Ney Nunes
01/04/2024
O Governo João Goulart foi deposto há sessenta anos, em 01/04/1964, pelo golpe empresarial-militar, um explícito conluio da burguesia brasileira com o imperialismo norte-americano. Mas os golpistas preferiram deixar registrado o dia 31 de março como aniversário do golpe, receavam a identificação com o primeiro de abril, popularmente conhecido como "dia da mentira".
Gregório Bezerra, preso e torturado logo após o golpe de 1964. |
O receio fazia sentido, afinal, a propaganda política que antecedeu o golpe tinha entre eixos principais "salvar a democracia" e "combater a corrupção". O que logo se revelaria uma grande mentira. A democracia foi enterrada e os novos governantes se fartaram na corrupção. As prisões, torturas e assassinatos dos opositores do regime tornaram-se rotina. De imediato os alvos principais foram comunistas, sindicalistas e militares legalistas. O golpe tinha um endereço certo: silenciar o movimento operário-camponês e qualquer ameaça de contestação.
A ditadura instaurada em 64 durou 21 anos, foi substituída sem maiores traumas pelo regime atual, conservando no poder as mesmas classes dominantes que articularam o golpe. Hoje, cinicamente, elas aparecem como "defensoras da democracia". A democracia que defendem é essa atual, onde o poder econômico dá todas as cartas e os políticos a seu serviço fazem um rodízio, ora no governo, ora na oposição. A receita é sempre a mesma: gerir o Estado no interesse dos capitalistas e garantir o controle sobre as massas exploradas. O que propagam ser uma democracia, na verdade, é a ditadura do capital.
Não surpreende, portanto, que o governo Lula-Alckmin tenha optado por não fazer ruído no marco desses sessenta anos. O que podemos esperar de um governo a serviço das mesmas classes dominantes que estavam por trás do golpe em 1964, ou seja, grandes empresários da indústria e do comércio, latifundiários e banqueiros. É preciso ter uma dose cavalar de ingenuidade para manifestar surpresa com essa atitude. Só mesmo oportunistas de carteirinha, aliados disfarçados desse governo, que ficam procurando "pontos positivos" para apoiar em troca de migalhas no aparelho de Estado, cinicamente se dizem surpreendidos e choramingam pelos cantos.
Ao contrário da recomendação de silêncio na passagem desse primeiro de abril que marca sessenta anos do golpe de 1964, é necessário fazer muito barulho, denunciar em alto e bom som que os crimes da ditadura foram cometidos por bandidos, militares e civis, a mando da burguesia brasileira e do imperialismo. Essa mesma burguesia e imperialismo que prosseguem condenando a maioria dos brasileiros a uma situação de pobreza e miséria, beirando a barbárie.
Edição: Página 1917
O poder corrompe.
ResponderExcluirBrilhante este artigo. É uma forte denúncia do perverso modelo capitalista que escravisa grande parcela da população mundial. SILENCIAR JAMAIS. GRITAR, PROTESTAR SEMPRE.
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