Partido Comunista Argentino - PCA
Janeiro/2023
“El Partido Comunista tiene una misión histórica y nada ni nadie podrá impedir que se cumpra” Victorio Codovilla
Há
mais de 105 anos na Rússia Czarista, a classe operária e os camponeses, com seu
partido de vanguarda, o Partido Bolchevique, instauraram pela primeira vez o
poder operário e empreenderam a construção do socialismo enterrando o
capitalismo. A bandeira da Revolução de Outubro foi engrandecida na Argentina
em 6 de janeiro de 1918 por Victorio Codovilla, Rodolfo Ghioldi, José F.
Penelón, Recabarren, anunciando ao mundo que no continente americano também se
levantaria um destacamento de vanguarda do proletariado que luta pelo novo
mundo socialista.
Nos
105 anos de história que hoje completa o Partido Comunista da Argentina, é
necessário recordar que foi exemplo da luta dos trabalhadores pelo socialismo,
impulsionando a formação dos primeiros sindicatos operários e das grandes
greves de trabalhadores que foram integradas e dirigidas por militantes
comunistas. Exemplos destas últimas são a “Patagônia Rebelde” com os camaradas
Soto e Albino Argüelles na direção, a famosa greve da construção civil onde o
camarada Rubens Íscaro teve uma participação ativa, e também o trabalho de José
Peter na defesa dos trabalhadores do setor da carne. O Partido Comunista também
esteve à frente da luta pela emancipação da mulher trabalhadora com camaradas
como Alcira de la Peña, na luta internacionalista com grandes militantes como
Benigno “Boris” Mochkofsky, Raquel Levenson, Marcelo Feito e as Brigadas do
Café.
Porém,
nos últimos anos aquele Partido que nasceu sob a influência da Grande Revolução
Socialista de Outubro, borrou sua identidade revolucionária frente a atuação e
predomínio de distintas correntes oportunistas, o que o fez perder seus
vínculos com a classe operária e o povo, paralisou sua vida política e
orgânica, assumindo de fato um programa que não contempla a luta pelo
socialismo como a tarefa imediata da classe operária. Mas as posições revolucionárias
não podem ser extintas enquanto existir a classe operária, por isso o Partido
no passado fez várias tentativas para aperfeiçoar e preservar sua política
revolucionária, foi o caso do XVI Congresso, mesmo que tenha sido um processo
inconcluso que não terminou por concretizar-se, é exemplo de política para uma
reconstrução revolucionária do Partido Comunista na Argentina.
O
Partido Comunista da Argentina há muito tempo desenvolveu uma política
errática, produto da falta de clareza e do ecletismo impregnado pelo
oportunismo, por exemplo, passou de uma política de crítica e confronto ao
kirchnerismo por considerá-lo expressão do “neoliberalismo K” em princípios de
2000 e, a partir de 2008, procedeu à integração e subordinação dos comunistas a
uma das principais forças burguesas da Argentina: o peronismo.
O
kirchnerismo, versão do progressismo na Argentina, é um governo gestor do
capitalismo que perpetuou a infelicidade de nosso povo, mostra disso é que
existem 18 milhões de pessoas na pobreza e 3,3 milhões de famintos, cerca de 2
milhões de trabalhadores com renda abaixo da linha de pobreza devido à
precarização do trabalho, a cesta básica é de $ 145,900 e o salário mínimo é de
quase $ 70.000, existe um índice de 60% de crianças pobres, durante a pandemia
11 milhões de trabalhadores ocupados e desocupados comiam em restaurantes e
cozinhas populares. Está claro que o progressismo não pode resolver os
problemas da classe trabalhadora e do povo argentino, a única maneira de dar
uma solução efetiva para o povo é abrir caminho para a sociedade socialista.
Com
o governo de Alberto Fernández, assim como com Macri e Néstor e Cristina
Kirchner, o que imperou na Argentina é a ditadura da burguesia sobre a classe
trabalhadora, o poder dos monopólios com diferenças secundárias a respeito do
tipo de administração do capitalismo. O capitalismo hoje implica
necessariamente neoliberalismo, quer dizer pobreza estrutural crescente, mobilidade
social descendente, desregulação da economia, planos sociais para contenção de
possíveis explosões sociais. O governo da Frente de Todos, com sua política de
adesão ao FMI e continuação do ajuste macrista, é a renúncia de parte do
progressismo a qualquer aspiração “pós-neoliberal”. O progressismo, como
expressão da socialdemocracia, apesar de querer “embelezar” o capitalismo e
construir um rosto “humano”, não foi capaz, pois o capitalismo nasceu chorando
lodo e sangue, e assim seguirá até que a classe operária e seu partido de
vanguarda instaurem o poder operário na Argentina.
Entendemos
que o atual governo da Frente de Todos, acordado com o FMI, significa um
sincero compromisso com a aceitação do peronismo para governar com ajuste, para
abraçar o neoliberalismo em lugar de combatê-lo ou superá-lo. Falamos de
peronismo porque tende a atuar com unidade de ação, para além de idas e vindas
e episódios que acabam sendo anedóticos. E essa unidade de ação desde a
ditadura sempre trabalhou em prol de um programa capitalista e neoliberal
(expresso na conhecida frase de que o pleno emprego nunca mais voltará, por
isso devemos nos conformar com o desemprego e a massificação das políticas
sociais). Qualquer um saberá porque se submete a uma liderança antioperária e
antipopular de fato. Entendemos que, se o pleno emprego não voltará jamais, é o
capitalismo que precisa ser descartado, não nossa dignidade.
O
quadro da situação se completa com o predomínio do oportunismo nas organizações
que dizem representar e defender os interesses da classe operária, o que deixou
um vácuo de inexistência de uma organização revolucionária que guie a classe
operária sob uma visão estratégica de luta pelo socialismo. Muitos só obtêm
lucro imoral com a pobreza, o que converte as organizações comunistas e
socialistas em um veículo do Estado burguês para implementar as políticas de
assistencialismo e de contenção social das massas. Os comunistas devem
trabalhar com os desocupados, com os trabalhadores precários, com a classe
trabalhadora lançada à miséria pelo capitalismo, mas não com o interesse de
administrar as migalhas que o Estado burguês cede, mas com a perspectiva de
lutar para derrubar a ditadura do capitalismo.
Frente a inexistência na Argentina de um partido comunista com posições revolucionárias e disposição de enfrentar todo tipo de gestão do capitalismo para empreender a luta pelo socialismo, se faz necessária a reconstrução revolucionária de um Partido Comunista para a classe operária argentina. Contudo, o socialismo não é um processo automático nem espontâneo, mas requer a maturidade da consciência da classe trabalhadora pelo trabalho necessário de seu setor de vanguarda, isto é, tem como fator essencial a existência do Partido Comunista. Um firmemente baseado no marxismo-leninismo e convicto de que a revolução socialista é a tarefa imediata da classe, quer dizer que não existem etapas intermediárias que justifiquem a colaboração com a burguesia.
Hoje
assumimos a tarefa de suprir a classe trabalhadora argentina com o Partido
Comunista de que necessita. Estamos conscientes de que tal caminho não está
isento de dificuldades, pelo contrário, trata-se de um percurso árduo no qual
identificamos os seguintes pontos a esclarecer:
Em
primeiro lugar, a luta contra as ideologias burguesas que amarram a classe
trabalhadora, que a subestimam e contra as quais é preciso abrir uma frente
ideológica, por exemplo, a política de conciliação de classes do peronismo tem
servido para garantir a governabilidade burguesa e a contenção das massas na
ideia de “unidade nacional” e “terceira via”, e foi criada como resposta ao
avanço da classe operária e seu partido de vanguarda na década de 40: o Partido
Comunista. Seu papel alienador, desmobilizador e repressor serviu para colocar
os trabalhadores como a espinha dorsal de um movimento burguês e não como a
cabeça de um movimento revolucionário, que era o objetivo dos comunistas.
Portanto, uma tarefa essencial do Partido Comunista é construir a partir da
classe operária a superação desse fardo político[1]ideológico. Essa
primeira conclusão abre as portas para um estudo mais aprofundado dessa
ideologia que há mais de 70 anos quer colocar (sem sucesso) os trabalhadores em
um papel passivo.
Por
outro lado, é necessário elaborar um novo programa dos comunistas na Argentina a
partir do estudo e da reflexão contemporânea sobre o desenvolvimento
capitalista na Argentina e seu lugar na pirâmide imperialista, um programa que
faz parte da análise atual das classes sociais e de seus interesses, um
programa que contemple os objetivos e aspirações da mulher trabalhadora, da
juventude, dos migrantes, dos desocupados e sobre todos os distintos ramos da
classe operária; um programa moderno que se sustente na realidade sobre os
passos a dar para forjar um movimento de massas dos explorados e oprimidos; um
programa que situe a revolução socialista como a tarefa imediata da classe
operária.
A
necessidade de um programa e de um Partido Comunista com características
revolucionárias é uma necessidade histórica para que na Argentina se avance
para o socialismo. Nós empreendemos o caminho para a construção do tal Partido
Comunista, um partido de novo tipo que tenha por exemplo o PC Bolchevique, um
Partido de quadros que caminhe unido à classe operária, um Partido
Internacionalista, um Partido que se mantenha independente de qualquer força
burguesa. Um partido cujo programa tem no centro a luta pelo socialismo. Tal
objetivo exige o nosso estudo, nossa preparação e é uma tarefa a que nos
entregamos sem vacilação.
É um dever das novas gerações de jovens operários avançados armar-se de seu partido de vanguarda e de um programa revolucionário. Por isso queremos informar ao povo e à classe operária que empreendemos o caminho da reconstrução revolucionária do Partido Comunista na Argentina. O Partido Comunista da Argentina, em nosso entendimento, paralisou sua atividade devido ao contrabando ideológico nacionalista burguês que liquidou sua estrutura, suas quantidades e suas qualidades e o reduziu a um pequeno grupo de pessoas ligadas à capitulação, ao possibilismo e ao quietismo. Essa estrutura já corrompida abandonou os métodos leninistas de organização, já que carece do centralismo democrático necessário e os espaços de debate são inexistentes, algo que se pode observar no abafado 26 Congresso, em que houve conferências regionais que não aconteceram por desavenças pessoais entre militantes.
A
perda massiva de militantes e quadros importantes se deve à aplicação de uma
linha reformista e liquidacionista, mas também a um método organizacional
típico do peronismo, em que não existe a crítica nem a autocrítica nem o debate
sincero e fraterno que deveria caracterizar as relações entre camaradas.
Com
tudo já exposto e os acontecimentos de conhecimento público (a expulsão total
da FJC Morón em outubro de 2021 e a ruptura da FJC CABA em sua totalidade),
nosso caminho tem sido marcado em direção à última oportunidade de resgatar e
recuperar as heróicas bandeiras vermelhas das mãos indignas de um punhado de
liquidacionistas. Portanto, queremos tomar as palavras de nossa imensa camarada
Fanny Edelman: "Se algum mérito pode ser atribuído a mim, é minha lealdade
inabalável ao Partido Comunista", e deixar claro nossa lealdade inabalável
ao Partido Comunista, aquele que surgiu em 1918 com o objetivo de lutar pelo
socialismo e cujos ideais eram baseados no marxismo-leninismo. A história desse
partido que representou e se nutriu dos melhores filhos da classe operária e
que hoje faz parte da história do movimento operário na Argentina, merece nosso
respeito.
Nos
recusamos a rejeitar a nossa história, e não estamos de acordo em aceitar
quaisquer ideias estranhas e alheias a ela, mesmo que nos queiram convidar a
outras ideias para jogar fora 105 anos de heroísmo. Mas também rejeitamos o que
é hoje: a direção, a estrutura e a linha do Partido Comunista da Argentina,
porque além do nome, pouco resta dos tempos em que foi uma seção da
Internacional Comunista. Hoje está em nossas mãos reconstruí-la e colocá-la de
pé para que desempenhe seu papel histórico.
No
processo de reconstrutores do Partido Comunista, não nos consideramos uma
fração, como fizeram outras organizações que, apesar das críticas ao Partido
Comunista da Argentina, também permaneceram oportunistas (Partido Comunista
Revolucionário e Partido Comunista do Congresso Extraordinário). Pelo
contrário, nos consideramos herdeiros e continuadores da tradição de luta dos
comunistas que há 105 anos fundaram o primeiro partido comunista da Argentina,
e que não são representados pela atual direção do Partido Comunista da
Argentina. As últimas direções do partido são responsáveis pelo fato de que
hoje esteja reduzido a um pequeno punhado de militantes - muitos deles honestos
e pelos quais mantemos enorme respeito - e sedes partidárias vazias e
abandonadas sem qualquer tipo de atividade política, algo que é uma traição à
classe operária e hoje não pertencem moralmente às lideranças traiçoeiras que
colocaram o glorioso PC de joelhos diante da burguesia local.
No presente ano, fortaleceremos nossas bases ideológicas, consolidaremos nossa estrutura da melhor maneira, aceitando os métodos leninistas de organização, aprofundando o centralismo democrático e construindo um programa que permita colocar o Partido Comunista nas ruas para combater a qualquer um dos governos e frações da burguesia. O ano de 2023 nos encontrará trabalhando em fábricas, entre os secundaristas, no setor de serviços, nas universidades; nos encontrará recuperando a cultura e a história do Partido Comunista; nos encontrará nos bairros, na luta de ocupação da terra, na luta pelo acesso à água potável, eletricidade etc., problemas que um governo antioperário e antipopular como o atual não busca resolver.
Para
atingir estes objetivos, o coletivo decidiu ampliar a nossa diferenciação, não
só com as nossas próprias conquistas e logicamente nas nossas táticas e
estratégias, mas também no nome. Dado que hoje o oportunismo identifica sua
organização com o nome do Partido Comunista da Argentina, decidimos que o
projeto de reconstrução revolucionária do partido comunista na Argentina usaria
o nome de Partido Comunista Argentino. Como há casos no Brasil do "Partido
Comunista Brasileiro" e "Partido Comunista do Brasil", ou no
Peru com o "Partido Comunista Peruano" e o "Partido Comunista do
Peru", na Argentina haverá o "Partido Comunista da Argentina"
hoje afundado no frentepopulismo, no reformismo e no caminho da liquidação e
existiremos nós, o "Partido Comunista Argentino", que será o que
colocará no mais alto nível a dignidade revolucionária de nossos 105 anos de história.
Fazemos isso sabendo que por trás da diferença de nomes existe uma profunda
diferença política e programática. Nós fazemos isso cientes de que atrás da
diferença de nome tem uma profunda diferença política e programática.
Avançaremos
em poucos meses a uma Conferência Nacional de Organização na qual
aprofundaremos nossa estrutura à altura de um partido leninista, e na qual
debateremos os pontos centrais de nosso novo programa, e que essa Conferência
abra caminho ao próximo Congresso Nacional do Partido Comunista em que
tornaremos públicos nossos estudos e posicionamentos com muito mais
profundidade.
Nas
costas da nossa reconstrução levamos os camaradas fundadores como Victoria
Codovilla, José F. Penelón, Rodolfo Ghioldi, Luis Emilio Recabarren, carregamos
os camaradas que se destacaram nas lutas operárias como Alberto Caffaratti, o
galego Soto, Rubéns Íscaro, Vicente Marischi, Jorge Canelles, Antonio Alac,
José Peter. Conosco tremulam as bandeiras do internacionalismo proletário, de
que nossa organização foi exemplo com o camarada Rodolfo Ghioldi em 1935
participando da insurreição revolucionária no Brasil tendo à frente o camarada
brasileiro Luís Carlos Prestes, também com nossa participação nas Brigadas
Internacionais da Guerra Civil Espanhola com camaradas como o Comandante Ortiz,
Raquel Levenson, Fanny Edelman, Victorio Codovilla, entre outros; com a heroica
Brigada do Café à Nicarágua em 1985, onde o Partido Comunista mais uma vez
revelou que não conhece fronteiras para lutar pelo socialismo; ou com a tão
conhecida história de Marcelo Feito, o “Tenente Rodolfo”, que em 1987 caiu
lutando em Chalatenango, em El Salvador.
Sobre
nossas costas também levamos nossos camaradas caídos na Argentina, como Jorge
Calvo e Ángel Zelli, Juan Ingalinella, Tito Messiez, Rubén, Teresa Israel, Ana
Teresa Diego, Inés Ollero, Negrito Avellaneda, Steinberg e Huevo García, entre
outros, e hoje são nossas bandeiras para a reconstrução do Partido Comunista.
Somos herdeiros dos 105 de história, herdeiros do Partido de Athos Fava e
Patricio Echegaray, filhos das FeriFiestas e piqueniques do Partido, herdeiros
dessa grande FJC dos anos 80, a famoso dos 100.000 filiados, somos filhos deste
grande Partido que atacou o Minimax quando Rockefeller veio para a Argentina.
Em nossas bandeiras também está o comandante Leonor Cuaretta, que liderou o
grupo de camaradas que iniciou a primeira guerrilha no Chaco, também o camarada
Fernando Nadra que foi um quadro essencial de nosso partido, comprovado na
teoria e na prática revolucionárias, as camaradas que, como Alcira de la Peña,
assumiram a liderança na luta pela emancipação das mulheres, assim como Lohana
Berkins que organizou e representou o coletivo trans e o LBGT+ mesmo nos piores
momentos de resistência. Conosco estão também aqueles que forjaram a cultura
comunista, como Alfredo Varela, Raúl González Tuñón, Tejada Gómez, Mercedes
Sosa, Pugliesse, Horacio Guaraní, Hamlet Lima Quintana e muitos outros.
Reivindicamos
toda esta história com seus erros, acertos e heroísmos porque acreditamos que a
história do Partido Comunista é a história do movimento operário argentino e
não deixaremos que o sangue derramado tenha sido em vão, vamos reconstruir o
glorioso Partido Comunista e chegará o dia em que este glorioso Partido voltará
a ser o da classe trabalhadora: um Partido Comunista forte, lutador, com
vocação e estratégia de poder, com inserção no movimento operário, com ânsia e
sede de uma revolução socialista na Argentina.
Os 105 anos de história do Partido Comunista da Argentina viverão no Partido Comunista Argentino que renasce hoje.
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Edição: Página 1917
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