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segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Saudações aos Trabalhadores Franceses no 20º Aniversário da Comuna de Paris

Friedrich Engels*

17 de março de 1891

 


Hoje fazem vinte anos que a Paris trabalhadora se levantou como um só homem contra o ataque criminoso da burguesia e dos ruralistas, liderados por Thiers. Esses inimigos do proletariado tremeram quando viram os trabalhadores de Paris armados e organizados para defender seus direitos. Thiers pensou privá-los das armas que eles haviam gloriosamente usado contra a invasão estrangeira e que eles usariam de forma ainda mais gloriosa contra os ataques dos mercenários de Versalhes. Para esmagar a Paris em revolta, os ruralistas e a burguesia imploraram e obtiveram a assistência da Prússia. Depois de uma luta heroica, Paris foi esmagada pelo peso dos números e desarmada.

Por vinte anos, os trabalhadores de Paris têm estado sem armas, e tem sido assim em toda a parte: em todos os grandes países civilizados o proletariado está privado dos meios materiais de defesa. Em toda a parte, são os adversários e exploradores da classe trabalhadora que têm forças armadas sobre seu controle exclusivo.

Qual o resultado de tudo isso?

Isso significa que hoje, quando todo o homem saudável serve ao exército, esse exército reflete crescentemente o sentimento e as ideias populares, e esse exército, o grande meio de repressão, está se tornando menos seguro a cada dia; os chefes de todos os grandes estados já preveem com terror o dia quando os soldados em armas se recusarão a assassinar seus pais e irmãos. Nós vimos isso em Paris quando o Tonkinense (Jules Ferry]) teve a audácia de reivindicar a presidência da república francesa; nós vemos isso hoje em Berlim, onde o sucessor de Bismarck (Leo Von Caprivi) está pedindo ao parlamento os meios para fortalecer a obediência no exército com mercenários – porque acredita-se haver muitos socialistas entre os recrutas!

Quando tais coisas começarem a acontecer, quando o dia começar a amanhecer no exército, o fim do velho mundo estará se aproximando a olhos vistos.

Que o destino seja cumprido! Que a burguesia em sua decadência abdique ou morra, e vida longa ao Proletariado! Viva a Revolução social internacional!

* 28/11/2022, 202 anos do nascimento de Friedrich Engels (28/11/1820).

Edição: Página 1917


quarta-feira, 16 de novembro de 2022

O Golpe

Avelino Biden Capitani* 

Avelino, liderança dos marinheiros na epóca do golpe.

     [...] Ninguém estava preparado para lutar porque ninguém pensava seriamente em lutar. As forças que apoiavam o governo eram legalistas e imaginavam que as Forças Armadas também fossem. Todos acreditavam que o esquema militar montado pelo Presidente e comandado pelo General Assis Brasil garantiria a legalidade. A possibilidade de conflitos era admitida, mas acreditavam resolver tudo com negociações.

     Chegada a hora, João Goulart não quis derramar sangue, não queria lutar. Nem sequer tentou. Foi embora. Os velhos políticos também não queriam lutar. Na verdade, as classes dominantes brasileiras - inclusive os setores nacionalistas - não queriam disputar o poder entre si pela via das armas. Os sindicalistas tradicionais não mobilizaram suas categorias e convocaram uma greve geral que acabou atrapalhando mais que ajudando. Os sargentos ficaram esperando ordens que nunca chegaram e acabaram sem saber o que fazer, diluindo-se nos acontecimentos.

     Na noite do dia 1º de abril, as embaixadas já estavam cheias dos que deveriam comandar a resistência ao golpe. Entretanto, para muitas categorias de trabalhadores mais esclarecidos a luta tinha sentido. No Rio, consideráveis grupos de trabalhadores se concentraram nos bairros, esperando orientações de suas lideranças que nunca chegaram. Outros, embora a greve tivesse paralisado todo o transporte, foram à Cinelândia e enfrentaram espontaneamente os golpistas a pedradas.

     Para os marinheiros, a luta tinha sentido. Filhos de camponeses pobres ou sem terra e de operários desprovidos, queriam uma vida melhor para a família e para o Brasil. Além das soluções dos problemas internos da Marinha - fazer uma carreira com mais dignidade e justiça - queriam ver realizadass as prometidas reformas de base. Os marinheiros nunca pensaram que sozinhos poderiam responder ao golpe. Tínhamos o compromisso de neutralizar a Marinha mas nenhuma pretensão de comandar as forças populares. Também ficamos esperando ordens, quer seja do Ministro, do Presidente, ou do comando político da resistência. Estas ordens nunca chegaram. [...]



*Avelino Biden Capitani (18/08/1940 - 17/09/2022), teve uma longa trajetória de lutas contra a ditadura empresarial-militar instaurada com o golpe de 1964. Iniciou sua militância em 1962 na Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB) recém-fundada e no ano seguinte foi eleito para sua diretoria. Após o golpe participou da guerrilha de Caparaó e militou em divesas organizações, entre elas, MNR, PCBR, MR8 e PCB. Nos anos oitenta se filia ao PT, foi diretor do Departamento de Fiscalização da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (SMIC) na gestão do ex-prefeito Olívio Dutra (PT).

Fonte: Avelino Capitani, A Rebelião dos Marinheiros, p.69-70, Artes. e Ofícios Editora, 1ª edição, 1997.

Edição: Página 1917


      

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Sobre a Nossa Revolução

A Propósito das Notas de N. Sukhánov (01)

Lenin

16 e 17 de Janeiro de 1923




Folheei nestes dias as notas de Sukhánov sobre a revolução. O que salta sobretudo à vista é o pedantismo de todos os nossos democratas pequeno-burgueses, bem como de todos os heróis da II Internacional. Sem falar já de que são extraordinariamente covardes e de que mesmo os melhores deles se enchem de reservas quando se trata do menor desvio relativamente ao modelo alemão, sem falar já desta qualidade de todos os democratas pequeno-burgueses, suficientemente manifestada durante toda a revolução, salta à vista a sua servil imitação do passado.

Todos eles se dizem marxistas, mas entendem o marxismo duma maneira extremamente pedante. Não compreenderam de modo nenhum aquilo que é decisivo no marxismo: precisamente a sua dialética revolucionária. Não compreenderam em absoluto nem mesmo as indicações diretas de Marx, dizendo que nos momentos de revolução é necessária a máxima flexibilidade (02), e nem sequer notaram, por exemplo, as indicações de Marx na sua correspondência, referente, se bem me recordo, a 1856, na qual expressava a esperança de que a guerra camponesa na Alemanha, capaz de criar uma situação revolucionária, se unisse ao movimento operário (03) — eludem mesmo esta indicação direta, dando voltas no entorno dela como o gato em volta do leite quente.

Em toda a sua conduta revelam-se uns reformistas covardes que temem afastar-se da burguesia e, mais ainda, romper com ela, e ao mesmo tempo ocultam a sua covardia com a fraseologia e a jactância mais descarada. Mas, mesmo do ponto de vista puramente teórico, salta à vista em todos eles a sua plena incapacidade de compreender a seguinte ideia do marxismo: viram até agora um caminho determinado de desenvolvimento do capitalismo e da democracia burguesa na Europa Ocidental. E eis que eles não são capazes de imaginar que este caminho só pode ser considerado como modelo mutatis mutandis(*), só com algumas correções (absolutamente insignificantes, do ponto de vista do curso geral da história universal).

Primeiro — uma revolução ligada à primeira guerra imperialista mundial. Numa tal revolução deviam manifestar-se traços novos ou modificados. Precisamente em consequência da guerra, porque nunca houve no mundo tal guerra em tal situação. Vemos que até agora a burguesia dos países mais ricos não pode organizar relações burguesas «normais» depois dessa guerra, enquanto os nossos reformistas, pequenos burgueses que se armam em revolucionários, consideravam e consideram como um limite (além disso insuperável) as relações burguesas normais, compreendendo esta "norma" duma maneira extremamente estereotipada e estreita.

Segundo — é-lhes completamente alheia qualquer ideia de que dentro das leis gerais do desenvolvimento em toda a história mundial não estão de modo nenhum excluídas, mas, pelo contrário, pressupõem-se determinadas etapas de desenvolvimento que apresentam peculiaridades, quer na forma quer na ordem desse desenvolvimento. Nem sequer lhes passa pela cabeça, por exemplo, que a Rússia, situada na fronteira entre os países civilizados e os países que pela primeira vez são arrastados definitivamente por esta guerra para o caminho da civilização, os países de todo o Oriente, os países não europeus, que a Rússia podia e devia, por isso, revelar certas peculiaridades, que naturalmente estão na linha geral do desenvolvimento mundial, mas que distinguem a sua revolução de todas as revoluções anteriores dos países da Europa Ocidental e que introduzem algumas inovações parciais ao deslocar-se para os países orientais.

Por exemplo, não pode ser mais estereotipada a argumentação por eles usada, que aprenderam de memória na época do desenvolvimento da social-democracia da Europa Ocidental, e que consiste no fato de que nós não estamos maduros para o socialismo, de que não existem no nosso país, segundo a expressão de vários "doutos" senhores dentre eles, as premissas econômicas objetivas para o socialismo. E não passa pela cabeça de nenhum deles perguntar: não podia um povo que se encontrou numa situação revolucionária como a que se criou durante a primeira guerra imperialista, não podia ele, sob a influência da sua situação sem saída, lançar-se numa luta que lhe abrisse pelo menos algumas possibilidades de conquistar para si condições que não são de todo habituais para o crescimento ulterior da civilização?

"A Rússia não atingiu um nível de desenvolvimento das forças produtivas que torne possível o socialismo." Todos os heróis da II Internacional, e entre eles, naturalmente, Sukhánov, se comportam como se tivessem descoberto a pólvora. Ruminam esta tese indiscutível de mil maneiras e parece-lhes que é decisiva para apreciar a nossa revolução.

Mas que fazer, se uma situação peculiar levou a Rússia, primeiro à guerra imperialista mundial, na qual intervieram todos os países mais ou menos influentes da Europa Ocidental, e colocou o seu desenvolvimento no limite das revoluções do Oriente, que estão a começar e em parte já começaram, em condições que nos permitiram levar à prática precisamente essa aliança da «guerra camponesa» com o movimento operário sobre as quais escreveu um "marxista" como Marx em 1856 como uma das perspectivas possíveis em relação à Prússia?

Que fazer se uma situação absolutamente sem saída, decuplicando as forças dos operários e camponeses, abria perante nós a possibilidade de passar de maneira diferente de todos os outros países da Europa Ocidental criação das premissas fundamentais da civilização? Alterou-se por isso a linha geral de desenvolvimento da história universal? Alteraram-se por isso as correlações fundamentais das classes fundamentais em cada país que se integra e integrou já no curso geral da história mundial?

Se para criar o socialismo é necessário um determinado nível de cultura (ainda que ninguém possa dizer qual é precisamente esse determinado "nível de cultura", pois ele é diferente em cada um dos Estados da Europa Ocidental), porque é que não podemos começar primeiro pela conquista, por via revolucionária, das premissas para esse determinado nível, e já depois, com base no poder operário e camponês e no regime soviético, pôr-nos em marcha para alcançar os outros povos?

II

Para criar o socialismo, dizeis, é necessária civilização. Muito bem. Mas então, porque não havíamos de criar primeiro no nosso país premissas da civilização como a expulsão dos latifundiários e a expulsão dos capitalistas russos e, depois, iniciar um movimento para o socialismo? Em que livros lestes que semelhantes alterações da ordem histórica habitual são inadmissíveis ou impossíveis? 

Lembro que Napoleão escreveu: "On s'engage et puis . . . on voit." Traduzido livremente para russo isto quer dizer: ."Primeiro lançamo-nos no combate sério e depois logo vemos." E nós, em outubro de 1917, iniciamos primeiro o combate sério e depois logo vimos os pormenores do desenvolvimento (do ponto de vista da história universal trata-se indubitavelmente de pormenores), tais como a Paz de Brest ou a NEP, etc. E hoje não há dúvida de que, no fundamental, alcançámos a vitória. 

Os nossos Sukhánov, sem falar já daqueles sociais-democratas que estão mais à direita, nem sonham sequer que as revoluções em geral não se podem fazer doutra maneira. Os nossos filisteus europeus não sonham sequer que as futuras revoluções nos países do Oriente, com uma população incomparavelmente mais numerosa e que se diferenciam muito mais pela diversidade das condições sociais, apresentarão sem dúvida mais peculiaridades do que a revolução russa. 

Nem é preciso dizer que o manual redigido segundo Kautsky foi, na sua época, uma coisa muito útil. Mas já é tempo de renunciar à ideia de que esse manual tinha previsto todas as formas de desenvolvimento ulterior da história mundial. Àqueles que pensam desse modo é tempo já de os declarar simplesmente imbecis.

Notas: 

(*) "mudando o que deve ser mudado". 

(01) O artigo de Lenin Sobre a Nossa Revolução foi escrito a propósito do terceiro e do quarto livros de Notas Sobre a Revolução, do menchevique N. Sukhánov. O artigo foi entregue à redacção do Pravda por N. K. Krúpskaia sem título; o título foi dado pela redação do jornal. 

(02) Lenin refere-se aparentemente à caracterização da Comuna de Paris como "uma forma política altamente maleável" na obra de K. Marx A Guerra Civil em França e à apreciação feita por Marx da "flexibilidade dos parisienses" na sua carta a L. Kugelmann de 12 de Abril. In Karl Marx und Friedrich Engels, Ausgewãhlte Scbriften in zwei Bänden, Bd. I, Berlin, 1960, S. 494, e Bd. II, Berlin, 1960, S. 435/436.

(03) Lenin refere-se à seguinte passagem da carta de K. Marx a F. Engels de 16 de Abril de 1856: "Tudo na Alemanha dependerá da possibilidade de apoiar a revolução proletária por qualquer segunda edição da guerra camponesa. Nesse caso, tudo correrá maravilhosamente." In Karl Marx und Friedrich Engels, Ausgewãhlte Scbriften in zwei Bänden, Bd. II, Berlin, 1960, S. 425/426.

Edição: Página 1917

Fonte: Obras Escolhidas, 1977, Edições Avante! - Lisboa, Edições Progresso - Moscou.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Contribuição do Partido Comunista da Grécia (KKE) no 22º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários (EIPCO) em Havana

29/10/2022

Giorgos Marinos, membro do BP do CC do KKE

Giorgios Marinos 
Caros camaradas: 

Celebramos a 22ª EIPCO superando as dificuldades da pandemia e nos encontramos aqui, em Havana, para dar continuidade ao esforço que começou em 1998 em Atenas, e que nos anos seguintes percorreu muitas regiões do mundo.

O Partido Comunista da Grécia saúda os Partidos Comunistas participantes e agradece ao Partido Comunista de Cuba a organização do 22º EIPCO e sua hospitalidade.

Expressa sua permanente solidariedade internacionalista ao Partido Comunista de Cuba e ao povo cubano, que atualmente enfrenta sérias dificuldades econômicas.

Condena o imperialismo norte-americano e seus aliados, o inaceitável bloqueio de 62 anos imposto à ilha da revolução para minar suas conquistas. Denuncia a campanha anticomunista e as ações contrarrevolucionárias orquestradas. Exige o fim do bloqueio imperialista e de todas as formas de intervenção nos assuntos internos de Cuba.

A luta de Fidel, Che e Raúl e outros revolucionários, a heroica luta armada, a vitória da revolução em 1º de janeiro de 1959, a proclamação de seu caráter socialista e a longa luta contra o imperialismo, inspiram os povos.

A 22ª EIPCO está sendo realizada numa conjuntura muito perigosa.

O sistema capitalista é marcado pela intensificação das rivalidades que levam às guerras e intervenções imperialistas, a intensificação da exploração, a expansão da pobreza e do desemprego, as ondas de refugiados e imigrantes em busca de um futuro melhor.

As cidades sofrem de fome insuportável, baixos salários e pensões, pobreza energética. A pandemia revelou o caráter de classe dos Estados burgueses e a deficiência dos sistemas públicos de saúde, os trágicos resultados da política de comercialização. Nosso partido valoriza especialmente as medidas adotadas por Cuba durante a pandemia para proteger a saúde e a vida de seu povo e sua contribuição internacionalista. 

A chamada “transição verde” sob o pretexto de salvar o meio ambiente, assim como a chamada 4ª revolução industrial, são as ferramentas modernas do capitalismo para a exploração do capital acumulado, a serviço dos interesses das classes burguesas que intensificam o ataque contra os povos e intensificam a exploração da classe trabalhadora.

O fortalecimento da luta dos comunistas pela derrubada da barbárie capitalista é uma tarefa particularmente importante, e nesse sentido queremos levantar algumas questões fundamentais de importância estratégica que dizem respeito ao movimento comunista, em cujas fileiras se trava uma intensa e necessária luta ideológica e política. Referimo-nos a isso, estimando que as novas condições da luta de classes e o confronto com o capitalismo criaram grandes demandas e o movimento comunista está atrasado. O seu reagrupamento e a realização da unidade político-ideológica continuarão a ser um desejo se o seu curso não for reexaminado com os princípios revolucionários, a teoria marxista-leninista e a valiosa experiência da Revolução Socialista de Outubro como bússola. 

O KKE tenta contribuir para esta causa e, ao mesmo tempo, tenta aproveitar as possibilidades de desenvolvimento da ação conjunta dos partidos comunistas e operários. No entanto, deve-se notar que a exortação “avançar o que nos une e deixar o que nos divide” embeleza a situação e funciona como um obstáculo à discussão necessária e substancial para tirar conclusões dos retrocessos contrarrevolucionários e da crise do movimento comunista. . Impede a identificação de causas, problemas e erros, cujo estudo é necessário para fortalecer a luta contra qualquer tendência ao compromisso com o sistema, contra o oportunismo, e intensificar os esforços para alcançar uma estratégia revolucionária unificada contra os monopólios e o capitalismo.

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