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sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

ANO NOVO, VIDA VELHA:

O PCP submete-se ao PS e continua a afastar-se da luta pelo socialismo!

Que Fazer?
Que Fazer?

“Um Partido de classe, revolucionário, marxista-leninista e internacionalista ... existe para elevar a consciência política das massas ao nível da luta pela revolução socialista, criadas as devidas condições objetivas e subjetivas. As condições objetivas não dependem só da classe e do partido de classe, mas as condições subjetivas, essas, dependem só e apenas desse partido de vanguarda da classe”. 


 Entendimentos do PCP com o PS e apelo ao regresso de “renovadores” que se afastaram:

Na entrada em funções do novo secretário-geral do PCP foram dadas várias entrevistas a órgãos de comunicação social em que ele teve oportunidade de manifestar o seu pensamento político. Claro que, nessa qualidade de secretário-geral, não deu as suas opiniões pessoais, mas, pelo menos as da direção do seu partido. E essas opiniões, nas várias entrevistas, refletem um evoluir e uma clarificação de posições relativas à linha política do PCP, mais explícitas, até, em relação às expressas pelo anterior secretário-geral.

 Pode dizer-se, e é verdade, que essas opiniões respeitam a linha aprovada no XXI Congresso e até de congressos anteriores, mas daí só pode concluir-se que essa linha não só estava errada, como continha nas entrelinhas, em potência, as interpretações que, agora com mais clareza, são expressas pelo atual secretário-geral.

 E essa interpretação foca-se agora em três direções que não tinham antes sido mencionadas e explicitadas: a abertura ao regresso dos “renovadores” - aqueles membros do PCP afastados, por decisão própria ou sanção disciplinar que queriam subverter a natureza de classe do Partido, podemos acrescentar, que traíram o Partido; e a abertura de portas a futuros entendimentos com o PS com vistas à governação do país. A terceira direção, que referiremos adiante é a linha política do PCP na qual o PS desempenha um papel de protagonista.

 Posteriormente vem a saber-se que o apelo ao regresso se dirige também àqueles que ficaram “zangados” com o fim da “geringonça”, responsabilizando o PCP por esse divórcio e aos que, imbuídos de ideologia burguesa discordaram da posição do PCP em relação à guerra imperialista na Ucrânia. Isto não se pode aceitar, ou, de outro modo, só é aceite porque o PCP está transformado numa panela onde tudo cabe: tudo o que seja ideologicamente degenerado e a caminhar para o desvio de direita, ou para a social-democratização do PCP. A ideologia burguesa e pequeno-burguesa infiltra-se a cada instante na ideologia partidária. E só se fôssemos tolos é que não veríamos que existem mecanismos, devidamente organizados, virados para a destruição, por todas as vias, a ideológica incluída, dos partidos comunistas, como aconteceu em Espanha, na França, na Itália, ou na União Soviética.

 Abrir as portas a traidores do Partido, chamar os que ficaram descontentes com o fim da “geringonça”, rebaixar-se ao PS são três atitudes inseparáveis que revelam o estado de decomposição do PCP.

 Um partido que não renegue a sua natureza de classe e a sua missão histórica, tem de lutar todos os dias pela unidade ideológica no seu seio através da educação marxista-leninista dos seus militantes e quadros, contra a ideologia burguesa e pequeno-burguesa. Para quem não sabe ou já se esqueceu, unidade ideológica é o oposto de unanimismo e imposição de opiniões únicas.

Um Partido de classe, revolucionário, marxista-leninista e internacionalista, não é um negociador social, não é um sindicato ainda por cima fraco, que considera boas as migalhas que o PS “deu” para obter a aprovação de dois orçamentos de Estado. Um tal partido existe para elevar a consciência política das massas ao nível da luta pela revolução socialista criadas as devidas condições objetivas e subjetivas. As condições objetivas não dependem só da classe e do partido de classe, mas as condições subjetivas, essas, dependem só e apenas desse partido de vanguarda da classe. 

O novo secretário-geral e a direção do PCP não sabem nem querem medir as consequências dessa “geringonça” traduzida no atraso histórico provocado na consciencialização das massas e no enfraquecimento da sua luta.


 
O PCP submete-se ao PS e continua a afastar-se da luta pelo socialismo

A terceira direção em que as declarações do novo secretário-geral abrem o jogo em relação às ideias implícitas nos documentos programáticos e de orientação é aquela que se refere à linha política geral do PCP, ou se quisermos, à tática. Paulo Raimundo fez afirmações que, não levando mais longe o que consta desses documentos, em si altamente problemáticos, desvendam claramente o sentido neles contido, e dá passos políticos em frente nos “desafios” que lança ao PS.

 Na entrevista que deu ao DN2, PR afirma que o PCP “propõe” uma alternativa patriótica de esquerda – como, de resto, há muito “propõe” - e considera que “o PS não pode estar de fora desta solução”. Parece ser a primeira vez que, explicitamente (implicitamente está tudo mais que dito nos documentos de referência) o PCP integra o PS na sua “política patriótica e de esquerda”.

 O PCP “propõe” uma política alternativa “patriótica e de esquerda”. Qual o conteúdo desta palavra “propor” ? Lamentamos ter de chegar ao ABC da política para responder à questão. P.R. e a direção do PCP não sabem que as reivindicações, sejam elas de natureza sindical, sejam de natureza política, neste caso por maioria de razão, não se resolvem com “propostas”, mas apenas pela força, com a luta de classes? Não sabem eles que o PS se ri nas costas do PCP exposto a tamanhos disparates dos seus dirigentes máximos quando estes lhe “pedem batatinhas” no quadro de uma maioria absoluta que o PS tem na Assembleia da República e um PCP enfraquecido e não apenas no plano eleitoral? Por que haveria o PS, partido da burguesia, de atender às “propostas” dos fracos e, quiçá, ingénuos representantes do inimigo de classe (o inimigo de classe do PS são os trabalhadores e as suas organizações)? Não sabe qualquer dirigente sindical, por mais atrasado que seja política e ideologicamente, que só se conseguem aumentos salariais se o patronato tiver medo da força dos trabalhadores ou não tiver forças para lhes resistir?

 A linha da política “patriótica e de esquerda” que o PCP defende coloca-o na dependência da vontade do PS, só será viável se o PS quiser. E, para o PS, o PCP só lhe serve para obter maiorias absolutas, ou de bengala quando só tem maioria relativa, como aconteceu agora e já tinha acontecido na Câmara de Lisboa. Por isso dizemos que o PCP se coloca na dependência política do PS ou, em termos de classe, que a classe operária fica na dependência da burguesia com tal “alternativa”; que se arrasta na cauda da burguesia, como se expressavam os teóricos fundadores do socialismo científico.

 Como o PS defende o capitalismo com unhas e dentes, coisa que não é necessário demonstrar, jamais haverá qualquer política “patriótica e de esquerda”, tanto mais que o PCP fica na atitude de “propor” à sociedade e ao PS. As propostas são ou não aceites, é o que a palavra quer dizer, e as “propostas” políticas do PCP não o serão decerto junto do PS.

Em resumo, quem não quer mudar a sociedade capitalista “propõe”, quem quer alcançar o socialismo destruindo o capitalismo, luta por isso.

A unidade do Partido

  Alguns militantes podem ser tentados a interpretar o apelo ao regresso de “renovadores” pela necessidade de unir e reforçar o Partido. É essa a justificação dada pelo Secretário-geral e por consequência, pela direção.

     É preciso desmistificar este raciocínio e refletir sobre as consequências deste apelo.

 Em primeiro lugar, o Partido não está unido. Para estar unido seriam necessárias várias condições que não se verificam. Democracia interna não existe, como temos vindo a insistir. Os militantes sabem que as reuniões, quando as há, só servem para transmitir as opiniões dos organismos superiores. Debate político-ideológico não existe. Quem discutiu a aliança com o PS na “geringonça”? Quem discutiu os apelos ao PS para uma nova aliança institucional? Quem discutiu o apelo ao regresso de traidores do Partido? Opiniões expressas pelos militantes são ignoradas. Os militantes que discordam seja do que for, desde a mais simples questão até à linha política, são afastados. A organização desfaz-se, porque muitos militantes se vão afastando por muitas razões: ou não sentem utilidade na sua participação – a sua opinião não conta - , ou porque se sentem perseguidos, ou porque não sentem o Partido como o lugar onde se luta pelos ideais mais nobres. A aparente unidade é só unanimismo imposto ou consentido.

 Inseparável da democracia interna, do centralismo democrático, é a linha política. Um partido revolucionário, que luta pelo socialismo, age internamente em conformidade com os princípios do centralismo democrático, indispensáveis à unidade férrea do partido para derrubar o capitalismo. Um partido absorvido pelo sistema, um partido socialdemocratizado, que não combate o capitalismo, que luta apenas por uma política “patriótica de esquerda” e apela a alianças com o PS, não precisa de centralismo democrático e não é democrático.

 «A unidade do Partido fundamenta-se na justeza da análise da situação e na justeza dos seus objetivos e da sua orientação política» e «A unidade fundamenta-se na assimilação e na educação ideológica marxista-leninista», diz Álvaro Cunhal em O Partido com paredes de vidro (pp. 231 e 233).

 Um objetivo político claro, revolucionário, junta muitas forças, mobiliza muita gente, gera força moral e anímica. Uma “alternativa patriótica de esquerda”, uma “democracia avançada” não mobilizam ninguém. Quem é que já ouviu ou viu, na luta de massas, palavras de ordem pela “alternativa patriótica de esquerda” ou pela “democracia avançada”? Quem é que conhece o conteúdo destas construções mentais sem pés assentes na realidade?

 

1.      https://expresso.pt/politica/2022-11-16-Novo-lider-do-PCP-diz-que-uma-parte-dos-que-sairam-do-partido-na-crise-de-2000-faz-muita-falta-02c04d24

2.      https://www.dn.pt/politica/pcp-desafia-ps-para-alternativa-patriotica-e-de-esquerda-15621592.html


Fonte: https://quefazerquefazer.wixsite.com/info


Edição: Página 1917





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