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segunda-feira, 29 de abril de 2024

Retomar o Caráter Combativo e Classista do Primeiro de Maio!

Ney Nunes

29/04/2024


Primeiro de Maio, anos oitenta, Brasil.


Ao final do século passado, mais precisamente entre o final dos anos setenta e os anos oitenta, quando vivíamos o ocaso da ditadura empresarial-militar instaurada com o golpe de 1964, participei ativamente de algumas manifestações do Primeiro de Maio. Embalados pelas greves que ressurgiam com força pelo país, em especial nas cidades com grandes concentrações operárias, conseguíamos mobilizar e construir atos do dia do trabalhador com conteúdo classista que reforçavam as bandeiras de luta do movimento sindical.

Nesses atos, os protagonistas eram os trabalhadores e suas organizações sindicais e políticas, não havia lugar para governantes e politiqueiros burgueses. Milhares de trabalhadores se reuniam com objetivo de demonstrar suas insatisfações e para reforçar as reivindicações diante da burguesia e do governo. O caráter internacional da luta de classes e a necessária unidade e solidariedade para enfrentar o capitalismo eram pontos destacados pelos oradores e nos muitos panfletos das organizações e partidos envolvidos com aquelas mobilizações.

A partir dos anos noventa, com as derrotas sofridas pela classe trabalhadora no Brasil e no mundo, derrotas que aprofundaram a exploração e a precarização do trabalho, começava um longo período de retrocesso nas lutas operárias e na consciência de classe. A descaracterização do Primeiro de Maio foi, entre os vários mecanismos para dissolver essa consciência classista, uma das mais significativas. O "Dia do Trabalhador" passa a ser chamado de "Dia do Trabalho", as concentrações combativas e de reivindicações se transformam em shows midiáticos com sorteios de prêmios, em vez dos dirigentes da luta operária, são os políticos burgueses os convidados de honra.

Assim, já temos três décadas dessa deformação do Dia Internacional dos Trabalhadores, chegando hoje ao ponto de vermos essas entidades sindicais esvaziadas, burocratizadas, dirigidas por uma camada de pelegos a serviço da subordinação ao patronato, convocarem atos de primeiro de maio sob o signo da conciliação de classes. Esses lacaios do capital transformaram o dia de combate da classe trabalhadora em dia de festa e de farsa.

O longo período de retrocessos na luta e na consciência de classe dos trabalhadores precisa chegar ao fim. Essa é uma premissa essencial para não cairmos de vez no poço sem fundo que nos reserva a barbárie capitalista. Levantemos bem alto a bandeira da solidariedade internacional da classe trabalhadora, contra os exploradores, contra a guerra imperialista e contra o genocídio na Palestina.

Pela paz entre os povos! Pelo Socialismo!


Edição: Página 1917



quarta-feira, 24 de abril de 2024

25 de Novembro: A Esquerda Encurralada

Francisco Martins Rodrigues
1999

O 25 de Novembro foi, à sua maneira, tão original como o 25 de Abril. Se a «Revolução dos cravos» se distinguira por ter derrubado o fascismo sem combates e sem vítimas, o golpe militar que lhe pôs termo pareceu não querer ficar-lhe atrás em cavalheirismo. A repressão, restrita à área militar, foi relativamente branda, o Conselho da Revolução manteve-se em funções, a legalidade democrática foi prontamente restabelecida, o PCP, alvo de acusações de ter tentado uma insurreição, permaneceu no governo. Cinco meses após o golpe, o país era dotado com uma Constituição avançada, «a caminho da sociedade sem classes»... Tudo funcionou como se a uma meia revolução devesse corresponder uma meia contra-revolução, a uma comédia, outra comédia.

25 de novembro de 1975: golpe contra a Revolução dos Cravos


Esta singularidade não se explica, naturalmente, pela «índole pacífica» dos portugueses. Os povos africanos podem atestá-lo. Ela tem a ver com o equilíbrio original entre as classes criado durante a crise revolucionária, o qual deu lugar, na sugestiva expressão de Boaventura Sousa Santos, a uma dualidade de impotências em vez de uma dualidade de poderes(10). O 25 de Novembro foi brando porque a contra-revolução não tinha muita energia, mas também porque não havia muita revolução para destruir.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Lenin, Mais Atual do que Nunca

Viva o 22 de abril, nascimento de Lenin!

A atualidade do pensamento do revolucionário e fundador do Estado Soviético atormenta os que se colocam a serviço da perpetuação do sistema de exploração do proletariado.

 

"A burguesia liberal, dando reformas com uma das mãos, retira-as sempre com a outra, as reduz a nada, utiliza-as para subjugar os operários, para os dividir em diversos grupos, para perpetuar a escravidão assalariada dos trabalhadores. Por isso o reformismo, mesmo quando é inteiramente sincero, transforma-se de fato num instrumento de corrupção burguesa e enfraquecimento dos operários."

Lenin



Lenin, coletânea de imagens.

Vladimir Ilyich Ulianov, Lenin ou Lenine (Simbirsk, 22 de abril de 1870 – Gorki, 21 de janeiro de 1924)


 

terça-feira, 16 de abril de 2024

A Escalada da Guerra no Oriente Médio



Na sua declaração, o Gabinete de Imprensa do CC do Partido Comunista da Grécia (KKE) sobre a escalada da guerra no Oriente Médio  destaca que:

“O esperado ataque do Irã a Israel em retaliação ao ataque criminoso do Estado de Israel à embaixada iraniana em Damasco, Síria, com oficiais iranianos mortos, é uma perigosa escalada da guerra no Médio Oriente que pode adquirir enormes dimensões no caso de um ataque por Israel e seus aliados contra o Irã.

O KKE alertou desde o início que a ocupação israelense e o genocídio contra o povo palestino, com o apoio dos EUA, da OTAN e da UE, os ataques israelenses na Síria e no Líbano, bem como os antagonismos imperialistas no Mar Vermelho, com a presença das forças militares euro-atlânticas e a participação da Grécia estão a criar as condições para a generalização da guerra e a abrir “as portas do inferno”. A população da região, e entre ela o povo grego, encontra-se no meio de grandes perigos.

A Grécia, com a responsabilidade do governo da ND e a cumplicidade do SYRIZA, do PASOK e dos outros partidos, está profundamente envolvida em duas guerras imperialistas simultâneas, no Oriente Médio e na Ucrânia, com consequências dolorosas.

Agora, o povo deve exigir mais alto que o governo da ND retire imediatamente o seu apoio ao assassino do Estado de Israel e desengaje o nosso país das guerras imperialistas, que feche as bases e infra-estruturas dos EUA e da OTAN, que retire a fragata “Hydra” do Operação Aspides da União Europeia no Mar Vermelho.

O povo não deve aceitar tornar-se “alimento para os canhões” dos imperialistas e para os interesses da burguesia grega; devemos condenar decisivamente o governo da ND e os partidos que apoiam a OTAN e o Euro-Atlantismo, fortalecer o KKE que luta consistentemente para que o povo viva em paz e para que se liberte da barbárie capitalista que dá origem a guerras, pobreza e as ondas de refugiados."

14/04/2024

Edição: Página 1917

 


segunda-feira, 15 de abril de 2024

Exportação de Capitais e Primeiras Ferrovias no Brasil

Lenin 
1916

Estrada de ferro Minas-Rio, estação de Cruzeiro.

A exportação de capitais repercute-se no desenvolvimento do capitalismo dentro dos países em que são investidos, acelerando-o extraordinariamente. Se, em consequência disso, a referida exportação pode, até certo ponto, ocasionar uma estagnação do desenvolvimento nos países exportadores, isso só pode ter lugar em troca de um alargamento e de um aprofundamento maiores do desenvolvimento do capitalismo em todo o mundo.

Os países que exportam capitais podem quase sempre obter certas "vantagens", cujo caráter lança luz sobre as particularidades da época do capital financeiro e do monopólio. Eis, por exemplo, o que dizia em Outubro de 1913 a revista berlinense Die Bank:

"No mercado internacional de capitais está a representar-se desde há pouco tempo uma comédia digna de um Aristófanes. Um bom número de Estados, desde a Espanha até aos Balcãs, desde a Rússia até à Argentina, ao Brasil e à China, apresentam-se, aberta ou veladamente, perante os grandes mercados de dinheiro, exigindo, por vezes com extraordinária insistência, a concessão de empréstimos. Os mercados de dinheiro não se encontram atualmente numa situação muito brilhante, e as perspectivas políticas não são animadoras. Mas nenhum dos mercados monetários se decide a negar um empréstimo com receio de que o vizinho se adiante, o conceda e, ao mesmo tempo, obtenha certos serviços em troca do serviço que presta. Nas transações internacionais deste gênero o credor obtém quase sempre algo em proveito próprio: um favor no tratado de comércio, uma base hulheira, a construção de um porto, uma concessão lucrativa ou uma encomenda de canhões." (2)

domingo, 7 de abril de 2024

Capitalismo e Ferrovias no Brasil

Neste mês de abril de 2024, registramos os 170 anos da inauguração da primeira ferrovia no Brasil. Aproveitando esse marco, vamos publicar uma série de artigos e trechos de livros que abordam história e atualidade do transporte ferroviário em nosso país. (Editor)

 

Locomotiva a vapor, Juiz de Fora-MG, 1964.

 

Douglas Apratto Tenório*

    A ferrovia é uma das invenções mas extraordinárias da humanidade. A aplicação da força expansiva do vapor a uma máquina móvel que circula sobre um caminho artificial, constituído por duas trilhas de ferro, é o ponto de partida para um novo período da história, em que o homem põe a seu serviço tais elementos, como forças cooperadoras, em suas atividades, na busca incansável de domínio.

    Decorrido mais de um século e meio de sua invenção e difusão, o transporte ferroviário não perdeu a sua importância e, hoje, mais do que nunca, ele se acha valorizado. Nem o automóvel nem o avião consegue diminuir a importância fundamental das ferrovias no contexto das comunicações. Somente um rio navegável ou uma costa litorânea bem proporcionada tem capacidade de transporte equivalente a uma via-férrea. Ela é um elemento importante para o desenvolvimento da vida coletiva. Não são poucos os estudiosos que comparam os problemas enfrentados pelos países integrados através do avião ou por outro tipo de transporte com aqueles países integrados por estradas de ferro, sobretudo os de grandes dimensões territoriais. Mostram esses especialistas as sérias implicações herdadas pelos primeiros  e os problemas menores enfrentados pelos últimos.

    Porém, a ferrovia teve seu lado negativo. Foi um eficiente instrumento de dominação e subjugamento, um agente da política de dominação mansa e de exploração sutil: o imperialismo econômico. Por conta disso, a história das ferrovias em países como o Brasil, põe em evidência os numerosos equívocos que nortearam sua política, os quais de difícil retificação, uma vez implantados, gravitam pesadamente sobre o corpo social, com serviços insuficientes quanto ao número, defeituosos quanto a qualidade, incorretos quanto aos traçados e, consequentemente, onerosos.

    As ferrovias de capital britânico exerceram, no Brasil, um papel muito significativo, tanto na parte econômica-política, como no processo de desenvolvimento social. Durante o período imperial até os primeiros anos do regime republicano, importantes transformações surgiram no plano das comunicações do país, impulsionadas, sobretudo, pelo transporte ferroviário, trazido pelo capital britânico e dirigido pelos seus prepostos aqui e na Inglaterra.

    [...] destacamos o surgimento do transporte ferroviário na esteira das grandes transformações econômicas e sociais que sacudiram o Brasil na segunda metade do século XIX e,  ao mesmo tempo, os benefícios e distorções cometidas na sua implementação, a partir dos interesses do exterior que dirigiram e ditaram os rumos a seguir, sem auscultar os verdadeiros interesses nacionais no setor, contribuindo sobremaneira para a lastimável situação em que se encontra na atualidade o transporte ferroviário brasileiro.

*Douglas Apratto Tenório, professor, doutor em história, jornalista, escritor, historiador. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Alagoas (1972), mestrado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (1992) e doutorado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (1994).

Fonte: Capitalismo e Ferrovias no Brasil; Douglas Apratto Tenório; HD Livros Editora, 1996.

Edição: Página 1917

    

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Macron: a lógica da guerra imperialista

Partido Revolucionário Comunista* (França)
01/04/2024

O desenvolvimento da guerra imperialista no território da Ucrânia que inicia o seu terceiro ano é marcado por uma escalada nas políticas de rearmamento, preparação das populações para uma extensão do conflito, para uma militarização das atividades sociais e econômicas e uma tendência acentuada para restringir as liberdades.


O editorial do jornal Les Echos de 6 de março dá o tom ao afirmar: “Por mais horrível que seja, devemos fazer da guerra uma oportunidade da qual retiraremos dividendos”. Tudo é dito em poucas palavras nesta curta frase: a guerra deve ser um meio para os capitalistas aumentarem as taxas de lucro em detrimento, é claro, do trabalho assalariado. Esta realidade não é nova, está na própria lógica do capitalismo para o qual a guerra é um meio de destruir o excesso de capital, empobrecer os trabalhadores e abrir um novo período de crescimento dos lucros e acumulação de capital. O que Jean Jaurès resumiu na sua época com a famosa fórmula: “O capitalismo carrega dentro de si a guerra como a nuvem carrega a tempestade”.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Silêncio Nunca Mais!

Ney Nunes

01/04/2024

O Governo João Goulart foi deposto há sessenta anos, em 01/04/1964, pelo golpe empresarial-militar, um explícito conluio da burguesia brasileira com o imperialismo norte-americano. Mas os golpistas preferiram deixar registrado o dia 31 de março como aniversário do golpe, receavam a identificação com o primeiro de abril, popularmente conhecido como "dia da mentira".

Gregório Bezerra, preso e torturado logo após o golpe de 1964.

O receio fazia sentido, afinal, a propaganda política que antecedeu o golpe tinha entre eixos principais "salvar a democracia" e "combater a corrupção". O que logo se revelaria uma grande mentira. A democracia foi enterrada e os novos governantes se fartaram na corrupção. As prisões, torturas e assassinatos dos opositores do regime tornaram-se rotina. De imediato, os alvos principais foram comunistas, sindicalistas e militares legalistas. O golpe tinha um endereço certo: silenciar o movimento operário-camponês e qualquer ameaça de contestação.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Cúmplice do Genocídio: Quem deu a Israel a arma do crime?

Ramzy Baroud*

 

"Embora muitos dos aliados tradicionais de Israel no Ocidente rejeitem abertamente o seu comportamento em Gaza, as armas de vários países ocidentais e não ocidentais continuam a fluir."

 

Mais de 9.000 mulheres palestinas foram mortas desde o início da guerra israelense na Faixa de Gaza. As mães foram a maior parte desses assassinatos cometidos por Israel, com uma média de 37 mães por dia desde 7 de outubro.

Fornecedores de armas são cúmplices do genocídio em Gaza.


Os números acima, do Ministério da Saúde Palestino em Gaza e da Sociedade do Crescente Vermelho, respectivamente, apenas transmitem parte do sofrimento vivido por 2,3 milhões de palestinos na Faixa de Gaza.

Não há um único sector da sociedade palestina que não tenha pago um preço elevado pela guerra, embora as mulheres e as crianças sejam as que mais sofreram, constituindo mais de 70 por cento de todas as vítimas do genocídio israelense em curso.

É verdade que estas mulheres e os seus filhos são mortos às mãos dos militares de Israel, mas são assassinados com armas fornecidas pelos EUA e outros países.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Francisco Martins Rodrigues, Última Entrevista

Esta entrevista foi concedida ao Blog Caminhos da Memória no final de janeiro de 2008, pouco antes de Francisco Martins Rodrigues* falecer, em 22 de abril de 2008, vítima de câncer. Nela o dirigente comunista revolucionário percorre os principais momentos da sua trajetória política até a Revolução dos Cravos.

Francisco Martins Rodrigues


Nascido em Moura, em 1927, Francisco Martins Rodrigues começou a interessar-se pela política na sequência da prisão do seu irmão José Leonel, vindo posteriormente a ingressar no MUD–Juvenil e no PCP. Fez parte do Comité Central e da Comissão Executiva deste partido a seguir à famosa evasão da cadeia de Peniche a 3 de Janeiro de 1960, da qual tomou parte. Nos anos seguintes entraria em ruptura com o PCP, fundando a FAP e o CMLP. Torna-se então na principal referência teórica do maoísmo desta primeira fase. Em Janeiro de 1966 é preso pela PIDE e condenado a dezanove anos de cadeia. Permanecerá nos calabouços da ditadura até ao dia 27 de Abril de 1974. Posteriormente, fez parte do PCP(R) e da UDP, de onde viria a sair, em meados da década de oitenta, para constituir o coletivo Política Operária.

O excerto que a seguir se apresenta trata dos anos de militância no MUD-J e no PCP. Aproveita-se para informar que um texto autobiográfico sobre o período será em breve lançado pela Dinossauro e a Abrente, com o título Os Anos do Silêncio. Mas avancemos para a conversa.

Nasceu no Alentejo, uma região onde o Partido Comunista sempre teve um peso particular. Foi aí que entrou na política?

Não. Os meus pais vieram para Lisboa, teria eu seis ou sete anos, e desde essa altura que passei a viver aqui.

O que é que os seus pais faziam?

O meu pai era funcionário público e a minha mãe era doméstica. O meu pai tinha sido opositor ao regime e, por isso, tinha muitos problemas. Durante a Guerra de Espanha, era eu criança, ele comprou, de propósito, um rádio e um grande mapa de Espanha. Punha-se a ouvir e dizia-nos para procurar no mapa as terras… Éramos crianças e estas coisas marcam.

Ele chegou a estar preso?
Não.

Nem ligações ao Partido Comunista?

Não, era uma pessoa que tinha seis filhos, preocupadíssimo em sustentar a família. Só que em casa desbobinava as suas opiniões. Ouvia por vezes a Rádio Moscou – era um pesadelo, o barulho que aquilo fazia, cheio de interferências… Não seria nenhum entusiasta da Rússia, mas dizia que aquilo era «um país diferente»…

Depois, o meu irmão mais velho – o único que ainda é vivo, os outros já morreram todos – foi preso, mais ou menos no tempo do Norton de Matos. Comecei a ir vê-lo à prisão, no Aljube e em Caxias, e isso aí marcou-me muito, porque ele lá dentro começou a ficar um bocado perturbado. Apanhou ano e meio por ter sido preso com outros a escrever nas paredes. Foi suficiente para darem cabo dele. Foi aí que comecei o meu tirocínio, a frequentar amigos que ele também tinha, a participar em encontros em cafés, a ter ligação ao MUD-Juvenil.

A entrada para o PCP é posterior?

Muito posterior. Eu estava interessado em entrar, mas não se entrava facilmente. Muito secretamente, um rapaz que era barbeiro nos Anjos e que já tinha estado preso, começou a dar-me uns Avantes¹, mas que dizia que não tinha ligação nenhuma. Todos diziam que não tinham ligação nenhuma… A malta mais nova era canalizada para o MUD-Juvenil para ver o que é que valia. A minha militância aí deve ter rondado os três anos. Fui da Comissão Central do MUD Juvenil e tornei-me funcionário do MUD-J na clandestinidade Ainda sou preso algumas vezes…

terça-feira, 26 de março de 2024

Lenin, Usos e Abusos

Ney Nunes*

26/03/2024



Ainda está para surgir quem faça um estudo aprofundado a respeito dos usos e abusos da obra de Lenin pelos embusteiros de todos os matizes. Será, com certeza, um trabalho hercúleo, uma obra que não poderá ser reunida num único livro, mas necessitará de vários volumes. Depois de um século do seu falecimento, Lenin continua a ser citado por inúmeros oportunistas, na tentativa de camuflar com verniz de esquerda as mais torpes e escabrosas manobras políticas. Manobras estas, em geral, visando sempre colocar o proletariado a reboque dos interesses burgueses.

É justamente o que vem ocorrendo na atual conjuntura. O crescimento de partidos de extrema-direita em vários países e sua ascensão ao governo via eleições, como por exemplo, Jair Bolsonaro no Brasil e Javier Milei na Argentina, suscitam as mais estapafúrdias análises por parte desses ideólogos do oportunismo e do reformismo. Seus artigos, na maioria das vezes, vêm acompanhados de comparações com os antecedentes da Revolução Russa e recheados de citações descontextualizadas do seu principal dirigente. Não satisfeitos em desvirtuar a trajetória política e a obra de Lenin, agregam frequentemente no rol das suas mistificações outros destacados revolucionários, como Trotsky, Gramsci e Mao.

quinta-feira, 21 de março de 2024

Armadilha Capitalista para Avanços Científicos

Prabhat Patnaik*

17/03/2024

Há um paradoxo no cerne do florescimento da ciência que ocorreu ao longo do último milênio. Em essência, esta eflorescência tem o potencial de aumentar imensamente a liberdade humana. Aumenta a capacidade do homem na dialética homem-natureza; a prática científica pretende ir além do “dado”, não apenas num sentido definitivo, mas como um movimento perpétuo através de um autoquestionamento incessante, de modo que esta prática seja potencialmente um ato coletivo de libertação. Mas esta promessa de liberdade continua significativamente por cumprir; e embora o seu potencial não tenha sido concretizado, esta eflorescência da ciência tem sido utilizada em grande medida para o domínio de alguns sobre outros seres humanos e outras sociedades. O paradoxo reside no fato de a prática científica que tem o potencial de aumentar a liberdade humana ter sido utilizada para aumentar a dominação, isto é, para atenuar a liberdade humana.




As raízes deste paradoxo residem no fato de que o desencadeamento do avanço científico exigiu a derrubada do domínio exercido sobre a sociedade pela Igreja (que, recorde-se, forçou Galileu a retratar-se); e esta derrubada só poderia ocorrer como parte da transcendência da ordem feudal, isto é, como parte da revolução burguesa, da qual a Revolução Inglesa de 1640 foi um excelente exemplo. O desenvolvimento da ciência moderna na Europa esteve, portanto, indissociavelmente ligado, desde o início, ao desenvolvimento do capitalismo; e isso deixou a sua marca indelével na utilização que foi dada aos avanços científicos.

Esta marca burguesa também teve importantes implicações epistêmicas com as quais os filósofos (como Akeel Bilgrami) se preocuparam, nomeadamente o tratamento da natureza como “matéria inerte” e a atribuição de uma “inércia” semelhante às populações indígenas em áreas remotas do mundo. (“gente sem história”) que “justificou” aos olhos europeus a aquisição de “domínio” tanto sobre a natureza como sobre populações tão distantes e, portanto, “justificou” o fenômeno do imperialismo.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Boicotar a Mídia Burguesa !

Faixa de Gaza: genocídio e destruição.


A cobertura do oligopólio midiático brasileiro sobre o genocídio praticado por Israel na Faixa de Gaza evidencia sua total subordinação ao imperialismo norte-americano e europeu. Ao classificar como terrorismo a resistência do povo palestino contra uma ocupação que já dura 75 anos, ao mesmo tempo em que não reconhece estar ocorrendo um genocídio cometido pelas tropas israelenses, esse oligopólio está respaldando o assassinato de dezenas de milhares de seres humanos, a limpeza étnica e crimes de guerra.


Mais de 13 mil crianças mortas nos ataques israelenses em Gaza

Não alimentem os inimigos do proletariado!

Nenhum centavo para a máquina de propaganda capitalista!

Cancelem suas assinaturas do oligopólio midiático burguês!


domingo, 17 de março de 2024

A luta do proletariado e das massas na luta de classes contra a burguesia e seus atuais limites

Coletivo Cem Flores
2023
Jamais reduziremos nossas tarefas ao apoio às palavras de ordem da burguesia reformista mais em voga. Perseguimos uma política independente e apresentamos apenas as reformas que são, sem dúvida, favoráveis aos interesses da luta revolucionária, que sem dúvida aumentam a independência, a consciência de classe e a eficiência de luta do proletariado.
                              Lenin: Mais uma vez sobre o Ministério da Duma (1906)

 

Após a derrota das experiências revolucionárias socialistas do século 20, que se somaram às crises do marxismo e do movimento comunista internacional, e diante da violenta crise que o capital atravessa, o proletariado e as demais classes trabalhadoras em todos o mundo sofreram muitas derrotas e recuaram de forma intensa no terreno da luta de classes. Suas teoria e organizações revolucionárias foram em grande parte abandonadas, desorganizadas ou derrotadas. Sua unidade e suas lutas apresentam enormes dificuldades para se firmarem e serem vitoriosas contra seus inimigos de classe. Concomitantemente, a burguesia passou à ofensiva em várias frentes, retomando e conquistando posições, avançando sobre as grandes massas para impor ainda mais exploração e opressão.
 
A luta do proletariado e das massas no Brasil é parte desse cenário geral. As lutas concretas dos explorados e oprimidos, que brotam da piora das suas condições de vida, encontram diversos e significativos limites políticos, ideológicos e organizacionais, que barram e impedem uma ação mais incisiva e efetiva contra o inimigo burguês e seus aliados. Um dos maiores desafios dos comunistas nesta conjuntura é transformar a crise e a ofensiva burguesa em oportunidades de avanço da luta e organização proletária.

Brasil: democracia burguesa em ação.


De forma mais concreta, são vários os fatores que limitam e emperram a luta do proletariado atualmente no Brasil. O desemprego elevado e a deterioração do mercado de trabalho, um dos principais efeitos da crise, criam um ambiente desfavorável para a luta sindical por melhores condições de trabalho, salários e benefícios, seja pelo aumento  de  concorrência  entre  trabalhadores empregados (formais e informais) e os que compõem o exército de reserva, seja pelo avanço do poder patronal. O reforço da repressão, desde a vigilância à repressão sanguinária, coloca aos explorados a exigência de um patamar mais elevado de organização. A prolongada ausência da posição revolucionária abre espaço para a influência crônica do reformismo e do oportunismo, que desorganizam e corroem os instrumentos de luta das massas, tornando-se verdadeiras armas do inimigo, sendo o exemplo claro a grande maioria dos sindicatos hoje.

sexta-feira, 15 de março de 2024

Velho Oportunismo, Surradas Justificativas

Ney Nunes*

"Hoje, a socialdemocracia nem mesmo pode ser caracterizada enquanto uma força política "reformista" ou "conciliadora". Em primeiro lugar, porque não pretende fazer reformas no capitalismo que possam reduzir  minimamente o grau de exploração dos trabalhadores e,  quando está no governo, se limita a fazer maquiagens visando ocultar os horrores do sistema."

 



    A socialdemocracia em nosso país, representada principalmente por um arco político reunindo: PT, PSOL, PC do B e PSB, nada mais é do que uma linha auxiliar da burguesia que, ao longo do tempo, vem dando inúmeras provas do seu mais completo servilismo aos interesses do capital e colaborando fortemente na estabilidade do regime político burguês. Nesse sentido, ela faz jus ao perfil socialdemocrata inscrito na história internacional, inaugurado com o apoio aos seus respectivos governos na carnificina da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e depois na reação contra a revolução alemã de 1919, quando foram assassinados os dirigentes comunistas Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.

    Hoje, a socialdemocracia nem mesmo pode ser caracterizada enquanto uma força política "reformista" ou "conciliadora". Em primeiro lugar, porque não pretende fazer reformas no capitalismo que possam reduzir  minimamente o grau de exploração dos trabalhadores e,  quando está no governo, se limita a fazer maquiagens visando ocultar os horrores do sistema. Em segundo lugar, ela não pratica conciliação entre as classes sociais, apenas gerencia o projeto da classe dominante e distribui migalhas a segmentos miseráveis da população visando a cooptação eleitoral e a contenção de possíveis revoltas. Lembrando que a política das migalhas e da cooptação está sempre combinada com a feroz repressão sobre a população das periferias e favelas, levada a cabo pela polícia militar e pelos bandos narcomilicianos.

    Com tudo isso, ao nos aproximarmos do período das eleições municipais, constatamos, mais uma vez, grupamentos e indivíduos autoproclamados “socialistas”, “comunistas” “revolucionários”, “anarquistas” e etc. se movimentarem em direção ao apoio eleitoral a essa socialdemocracia (mais do que tardia). Utilizando-se das surradas justificativas: “combate ao neoliberalismo”, barrar o avanço da direita “defesa da democracia diante da ameaça fascista”, como se neoliberalismo e fascismo não fossem crias do ventre capitalista. Estão, na verdade, tentando mascarar seu oportunismo político, seu reboquismo e sua permanente submissão à institucionalidade burguesa.

    A ação deletéria desses grupamentos, ao criarem falsas expectativas, ajuda a prolongar a existência do sistema de exploração que está nos encaminhando em direção à barbárie. Ao se associarem aos gestores do capitalismo, acabam por pavimentar o caminho das forças mais reacionárias da sociedade, razão pela qual, é imprescindível desmascará-los se queremos reconstruir a tão necessária política de independência do proletariado face aos seus inimigos de classe. 

Rio de Janeiro, 14/03/2024

Ney Nunes, eletricista, bancário, foi militante sindical, ex-dirigente do PCB e autor do livro "Guerra de Classes": https://clubedeautores.com.br/livro/guerra-de-classes



terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Sobre os dois anos da guerra imperialista na Ucrânia

Declaração do Gabinete de Imprensa do CC do Partido Comunista da Grécia (KKE) - 24/02/2024




A passagem de dois anos desde o início formal do conflito armado imperialista na Ucrânia recorda a todos as trágicas consequências para os povos da derrubada do socialismo e da dissolução da União Soviética.

Nestes dois anos, a guerra em território ucraniano, depois da inaceitável invasão russa e do crescente envolvimento dos EUA, da OTAN e da UE, levou ao massacre dos povos de duas antigas repúblicas soviéticas, a Ucrânia e a Rússia, que viviam em paz e floresceram juntos no âmbito da URSS.

Além disso, tem consequências dolorosas para os povos da Europa, que são chamados a suportar o peso da guerra, da maior militarização dos seus países, dos preparativos para novos conflitos mais gerais. 

O bárbaro massacre do povo palestino por parte de Israel, com o apoio dos EUA e da UE, os planos e antagonismos imperialistas no Oriente Médio e no Mar Vermelho, bem como a tensão em vários locais do planeta, são “indicadores” de situações muito temerárias .

O KKE destacou desde o primeiro momento o caráter antipopular da guerra na Ucrânia, que surgiu no quadro do antagonismo feroz entre as burguesias das potências imperialistas pelo controle dos mercados, das matérias-primas, das redes de transporte, dos apoios geopolíticos no região da Eurásia.

O KKE denuncia o governo da ND que, com o apoio do SYRIZA, do PASOK e dos outros partidos a favor da UE e da OTAN, empurra o país para o “matadouro” das guerras imperialistas pelos interesses de uns poucos exploradores e dos seus aliados na UE e na OTAN.

Os comunistas da Grécia estão na dianteira da luta dos trabalhadores e do movimento popular contra o envolvimento da Grécia na guerra imperialista na Ucrânia, contra as bases dos EUA, contra os gastos militares para a OTAN; Lutamos para que o país fique fora dos planos imperialistas da OTAN e da UE na Ucrânia, no Oriente Médio e no Mar Vermelho.

Continuamos a luta por:

O fim do envio de armas e munições para a Ucrânia, debilitando a capacidade de defesa do país, bem como o treinamento pelas Forças Armadas Gregas de forças do governo reacionário de Kiev,

O não envio de qualquer fragata grega para o Mar Vermelho,

O fechamento das bases de morte, que são utilizadas para o massacre de outros povos e colocam o nosso povo como alvo.

A retirada dos mísseis “Patriot” gregos da Arábia Saudita, bem como de todas as unidades das Forças Armadas gregas que se encontram no estrangeiro,

O desligamento da Grécia das uniões imperialistas da UE e da OTAN, com o povo a governar o seu país.

Fonte: https://inter.kke.gr/en/articles/On-the-second-anniversary-of-the-imperialist-war-in-Ukraine/

Edição: Página 1917

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Ação Comunista em Tempo de Maré Baixa

Francisco Martins Rodrigues*

1991

Como podem os comunistas conseguir que o movimento diário das massas pelas suas reivindicações imediatas acumule forças revolucionárias, mesmo neste período de triunfo em toda a linha da burguesia? Esta é uma questão central para os comunistas portugueses, escaldados por sucessivas infiltrações do reformismo, sempre em nome das melhores intenções marxistas.



Acumulação de forças revolucionárias é coisa praticamente desconhecida em Portugal. O que temos são muitos exemplos de como se desacumulam forças: à frente de todos, claro, o PCP, fiel ao seu trabalho minucioso junto do proletariado, nas empresas e nos sindicatos, agitando a bandeira da “defesa das conquistas”, mas conduzindo as massas de derrota em derrota, devido ao seu respeito supersticioso pelo parlamento e pela ordem burguesa; depois, a “nova esquerda” agrupada no Bloco, exibindo as suas causas alternativas (“ampliar a cidadania”, “aprofundar a democracia”), que, na prática, apenas dão voz ao descontentamento da jovem pequena burguesia, em busca de um lugar ao sol; tivemos também a aposta das FP-25 nas ações de guerrilha urbana como meio de “excitar” o movimento popular em declínio, o que as levou ao previsível naufrágio e ao descrédito da via revolucionária; e há ainda muitos simpatizantes da revolução, enojados com o panorama reinante de colaboração de classes, para os quais todas as reivindicações imediatas, parciais, são indignas de qualquer esforço, pelo que se entregam à inação declamatória ultraesquerdista.

Nesse caso, o que se deve fazer?

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

O PROJETO DE CASAMENTO PARA CASAIS HOMOSSEXUAIS FOI APROVADO NA GRÉCIA

O KKE votou contra em princípio – A posição do KKE por artigo

Partido Comunista da Grécia (KKE)


Bancada do KKE no parlamento grego.

O projeto de lei sobre casamento e adoção de casais homossexuais foi aprovado pelo Parlamento por maioria com votos de ND, SYRIZA, PASOK, Nea Aristera e Plefsi Eleftherias, mas também com muitas abstenções e diferenciações.

O KKE votou em princípio contra o projeto de lei, assinalando que ele aprofunda ainda mais a comercialização do processo reprodutivo através da comercialização da barriga de aluguel no estrangeiro para casais homossexuais e adoções privadas interpaíses. Os deputados do KKE nas suas intervenções destacaram que estas disposições eliminam o direito das crianças de desfrutarem do que deriva da relação maternidade-paternidade.

Deve-se notar que o KKE votou a favor ou “presente” em artigos que promovem algumas modernizações que dizem respeito tanto aos casais homossexuais como aos casais heterossexuais, mas em nenhum caso deu um álibi ao falso progressismo do governo como fizeram outros partidos.

Especificamente, o KKE votou a favor dos artigos 4.º e 5.º que se referem à abolição dos anacronismos no direito da família em relação ao nome das crianças e à declaração de nascimento. Votou a favor do artigo 8.º, que se refere a benefícios fiscais, subsídios para cônjuges e pais, bem como do artigo 9.º, que se refere à abolição da discriminação no emprego, na educação, nos cuidados de saúde, etc. Votou “presente” no artigo 7º que diz respeito a questões de proteção contra demissões. Nos demais artigos o KKE votou contra.

Durante o debate, os partidos que apoiaram o projeto de lei pareceram concordar com a essência reacionária do projeto de lei e com os pretextos que usaram para mascará-lo como “direitos humanos”, a luta contra a “discriminação” e a “igualdade” dos cidadãos. Mas por trás do suposto manto progressista que formaram em conjunto, as disposições do projeto de lei dão um novo impulso à comercialização extrema da adoção e da procriação através da barriga de aluguel comercial e das adoções privadas interpaíses.

Os deputados do KKE destacaram estes aspectos, centrando-se nos direitos das crianças e denunciando a hipocrisia com que o governo os invoca. 

No total, 254 deputados participaram da votação. A favor do projeto de lei em princípio votaram 176 deputados, votaram contra 76 e 2 votaram “presente”.

Do ND, 107 deputados votaram a favor, 20 deputados votaram contra e houve 31 abstenções. Do PASOK, 21 deputados votaram a favor e 11 abstiveram-se. O deputado do SYRIZA, Pavlos Polakis, absteve-se. Dois deputados da minoria muçulmana, Zeybek Hussein e Ferhat Ozgur, abstiveram-se em Nea Aristera.

Fonte: https://inter.kke.gr/es/articles/El-KKE-voto-en-contra-en-principio-La-postura-del-KKE-por-articulo/

Edição: Página 1917










 


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Identitarismo: A Esquerda Confinada

Manuel Augusto Araújo*

16/09/2020

Manifestación” (1934), do argentino Antonio Berni.


Os incansáveis e ruidosos corifeus das políticas identitárias, das causas fragmentadas em que a raça, o gênero, o sexo, a cor são as novas frentes de luta, consideram que a condição social, as classes sociais dissolveram-se até ser um resíduo que não conta no mundo globalizado pós-industrial. Essas são as bandeiras de luta da esquerda cosmopolita que abandonou as teorias marxistas, para as quais a exploração só é eliminada com a abolição da propriedade privada pela revolução. O seu objetivo, ainda que camuflado por enérgicas palavras de ordem que simulam uma radicalidade logo factualmente desmentida, é o mudar de vida sem mudar a vida. É considerar e aceitar que a luta de classes está ultrapassada no quadro atual do capitalismo – porque acabar com o modo de produção capitalista, para esses radicais de esquerda, está fora de questão. É a deriva reformista que abandona definitivamente o campo de batalha da luta de classes, em que se luta para acabar com o capitalismo, substituindo-a pela luta pelo controle político das políticas econômicas, aceitando que o capitalismo mau pode evoluir para um capitalismo bom, com a ilusão de que a burguesia acabará motivada pelas lutas identitárias e as causas fragmentadas, assumindo uma cultura de responsabilidade social para que tudo acabe no melhor dos mundos das virtudes públicas e vícios privados da sociedade burguesa. São indiferentes às evidências de a democracia não ser possível no quadro global em que as desigualdades se agravaram, aumentando exponencialmente desde os anos 60 até ao ano de 2010, em que se contabiliza que 1% dos mais ricos do planeta controlam 46% de toda a riqueza mundial, o que exige da esquerda uma ampla unidade para uma luta continuada contra o neoliberalismo, unidade que é estilhaçada pelo segmentarismo identitário que faz o jogo da concentração do poder do dinheiro desertando do campo de batalha entre o capital e o trabalho, da luta de classes na sua forma atual, que tem por objetivo final acabar com a exploração capitalista que só se elimina com a abolição da propriedade privada pela revolução.

sábado, 3 de fevereiro de 2024

A Conjuntura Internacional no Começo de 2024

Coletivo Cem Flores

Boletim Que Fazer – 03 de fevereiro de 2024



Uma longa crise do imperialismo

Desde a grande crise financeira de 2007-08, o sistema imperialista não conseguiu se recuperar. O crescimento econômico diminuiu, as taxas de lucro não voltaram ao patamar anterior. São as contradições do próprio capitalismo que levam necessariamente às crises, deixando evidente os limites desse sistema.

Nesse período de uma década e meia, a burguesia de todo o mundo partiu para a ofensiva contra o proletariado e demais classes exploradas. No capitalismo, o patrão só recupera seus lucros por meio do sangue e do suor do trabalhador! Em todos os países, a situação das classes exploradas piorou, com desemprego, exploração crescente, perda de conquistas trabalhistas, mais repressão e volta do fascismo… Até o momento, as importantes resistências que surgiram, em greves, protestos e revoltas, não conseguiram barrar o fundamental dessa ofensiva, que continua.

A crise também agravou as contradições entre blocos imperialistas, entre potências econômicas, principalmente entre EUA e China. Nesse cenário, há uma nova corrida armamentista e proliferação de guerras regionais. O imperialismo e sua crise significam barbárie contínua para os povos de todo o mundo!

A conjuntura econômica internacional

Depois de três anos de recuperação da crise da pandemia (2021-23 – em 2023, principalmente pela reabertura “tardia” da China), vários países e regiões do mundo devem desacelerar em 2024. Não é esperado uma recessão, mas o desemprego deve aumentar e a economia global estagnar.

Os EUA devem desacelerar esse ano, apesar da previsão de queda na taxa de juros. Além do baixo crescimento, em torno de 2%, o país continuará enfrentando ampliação do endividamento. Na China, a previsão é de crescimento de 4,6%, indicando também uma desaceleração. Nesse país, as contradições internas também são consideráveis, com uma crise capitalista no setor imobiliário e crise fiscal nas províncias.

Na Europa, o crescimento continuará muito baixo, em torno de 1%. Na América Latina, o crescimento deve cair abaixo de 2%, agravando ainda mais a situação de miséria e de fome na região. Segundo a Cepal, 180 milhões de pessoas na região não possuem renda suficiente para cobrir suas necessidades básicas. Ou seja, estão na miséria. Isso é mais do que a população de toda a Rússia!

O imperialismo é guerra e fascismo!

O imperialismo e sua crise também constituem as razões de fundo para as guerras atuais. Seja o avanço imperialista dos EUA e da OTAN na tentativa do cerco à Rússia, seja na reação desse país em ampliar o espaço de sua acumulação de capital e domínio político-militar, que causaram a guerra na Ucrânia. Igualmente, a geopolítica do imperialismo e seu apoio a Israel causam a guerra colonial contra os palestinos, guerra que se amplia regionalmente envolvendo Líbano, Irã, Iraque, Paquistão, Iêmen, entre outros. Outras regiões do globo hoje correm o risco de iniciarem conflitos armados nesse contexto.

A guerra imperialista leva à destruição e mortes em massa para as classes exploradas e os povos dominados. No caso palestino, Israel tem realizado um verdadeiro genocídio, com a limpeza étnica e devastação em toda Faixa de Gaza, com dezenas de milhares de civis mortos nesses quatro meses de guerra.

A ampliação das guerras também pode ter impactos significativos na economia mundial, afetando preços de mercadorias e cadeias globais de produção, como ocorreu no início da guerra na Ucrânia.

Além das guerras, a necessidade de maior controle e repressão do capital em crise sobre os trabalhadores dá origem ao fortalecimento da extrema-direita, fascista e autoritária, tanto nos países imperialistas (EUA, França, Itália, Alemanha), quanto nos dominados (Brasil, Argentina, Polônia, Hungria). Na Argentina, o novo governo de extrema-direita tem reprimido violentamente as greves e manifestações contra inúmeras “reformas” patronais e privatizações. Assim como apoia abertamente o massacre do povo palestino.

Derrubar esse sistema de barbárie

2024 se inicia como mais um ano de crise do imperialismo, com efeitos nefastos sobre as classes exploradas em todo o mundo. Desemprego, fome, falta de perspectiva, guerra, fascismo, sem contar o avanço da crise climática que afeta sobretudo a população mais pobre.

Nesse cenário de crise global, de barbárie crescente, vários movimentos de resistência surgem, com destaque para o caso palestino, que hoje é um exemplo de resistência popular, com solidariedade internacional, apesar de seus limites e contradições. Recentemente, as lutas na Argentina e os protestos antinazistas na Alemanha também se destacaram como exemplos de resistência aos ataques impostos pelas classes dominantes e à fascistização.

No último período, houve avanços de algumas organizações do movimento comunista internacional, com ampliação da posição revolucionária, rompendo com as ilusões reformistas presentes na maioria da chamada esquerda. Como exemplos o avanço do Partido Comunista Grego e o surgimento do Partido Comunista Argentino.

As massas exploradas só sairão desse cenário de barbárie se reforçarem esse caminho de luta e em defesa de uma revolução socialista. Esse sistema precisa ser derrubado!

Edição: Página 1917

Fonte: https://cemflores.org/2024/02/03/a-conjuntura-internacional-no-comeco-de-2024/

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

O Casamento Civil de Casais do Mesmo Sexo e o seu Impacto nos Direitos das Crianças

Declaração do CC do Partido Comunista da Grécia (KKE)



O Comitê Central do KKE reuniu-se recentemente e publicou a resolução sobre "As posições do KKE sobre o casamento civil de casais do mesmo sexo e o seu impacto nos direitos das crianças" , por ocasião da apresentação de um projeto de lei sobre a matéria pelo governo liberal de direita do partido Nova Democracia. Abaixo estão os principais trechos da resolução, enquanto a resolução completa será publicada em vários idiomas em um futuro próximo.

"O CC do KKE debateu a posição do partido sobre o projeto de lei do governo apresentado em 25 de Janeiro de 2024 para consulta pública sobre “Igualdade no casamento civil, modificação do Código Civil e outras disposições”. As disposições do projeto de lei destacam a questão principal que pretende resolver."

O projeto de lei não trata do reconhecimento social da possibilidade de casais do mesmo sexo escolherem uma forma de convivência e de que a lei regule determinadas relações pessoais, econômicas e sociais entre eles. Não se trata da necessidade de acabar com os preconceitos sociais contra eles que podem dificultar a escolha de viverem juntos, por exemplo, dificuldades em alugar uma casa, conseguir um emprego, etc.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

A Vitória do Exército Vermelho em Stalingrado



A Batalha de Stalingrado foi um dos grande combates travados entre a Wehrmacht (o exército da Alemanha Nazista) e seus aliados do Eixo contra as tropas da União Soviética. O confronto se deu pela posse da cidade de Stalingrado (atual Volgogrado), às margens do rio Volga, entre 23 de agosto de 1942 e 2 de fevereiro de 1943, durante a Segunda Guerra Mundial. A partir dela acontece a virada da guerra na Frente Oriental, marcando o limite da expansão alemã no território soviético e a marcha do Exército Vermelho até a vitória definitiva em Berlim.



sábado, 27 de janeiro de 2024

O Rompimento do Cerco de Leningrado

27/01/1944 - Vitória Soviética
 Contra o Nazifascismo!
 
O cerco militar à cidade de Leningrado (atualmente, São Petersburgo), na União Soviética (atualmente, Rússia), pelas tropas da Alemanha Nazista e das suas aliadas, Itália e Finlândia, durante a Segunda Guerra Mundial, durou cerca de 900 dias, foi de 8 de Setembro de 1941 até 27 de Janeiro de 1944. 
O cerco só foi rompido definitivamente em 27 de janeiro de 1944 através de uma grande operação militar realizada pelo Exército Soviético, após ter derrotado os alemães em Stalingrado, Kursk e nos arredores de Moscou.



Edição: Página 1917


sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O que é Hegemonia do Proletariado? *

Francisco Martins Rodrigues

25/10/1982



Tem-se dito durante o debate que a política de hegemonia do proletariado defendida na minha carta ao Comitê Central é estreita, tenderia a substituir a tática pela estratégia, conduziria ao isolamento da classe operária, a uma espécie de hegemonia da classe operária “sobre si mesma”, afastaria o Partido do centro da luta política, reduzir-nos-ia a uma seita de agitação e propaganda, etc.

O que estes argumentos exprimem, quanto a mim, é uma incompreensão de fundo sobre o que é a hegemonia do proletariado e um receio confuso a uma política operária independente. Aos camaradas que assim raciocinam é preciso mostrar que a nossa política não produziu até hoje nenhuma hegemonia da classe operária, mas pelo contrário, uma sujeição cada vez maior dos operários à hegemonia reformista e revisionista da pequena burguesia, é preciso reconhecer este saldo negativo, ao fim de sete anos de existência do Partido, e procurar-lhe remédio.

O ponto de partida para a mudança política que se exige do 4º Congresso está na crítica de princípios, crítica clara, dura e sem meias tintas, à linha política do 2° Congresso. Há que voltar a debater as lições da crise revolucionária para chamar a primeiro plano a lição fundamental, apagada pelo 2º Congresso: o proletariado, apesar das suas históricas iniciativas, revelou menoridade política, porque acreditou que as conquistas podiam ser defendidas pelos governos reformistas pequeno-burgueses; privado do seu partido, não viu aquilo que era essencial — a conquista do poder político.

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