Índice de Seções

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

ANO NOVO, VIDA VELHA:

O PCP submete-se ao PS e continua a afastar-se da luta pelo socialismo!

Que Fazer?
Que Fazer?

“Um Partido de classe, revolucionário, marxista-leninista e internacionalista ... existe para elevar a consciência política das massas ao nível da luta pela revolução socialista, criadas as devidas condições objetivas e subjetivas. As condições objetivas não dependem só da classe e do partido de classe, mas as condições subjetivas, essas, dependem só e apenas desse partido de vanguarda da classe”. 


 Entendimentos do PCP com o PS e apelo ao regresso de “renovadores” que se afastaram:

Na entrada em funções do novo secretário-geral do PCP foram dadas várias entrevistas a órgãos de comunicação social em que ele teve oportunidade de manifestar o seu pensamento político. Claro que, nessa qualidade de secretário-geral, não deu as suas opiniões pessoais, mas, pelo menos as da direção do seu partido. E essas opiniões, nas várias entrevistas, refletem um evoluir e uma clarificação de posições relativas à linha política do PCP, mais explícitas, até, em relação às expressas pelo anterior secretário-geral.

 Pode dizer-se, e é verdade, que essas opiniões respeitam a linha aprovada no XXI Congresso e até de congressos anteriores, mas daí só pode concluir-se que essa linha não só estava errada, como continha nas entrelinhas, em potência, as interpretações que, agora com mais clareza, são expressas pelo atual secretário-geral.

 E essa interpretação foca-se agora em três direções que não tinham antes sido mencionadas e explicitadas: a abertura ao regresso dos “renovadores” - aqueles membros do PCP afastados, por decisão própria ou sanção disciplinar que queriam subverter a natureza de classe do Partido, podemos acrescentar, que traíram o Partido; e a abertura de portas a futuros entendimentos com o PS com vistas à governação do país. A terceira direção, que referiremos adiante é a linha política do PCP na qual o PS desempenha um papel de protagonista.

 Posteriormente vem a saber-se que o apelo ao regresso se dirige também àqueles que ficaram “zangados” com o fim da “geringonça”, responsabilizando o PCP por esse divórcio e aos que, imbuídos de ideologia burguesa discordaram da posição do PCP em relação à guerra imperialista na Ucrânia. Isto não se pode aceitar, ou, de outro modo, só é aceite porque o PCP está transformado numa panela onde tudo cabe: tudo o que seja ideologicamente degenerado e a caminhar para o desvio de direita, ou para a social-democratização do PCP. A ideologia burguesa e pequeno-burguesa infiltra-se a cada instante na ideologia partidária. E só se fôssemos tolos é que não veríamos que existem mecanismos, devidamente organizados, virados para a destruição, por todas as vias, a ideológica incluída, dos partidos comunistas, como aconteceu em Espanha, na França, na Itália, ou na União Soviética.

 Abrir as portas a traidores do Partido, chamar os que ficaram descontentes com o fim da “geringonça”, rebaixar-se ao PS são três atitudes inseparáveis que revelam o estado de decomposição do PCP.

 Um partido que não renegue a sua natureza de classe e a sua missão histórica, tem de lutar todos os dias pela unidade ideológica no seu seio através da educação marxista-leninista dos seus militantes e quadros, contra a ideologia burguesa e pequeno-burguesa. Para quem não sabe ou já se esqueceu, unidade ideológica é o oposto de unanimismo e imposição de opiniões únicas.

Um Partido de classe, revolucionário, marxista-leninista e internacionalista, não é um negociador social, não é um sindicato ainda por cima fraco, que considera boas as migalhas que o PS “deu” para obter a aprovação de dois orçamentos de Estado. Um tal partido existe para elevar a consciência política das massas ao nível da luta pela revolução socialista criadas as devidas condições objetivas e subjetivas. As condições objetivas não dependem só da classe e do partido de classe, mas as condições subjetivas, essas, dependem só e apenas desse partido de vanguarda da classe. 

O novo secretário-geral e a direção do PCP não sabem nem querem medir as consequências dessa “geringonça” traduzida no atraso histórico provocado na consciencialização das massas e no enfraquecimento da sua luta.


 
O PCP submete-se ao PS e continua a afastar-se da luta pelo socialismo

A terceira direção em que as declarações do novo secretário-geral abrem o jogo em relação às ideias implícitas nos documentos programáticos e de orientação é aquela que se refere à linha política geral do PCP, ou se quisermos, à tática. Paulo Raimundo fez afirmações que, não levando mais longe o que consta desses documentos, em si altamente problemáticos, desvendam claramente o sentido neles contido, e dá passos políticos em frente nos “desafios” que lança ao PS.

 Na entrevista que deu ao DN2, PR afirma que o PCP “propõe” uma alternativa patriótica de esquerda – como, de resto, há muito “propõe” - e considera que “o PS não pode estar de fora desta solução”. Parece ser a primeira vez que, explicitamente (implicitamente está tudo mais que dito nos documentos de referência) o PCP integra o PS na sua “política patriótica e de esquerda”.

 O PCP “propõe” uma política alternativa “patriótica e de esquerda”. Qual o conteúdo desta palavra “propor” ? Lamentamos ter de chegar ao ABC da política para responder à questão. P.R. e a direção do PCP não sabem que as reivindicações, sejam elas de natureza sindical, sejam de natureza política, neste caso por maioria de razão, não se resolvem com “propostas”, mas apenas pela força, com a luta de classes? Não sabem eles que o PS se ri nas costas do PCP exposto a tamanhos disparates dos seus dirigentes máximos quando estes lhe “pedem batatinhas” no quadro de uma maioria absoluta que o PS tem na Assembleia da República e um PCP enfraquecido e não apenas no plano eleitoral? Por que haveria o PS, partido da burguesia, de atender às “propostas” dos fracos e, quiçá, ingénuos representantes do inimigo de classe (o inimigo de classe do PS são os trabalhadores e as suas organizações)? Não sabe qualquer dirigente sindical, por mais atrasado que seja política e ideologicamente, que só se conseguem aumentos salariais se o patronato tiver medo da força dos trabalhadores ou não tiver forças para lhes resistir?

 A linha da política “patriótica e de esquerda” que o PCP defende coloca-o na dependência da vontade do PS, só será viável se o PS quiser. E, para o PS, o PCP só lhe serve para obter maiorias absolutas, ou de bengala quando só tem maioria relativa, como aconteceu agora e já tinha acontecido na Câmara de Lisboa. Por isso dizemos que o PCP se coloca na dependência política do PS ou, em termos de classe, que a classe operária fica na dependência da burguesia com tal “alternativa”; que se arrasta na cauda da burguesia, como se expressavam os teóricos fundadores do socialismo científico.

 Como o PS defende o capitalismo com unhas e dentes, coisa que não é necessário demonstrar, jamais haverá qualquer política “patriótica e de esquerda”, tanto mais que o PCP fica na atitude de “propor” à sociedade e ao PS. As propostas são ou não aceites, é o que a palavra quer dizer, e as “propostas” políticas do PCP não o serão decerto junto do PS.

Em resumo, quem não quer mudar a sociedade capitalista “propõe”, quem quer alcançar o socialismo destruindo o capitalismo, luta por isso.

A unidade do Partido

  Alguns militantes podem ser tentados a interpretar o apelo ao regresso de “renovadores” pela necessidade de unir e reforçar o Partido. É essa a justificação dada pelo Secretário-geral e por consequência, pela direção.

     É preciso desmistificar este raciocínio e refletir sobre as consequências deste apelo.

 Em primeiro lugar, o Partido não está unido. Para estar unido seriam necessárias várias condições que não se verificam. Democracia interna não existe, como temos vindo a insistir. Os militantes sabem que as reuniões, quando as há, só servem para transmitir as opiniões dos organismos superiores. Debate político-ideológico não existe. Quem discutiu a aliança com o PS na “geringonça”? Quem discutiu os apelos ao PS para uma nova aliança institucional? Quem discutiu o apelo ao regresso de traidores do Partido? Opiniões expressas pelos militantes são ignoradas. Os militantes que discordam seja do que for, desde a mais simples questão até à linha política, são afastados. A organização desfaz-se, porque muitos militantes se vão afastando por muitas razões: ou não sentem utilidade na sua participação – a sua opinião não conta - , ou porque se sentem perseguidos, ou porque não sentem o Partido como o lugar onde se luta pelos ideais mais nobres. A aparente unidade é só unanimismo imposto ou consentido.

 Inseparável da democracia interna, do centralismo democrático, é a linha política. Um partido revolucionário, que luta pelo socialismo, age internamente em conformidade com os princípios do centralismo democrático, indispensáveis à unidade férrea do partido para derrubar o capitalismo. Um partido absorvido pelo sistema, um partido socialdemocratizado, que não combate o capitalismo, que luta apenas por uma política “patriótica de esquerda” e apela a alianças com o PS, não precisa de centralismo democrático e não é democrático.

 «A unidade do Partido fundamenta-se na justeza da análise da situação e na justeza dos seus objetivos e da sua orientação política» e «A unidade fundamenta-se na assimilação e na educação ideológica marxista-leninista», diz Álvaro Cunhal em O Partido com paredes de vidro (pp. 231 e 233).

 Um objetivo político claro, revolucionário, junta muitas forças, mobiliza muita gente, gera força moral e anímica. Uma “alternativa patriótica de esquerda”, uma “democracia avançada” não mobilizam ninguém. Quem é que já ouviu ou viu, na luta de massas, palavras de ordem pela “alternativa patriótica de esquerda” ou pela “democracia avançada”? Quem é que conhece o conteúdo destas construções mentais sem pés assentes na realidade?

 

1.      https://expresso.pt/politica/2022-11-16-Novo-lider-do-PCP-diz-que-uma-parte-dos-que-sairam-do-partido-na-crise-de-2000-faz-muita-falta-02c04d24

2.      https://www.dn.pt/politica/pcp-desafia-ps-para-alternativa-patriotica-e-de-esquerda-15621592.html


Fonte: https://quefazerquefazer.wixsite.com/info


Edição: Página 1917





terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Sobre a "criação de um tribunal especial para a Rússia" - Os povos devem julgar e condenar a guerra imperialista

DELEGAÇÃO DO KKE NO PARLAMENTO EUROPEU

20.01.2023

Em 19 de janeiro de 2023, os grupos do Partido Popular, dos Social-democratas, dos Liberais, dos Verdes e da extrema-direita no Parlamento Europeu adotaram uma resolução sobre a "criação de um tribunal especial para a Rússia". Os 2 eurodeputados do KKE votaram contra esta resolução.

Ucrânia: guerra imperialista, morticínio e destruição.

Os eurodeputados do KKE fizeram uma declaração sobre a resolução, observando o seguinte: "A resolução conjunta do Partido Popular, dos Social-democratas, dos Socialistas, dos Liberais, dos Verdes e da extrema-direita sobre a criação de um “tribunal especial para a guerra de  agressão russa constitui um passo adiante na escalada e na intensificação do envolvimento da UE na guerra imperialista na Ucrânia por todos os meios". Reflete o delírio bélico da direção política da UE no conflito militar do campo euro-atlântico com a Rússia capitalista, que está sangrando os povos ucraniano e russo, sobrecarregando os povos da Europa com consequências dolorosas, pobreza e sofrimento.

Essa resolução tenta acobertar os crimes dos imperialistas dos EUA, OTAN e UE em todo o planeta, suas guerras imperialistas na Iugoslávia, Iraque, Síria, Afeganistão, Líbia e hoje na Ucrânia. Procura também exonerar as sangrentas intervenções imperialistas das potências euro-atlânticas em todo o mundo e apagar da memória coletiva as suas inumeráveis vítimas. A condenável invasão militar da Ucrânia pela Rússia capitalista não serve de álibi ao campo euro-atlântico, impregnado do sangue dos povos.

Os povos devem rechaçar os delírios bélicos dos imperialistas de ambos os lados. Lutando de forma independente por seus próprios interesses, devem julgar e condenar a guerra imperialista, os governos burgueses e as alianças dos monopólios que a dirigem, assim como o bárbaro sistema capitalista a que todos eles servem”.

Fonte: https://inter.kke.gr/es/articles/Sobre-la-creacion-de-un-tribunal-especial-para-Rusia-Los-pueblos-deben-juzgar-y-condenar-la-guerra-imperialista/

Edição: Página 1917



sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

As Relações entre a Vanguarda

Os Partidos Comunistas, na luta pela unidade dos interesses dos trabalhadores, apesar dos diferentes níveis de desenvolvimento capitalista nos diferentes países

Giorgos Marinos, do Comitê Central do KKE (Partido Comunista da Grécia)

2022



“Os comunistas consideram indigno esconder as suas ideias e propósitos. Eles proclamam abertamente que os seus objetivos só podem ser alcançados derrubando violentamente toda a ordem social existente. As classes dominantes podem tremer diante de uma revolução comunista. Os proletários não têm nada a perder, a não ser os seus grilhões. Eles têm, no entanto, um mundo a ganhar”.

"Proletários de todos os países, uni-vos!”

Com estas frases de valor inigualável, K. Marx e F. Engels assinalam no Manifesto Comunista a necessidade de uma estratégia revolucionária e da luta coordenada dos trabalhadores que vivem em diferentes países. Com isso, destacaram a grande importância da unidade da classe trabalhadora contra qualquer tentativa de separação baseada em diferenças de cor, língua, cultura, tradições religiosas, enfatizando que a classe trabalhadora de diferentes países tem interesses comuns e um adversário comum, em qualquer circunstância.

O CC do KKE, em homenagem ao centenário da fundação da Internacional Comunista (IC) (2 a 6 de março de 1919), respeita a luta do Movimento Internacional dos Trabalhadores e resume as principais conclusões do seu decurso num Comunicado do CC do Partido sobre isso.

Em conclusão, podemos dizer que a IC e os esforços anteriores expressam a necessidade da unidade internacional do movimento revolucionário dos trabalhadores, da revolta e da luta constante contra a intervenção burguesa e oportunista que impede a unidade internacional do movimento operário contra o adversário de classe internacional, contra o capital e os seus representantes, independentemente da sua base, da sua “pátria” de origem.

A luta internacionalista pode desenvolver-se efetivamente quando há uma linha de conflito ao nível nacional com os monopólios, com o poder burguês e com as alianças imperialistas. Quando o Partido Comunista não está preso na luta pelas reformas burguesas e pela governança burguesa, pela participação e apoio aos governos que servem os interesses do capital, e através da luta constante para defender os interesses dos trabalhadores estabelecem o terreno firme em cada país para que a luta seja mais bem coordenada regional e internacionalmente e se concentre no objetivo de derrubar o capitalismo, independentemente da fase em que o movimento operário se encontre.

TEORIAS – FABRICAÇÕES IDEOLÓGICAS QUE OCULTAM A CONTRADIÇÃO ENTRE CAPITAL E TRABALHO

Após a contrarrevolução e o derrube do socialismo na União Soviética e nos outros países de construção socialista, são reproduzidas velhas teorias oportunistas e aparecem outras novas que tentam esfumar, obscurecer a contradição básica capital-trabalho, e também minar o princípio do “Internacionalismo Proletário”. Entre outras coisas, existem as teorias do “Norte rico-Sul pobre”, “Metrópole-Periferia”, dos “mil milhões dourados”, teorias que sustentam, por exemplo, que a população dos Estados capitalistas estão bem, e (apenas) a população dos estados capitalistas que têm uma posição inferior ou intermédia no sistema imperialista sofre.

Essas teorias refletem o profundo impacto das perceções burguesas dentro do movimento operário que reproduzem e alimentam o oportunismo e são um grande recuo dos princípios comunistas fundamentais, são um elemento da crise ideológica e política do movimento comunista.

O capitalismo nunca e em nenhum lugar se desenvolveu de maneira uniforme e equilibrada. As condições objetivas, os diferentes pontos de partida nas fontes de riqueza e potencial econômico, a posição geográfica vantajosa ou desfavorecida, o percurso histórico, as rivalidades e guerras imperialistas, bem como a duração, a frequência e a profundidade das crises capitalistas geram diferentes velocidades de desenvolvimento. O desenvolvimento desigual é uma lei absoluta no capitalismo.

No sistema imperialista, é diferente a posição, por exemplo, dos Estados Unidos, Alemanha, França, China, Rússia, que estão nos níveis mais altos da pirâmide, em relação à Grécia, que tem uma posição intermédia. Cada Estado capitalista tem a sua própria posição no sistema de acordo com o seu poder económico, político e militar, mas cada um é regido pelas leis da formação sócio-económica e política capitalista na sua fase monopolista.

O poder político do capital e a propriedade capitalista dos meios de produção, o critério do lucro como força motriz do desenvolvimento, a estrutura de classes sociais baseada na divisão da sociedade capitalista em classe burguesa, que é a classe dominante, e a classe trabalhadora, que é a classe explorada, e as camadas intermédias que sofrem as consequências da concentração e centralização do capital e parte delas é destruída ou fica dependente dos monopólios, são características comuns a todas as sociedades capitalistas.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Saudação da Juventude Comunista da Bolívia pelo 73º Aniversário do Partido Comunista da Bolívia

        Neste dia 17 de janeiro comemoram-se 73 anos da fundação do Partido Comunista da Bolívia, vanguarda combativa da classe trabalhadora boliviana.

Juventude Comunista da Bolívia


A história do nosso Partido atravessa transversalmente a história da Bolívia. Desde os feitos históricos dos trabalhadores durante a revolução de abril de 1952, na qual os militantes comunistas estiveram nas ruas junto aos mineiros, operários das fábricas, trabalhadores, estudantes e camponeses lutando contra o imperialismo e o exército da oligarquia entreguista; passando pelas sangrentas lutas contra as ditaduras dos assassinos Barrientos, Banzer e García Meza, nas quais a militância comunista teve coragem de enfrentá-los empregando as diversas formas de luta necessárias para deter a tirania das ditaduras militares e dirigindo as massas populares na luta pela recuperação da soberania, da democracia e da liberdade.

Nosso Partido esteve nas ruas não só nas épocas das ditaduras militares, mas também nos combates contra as políticas neoliberais impulsionadas principalmente pelo imperialismo norte-americano e novamente através da oligarquia nacional. Fomos uma das poucas organizações que se mantiveram na luta contra este modelo que ainda perdura em nossa sociedade e cujas bases ainda não foram alteradas no fundamental.

Durante o último episódio sombrio de nossa história, durante a ditadura de Añez, sobretudo os jovens comunistas, lutamos em todos os níveis contra a brutal repressão do governo Añez.

Estivemos com nossos companheiros que resistiam em El Alto, Senkata, Sacaba, Cochabamba, Santa Cruz e outros lugares onde era necessário estar presente, demonstrando a qualidade e a audácia do militante comunista.

O processo vivido durante esse período demonstra a importância fundamental da reorganização do Partido e de sua integração com as massas populares, nas minas, nas fábricas, nos centros educativos e no campo, assim como a necessidade da formação da militância comunista no marxismo-leninismo para travar as batalhas necessárias tanto contra os representantes diretos do capital, como contra o oportunismo que se mascara sob a imagem de falsos socialismos levando a cabo uma luta reformista e criando confusão e desorganização no seio da classe operária.

O Partido Comunista tem dado à Bolívia seus melhores filhos, camaradas lúcidos intelectualmente, militantes aguerridos e combativos que devem ser lembrados por todo o povo como titãs da luta pelo socialismo que dedicaram a vida à construção de um país de e para os trabalhadores. Entre eles destacamos os camaradas Roberto Alvarado, Nilo Soruco, René Zavaleta Mercado, Luis Lucksic, Oscar Alfaro, Rosendo García, Jorge Kolle, Jorge Alejando Ovando Sanz, Javier Baldiviezo, Sinforoso Escobar, Clara Torrico.

Rosendo Osorio, Jorge Ibañez, Guillermo Torrelio, Marcos Domic, René Rocabado e tantos outros camaradas caídos em combate que dedicaram toda sua existência e suas forças ao Partido e à revolução.

Hoje, em que vivemos tempos de grande adversidade a nível mundial, a  missão presente para nosso Partido deve ser seguir sendo a luta pela revolução socialista sob os princípios do marxismo-leninismo com a classe operária como guia de todo o povo trabalhador. A dissolução da União Soviética abriu as portas a um período de profunda crise ideológica e confusão em muitos Partidos Comunistas, que resultou em muitos casos na negação de nossos princípios e história e finalmente na degeneração.

Existe, porém, uma vasta militância que se mantém firme na posição que corresponde um verdadeiro comunista, ‘de pé sobre a terra como uma árvore’. Nosso desejo é que o Partido Comunista da Bolívia esteja na primeira fila, trabalhando pela reorganização da classe operária nacional e do movimento comunista internacional, na confrontação aberta contra o oportunismo, o revisionismo e o reformismo. Agora nossa tarefa como jovens militantes comunistas é contribuir com a reconstrução e reorganização do Partido Comunista.

Nós, da Juventude Comunista da Bolívia, saudamos com punho ao alto a história de nossa organização e reafirmamos nosso compromisso de seguir lutando nas filas do Partido da revolução, da classe operária, até a construção do socialismo-comunismo.

Camaradas,

ADIANTE PELA RECONSTRUÇÃO E REORGANIZAÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA DA BOLÍVIA!

VIVA O MARXISMO-LENINISMO!

VIVA O PARTIDO COMUNISTA DA BOLÍVIA!

VIVA DA JUVENTUDE COMUNISTA DA BOLÍVIA!

17 de janeiro de 2023

Comitê Nacional

Juventude Comunista da Bolívia

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Imperialismo, Dogma Orientalista e a Missão Civilizatória

Edward W. Said*

2003



      [...] Nos Estados Unidos, o endurecimento das atitudes, o estreitamento da tenaz da generalização desencorajante e do clichê triunfalista, a supremacia da força bruta aliada a um desprezo simplista pelos opositores e pelos “outros” encontraram um correlativo adequado no saque, na pilhagem e na destruição das bibliotecas e dos museus do Iraque. O que nossos líderes e seus lacaios intelectuais parecem incapazes de compreender é que a história não pode ser apagada, que ela não fica em branco como uma lousa limpa para que “nós” possamos inscrever nela nosso próprio futuro e impor nossas próprias formas de vida para que esses povos menores os adotem.

    [...] Mesmo com todos os seus terríveis fracassos e seu ditador lamentável parcialmente criado pela política americana de duas décadas atrás, o fato é que, se o Iraque fosse o maior exportador mundial de bananas ou laranjas, sem dúvida não teria havido guerra nem histeria em torno de armas de destruição em massa misteriosamente desaparecidas, e efetivos de proporções descomunais do exército, da marinha e da aeronáutica não teriam sido transportados a uma distância de mais de 11 mil quilômetros com o objetivo de destruir um país que nem os americanos cultos conhecem direito, tudo em nome da “liberdade”. Sem um sentimento bem organizado de que aquela gente que mora lá não é como “nós” e não aprecia “nossos” valores    justamente o cerne do dogma orientalista tradicional, tal como descrevo seu surgimento e sua circulação neste livro  , não teria havido guerra. 

      Portanto, da mesmíssima mesa diretora de acadêmicos a soldo – aliciados pelos conquistadores holandeses da Malásia e da Indonésia, pelas armadas britânicas da Índia, da Mesopotâmia, do Egito e da África Ocidental, pelas armadas francesas da Indochina e do Norte da África – vieram os consultores americanos que assessoram o Pentágono e a Casa Branca usando os mesmos clichês, os mesmos estereótipos mortificantes, as mesmas justificativas para o uso da força e da violência (afinal de contas, diz o coro, a força é a única linguagem que aquela gente entende), tanto no caso atual como nos que o precederam. Agora foi juntar-se a essas pessoas, no Iraque, um verdadeiro exército de empreiteiros privados e empresários ávidos a quem serão confiadas todas as coisas – da elaboração de livros didáticos e da Constituição nacional à remodelagem da vida política iraquiana e da indústria petrolífera do país. Todos os impérios que já existiram, em seus discursos oficiais, afirmaram não ser como os outros, explicaram que suas circunstâncias são especiais, que existem com a missão de educar, civilizar e instaurar a ordem e a democracia, e que só em último caso recorrem à força. Além disso, o que é mais triste, sempre aparece um coro de intelectuais de boa vontade para dizer palavras pacificadoras acerca de impérios benignos e altruístas, como se não devêssemos confiar na evidência que nossos próprios olhos nos oferecem quando contemplamos a destruição, miséria e a morte trazidas pela mais recente mission civilisatrice.

Fonte: Orientalismo; 2007; Companhia das Letras.

*Edward Wadie Said (árabe:إدوارد سعيد; Jerusalém, 1 de Novembro de 1935 – Nova Iorque, 25 de Setembro de 2003) foi um professor, crítico literário e ativista político palestino-estadunidense. Docente de literatura na Universidade de Columbia, foi um dos fundadores do campo acadêmico de estudos pós-coloniais. Também foi um dos principais intelectuais da causa palestina e de outras questões do mundo árabe de um modo geral. Sua obra mais importante é Orientalismo [en], publicada em 1978 e traduzida em 36 línguas, que é considerada como um dos textos fundadores dos estudos pós-coloniais.

Em 1977 Said foi eleito membro do Conselho Nacional Palestiniano, o parlamento da Palestina no exílio. Inicialmente partidário da criação de dois estados como forma de solucionar o conflito israelo-árabe, tendo votado nesse sentido num encontro da OLP em 1988 em Alger, Said acabaria por considerar mais oportuna a criação de um único estado binacional que englobasse Israel, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, no qual os judeus e os árabes gozassem dos mesmos direitos.

Em 1991 ele demitiu-se do Conselho Nacional Palestiniano em protesto pelo apoio de Yasser Arafat a Saddam Hussein durante a guerra do Golfo. Foi um grande crítico da actuação de Arafat durante as negociações que conduziram aos Acordo de Paz de Oslo, que na sua opinião não favoreciam o retorno dos refugiados palestinianos aos locais que habitavam antes da guerra de 1967.

Em 2002 Edward Said, junto como Haidar Abdel-Shafi, Ibrahim Dakkak e Mustafa Barghouti, participou na criação da Iniciativa Nacional Palestina (ou Al-Mubadara), numa tentativa de criar uma terceira força política palestiniana que se afirmasse como alternativa à Autoridade Nacional Palestiniana e ao Hamas.

Edição: Página 1917


 

sábado, 14 de janeiro de 2023

Sobre as Ações Reacionárias no Brasil

Seção Internacional do CC do Partido Comunista do México (PCM)

11/01/2023

 


O Partido Comunista do México expressa sua solidariedade com a classe operária e os setores populares no Brasil, frente aos acontecimentos do último 8 de janeiro, em Brasília, onde as forças reacionárias seguidoras do ex-presidente Bolsonaro atacaram edifícios governamentais, em uma tentativa de incitar grupos de militares e policiais a não reconhecer os resultados das últimas eleições.

O fortalecimento destas forças reacionárias na América Latina, como o evidenciam os casos recentes no Brasil, Peru e Bolívia, se dá ante uma agudização das contradições inter-burguesas, a intervenção de diferentes polos imperialistas; assim como ante o desencanto das massas populares com a traição e a corrupção dos governos progressistas na última década, e sobretudo a clara incapacidade de – nos marcos do capitalismo – resolver o drama da exploração, da fome, da miséria e da infelicidade dos trabalhadores e dos povos.

Só a luta independente da classe operária e dos setores populares contra o capitalismo e suas diferentes gestões poderá cortar a fonte de oxigênio das forças reacionárias e permitir uma alternativa ao ciclo sem fim de governos social-democratas e reacionários em nosso continente.

Proletários de todos os países, unam-se!

Edição: Página 1917


sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Cem Anos do Testamento de Lenin (1923-2023)

CARTA AO CONGRESSO ¹

Lenin convalescendo em 1923.

Eu aconselharia fortemente a empreender neste congresso uma série de modificações na nossa estrutura política.

Desejaria comunicar-vos as considerações que penso serem mais importantes.

Em primeiro lugar, coloco o aumento do número de membros do CC para várias dezenas ou mesmo uma centena. Penso que se não empreendêssemos essa reforma, o nosso Comitê Central se veria ameaçado de grandes perigos, caso o curso dos acontecimentos não fosse de todo favorável para nós (e não podemos contar com isso).

Em seguida penso propor à atenção do congresso que, dentro de certas condições, se dê caráter legislativo às decisões da Gosplan, indo neste aspecto ao encontro do camarada Trotsky, até certo ponto e em certas condições.

No que se refere ao primeiro ponto, isto é, ao aumento do número de membros do CC, penso que tal coisa é necessária tanto para elevar o prestígio do CC como para um trabalho sério para melhorar o nosso aparelho e para evitar que os conflitos de certas pequenas partes do CC possam adquirir uma importância excessiva para os destinos do partido.

Parece-me que o nosso partido está no direito de pedir à classe operária 50 a 100 membros para o Comitê Central, e que pode recebê-los dela sem uma tensão excessiva das suas forças.

Esta reforma aumentaria consideravelmente a solidez do nosso partido e facilitar-lhe-ia a sua luta, rodeado de Estados hostis, luta que em meu entender pode e deve agudizar-se muito nos próximos anos. Penso que a estabilidade do nosso partido ganharia mil vezes com esta medida.

Lenin 23/12/1922


Por estabilidade do Comitê Central, de que falava mais acima, entendo as medidas contra a cisão, se é que tais medidas podem, em geral, ser tomadas. Porque, naturalmente, o guarda branco da Rússkaia Misl (parece que era S. S. Oldenburg) tinha razão quando, no jogo dessa gente contra a Rússia Soviética, apostava em primeiro lugar numa cisão do nosso partido e quando, em segundo lugar, apostava para essa cisão em divergências muito sérias no partido.

O nosso partido apoia-se em duas classes, e por isso é possível a sua instabilidade e inevitável a sua queda se essas duas classes não pudessem estabelecer um acordo. Nesse caso, seria inútil tomar tais ou tais medidas e, em geral, tecer considerações acerca da estabilidade do nosso CC. Nenhuma medida seria capaz, neste caso, de prevenir a cisão. Mas eu espero que isto seja um futuro demasiado distante e um acontecimento demasiado improvável para falar dele.

Refiro-me à estabilidade como garantia contra a cisão num futuro próximo, e tenciono expor aqui uma série de considerações de ordem puramente pessoal.

Penso que o fundamental na questão da estabilidade, deste ponto de vista, são membros do CC como Stalin e Trotsky. As relações entre eles, em minha opinião, constituem mais de metade do perigo dessa cisão que se poderia evitar, e para evitar a qual, em minha opinião, deve servir, entre outras coisas, o aumento do número de membros do CC para 50, para 100 pessoas.

O camarada Stalin, tendo-se tornado secretário-geral, concentrou nas suas mãos um poder imenso e não estou certo de que saiba sempre utilizar este poder com suficiente prudência. Por outro lado, o camarada Trotsky, como o demonstrou já na sua luta contra o CC a propósito da questão do Comissariado do Povo das Vias de Comunicação, não se distingue apenas pela sua destacada capacidade. Pessoalmente é talvez o homem mais capaz do atual CC, mas peca por excessiva confiança em si próprio e deixa-se arrastar excessivamente pelo aspecto puramente administrativo das coisas.

Estas duas qualidades de dois destacados chefes do CC atual podem levar involuntariamente à cisão, e se o nosso partido não toma medidas para o impedir, a cisão pode surgir inesperadamente.

Não continuarei a caracterizar os outros membros do CC pelas suas qualidades pessoais. Recordarei apenas que o episódio de Zinoviev e Kamenev em outubro² não é, naturalmente, acidental, mas que se não pode culpá-los pessoalmente disso, como a Trotsky do seu não bolchevismo.

Dos jovens membros do CC, quero dizer algumas palavras acerca de Bukharin e de Piatakov. São, em meu entender, os mais destacados (dos mais jovens), e, a propósito deles, dever-se-ia ter em conta o seguinte: Bukharin não só é um valiosíssimo e grande teórico do partido, como, além disso, é legitimamente considerado o favorito de todo o partido, mas as suas concepções teóricas só com grandes reservas se podem qualificar de inteiramente marxistas, pois há nele qualquer coisa de escolástico (nunca estudou e penso que nunca compreendeu inteiramente a dialética).

Lenin 24/12/1922


Seguidamente, Piatakov, homem sem dúvida de grande vontade e de grandes capacidades, mas que se deixa arrastar demasiado pela administração e pelo aspecto administrativo das coisas para que se possa confiar nele para uma questão política séria.

Naturalmente, faço uma e outra observação apenas para o presente, na hipótese de que ambos estes destacados e fiéis militantes não encontrem ocasião de completar os seus conhecimentos e de corrigir a sua unilateralidade.

Lenin 25/12/1922


Aditamento à carta de 24 de dezembro de 1922

Stalin é demasiado rude e este defeito, plenamente tolerável no nosso meio e nas relações entre nós, comunistas, torna-se intolerável no cargo de secretário-geral. Por isso proponho aos camaradas que pensem na forma de transferir Stalin deste lugar e de nomear para este lugar outro homem que em todos os outros aspectos se diferencie do camarada Stalin apenas por uma vantagem, a saber: que seja mais tolerante, mais leal, mais cortês e mais atento para com os camaradas, menos caprichoso, etc. Esta circunstância pode parecer uma fútil ninharia. Mas penso que, do ponto de vista de prevenir a cisão e do ponto de vista do que escrevi mais acima acerca das relações entre Stalin e Trotsky, isto não é uma ninharia, ou é uma ninharia que pode adquirir importância decisiva.

Lenin 04/01/1923


Notas

1 - Em Maio de 1924 a Carta ao Congresso foi lida aos delegados ao XIII congresso do Partido, mas somente em 1956, por decisão do CC do PCUS, essas cartas foram levadas ao conhecimento do XX Congresso do Partido, enviadas às organizações do Partido e amplamente divulgadas.

2 - Lenin se refere a atitude de Zinoviev e Kamanev, às vésperas da insurreição de 1917, de se posicionarem publicamente contra o levante após serem derrotados no CC do partido bolchevique.

Edição: Página 1917

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Nosso Caminho Leva à Vitória

Partido Comunista Argentino - PCA 

Janeiro/2023



“El Partido Comunista tiene una misión histórica y nada ni nadie podrá impedir que se cumpra” Victorio Codovilla

Há mais de 105 anos na Rússia Czarista, a classe operária e os camponeses, com seu partido de vanguarda, o Partido Bolchevique, instauraram pela primeira vez o poder operário e empreenderam a construção do socialismo enterrando o capitalismo. A bandeira da Revolução de Outubro foi engrandecida na Argentina em 6 de janeiro de 1918 por Victorio Codovilla, Rodolfo Ghioldi, José F. Penelón, Recabarren, anunciando ao mundo que no continente americano também se levantaria um destacamento de vanguarda do proletariado que luta pelo novo mundo socialista.

Nos 105 anos de história que hoje completa o Partido Comunista da Argentina, é necessário recordar que foi exemplo da luta dos trabalhadores pelo socialismo, impulsionando a formação dos primeiros sindicatos operários e das grandes greves de trabalhadores que foram integradas e dirigidas por militantes comunistas. Exemplos destas últimas são a “Patagônia Rebelde” com os camaradas Soto e Albino Argüelles na direção, a famosa greve da construção civil onde o camarada Rubens Íscaro teve uma participação ativa, e também o trabalho de José Peter na defesa dos trabalhadores do setor da carne. O Partido Comunista também esteve à frente da luta pela emancipação da mulher trabalhadora com camaradas como Alcira de la Peña, na luta internacionalista com grandes militantes como Benigno “Boris” Mochkofsky, Raquel Levenson, Marcelo Feito e as Brigadas do Café.

Porém, nos últimos anos aquele Partido que nasceu sob a influência da Grande Revolução Socialista de Outubro, borrou sua identidade revolucionária frente a atuação e predomínio de distintas correntes oportunistas, o que o fez perder seus vínculos com a classe operária e o povo, paralisou sua vida política e orgânica, assumindo de fato um programa que não contempla a luta pelo socialismo como a tarefa imediata da classe operária. Mas as posições revolucionárias não podem ser extintas enquanto existir a classe operária, por isso o Partido no passado fez várias tentativas para aperfeiçoar e preservar sua política revolucionária, foi o caso do XVI Congresso, mesmo que tenha sido um processo inconcluso que não terminou por concretizar-se, é exemplo de política para uma reconstrução revolucionária do Partido Comunista na Argentina.

O Partido Comunista da Argentina há muito tempo desenvolveu uma política errática, produto da falta de clareza e do ecletismo impregnado pelo oportunismo, por exemplo, passou de uma política de crítica e confronto ao kirchnerismo por considerá-lo expressão do “neoliberalismo K” em princípios de 2000 e, a partir de 2008, procedeu à integração e subordinação dos comunistas a uma das principais forças burguesas da Argentina: o peronismo.

O kirchnerismo, versão do progressismo na Argentina, é um governo gestor do capitalismo que perpetuou a infelicidade de nosso povo, mostra disso é que existem 18 milhões de pessoas na pobreza e 3,3 milhões de famintos, cerca de 2 milhões de trabalhadores com renda abaixo da linha de pobreza devido à precarização do trabalho, a cesta básica é de $ 145,900 e o salário mínimo é de quase $ 70.000, existe um índice de 60% de crianças pobres, durante a pandemia 11 milhões de trabalhadores ocupados e desocupados comiam em restaurantes e cozinhas populares. Está claro que o progressismo não pode resolver os problemas da classe trabalhadora e do povo argentino, a única maneira de dar uma solução efetiva para o povo é abrir caminho para a sociedade socialista.

Com o governo de Alberto Fernández, assim como com Macri e Néstor e Cristina Kirchner, o que imperou na Argentina é a ditadura da burguesia sobre a classe trabalhadora, o poder dos monopólios com diferenças secundárias a respeito do tipo de administração do capitalismo. O capitalismo hoje implica necessariamente neoliberalismo, quer dizer pobreza estrutural crescente, mobilidade social descendente, desregulação da economia, planos sociais para contenção de possíveis explosões sociais. O governo da Frente de Todos, com sua política de adesão ao FMI e continuação do ajuste macrista, é a renúncia de parte do progressismo a qualquer aspiração “pós-neoliberal”. O progressismo, como expressão da socialdemocracia, apesar de querer “embelezar” o capitalismo e construir um rosto “humano”, não foi capaz, pois o capitalismo nasceu chorando lodo e sangue, e assim seguirá até que a classe operária e seu partido de vanguarda instaurem o poder operário na Argentina.

Entendemos que o atual governo da Frente de Todos, acordado com o FMI, significa um sincero compromisso com a aceitação do peronismo para governar com ajuste, para abraçar o neoliberalismo em lugar de combatê-lo ou superá-lo. Falamos de peronismo porque tende a atuar com unidade de ação, para além de idas e vindas e episódios que acabam sendo anedóticos. E essa unidade de ação desde a ditadura sempre trabalhou em prol de um programa capitalista e neoliberal (expresso na conhecida frase de que o pleno emprego nunca mais voltará, por isso devemos nos conformar com o desemprego e a massificação das políticas sociais). Qualquer um saberá porque se submete a uma liderança antioperária e antipopular de fato. Entendemos que, se o pleno emprego não voltará jamais, é o capitalismo que precisa ser descartado, não nossa dignidade.

O quadro da situação se completa com o predomínio do oportunismo nas organizações que dizem representar e defender os interesses da classe operária, o que deixou um vácuo de inexistência de uma organização revolucionária que guie a classe operária sob uma visão estratégica de luta pelo socialismo. Muitos só obtêm lucro imoral com a pobreza, o que converte as organizações comunistas e socialistas em um veículo do Estado burguês para implementar as políticas de assistencialismo e de contenção social das massas. Os comunistas devem trabalhar com os desocupados, com os trabalhadores precários, com a classe trabalhadora lançada à miséria pelo capitalismo, mas não com o interesse de administrar as migalhas que o Estado burguês cede, mas com a perspectiva de lutar para derrubar a ditadura do capitalismo.

Frente a inexistência na Argentina de um partido comunista com posições revolucionárias e disposição de enfrentar todo tipo de gestão do capitalismo para empreender a luta pelo socialismo, se faz necessária a reconstrução revolucionária de um Partido Comunista para a classe operária argentina. Contudo, o socialismo não é um processo automático nem espontâneo, mas requer a maturidade da consciência da classe trabalhadora pelo trabalho necessário de seu setor de vanguarda, isto é, tem como fator essencial a existência do Partido Comunista. Um firmemente baseado no marxismo-leninismo e convicto de que a revolução socialista é a tarefa imediata da classe, quer dizer que não existem etapas intermediárias que justifiquem a colaboração com a burguesia.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Previsão 2023: A Queda Iminente

Michael Roberts*

30/12/2022

No final de cada ano, procuro fazer uma previsão do que acontecerá na economia mundial no próximo ano. É claro que as previsões estão envoltas em erros, dadas as muitas variáveis ​​envolvidas que impulsionam as economias. As previsões do tempo ainda são difíceis de fazer e aqui os meteorologistas estão lidando com eventos físicos e não (pelo menos diretamente) com ações humanas. No entanto, as previsões meteorológicas com até três dias de antecedência são bastante precisas. E as previsões de mudanças climáticas de longo prazo foram amplamente confirmadas nas últimas décadas. Portanto, se considerarmos que a economia é uma ciência (embora seja uma ciência social), e eu considero, fazer previsões também faz parte do teste de teorias e evidências na economia.

 


Como funcionaram as previsões que fiz no ano passado para 2022?   Em 2022, esperava-se que a economia mundial crescesse cerca de 3,5-4,0% em termos reais – uma desaceleração significativa em relação a 2021 (queda de 25% nessa taxa). Na verdade, 2022 parece ser pior do que a previsão de consenso, em apenas 3,2%. Esperava-se que as economias capitalistas avançadas crescessem menos de 4% em 2022 – agora parece que essas economias conseguirão apenas 2,4%. Esperava-se que as chamadas economias emergentes alcançassem um aumento médio de 4% em 2022 – novamente um toque otimista demais, com o resultado provável sendo de 3,7%. Portanto, as principais economias se saíram muito pior do que em 2021 – e pior do que as previsões de consenso. De fato, a queda no crescimento em 2022 em relação a 2021 foi uma das mais profundas já registradas.

Minha própria previsão de crescimento real do PIB para 2022 também foi muito alta. Mas pelo menos reconheci por que haveria um recuo significativo. No ano passado, argumentei que “a  'corrida do açúcar' dos gastos reprimidos do consumidor , engendrada pelos subsídios em dinheiro da COVID de gastos fiscais dos governos e enormes injeções de dinheiro de crédito pelos bancos centrais havia acabado”.   Isso foi um eufemismo. Como sabemos, em meados de 2022, os bancos centrais estavam envolvidos em uma série de aumentos nas taxas de juros que aumentaram drasticamente o custo dos empréstimos para consumidores e empresas. A reversão do afrouxamento monetário (QE) para o aperto (QT) foi rápida e acentuada devido ao rápido aumento das taxas de inflação para os preços de bens, commodities e serviços globalmente. 

Discuti as razões para o pico inflacionário e a reação dos bancos centrais em muitos posts este ano.   Economias fracas e de baixa produtividade, bloqueios globais da cadeia de suprimentos devido à COVID e a crise energética, intensificada pelo conflito Rússia-Ucrânia, foram os motores da inflação – não a 'demanda excessiva', como argumentaram os keynesianos; ou muito "dinheiro barato", como argumentavam os monetaristas. Como resultado, os bancos centrais têm sido impotentes para conter a inflação, exceto destruindo receitas, elevando os custos da dívida e intensificando assim a probabilidade de uma queda total nas principais economias em 2023.

De fato, no ano passado eu esperava que uma crise de dívida global viesse à tona: “tal era o tamanho da dívida corporativa e o grande número de chamadas 'empresas zumbis' que não estavam tendo lucro suficiente nem para cobrir o serviço de suas dívidas (apesar das taxas de juros muito baixas), que pode ocorrer um colapso financeiro.”   Isso ainda não aconteceu nas economias capitalistas avançadas, em parte por causa da inflação, que baixou o fardo “real” dos custos dos empréstimos. A relação dívida global em relação ao PIB chegará a 352% até o final de 2022, de acordo com o mais recente Global Debt Monitor do Institute of International Finance (IIF), com sede em Washington. Isso inclui a dívida do setor financeiro, geralmente devida dentro do setor. Excluindo isso, a dívida global é superior a 250% do PIB mundial de acordo com o BIS.

Mas, como prevejo, as chamadas economias emergentes estão enfrentando uma grande crise de crédito – com calotes de dívidas já acontecendo no Sri Lanka, Zâmbia, Gana e outros como Egito e Paquistão à beira. Um dólar muito forte até 2022 tornou praticamente impossível o serviço da dívida em dólares para muitos dos países mais pobres. De acordo com o BIS, há cerca de US$ 65 trilhões em dívidas em dólares de não bancos em economias emergentes. Cerca de metade das economias de baixa renda (LIEs) estão agora em perigo de inadimplência. A dívida dos 'mercados emergentes' em relação ao PIB aumentou de 40% para 60% nesta crise. Há pouco espaço para aumentar os gastos do governo para aliviar o impacto. 

Os países mais pobres do mundo devem pagar 35% a mais em juros da dívida este ano para cobrir o custo extra da pandemia de Covid-19 e um aumento dramático no preço das importações de alimentos, segundo um relatório do Banco Mundial. América Latina enfrenta 'crise prolongada' após pandemia. Um relatório da ONU sobre a América Latina e o Caribe alerta que quase 45% dos jovens vivem abaixo do nível de pobreza. O relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) constatou que 56,5 milhões de pessoas na região foram afetadas pela fome. Estima-se que 45,4% das pessoas com 18 anos ou menos na América Latina viviam na pobreza.

Caro leitor, ajude a divulgar o Página 1917, compartilhe nossas publicações nas suas redes sociais.