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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

SYRIZA, No Ponto mais Baixo da Degeneração Política

Por Partido Comunista da Grécia - KKE

28/09/2023



No dia 24/09/23 ocorreu o segundo turno para a eleição do novo presidente do SYRIZA. Este partido foi a continuação da “Coligação de Esquerda, dos Movimentos e da Ecologia” (SYN) que foi constituída por uma seção de quadros do KKE que, corroídos pelo oportunismo, pelas ideias da contrarrevolução e de Gorbachev, abandonaram o KKE no período 1989-1991, depois de haver tentado dissolver o nosso Partido sem êxito. Esta seção colaborou dentro do SYN com outras forças oportunistas que já tinham deixado o KKE, em 1968, e pertenciam à chamada corrente “eurocomunista”.

O SYN evoluiu então em 2004 para a “Coligação da Esquerda Radical” (SYRIZA), com a participação de outros grupos da esquerda extraparlamentar, grupos trotskistas, maoistas e alguns socialdemocratas.

Depois de 2010 e do colapso do principal partido socialdemocrata, o PASOK, grande parte deste partido aderiu ao SYRIZA, tornando-o no principal veículo da socialdemocracia na Grécia. O SYRIZA venceu as eleições e formou um governo (2015-2019) aplicando uma dura política antipopular também nas relações internacionais, estreitando as relações da Grécia com os EUA e Israel, envolvendo ainda mais profundamente o país nos planos da OTAN, expandindo as bases dos EUA. Governou com o partido ultradireitista “Gregos Independentes” (ANEL) e após o desaparecimento político deste partido, uma parte dos quadros da ANEL integrou-se ao SYRIZA, que acrescentou ao seu nome as palavras “Aliança Progressista” (SYRIZA-PS).

Depois do colapso eleitoral nas últimas eleições de junho de 2023, o presidente do SYRIZA e ex-primeiro-ministro, Alexis Tsipras, demitiu-se e começou a corrida pela sua sucessão. Em 24 de Setembro, Stefanos Kasselakis foi eleito presidente do SYRIZA, obtendo 56,69% ​​dos votos em comparação com 43,31% do antigo Ministro do Trabalho do SYRIZA, Efi Achtsioglou.

Nestas eleições, em que podiam participar inclusive pessoas que até o primeiro turno não eram membros do SYRIZA, mas podiam aderir e votar pagando 2 euros, participaram 149 mil pessoas no primeiro turno (com 5 candidatos) e 134 mil no segundo.

Stefanos Kasselakis, que foi eleito presidente do SYRIZA, é residente não permanente da Grécia e há um mês era um desconhecido no país. Vivia nos EUA, é empresário e armador e segundo suas declarações trabalhou no banco Goldman Sachs e como voluntário na campanha eleitoral de Joe Biden. Ele realizou uma campanha dispendiosa e agressiva nos meios de comunicação social no mês passado, prometendo converter o SYRIZA num partido contemporâneo, como é, segundo sua opinião, o “Partido Democrata” dos EUA, para que o SYRIZA volte a governar. Concluiu-se assim mais uma fase do percurso predeterminado de integração e degeneração política deste partido que só provoca repugnância a quem se sente honestamente progressista e de esquerda.

O Secretário do Comitê Central do KKE, Dimitris Koutsoumbas, no seu discurso no Festival da Juventude Comunista da Grécia (KNE) destacou o seguinte:

Aqueles que querem que as coisas mudem de uma vez por todas não podem esperar nada da reconstrução da criminosa socialdemocracia.

Reflitam sobre a promoção aberta que fazem, nestes dias, todos os meios de comunicação do sistema, enquanto as posições e atividades do KKE estão completamente ausentes desses meios de comunicação, é indicativo do papel que vão desempenhar no dia seguinte.

Para aqueles que se sentem surpreendidos ou mesmo aborrecidos com relação aos acontecimentos no SYRIZA, simplesmente dizemos-lhes para pensarem num aspecto que talvez não tenham pensado:

Que, infelizmente, este é precisamente o resultado predestinado de todo um percurso de integração ao sistema que este partido político tem seguido.

Este curso de degeneração política nas posições, nas propostas, na postura política e no movimento, tem sido apoiado e promovido, durante muitos anos, em nome da suposta “modernização”, do “possível”, da “governabilidade dentro do sistema”, pelos atuais quadros do SYRIZA e por aqueles que hoje aparecem como supostamente defensores de um caráter mais “de esquerda”.

A situação atual no SYRIZA é a fase superior da lógica do “mal menor” que os seus líderes e, claro, todos os seus atuais candidatos têm servido durante anos, e trouxeram Mitsotakis e a ND ao poder mais uma vez.

É a lógica, inclusive desde a época do eurocomunismo, que apela aos povos para que reduzam constantemente as suas exigências, aceitem compromissos inaceitáveis, engulam decepções, em nome de uma melhor gestão - supostamente humana - do sistema atual, o que é mais improvável do que uma “Segunda Vinda”.

E onde essa lógica leva com grande precisão? À degeneração, à decadência, à política vulgar da imagem, à sua transformação num partido puramente burguês com os valores podres da competição...

Desta modo, desapareceram da face da terra os partidos eurocomunistas, como o Partido Comunista Francês, o Partido Comunista Italiano, entre outros, dos quais 30% já nem sequer estão representados nos parlamentos dos seus países.

E assim hoje chegamos a que seja majoritária neste partido uma agenda que copia ao pé da letra a agenda do ND, com as conhecidas referências à “excelência”, aos “bons currículos”, às “possibilidades de promoção”, etc.

Que mais provas necessitam os combatentes honestos, as pessoas verdadeiramente de esquerda, as pessoas progressistas não têm nada a esperar do SYRIZA ou de qualquer outra versão dele que surja no futuro?

Hoje eles têm uma alternativa: a que seguiram todos aqueles que antes deles não quiseram fazer parte deste curso de transformação negativa do SYRIZA, abandonaram-no, mantiveram elevados os seus valores e ideais e hoje unem forças com o KKE."

O Secretário Geral do Comité Central do KKE destacou noutra passagem do seu discurso:

“Enquanto houver quem chame de esperança as ideias mais sistêmicas e estéreis vindas do tubo de ensaio do outro lado do Atlântico e da criminosa socialdemocracia, estaremos sempre aqui lançando luz sobre a única esperança de progresso: a luta de classes inquebrantável contra o sistema e seu poder.

Fonte:https://inter.kke.gr/es/articles/SYRIZA-en-el-punto-mas-bajo-de-la-degeneracion-politica/

Edição: Página 1917







quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Esquerda Socialista ou Esquerda Falida?

Ney Nunes

27/09/2023




Os integrantes desse amálgama reformista-identitarista autodenominado “esquerda socialista” estão imersos num debate sobre ser ou não ser oposição ao governo Lula. Na sua grande maioria, esses debatedores fazem parte ou apoiam de alguma forma o governo burguês da frente ampla Lula-Alckmin, algo que, por si só, já expressa o grau de degeneração a que chegaram esses ditos “socialistas”. Não surpreende que tenham ido tão longe, afinal, sua direção e o grosso da sua base social são compostas pela pequena-burguesia assalariada e proprietária, uma classe sem projeto próprio, historicamente subordinada aos interesses da burguesia e do imperialismo.

O debate é tão raso que se limita a questão de ser oposição ao governo de turno, passando ao largo do capitalismo, do Estado burguês e das suas instituições, onde efetivamente reside o poder da classe dominante. E não poderia ser de outra forma, porque o horizonte político estratégico dessa gente é a disputa eleitoral nos marcos da institucionalidade burguesa. Contentam-se em ocupar carguinhos na máquina governamental e no parlamento, para melhor desenvolver sua tática diversionista, centrada em questões que podem ser absorvidas pelo capitalismo e, em geral, bem distantes da luta de classes.

Para justificar seu apoio a um governo burguês, apoio explícito em alguns casos, disfarçado em outros, continuam a agitar o espantalho do fascismo, assim como fizeram durante a campanha eleitoral. Esquecem de duas questões elementares: primeiro: o fascismo obviamente não está morto, mas já foi tocado pelo setor burguês hegemônico para dentro do seu “cercadinho” (claro que vai ficar ali sendo bem alimentado e cuidado para uso em qualquer emergência), segundo: o governo Lula-Alkmin já disse ao que veio nesses nove meses, veio para gerir a barbárie. Sem falar nos treze anos e meio dos governos Lula e Dilma. Ou seja, usaram e continuam usando a ameaça fascista, que é permanente sob o capitalismo, para colaborar com a gestão do regime político burguês.

Faz tempo que essa esquerda socialista se recolheu no gueto pequeno-burguês. Abandonou qualquer perspectiva de construção orgânica no seio do proletariado e das massas populares visando sua preparação para situações pré-revolucionárias e revolucionárias que inevitavelmente vão eclodir devido à agudização das contradições capitalistas. Adepta de um etapismo permanente, está falida para a revolução.


Edição: Página 1917




quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Arrastando Tudo para a Ruína

Götz Eisenberg*

2007

Violência juvenil, vandalismo, amok¹. Há uma relação entre o mercado desenfreado e o aumento da violência extrema?


 

    No passado, diz um texto de Jean-Paul Sartre, de 1960, crianças de classe média rebeldes ou mesmo apenas infelizes de repente diziam “merda” aos pais, levantavam-se da mesa de jantar, saíam de casa e “iam de malas prontas para a esquerda”. Ali seu mal-estar difuso encontrava seus conceitos e códigos estratégicos. A raiva construída em processos violentos de socialização e sua “repulsa existencial” pelas formas de relacionamento burguesas e pequeno-burguesas encontraram formas de expressão político-racionais no movimento de protesto. A resistência à etiqueta pequeno-burguesa, a revolta contra formas de renúncia e obediência sem sentido e contra uma moral sexual rígida fundiram-se com a luta contra a exploração e a opressão em seu próprio país e com movimentos de libertação no Terceiro Mundo.

    A esquerda radical, posso dizer por experiência própria, foi também um lugar que reunia todos os tipos de figuras estranhas que traziam consigo suas idiossincrasias psicológicas e seus danos biográficos e em parte também agiam em conformidade com eles. Na maioria dos casos, o grupo e as ideias que os sustentavam atuavam para corrigir isso, garantindo que as ilusões privadas dos indivíduos não dessem o tom e mantendo a ligação entre violência e razão, meios e fins.

    Mas o que os jovens devem fazer, perguntava Sartre na época, “se seus pais são de esquerda”, têm Marx e Marcuse em suas prateleiras e escutam Rolling Stones e Bob Dylan à noite, após o trabalho? E se não houver mais nenhuma esquerda radical a qual se juntar? Então, ou a direita se apropria de todo o material bruto das energias rebeldes e das experiências de sofrimento para invertê-las de acordo com seus próprios objetivos, ou ela permanece ociosa.

Utopias vitais

    As utopias podem ter pouco significado para adultos adequados à realidade, mas para crianças e jovens elas são vitais. Crianças e jovens privados de ideais sociais e históricos não são apenas prejudicados em seu crescimento, mas também desmotivados em suas atitudes diante da vida e empurrados para sentimentos substitutos. A violência difusa, o ataque rebelde contra as restrições que determinam a ordem vigente, pode ser, segundo Oskar Negt, “a expressão de uma força vital que carece de ideais sociais”. Os movimentos de busca da juventude não vão a lugar algum, a raiva gira em círculos, voltando-se contra si mesma ou é descarregada em qualquer direção. O vandalismo e o amok florescem por trás das fachadas neoliberais bem ordenadas e cintilantes.

    No isolamento social, onde os indivíduos são deixados à sua própria sorte, o caminho para a construção coletiva de novas formas de vida não burguesas que tenham em conta suas próprias necessidades é barrado e trancado. O vandalismo pode ser entendido como uma resposta à incapacidade de seus atores de canalizar a raiva em uma direção produtiva e racional, como acontecia, por exemplo, nos movimentos políticos. A agressão permanece crua. Cegos e inconscientes, aqueles que caíram e foram declarados supérfluos golpeiam a fachada social. A fúria dos vândalos se limita à tentativa de atacar com um taco de beisebol o nevoeiro que paira sobre as circunstâncias e bloqueia a visão de suas estruturas. O que chamamos de vandalismo é uma raiva que, ao perder seu objeto, se transforma em um ódio que flutua livremente.

    A dominação no capitalismo tardio tornou-se despersonalizada e anônima; ela se disfarça cada vez mais perfeitamente como tecnologia e aparece às pessoas como a chamada necessidade (Sachzwang). Contra quem ou o que deve se voltar a raiva reprimida? Quem podemos responsabilizar? Quem é o culpado pelo nosso mal-estar difuso e pela nossa miséria? Jean Baudrillard, recentemente falecido, disse: “se a violência surge da opressão, o ódio surge do esvaziamento”.

    O irmão grande e necrófilo do vândalo é aquele que mata indiscriminadamente (Amokläufer). Aqui eu discordo categorialmente de Mark Ames que, após o massacre na Virginia Tech, argumentou em entrevista ao Freitag (edição 17/2007) que o amok é uma forma contemporânea de revolta e resistência, uma espécie de “rebelião escrava do século XXI”. Segundo Mark Ames, as razões dos massacres aleatórios não estão na estrutura de personalidade dos perpetradores, nem nos jogos de computador ou na falta de valores cristãos. Eles devem ser encontrados onde os massacres acontecem: em nossos escritórios e em nossas escolas. A riqueza está concentrada em poucas mãos, os patrões ganham muitas vezes mais do que um empregado. “As pessoas estão sendo cada vez mais espremidas – por que não revidariam?”.

    É claro, mas será que revidar significa voltar ao seu local de trabalho atual ou perdido e atirar nos seus (antigos) colegas? Se você sofre com escolas inóspitas e com a pressão do desempenho, se está se sentindo marginalizado e cercado de “idiotas”, então precisa abrir fogo contra seus colegas e professores? A única coisa que jovens como Klebold e Harris, os atiradores da Columbine High School, perto de Littleton, têm é ódio sem sujeito, para o qual todas as verbalizações – de Hitler a “assholes“ ou qualquer outra – são apenas cifras.

Declínio social

    O massacre é realmente, como diz Ames, “um modelo de como se defender”, ou não seria, antes, a expressão do fato de que as pessoas carecem de modelos de solidariedade para se defender? Quando as sociedades perdem sua capacidade de integração social, seus suportes e instituições se desintegram, seus valores e normas se corroem e não são mais compartilhados por muitos, então, junto com o medo, também são liberadas as formas de agressão, hostilidade e violência. Estas precisam urgentemente de controle intelectual e moral e devem ser conduzidas em uma direção esclarecida, pois, caso contrário, desencadearão potenciais destrutivos inimagináveis que poderiam arruinar não apenas esta sociedade, mas qualquer sociedade. O amok não é, portanto, um ato de resistência, mas um sintoma da autodestruição da sociedade burguesa tardia e da correspondente falta de grupos sociais e estratégias que poderiam dar a essa desintegração uma guinada emancipatória.

    No sentido do etnopsicanalista George Devereux, pode-se até perguntar se o “amok”, originário do sudeste asiático, não está se estabelecendo como um “modelo de comportamento anormal” nas metrópoles capitalistas do Ocidente. Para Devereux, cada cultura fornece a seus membros modelos segundo os quais os estados de excitação e de tensão podem ser descarregados sem que o sistema como um todo seja questionado. Assim como o “duelo pela honra” surgiu na França e na Itália no início do século XVI, que ditava a um nobre precisamente quando ele era obrigado a desafiar alguém e como seria a escolha das armas, assim parece que sob nossos olhos o School Shooting e os massacres estão se estabelecendo como uma horrível “válvula de escape” para homens (jovens) gravemente ofendidos ou que sofreram um trauma pesado e sentem seu orgulho ferido e, portanto, “odeiam”.

    Mas mesmo que o massacre viesse a se tornar um “modelo de comportamento anormal”, devemos ter cuidado para não falar de resistência às condições sociais vigentes no contexto de violência cega e assassinato em massa. Aqui se exige discernimento de nossa parte, à esquerda, e devemos insistir que toda ação que vise a libertação deve refletir sobre a adequação dos meios em relação ao fim a ser alcançado. Há formas de violência que nem mesmo uma situação revolucionária poderia justificar, porque negam o próprio objetivo para o qual se supõe que a revolução seja um meio: a ampliação da margem de liberdade humana e das possibilidades de felicidade. Tais são a violência aleatória, a crueldade e o terror cego e indiscriminado.

Antítese do revolucionário

    O ato vândalo de quebrar cabines telefônicas ou incendiar carros ainda pode conter traços de uma “intenção de fazer a coisa certa” (Georg Lukács) e pode ser integrado em uma perspectiva histórica e política. Em todos os aspectos fundamentais, a ação do amok é exatamente o oposto do revolucionário: se este último quer superar os bloqueios históricos e sociais que impedem a melhoria das condições de desenvolvimento dos vivos e do humano, o primeiro se sente mais atraído pelos mortos do que pelos vivos e nisso ele quer converter a vida em morte: “nenhum movimento do lado de fora e internamente nenhum sentimento” (Klaus Theweleit).

    O amok se baseia em um modo de produção mortal e é totalitário na aplicação do princípio da aniquilação. Em última análise, o motivo que impulsiona aquele que mata indiscriminadamente é arrastar tudo para sua grandiosa queda encenada sob o feitiço de um narcisismo que se tornou nocivo na primeira infância. “Em vez de esperar”, diz Lothar Baier em seu livro “Sem tempo!” (Keine Zeit) “que o mundo devore a própria vida, ele deve ser devorado em autodestruição, “a fim de que o tempo do mundo coincida com o da vida”.

    Dos 75 tiroteios em escolas documentados em todo o mundo entre 1974 e 2002, 62 ocorreram nos EUA, seguidos pela Alemanha e pelo Canadá, ambos com quatro casos. A violência bélica neo-imperial originada nas metrópoles do capitalismo global atinge de volta as metrópoles na forma de asselvajamento e brutalização das formas de mediação social (Verkehrsformen)? É possível demonstrar a conexão entre fundamentalismo de mercado, disseminação da “cultura do ódio” (Eric J. Hobsbawm) e aumento da violência? O lema “depois de nós, o dilúvio” não se aplica a todos os lugares?

    Em nome do lucro de curto prazo, estruturas sociais que cresceram ao longo de décadas e ofereceram às pessoas uma proteção contra os piores excessos do princípio do capital estão sendo rebaixadas. Há flexibilização, desregulamentação e privatização, os custos são reduzidos sem levar em conta as consequências sociais e ecológicas. Os países altamente desenvolvidos consomem recursos naturais em um ritmo descontrolado. Um capitalismo desmedido e selvagem está prestes a destruir as suas e as nossas condições de existência. Um mundo completamente capitalista provará ser inabitável e disfuncional. Se nós – as pessoas desta geração – falharmos em modificar isso e deter a insanidade do mercado sem freios, corremos o risco de testemunhar um massacre indiscriminado (Amoklaufs) de livre mercado que nos afetará a todos.

Tradução: Marcos Barreira

* Götz Eisenberg trabalhou como psicólogo penitenciário na prisão de Butzbach. Escreveu, entre outros, Amok – Kinder der Kälte. Über die Wurzeln von Wut und Haß. Rowohlt-Taschenbuch-Verlag, Reinbek bei Hamburg 2000 [Filhos de tempos insensíveis. Sobre as raízes da raiva e do ódio]; Gewalt, die aus der Kälte kommt. Amok, Pogrom, Populismus. Psychosozial-Verlag, Gießen 2002 [A violência que vem da frieza: amok, pogrom e populismo]. Colaborou também com a publicação do Grupo Krisis, Fim de turno! Onze investidas contra o trabalho, Krisis (Org), 1999.

(1) Síndrome de Amok é uma síndrome que consiste em uma súbita e espontânea explosão de raiva selvagem, que faz a pessoa afetada atacar e matar indiscriminadamente pessoas e animais que aparecem à sua frente, até que o sujeito se suicide

Fonte: https://utopiasposcapitalistas.com/2023/04/07/arrastando-tudo-para-a-ruina-gotz-eisenberg/

Edição: Página 1917

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Carta das Trincheiras*

 Dionysa Brandão**


   Estrada de rodagem de Moscou , 26 de novembro de 1941. Agora estou na região de Ivanov. Nós partimos da região de Vetluga¹ às 2 horas da madrugada e, no dia seguinte, à tarde, já estávamos no local de trabalho. Quando embarcamos, avisaram-nos que íamos ficar duas semanas, mas, como vocês estão vendo, nós já estamos aqui há muito mais. Dizem-nos que vamos embora o mais tardar até 10 de dezembro.

Mulheres soviéticas cavam trincheiras, Moscou, outubro/novembro de 1941.

  Aqui, estamos cavando trincheiras contra os tanques nazistas, numa profundidade de três metros. Trabalhamos das 8 horas da manhã até as 6 da tarde. O trabalho é muito penoso. Diariamente recebemos pão, uma vez sopa e 3 vezes água quente. Duas vezes deram manteiga e açúcar, mas rapidamente acabou. Nós devemos receber produtos de Zarrarino. Estamos esperando-os com grande ansiedade. Perdoem-me pela péssima caligrafia, estou escrevendo rapidamente, à luz de vela, está próxima a acabar.

   Hoje começamos a cavar a nona e décima trincheira. Mas nem todas as trincheiras cavamos até 3 metros. Algumas, só até 1 metro, por causa da presença de água. Às vezes, era impossível cavar: a linha da trincheira passava pelo bosque. Inicialmente, então era derrubado o bosque. Precisavamos continuar o trabalho. Era impossível. Usávamos barras de ferro ("brali lomom"). As raízes das árvores penetravam alguns metros dentro da terra. Além disso, a terra, em alguns lugares, já estava congelada por camadas profundas e era "aquecida" por nós (acendiámos fogueiras). E somente depois usávamos as brali lomom.
   Depois do trabalho, chegávamos exaustos, tomávamos uma caneca de água quente, um pedaço de pão preto e logo íamos dormir.
    Viver aqui é muito difícil. Dinheiro nós não temos, e tão cedo não nos pretendem mandar. Pelo trabalho pagam; mas como no início nós não tínhamos dinheiro, recebemos adiantado vinte rublos e depois mais setenta. Este foi para pagar a sopa e o pão. Estamos todos sem dinheiro, mas de qualquer jeito, viveremos até o fim dos trabalhos. Ainda falta, no máximo meio mês.

Dionysa Brandão

   Sim, agora estou calçando "lápti". Paguei por eles dez rublos e quarenta kopeks. Mandaram-nos Onuchi/portyanki². Na falta destes, usa-se até jornal para aquecer os pés. Durante vários dias, aqui fez muito frio e eu morria de frio, meus pés "congelavam". Usava, ainda, umas botinhas de couro de Moscou, o único calçado. Os cardaços romperam e o frio passava diretamente aos pés. Agora, estou calçada com lápti, não sinto mais frio nos pés. Mas saber usá-los é uma arte. E, a cada dia, um camponês ajuda-me. Ele dorme no estrado, de madeira (nari) embaixo. Nós dormimos nas prateleiras de cima. Aqui todos dormimos em "zemlianka" [abrigo subterrâneo para proteger as populações durante os bombardeios]. À noite faz muito calor, ficamos sufocados. Nas prateleiras inferiores, é de morrer de frio. Antes, estávamos em tendas.

Até breve.
Dionysa

* Carta de Dionysa Brandão dirigida aos seus pais (Octavio e Laura), nunca chegou aos destinatários. Foi censurada e encaminhada aos Arquivos Secretos do Komintern (Internacional Comunista).

** Dionysa Brandão, nasceu no Rio de Janeiro em 10/08/1925, filha de Octavio Brandão e Laura Brandão. Foi deportada, em 1931, pelo governo de Getúlio Vargas, com seus pais e suas irmãspara a Alemanha, de onde seguiram para a União Soviética que lhes concedeu asilo. Durante a Segunda Guerra Mundial foi recrutada para trabalhar nas frentes de trabalho para abrir trincheiras nos arredores de Moscou, ameaçada pelo avanço das tropas nazistas. Permaneceu na União Soviética até 1946, quando retornou ao Brasil.

Notas:

(1) - Em fins de julho de 1941, Dionysa e sua irmã caçula são evacuadas de Moscou para os arredores da cidade de Gorki, num lugar chamado Lesnoi Kurort, à margem do rio Vetluga, onde permaneceram por dois anos aproximadamente.

(2) - Lápti: calçado típico, trançado com a casca da bétula, usado pelos camponeses no interior. O pé e a perna, para serem aquecidos, são envolvidos em alguns tecidos grossos (conhecido como portyanki) e, com tiras também da bétula, prende-se o lápti e o tecido, desde o pé até a perna.

Fonte: Raros Relâmpagos de um Meteorito; Dionysa Brandão; Edição e organização de Marisa Brandão; Rio de Janeiro, 2021.
   
   
     
    

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Os 50 anos do Golpe de Estado de Pinochet no Chile e o Assassinato de Salvador Allende

Comunicado da Secção de Relações Internacionais do CC do Partido Comunista da Grécia (KKE)

Atenas, 11 de setembro de 2023




Em 11 de setembro de 1973, ocorreu no Chile um golpe de estado militar liderado pelo general Pinochet, que, com o apoio dos Estados Unidos, derrubou o governo da Unidade Popular.

A experiência chilena confirmou tragicamente a lição fundamental originada da experiência da Comuna de Paris, que Marx e Engels também destacaram no Manifesto Comunista, de que “a classe trabalhadora não pode se limitar simplesmente a tomar posse da máquina estatal tal como ela está e servir-se dela para seus próprios fins.” Deve, como sublinhou Lenin, “romper a máquina do Estado e não simplesmente se apoderar dela”.

O governo de Unidade Popular e o Presidente Allende, que caíram heroicamente, enterraram definitivamente desde então as ilusões da “via parlamentar pacífica ao socialismo”, que era a bandeira dos partidos eurocomunistas e de outros partidos oportunistas no Movimento Comunista Internacional.

O 50º aniversário é uma oportunidade para desenvolver a reflexão sobre questões de estratégia do movimento revolucionário, relativas ao Estado, ao poder, o posicionamento diante da social-democracia, para rechaçar de uma vez por todas as teorias falidas do “socialismo do século XXI”, os defensores dos “programas de transição”, dos “governos de esquerda” dentro do capitalismo, do objetivo “intermediário”, do suposto “poder anti-imperialista, antimonopolista”, etc.

A luta heroica dos comunistas e das forças populares do Chile, de todas as vítimas do golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos, a quem homenageamos, assim como as lutas da classe trabalhadora e do povo contra os monopólios e o capitalismo que continuam até hoje, são a questão principal do movimento comunista: A formulação de uma estratégia revolucionária para a derrubada do capitalismo, pela socialização dos meios de produção, pelo planejamento central, o poder dos trabalhadores, para a construção socialista-comunista.

Fonte:https://inter.kke.gr/es/articles/Sobre-los-50-anos-desde-el-golpe-de-estado-de-Pinochet-en-Chile-y-el-asesinato-de-Salvador-Aliente/

Edição: Página 1917






quinta-feira, 14 de setembro de 2023

A Batalha do Chile 3

Documentário sobre a derrota histórica do proletariado chileno em 1973, comprovando mais uma vez o fracasso da estratégia frente populista de colaboração de classes e da via pacífica ao socialismo.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A Batalha do Chile - parte 2


Documentário sobre a derrota histórica do proletariado chileno em 1973, comprovando mais uma vez o fracasso da estratégia frente populista de colaboração de classes e da via pacífica ao socialismo.


terça-feira, 12 de setembro de 2023

A Batalha do Chile - Parte 1


Documentário sobre a derrota histórica do proletariado chileno em 1973, comprovando mais uma vez o fracasso da estratégia frente populista de colaboração de classes e da via pacífica ao socialismo.


segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Ausência de Posições Comunistas, Revolucionárias, com Força de Massas

Hegemonia do reformismo e oportunismo burguês do PT (1980 até hoje)

Coletivo Cem Flores



    Desde o fracasso das tentativas de reorganização no começo da década de 1980, o Brasil não tem um Partido Comunista, com forte penetração na classe operária e nas demais classes dominadas e com força de massas, com uma posição revolucionária, e guiado pela teoria científica do proletariado, o marxismo-leninismo. Além dos nossos próprios erros e limites, contribuem para isso a longa crise do marxismo e do movimento comunista internacional, a violenta repressão durante a ditadura militar que praticamente dizimou as organizações revolucionárias, e a hegemonia na “esquerda” de posições burguesas, lideradas por partidos burgueses como o PT e reformistas e oportunistas, como PCdoB e PSol; o peleguismo hegemônico no movimento sindical (CUT, Força, UGT, CTB etc.); e o predomínio do reformismo no movimento popular (MST, MTST, Frente Brasil Sem Medo, Frente Brasil Popular).

    Ainda assim, numa quadra adversa para a organização e a luta independentes da classe operária e das massas trabalhadoras e para a reorganização do seu Partido Comunista, novas tentativas de reorganização comunista têm surgido desde meados dos anos 1990. Atualmente, pequenos grupos comunistas e operários buscam se organizar e se fortalecer, com as tarefas centrais de se enraizar na classe operária e nas massas trabalhadoras e participar de suas lutas, buscando fortalecer a independência de classe; combater o reformismo e o oportunismo, criticando radicalmente essas posições e esses desvios; apropriar-se do marxismo-leninismo para analisar a conjuntura em que lutamos e buscar formular o caminho da Revolução no país. Em vários casos, esses grupos e organizações estabeleceram contatos entre si, divulgaram manifestos e/ou realizaram ações conjuntas, e avançaram no debate entre camaradas sobre nossas divergências e nossos pontos em comum. Cabe a todos/as nós, comunistas, trabalhar para a construção desse processo visando a reorganização do Partido Comunista em nosso país, instrumento indispensável para a nossa Revolução e a libertação das massas trabalhadoras da escravidão capitalista.

[…] O fortalecimento da posição comunista é fundamental no Brasil de hoje!

    Nessas duas primeiras décadas do século 21, surgiram novas organizações comunistas, buscando retomar o marxismo-leninismo, as posições revolucionárias e a atuação junto à classe operária e às massas trabalhadoras, trabalhando pela reconstrução teórica, política e organizativa do movimento comunista no Brasil. No processo atual, perdeu peso a posição estratégica que hegemonizou o movimento comunista no Brasil por muitas décadas – a visão etapista da revolução brasileira, de uma etapa democrática, nacional e burguesa ou popular, prévia à “etapa” socialista; de alianças com a burguesia, em seu pretenso caráter nacional e anti-imperialista. Atualmente, a maioria dos grupos e organizações comunistas afirmam o caráter principal da contradição entre burguesia e proletariado e o caráter Socialista da Revolução. Se essa concepção constitui um importante avanço teórico e estratégico, ainda é necessário definir suas táticas justas (de nada adianta autoproclamar-se a favor da Revolução Socialista e apoiar partidos burgueses como o PT nas eleições), construir o Partido Comunista para concretizar essa posição e tirar dessa definição todas as suas consequências teóricas, práticas e organizacionais para a luta revolucionária do proletariado e das massas trabalhadoras.

    Essas organizações, em geral, permanecem pequenas e isoladas, com muito pouca influência de massas. O Cem Flores faz parte desse processo, de uma nova tentativa de reorganização do movimento comunista no país, desde sua constituição, em 2002, marcada pela divulgação do documento Convocatória para a Reconstrução do Partido Revolucionário do Proletariado.

Fonte: Documento Base, Coletivo Cem Flores, p. 99 e 109, 2023.

Edição: Página 1917

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

PCB, Crise e Ruptura


A reconstrução revolucionária do PCB foi torpedeada por uma maioria de reformistas e revisionistas do seu Comitê Central que levaram o partido para o gueto da pequena-burguesia e do identitarismo, transformando o PCB numa seita burocrática, mera linha auxiliar de partidos dedicados a gerir a barbárie capitalista, como o PSOL e o PT.



terça-feira, 5 de setembro de 2023

Quem é Boris Kagarlitsky e por que ele está sendo processado?

Corrente Marxista Internacional - CMI


Boris Kagarlitsky, um dos mais proeminentes sociólogos de esquerda na Rússia, foi preso em 25 de julho e levado para Syktyvkar (República de Komi, Rússia) em 26 de julho. No mesmo dia, o tribunal local o colocou sob custódia por dois meses sob a acusação de “justificar o terrorismo”. Se o tribunal o considerar culpado, Kagarlitsky pode cumprir sete anos de prisão.


Quem é Kagarlitsky?

O Dr. Kagarlitsky, nascido em 1958, é sociólogo, cientista político e escritor político. Em 1982, ele foi preso junto com outros membros de um grupo de “jovens socialistas”, que havia criticado a liderança burocrática da ex-União Soviética. Kagarlitsky esteve envolvido na política antes e durante a era da Perestroika. Nos mesmos anos, começou a escrever artigos e livros sobre questões sociais e políticas e, nos 35 anos seguintes, publicou várias dezenas de livros e ensaios.

Em 1988, seu livro Thinking Reed ganhou o Prêmio Isaac Deutscher. Nos anos seguintes, seus livros Dialectics of Change e A Farewell To Perestroika foram publicados em Londres (em inglês, este último também foi traduzido para japonês e turco); e Square Wheels – crônicas do democrático Conselho de Moscou, publicadas em alemão em Berlim. Em 1995, Kagarlitsky defendeu com sucesso sua tese de doutorado sobre os sindicatos russos na década de 1990. Por muitos anos, ele foi professor na Escola de Ciências Sociais e Econômicas de Moscou. 

Nos últimos anos, Kagarlitsky foi preso e penalizado várias vezes por seu ativismo, como em 2020, quando organizou uma manifestação contra a mudança na Constituição russa, que permitiu a reeleição de Putin para seu quinto mandato presidencial; ou em 2021, quando Kagarlitsky usou sua mídia social para convocar protestos contra a fraude eleitoral. Em maio de 2022, Boris foi rotulado de “agente estrangeiro” – um status legal que leva a complicações ao fazer declarações públicas – por seu posicionamento consistente internacionalista sobre o conflito russo-ucraniano. No entanto, apesar de tudo, Kagarlitsky não fugiu do país e não abandonou a esfera pública.

Gerações de jovens comunistas e de esquerda russos cresceram lendo seus livros. Com suas obras, Kagarlitsky se opôs ao legado do “marxismo oficial” soviético tardio stalinista. Além disso, ele estava sempre disposto a oferecer “ajuda intelectual” aos ativistas de esquerda. Ele quase nunca recusou uma chance de participar de conferências de esquerda e estava sempre aberto a discussões durante os intervalos.

Desde 2008, Boris também é o fundador e um dos editores do Rabkor, um jornal online. Nos últimos 15 anos, este jornal – e seu canal afiliado no YouTube – tornou-se uma importante fonte de discussão de esquerda. Os ensaios e colunas de Kagarlitsky atraíram a atenção de dezenas de milhares de leitores, e sua análise cuidadosa dos eventos atuais era muito popular na esquerda russa.

A Máquina Repressora

Em 24 de junho, uma tentativa de golpe do Grupo Wagner, liderado por Eugeny Prigozhin, chocou o regime e revelou divisões na classe dominante russa. No final, ambos os lados do conflito rapidamente chegaram a um acordo, e Prigozhin não só teve permissão para escapar sem qualquer processo, mas teve todos os seus bens devolvidos. Em questão de horas, o governo e a mídia estatal reabilitaram um terrorista, mais uma vez.

No entanto, a burocracia e a oligarquia russas, que sentem a insegurança de sua posição, estão ansiosas para apagar qualquer lembrança de um desafio contra eles. Eles procuram provar às massas que ainda são capazes de aplicar punições severas. No entanto, é claro, o aparato repressivo só pode punir efetivamente alguns bodes expiatórios selecionados, que são incapazes de revidar – como foi o caso do grupo de Wagner.

O regime do Kremlin escolheu suas vítimas entre as figuras mais proeminentes da oposição de direita e de esquerda ao governo. O primeiro foi Igor Strelkov, ex-ministro da Defesa da República Popular de Donetsk e fundador do “Angry Patriots’ Club” (APC), uma organização nacionalista russa. Os membros do APC apoiaram a invasão da Ucrânia, enquanto criticavam as políticas militares do governo russo. Strelkov foi preso em 21 de julho por “encorajar publicamente a participação em atividades extremistas”. Na mesma noite, o tribunal o prendeu por dois meses; se for considerado culpado, pode cumprir 5 anos de prisão. Apesar das audiências judiciais que estão ocorrendo em Moscou, os admiradores de Strelkov ainda não demonstraram apoio em massa a seu líder.

Alguns dias depois, a próxima vítima da máquina repressiva foi escolhida no extremo oposto do espectro político. Kagarlitsky foi preso em 25 de julho. A polícia, antecipando protestos em defesa do escritor de esquerda, que é bem conhecido na Rússia e internacionalmente, o transportou para Syktyvkar, uma cidade isolada, mil quilômetros ao norte de Moscou. A audiência foi realizada em privado no dia seguinte, e até mesmo o advogado de Kagarlitsky não pôde comparecer devido à falta de passagens aéreas. Vale a pena notar que as acusações contra Boris repousam apenas em uma de suas postagens no Telegram, na qual ele analisa o ataque ucraniano à ponte da Criméia em 8 de outubro de 2022. Não é demasiado dizer que não há nada que se assemelhe a “justificar o terrorismo” na referida postagem. Mais uma vez, a aplicação da lei burguesa mostra que não precisa de nenhuma razão sólida para apresentar queixa.

Vários grupos principalmente de esquerda reagiram à prisão de Kagarlitsky com uma campanha pública em sua defesa. Inúmeras publicações, folhetos e reuniões estão sendo planejadas, e esses eventos têm o potencial de unir os grupos descoordenados com uma causa comum. Felizmente, a esquerda russa conseguiu pelo menos uma campanha de solidariedade bem-sucedida em sua história: em fevereiro de 2023, meses de trabalho árduo resultaram na libertação do proeminente líder sindical Kirill Ukraintsev.

A Organização dos Comunistas Internacionalistas (a seção russa da CMI) pede apoio nacional e internacional para Kagarlitsky. Estamos lançando uma campanha pública e pedimos aos leitores que participem dela. Pedimos à esquerda internacional, que chame a atenção para esta injustiça, divulgando a campanha, organizando eventos locais em apoio a Boris. Por favor, envie mensagens de solidariedade através deste link.

Liberdade para Boris Kagarlitsky!   

31/07/2023

TRADUÇÃO DE FERNANDO LEAL.

Fonte: https://www.marxismo.org.br/russia-quem-e-boris-kagarlitsky-e-por-que-ele-esta-sendo-processado/

Edição: Página 1917

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