferrovia é produzida por empresas que são acionistas das concessionárias ferroviárias, que exploram a malha desde 1996.

Traduzindo em números, o Brasil movimentou 1.656 bilhão de toneladas por km, em 2015. Deste total 1.076 bilhão (65%) foi carregado via rodoviária e o restante por outros modos, sendo apenas 20% por trilhos. Em resumo, não tem espaço na ferrovia para carga geral como alimentos, bebidas, remédios, eletro-eletrônicos, cimento, tijolo, material construção civil, móveis, automóveis, produtos químicos, combustíveis, etc.
Teoricamente, se esse modelo de integração rodo-ferroviário estivesse funcionando em proveito da sociedade, a greve desses dias não teria causado tantos impactos negativos no abastecimento, até porque, nesse modelo racional haveria trens de passageiros de média e longa distância ligando o nosso País continental e, portanto, bem menos veículos e acidentes nas estradas.

Mas, infelizmente, não há chances de mudar tão cedo, pois o governo adora esse modelo: são divisas que a ferrovia trás para engordar a Balança Comercial. Inclusive o governo quer renovar as atuais concessões da jabuticaba ferroviária por mais trinta anos. Oremos, pois, para não sermos incluídos nas estatísticas de mortes nas estradas!

* Mestre em economia e Pós-graduado em Engenharia Ferroviária. Coordenador do Grupo Fluminense de Preservação Ferroviária - GFPF.

24/05/2018 - GFPF - Grupo Fluminense de Preservação Ferroviária
         
           
     

O Capitalismo Destruindo o Brasil.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Arrastando a Múmia

        Muitos se perguntam, o que segura Michel Temer no cargo? Um notório corrupto, repudiado e desprezado pela esmagadora maioria do povo, ainda assim, essa múmia segue no governo juntamente com seus comparsas.

    A questão é que o bloco das facções burguesas e do imperialismo, ao promoverem a remoção da presidente eleita, formaram uma aliança efêmera, ancorada exclusivamente na retirada dos direitos trabalhistas e previdenciários, privatização do que resta das estatais e no corte dos investimentos sociais, essas medidas foram implementadas em parte, ficaram de fora as privatizações e a reforma da previdência. Tanto é assim, que faltando quatro meses para as eleições, esse bloco não logrou se unificar em torno de uma candidatura presidencial.  


Uma figura repudiada pela maioria esmagadora do povo brasileiro.

    A resultante disso foi a continuidade da crise econômica e social, fermento para a crise política que não para de se agravar na sequência das denúncias de corrupção envolvendo os partidos que dão sustentação à democracia burguesa.

    Considerando o descrédito das suas lideranças, a maioria delas está presa ou respondendo a processos, fica cada vez mais difícil articular uma saída eleitoral estável do ponto de vista burguês. Esse é o dilema atual das mais poderosas facções burguesas. Diante dele, talvez estejam na iminência de ter que apelar para um novo "Collor", dessa vez piorado: o fascista Bolsonaro.

     Mas, por enquanto, seguirão arrastando a múmia.

Caro leitor, ajude a divulgar o Página 1917, compartilhe nossas publicações nas suas redes sociais.