Índice de Seções

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O Desespero Aumenta

Ney Nunes

   Segundo informações do serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, o número de brasileiros presos tentando entrar irregularmente no país, até setembro desse ano, chega a 18 mil. Comparado com 2018, quando 3.200 brasileiros foram detidos, esse número de 2019 representa um aumento de 1.100 %, o que não deixa margem de dúvida sobre o desespero que se abate sobre contingentes cada vez maiores da população brasileira.

Imigrantes detidos na fronteira entre México e EUA.

        Desde o período imediatamente anterior a posse do presidente Bolsonaro, e mesmo antes, durante quase todo o governo Temer, a mídia burguesa propagava uma expectativa de retomada do crescimento econômico, apoiando todas as medidas de arrocho contra o povo trabalhador e de cortes nos gastos públicos. Esse ano, com a divulgação de números sobre a atividade econômica menos piores do que em 2018, mas, ainda assim, pífios, o alarde favorável à política econômica neoliberal do atual ministro da economia Paulo Guedes cresceu bastante. A sazonalidade econômica com a produção para vendas de fim de ano e a injeção de recursos extras, como liberação do saque do PIS e FGTS, são fatores camuflados propositalmente por esses comentaristas de aluguel, quando é notório que os seus efeitos não são sustentáveis ao longo do tempo. 

     O movimento desesperado de milhares de brasileiros, que se aventuram na tentativa de entrar ilegalmente nos países ricos, muitas vezes arriscando a própria vida e dos seus familiares, indica que a realidade por aqui é bem diferente do que o oligopólio midiático no Brasil tenta nos fazer crer. Esse movimento de fuga desesperada tende a aumentar em consequência da política nefasta do governo fascista e entreguista de Bolsonaro, se defrontando com uma situação mundial em que os países ricos não necessitam mais reforçar seu exército reserva de mão de obra, considerando os imigrantes seres indesejáveis que devem ser rechaçados.

 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Teses Sobre a Questão Parlamentar*

Segundo Congresso da III Internacional Comunista - 1920


I — A época atual e o novo parlamentarismo

A atitude dos partidos socialistas em relação ao parlamentarismo consistia, inicialmente, na época da I Internacional, em utilizar os Parlamentos burgueses para a agitação. A participação no Parlamento tinha como objetivo desenvolver a consciência de classe do proletariado na sua luta contra as classes dominantes.
Sob a influência da evolução política, e não da teoria, esta atitude foi-se modificando. Em virtude do aumento contínuo das forças produtivas e do alargamento do domínio da exploração capitalista, o capitalismo e, com ele, os Estados parlamentares adquiriram uma maior estabilidade. Daí a adaptação da tática parlamentar dos partidos socialistas à ação legislativa "orgânica" nos Parlamentos burgueses e a importância cada vez maior da luta pela introdução de reformas no quadro do capitalismo, o predomínio do programa mínimo dos partidos socialistas, a transformação do programa máximo numa plataforma destinada às discussões sobre "o objetivo final" , longínquo. Foi sobre estas bases que se desenvolveu o arrivismo parlamentar, a corrupção, a traição aberta ou camuflada dos interesses mais elementares da classe operária.
Lenin na mesa do II Congresso da Internacional Comunista
A atitude da III Internacional em relação ao parlamentarismo não é determinada por uma nova doutrina, mas pela modificação do papel do próprio Parlamento. Na época precedente, o Parlamento enquanto instrumento do capitalismo em vias de desenvolvimento, contribuiu, num certo sentido, para o progresso histórico. Mas nas condições atuais, na época da decadência do imperialismo, o Parlamento tornou-se, ao mesmo tempo, um instrumento de mentira, de fraude, de violência e um moinho exasperante de palavras. Perante as devastações, as pilhagens, as violências, os atos de banditismo e as destruições levadas a cabo pelo imperialismo, as reformas parlamentares, desprovidas de espírito de continuidade e estabilidade, concebidas sem um plano de conjunto, perderam toda a eficácia prática para as massas trabalhadoras.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Doze Meses da Frente Popular

August Thalheimer*


Primeira Edição: Publicado no "CONTROVERSY" N° 9, junho de 1937. Traduzido do alemão por Erico Sachs. Fonte: Cópia mimeografada dos arquivos da organização Política Operária.

Quando começou a experiência de governo da Frente Popular na França, em junho de 1936, nos foi dito que ele seria completamente diferente das coalizões reformistas familiares, levadas a tão desastrosas bancarrotas como, por exemplo, na Alemanha. A diferença seria que a política da Frente Popular iria ser determinada pela classe operária, que ela "lideraria" a burguesia, enquanto nas coalizões reformistas com os partidos burgueses foi a burguesia quem liderou. Nós não pretendemos examinar a lógica sob a qual se baseia essa assertiva. Vamos verificar os fatos.
August Thalheimer

Em junho de 1936, alguém poderia ainda se esforçar em creditar à Frente Popular os resultados do grande e espontâneo movimento grevista. Hoje, o mais simples operário francês compreende que os resultados foram produzidos unicamente pela ação das massas, enquanto o papel do governo da Frente Popular e de suas organizações foi coisa muito diferente.
Qual é a posição atual?
A reivindicação da semana de 40 horas foi sistematicamente postergada e sabotada e hoje, aproximadamente doze meses depois de ter se tornado lei, não está ainda posta em pratica, no geral.
O aumento dos salários foi neutralizado de um golpe pela desvalorização do franco e por um inaudito aumento dos preços. Uma compensação ao trabalhador pela desvalorização do franco, através de uma escala móvel de salários, foi recusada. Uma outra desvalorização do franco está a caminho. O Partido Comunista Francês e o Partido Socialista Francês foram ambos favoráveis à desvalorização do franco, sob pressão do Partido Socialista Radical.
Tomando o caminho da greve, os operários fluíram em massa para os sindicatos. A CGT inchou para cinco milhões de membros. Enquanto isso, no entanto, os patrões demitiam diariamente muitos operários, por causa da sua filiação ao sindicato. Deliberadamente começaram a construir sindicatos amarelos, através de elementos fascistas nas fabricas. E os delegados de fabrica eram diariamente demitidos e substituídos por fascistas. Quando, depois do banho de sangue de Clichy, os operários de muitas empresas quiseram expulsar os fascistas, os patrões replicaram com uma série de demissões. Os sindicatos, indignados, recusaram qualquer responsabilidade por esses atos de autodefesa por parte dos operários. Os patrões seguidamente burlavam as novas leis sociais, passando do trabalho fabril para o trabalho doméstico. Mesmo os sindicatos reformistas da Alemanha não permitiram estas incontáveis violações dos contratos de trabalho, como foi o caso da França sob o governo da Frente Popular.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Massacre em Paraisópolis

O avanço da barbárie

Ney Nunes
   A morte brutal de nove jovens, com idades entre 14 e 23 anos, que se divertiam num baile funk na favela de Paraisópolis, em São Paulo no último domingo, não pode ser considerada um fato isolado. Estamos vivendo um crescendo de ações truculentas e covardes das forças policiais em quase todas as grandes cidades do país, resultando, com frequência, em mortes de pessoas inocentes. 


Os nove jovens mortos, da esq. para dir: Denys Henrique Quirino da Silva, 16; Gustavo Cruz Xavier, 14; Gabriel Rogério de Moraes, 20; Mateus dos Santos Costa, 23; Da esq. para dir. em baixo: Bruno Gabriel dos Santos, 22; Dennys Guilherme, 16; Marcos Paulo, 16; Luara Victoria de Oliveira, 18 e Eduardo Silva, 21.
   
     O cerco e espancamento dos participantes do baile em Paraisópolis que resultaram em nove mortos e dezenas de feridos são mais uma evidência de que a democracia burguesa, diante da crise estrutural capitalista, envereda pelos métodos repressivos típicos do fascismo. Governantes eleitos pelo voto popular, prometendo paz e prosperidade, fazem do massacre nas áreas pobres sua política de segurança pública.

    Quando as forças de segurança do Estado incorporam os métodos dos milicianos e traficantes, com aval de governadores, do presidente da república e do seu ministro da justiça, os dois últimos empenhados em aprovar o “excludente de ilicitude”, ou seja, carta branca para assassinos com distintivo policial, é sinal de que a barbárie não é mais apenas uma ameaça no horizonte da decadência capitalista em que vivemos, muito além disso, ela já começa a entrar na rotina da sociedade.

    Exigir a completa apuração desse massacre e a punição dos seus executores e mandantes é correto e necessário, mas não basta. Se quisermos evitar a repetição infindável desses fatos, extirpando a barbárie, temos que empreender uma luta decisiva contra a burguesia, suas instituições apodrecidas e seu sistema econômico que promove a exploração e a miséria: o capitalismo.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Condenamos o golpe de Estado na Bolívia


Partido Comunista do México (PCM) – Declaração

As armas com as quais a burguesia realiza violentos tumultos e golpes de Estado, como na Bolívia, foram preservadas, desenvolvidas e fortalecidas pelo chamado progressismo. Na Bolívia, esse mesmo progressismo foi dominado pelos instrumentos da burguesia com os quais governava, e os mais afetados foram as forças operárias e populares, que fazem frente à situação. […] Limitar-se à luta antineoliberal ou à existência de governos “contrários ao neoliberalismo” é entrar no terreno político favorável à burguesia. […] A pretensão de fazer profundas e radicais mudanças conservando o Estado burguês enfrenta a crua realidade de que, no final, a burguesia impõe a última palavra, pelos meios que considera convenientes.
O Partido Comunista do México condena o golpe de Estado na Bolívia, conduzido por forças reacionárias, policiais e militares, aproveitando os limites, as concessões e as contradições do governo boliviano, isto é, do progressismo.

domingo, 1 de dezembro de 2019

A Reconstrução Revolucionária do PCB (Partido Comunista Brasileiro)



Ivan Pinheiro (*)

(Intervenção no Seminário Internacional promovido pelo Partido Comunista do México, em 23/11/19, nos marcos das comemorações de um século de luta dos comunistas mexicanos e dos 25 anos da reconstrução do seu partido)

Ivan Pinheiro fala no Seminário Internacional do PCM.

Deixo aqui uma saudação, certamente compartilhada pela militância do meu Partido, às delegações dos diversos Partidos presentes e a todos os convidados a este importante Seminário Internacional, nomeadamente aos camaradas do Partido Comunista do México (PCM), uma referência fundamental na reconstrução revolucionária do Movimento Comunista Internacional (MCI).

Tive o privilégio de assistir ao V Congresso do PCM, em 2014, em nome do PCB, e testemunhar o que penso ter sido o momento de um salto de qualidade desse partido marxista-leninista de fato (e não por auto proclamação), vocacionado a se constituir na vanguarda da classe operária mexicana e seus aliados, no caminho ao socialismo e ao comunismo.

Impressionou-me, para além da energia e jovialidade de sua militância e da qualidade política e ideológica dos seus quadros, a composição social positivamente equilibrada do conjunto dos delegados, com uma presença proletária significativa e indicativa das possibilidades de inserção do Partido na classe operária e entre os trabalhadores em geral.

As trajetórias do PCM e do PCB nas últimas décadas guardam algumas diferenças e semelhanças. Uma destas é que nossos Partidos foram vítimas de maiorias reformistas nos respectivos Comitês Centrais que, para empreender a sua liquidação, se aproveitaram da crise do MCI, em meio aos desvios revisionistas que acabaram por degenerar e liquidar por dentro o Partido Comunista da União Soviética (PCUS), culminando com a contrarrevolução que levou à derrota as experiências de construção do socialismo na União Soviética e no Leste Europeu.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Amnésia Seletiva

A Doença Senil do Reformismo

Ney Nunes

     Nos últimos meses observamos um fenômeno inusitado, trata-se de uma amnésia seletiva que vem contaminando setores da chamada “esquerda”. Diferentemente da “justiça seletiva”, que é uma prática da institucionalidade burguesa para alijar adversários políticos e jogá-los na cadeia sem culpa formada, conforme sucedido com o ex-presidente Lula, essa amnésia seletiva constitui-se numa operação de propaganda, visando encobrir na história recente, tudo aquilo que exponha contradições de determinada vertente político-ideológica.

    Segundo definição médica, amnésia seletiva é a incapacidade de lembrar certos fatos que aconteceram num determinado período de tempo, podendo estar relacionada ao estresse prolongado ou ser consequência de um evento traumático.  Na política isso se chama oportunismo. É justamente com essa “incapacidade de lembrar” que nos deparamos em alguns artigos e pronunciamentos recentes sobre os governos Lula e Dilma. Os autores, com seus esquecimentos seletivos, dão a entender que nesse período estávamos vivendo num quase paraíso, onde liberdade, justiça social e prosperidade imperavam.


Repressão contra a greve dos profissionais do ensino, setembro 2013, RJ.
   

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Carta de Despedida de Che a Fidel

A Fidel Castro

Fidel


Neste momento lembro-me de muitas coisas - de quando o conheci no México, na casa de María Antonia, quando me propôs juntar-me a você; de todas as tensões causadas pelos preparativos.

Um dia vieram me perguntar quem devia ser notificado em caso de morte, e a possibilidade real desse fato causou um impacto. Mais tarde, soubemos que era verdade, que numa revolução se vence ou se morre (se ela for autêntica).

Atualmente, tudo tem um tom menos dramático, porque somos mais maduros. Mas o fato se repete. Sinto que cumpri com a parte do meu dever que me prendia à revolução cubana em seu território e me despeço de você, dos camaradas, do seu povo, que agora é meu.
Guevara e Fidel
Renuncio formalmente a meus cargos no Partido, a meu posto de ministro, à minha patente de comandante e à minha cidadania cubana. Legalmente nada me vincula a Cuba, só laços de outra ordem que não se podem quebrar com nomeações.

Recordando minha vida passada, acho que trabalhei com suficiente integridade e dedicação para consolidar o triunfo revolucionário. Minha única deficiência grave foi não ter tido mais confiança em você desde os primeiros momentos na Sierra Maestra e não ter percebido com devida rapidez suas qualidades de líder revolucionário.

Vivi dias magníficos e, ao seu lado, senti o orgulho de pertencer ao nosso povo nos dias brilhantes, embora tristes, da crise caribenha (dos mísseis). Raramente um estadista foi mais brilhante do que você naqueles dias, orgulho-me também de te ter seguido sem vacilar, identificado com a tua maneira de pensar e de ver e apreciar os perigos e os princípios.

Outras serras do mundo requerem meus modestos esforços. Eu posso fazer aquilo que lhe é vedado devido à sua responsabilidade à frente de Cuba, e chegou a hora de nos separarmos.

Quero que se saiba que o faço com uma mescla de alegria e pena. Deixo aqui minhas mais puras esperanças de construtor e os meus entes mais queridos. E deixo um povo que me recebeu como filho. Isso fere uma parte do meu espírito. Carrego para novas frentes de batalha a fé que você me ensinou, o espírito revolucionário do meu povo, a sensação de estar cumprindo com o mais sagrado dos deveres: lutar contra o imperialismo onde quer que seja. Isso me consola e mais do que cura as feridas mais profundas.

Declaro uma vez mais que eximo Cuba de qualquer responsabilidade, a não ser aquela que provém do seu exemplo. Se minha hora final me encontrar debaixo de outros céus, meu último pensamento será para o povo e especialmente para ti, que te digo obrigado pelos teus ensinamentos e pelo teu exemplo, ao que tentarei ser fial até ás últimas consequências dos meus actos; que estive sempre identificado com a politica externa da nossa revolução, e continuo a estar; que onde quer que me detenha sentirei a responsabilidade de ser revolucionário cubano, e como tal actuarei. Não lamento por nada deixar nada material para minha mulher e meus filhos. Estou feliz que seja assim. Nada peço para eles, pois o Estado os proverá com o suficiente para viver e para ter instrução.

Teria muitas coisas que dizer a ti e ao nosso povo, mas sinto que não são necessárias as palavras e não podem expressar o que eu desejaria; não vale a pena deitar mais borrões no papel.

Até a Vitória Sempre! Pátria ou morte!

Abraço-te com todo o meu fervor revolucionário.

Ernesto 'Che' Guevara
1965

Os Dez Dias que Abalaram o Mundo


John Reed (1887-1920)
   Os mencheviques e os social-revolucionários acreditavam que a Rússia não estava amadurecida economicamente para a revolução social, que só era possível uma revolução política. Segundo eles, as massas russas não estavam educadas suficientemente para tomar o poder nas suas mãos; qualquer tentativa nesta via não faria senão provocar uma reação, através da qual um oportunista sem escrúpulos poderia restaurar o antigo regime. Por conseguinte, quando os socialistas "moderados" foram forçados a assumir o poder, não ousariam fazê-lo.

   Acreditavam que a Rússia deveria passar as mesmas fases de desenvolvimento que a Europa ocidental, atingindo finalmente e ao mesmo tempo com o resto do mundo, o paraíso socialista. Assim, naturalmente concordavam com as classes possuidoras que a Rússia devia tornar-se primeiro um Estado parlamentar, ainda que, um pouco mais aperfeiçoado em relação às democracias ocidentais. Em consequência, insistiam na participação das classes possuidoras no Governo. Daí a sustentá-las ia apenas um passo. Os socialistas "moderados" precisavam da burguesia, mas a burguesia não precisava dos socialistas "moderados". Assim, os ministros socialistas foram obrigados a ceder, pouco a pouco, todo o seu programa, enquanto as classes possuidoras tornavam-se cada vez mais exigentes.

sábado, 28 de setembro de 2019

Existe uma teoria burguesa do Estado?

     Luciano Gruppi*

Luciano Gruppi, intelectual, militante e dirigente político comunista italiano, 1920-2003.

     Em minha opinião, não existe.  Há uma justificação ideológica do Estado, do Estado existente ou do que se pretendia construir; mas não há uma teoria científica que explique como nasce o Estado, por que nasce, por quais motivos, e qual é a sua verdadeira natureza. Existem tratados volumosos em que se descreve toda a vida do Estado, são definidas suas instituições e estas são examinadas em suas relações mútuas. Mas não há nunca uma teoria que nos explique o que é realmente um Estado. Temos sim, a justificação ideológica (isto é, não crítica, não consciente) do estado existente.

   Deveríamos perguntar-nos se pode existir uma teoria burguesa científica. Com certeza, não é científica uma concepção que afirma: os homens existem primeiro individualmente e depois, por contrato, constituem-se em sociedade. Tampouco é uma explicação científica dizer que o Estado funda a sociedade civiel, etc.

   Na verdade, só pode começar a existir uma visão científica do que é o estado quando tomarmos consciência do conteúdo de classe do Estado. E a burguesia não pode fazer isso, pois significaria denunciar que o Estado burguês - mesmo em sua forma mais democrática - é na verdade a dominação de uma minoria contra a maioria; seria admitir que essa liberdade não é liberdade para todos; que essa igualdade é puramente formal, não real, para a maioria dos cidadãos.
   
   Eis porque a concepção de Estado da burguesia está condenada a ficar numa visão ideológica.


* Tudo Começou com Maquiavel; p.25; Editora L&PM 1986.



   

   

   


terça-feira, 24 de setembro de 2019

"Não há socialismo verdadeiro sem uma participação intensa da massa."

Entrevista do revolucionário português Miguel Urbano Rodrigues (1925-2017) ao Diário Liberdade em 2012


Como homenagem ao grande militante comunista português, falecido no dia 27 de maio aos 91 anos após uma longa vida de compromisso com a revolução portuguesa e mundial, recuperamos a entrevista que Maurício Castro lhe realizou há cinco anos, no ano 2012, em Compostela.
Diário Liberdade – O primeiro que devemos perguntar e se já tinhas estado na Galiza anteriormente
Miguel Urbano Rodrigues – Já. Estive várias vezes na Galiza em encontros internacionais em Vigo e Ponte Vedra. Também estive de férias para visitar Compostela e as rias, porque adoro a Galiza.
DL – Como militante, para além de teres uma atividade e uma produção muito intensa e continuada, também viajas muito para participar em eventos como este aqui na Galiza. Qual é a importância que dás a este tipo de encontros, aos debates e às discussões públicas como a que hoje ocorreu em Compostela?
Miguel Urbano – Foi a vida que me permitiu correr um pouco pelo mundo. Estive exilado do fascismo durante 17 anos na América Latina e mais tarde, quando terminei a vida pública, vivi 8 anos em Cuba, o que me permitiu circular por todo o continente americano e sentir como meus os processos de luta dos diferentes povos.
A minha condição passada de deputado pelo meu partido permitiu-me também correr muito não só pela Europa, como pela Ásia e pela África. A compreensão da diversidade das culturas dos povos teve uma grande influência na evolução do meu pensamento, porque a terra é a pátria comum do ser humano.
Quanto aos eventos, tenho participado em eventos muito diferentes uns dos outros mas, sem pretender ser agradável, devo dizer que foi extremamente gratificante para mim estar aqui com os camaradas e amigos galegos, porque por vezes, em grandes congressos e seminários internacionais, assistes a uma exibição de vaidades mas aqui, na Galiza, há uma preocupação verdadeira pela reflexão sobre o nosso tempo, sobre os grandes problemas que enfrentamos, sobre a crise da humanidade, etc.
Aqui os discursos foram simples e acessíveis e as perguntas inteligentes, de maneira que foi muito gratificante para mim estar aqui neste encontro.
DL – Nem toda a esquerda portuguesa, nem sequer a revolucionária, entende bem as causas das nações oprimidas, como aGaliza, a Catalunha ou o País Basco. Qual é a tua opinião sobre o assunto?
Miguel Urbano – Há pouco eu disse que já não emprego a palavra ‘esquerda’ devido à perversão. O que é em Portugal a esquerda? Na realidade, se excetuarmos um pequeno número de personalidades independentes, a esquerda exige hoje uma definição clara de ser anticapitalista, mas há forças que se dizem de esquerda que não são contra o capital ou, então, querem reformar o capitalismo, mas não desejam como alternativa o socialismo.
A base social do Partido Comunista Português é verdadeiramente revolucionária e põe como alternativa o modelo socialista.
Quanto ao que se passa aqui na Galiza, nós temos um sistema mediático tão perverso e péssimo quanto o espanhol. Eu quando era jovem iniciei-me nas atividades políticas como repórter, mas hoje o jornalismo ainda é pior que no tempo do fascismo. Naquela altura, o combate ao fascismo obrigava a um certo respeito pela ética, mas hoje o jornalismo tornou-se muito mercenário com os media controlados pelo grande capital.
Eu venho agora do Brasil, onde estive justamente no aniversário do Partido Comunista Brasileiro —no qual eu militei na juventude— e no Brasil ainda há uma certa, não direi liberdade, mas uma certa abertura ou uma certa possibilidade de serem expressas opiniões contrárias e incompatíveis com as direções e os proprietários dos jornais do sistema.
Em Portugal, a base das redações é constituída por mercenários controlados pelas chefias que ditam os interesses e desviam as atenções sobre assuntos absolutamente irrelevantes com a omissão total ou parcial de grandes acontecimentos ou problemas de luta que não lhes interessa divulgar. Hoje aqui falou-se muito da Síria, mas no mundo fala-se pouquíssimo. São apenas três ou quatro linhas nos crimes do império norte-americano. O que está a acontecer no Afeganistão, que é uma guerra perdida, merece quatro ou cinco linhas e aqui creem que é a mesma coisa.
As pessoas só se podem interessar quando há um acesso ao conhecimento. Em Portugal, quem fala da Galiza é o turista que a foi visitar e gosta da catedral e da parte histórica de Santiago de Compostela, e acontece a mesma coisa em relação aos problemas da Catalunha ou do País Basco.
Recentemente houve em Portugal um movimento liderado por Saramago que defendia a integração de Portugal no Estado espanhol. Chegou a dizer até que como região autónoma como a Andaluzia ou as Astúrias. Aquilo motivou reações de várias pessoas como eu e outras perante tal disparate. Se o Estado espanhol depois de séculos de opressão não conseguiu resolver os problemas da Galiza, a Catalunha ou o País Basco, como é que ia resolver os problemas dos portugueses? Evidentemente que isso é um absurdo completo, mas seria necessário que nós tivéssemos um sistema mediático diferente do atual para que se falasse e que as massas fossem sensibilizadas com acesso ao conhecimento que hoje não têm.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Miguel Urbano Rodrigues - Entrevista - 2008



Miguel Urbano Rodrigues nasceu em Moura, em 1925. Foi um jornalista e escritor português.

Foi redator do Diário de Notícias (1949 e 1956) e chefe de redação do Diário Ilustrado (1956 e 1957), antes de se exilar no Brasil, onde foi editorialista principal d’O Estado de S. Paulo (1957 a 1974) e editor internacional da revista brasileira Visão (1970 a 1974).

Regressado a Portugal, após a Revolução dos Cravos, foi responsável pela redação do Avante! em 1974 e 1975 e diretor d’O Diário entre 1976 e 1985. Foi ainda assistente de História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1974-75), presidente da Assembleia Municipal de Moura em 1977 e 1978, deputado à Assembleia da República pelo PCP entre 1990 e 1995 e deputado às Assembleias Parlamentares do Conselho da Europa e da União da Europa Ocidental, tendo sido membro da comissão política desta última. 

Teve colaborações publicadas em jornais e revistas de duas dezenas de países da América Latina e da Europa e é autor de mais de uma dezena de livros publicados em Portugal e no Brasil.

Faleceu em 2017 em Vila Nova de Gaia.​

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Uma Perigosa Agonia

   Ney Nunes

     Os indícios de que a atual crise capitalista, iniciada em 2008, pode ser mais destrutiva do que as recorrentes crises cíclicas desse sistema são cada vez mais significativos. Há uma década, as principais economias do mundo oscilam entre a recessão e débeis períodos de recuperação. Os efeitos sociais dessa situação se fazem sentir no mundo todo, ainda que, de maneira desigual. Nos chamados países pobres, ou intermediários, o desemprego crônico marginaliza um contingente enorme da população, condenado a viver em guetos e sem acesso aos serviços públicos essenciais. Até nos países ricos está crescendo o percentual de pessoas vivendo na miséria. Nada indica uma reversão desse quadro, pelo contrário, mesmo analistas econômicos da mídia burguesa cogitam para breve um novo agravamento dessa crise. 


Crianças nos escombros depois de um bombardeio nazista, Londres, setembro de 1940.

   Nesse contexto, o perigo da humanidade ser arrastada para a saída clássica das grandes crises do capitalismo começa a aumentar perigosamente. O risco dos atuais conflitos localizados se transformarem numa conflagração de caráter mundial não pode mais ser ignorado. Vivemos uma nova corrida armamentista e um recrudescimento das intervenções políticas e militares das nações imperialistas, envolvidas numa acirrada disputa sobre áreas de influência, mercados e recursos naturais.
   Na época da sua decadência agônica, o capitalismo torna-se mais virulento, empurrando a humanidade para a barbárie da guerra. As burguesias imperialistas e dos países periféricos não têm nada a oferecer as grandes massas populares, a não ser mais miséria e exploração. O governo da burguesia é um entrave a qualquer saída favorável à humanidade. Se queremos paz e justiça social, precisamos retomar o caminho de um poder proletário e socialista. Essa é a única possibilidade de evitarmos uma nova hecatombe mundial

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Víctor Jara



Víctor Jara, assassinado pelos fascistas no Chile em 16 de setembro de 1973.

Ponto de Vista Antiimperialista *

"A pequena burguesia, sem excetuar a mais demagógica, se atenuar na prática seus impulsos mais nacionalistas, poderá chegar à mesma estreita aliança com o capitalismo imperialista. O capital financeiro sentir-se-á mais seguro se o poder estiver em mãos de uma classe social mais numerosa que, satisfazendo certas reivindicações mais prementes e atrapalhando a orientação classista das massas, estará em melhores condições de defender os interesses do capitalismo, de ser seu custódio e servo, que a velha e odiada classe feudal. A criação da pequena propriedade, a desapropriação dos latifúndios, o fim dos privilégios feudais não são contrários aos interesses do imperialismo, de modo imediato."
José Carlos Mariátegui
Junho 1929

1º – Até que ponto a situação das repúblicas latino-americanas pode ser assimilada à dos países semicoloniais? Sem dúvida, a condição econômica destas repúblicas é semicolonial, e, à medida que crescer seu capitalismo e, conseqüentemente, a penetração imperialista, este caráter de sua economia tende a se acentuar. Mas as burguesias nacionais, que vêem na cooperação com o imperialismo a melhor fonte de lucro, sentem-se suficientemente donas do poder político para não se preocuparem seriamente com a soberania nacional. Estas burguesias na América do Sul, que ainda não conhecem – com exceção do Panamá – a ocupação militar ianque, não estão predispostas de forma alguma a admitir a necessidade de lutar pela segunda independência, como supunha ingenuamente a propaganda aprista. O Estado, ou melhor, a classe dominante, não sente falta de um grau mas amplo e certo de autonomia nacional. A revolução da Independência está demasiado próxima, relativamente, seus mitos e símbolos demasiado vivos, na consciência da burguesia e da pequena burguesia. A ilusão da soberania nacional conserva-se em seus principais efeitos. Pretender que nesta camada social surja um sentimento de nacionalismo revolucionário, parecido com o que, em condições diferentes, representa um fator da luta antiimperialista nos países semicoloniais avassalados pelo imperialismo nas últimas décadas na Ásia, seria um erro grave.

Em nossa discussão com os dirigentes do aprismo, reprovando sua tendência a propor um Kuomitang à América Latina, a fim de evitar a imitação européia e situar a ação revolucionária em uma apreciação exata de nossa própria realidade, sustentávamos há mais de um ano a seguinte tese:

A colaboração com a burguesia, assim como muitos elementos feudais na luta antiimperialista chinesa, explica-se por motivos de raça, de civilização nacional que não existem entre nós. O chinês nobre ou burguês sente-se profundamente chinês. Ao desprezo do branco por sua cultura estratificada e decrépita, responde com o desprezo e o orgulho de sua tradição milenar. A antiimperialismo na China pode, portanto, basear-se no sentimento e no fator nacionalista. Na Indo-América as circunstâncias não são as mesmas. A aristocracia e a burguesia nacional não se sentem solidarizadas com o povo pelo laço de uma história e de uma cultura comuns. No Peru, o aristocrata e o burguês brancos desprezam o popular, o nacional. Sentem-se, acima de tudo, brancos. O pequeno-burguês mestiço imita este exemplo. A burguesia de Lima confraterniza com os capitalistas ianques, e mesmo com seus meros funcionários, no Country Club, no Tennis e nas ruas. O ianque casa-se sem inconveniente de raça nem de religião com a senhorita nativa, e esta não sente escrúpulo de nacionalidade nem de cultura em preferir o casamento com um indivíduo da raça invasora. A moça de classe média também não tem este escrúpulo. A huachafita que conquista um ianque empregado de Grace ou da Foundation sente com satisfação sua condição social melhorar. O fator nacionalista, por estas razões objetivas que todos vocês compreendem, não é decisivo nem fundamental na luta antiimperialista em nosso meio. Só em países como a Argentina, onde existe uma burguesia numerosa e rica, orgulhosa do grau de riqueza e poder em sua pátria, e onde a personalidade nacional tem por estas razões contornos mais claros e nítidos que nestes países atrasados, o antiimperialismo pode (talvez) penetrar facilmente nos elementos burgueses; mas por motivos de expansão e crescimento capitalistas, não por razões de justiça social e doutrina socialista, como é nosso caso.

A traição da burguesia chinesa, a falência do Kuomitang ainda não eram conhecidas em toda sua magnitude. Um conhecimento capitalista, e não por motivos de justiça social e doutrinária, demonstrou quão pouco se podia confiar, mesmo em países como a China, no sentimento nacionalista revolucionário da burguesia.

Enquanto a política imperialista conseguir manéger os sentimentos e formalidades da soberania nacional destes Estados, enquanto não for obrigada a recorrer à intervenção armada e à ocupação militar, contará com a colaboração das burguesias. Embora enfeudados à economia imperialista, estes países, ou suas burguesias, considerar-se-ão tão donos de seus destinos como a Romênia, a Bulgária, a Polônia e demais países "dependentes" da Europa.

Este fator da psicologia política não deve ser descuidado na estimativa precisa das possibilidades da ação antiimperialista na América Latina. Seu adiamento, seu esquecimento, tem sido uma das características da teorização aprista.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Liderança Democrática e Manipulação de Massas

Theodor Adorno
1951

"Os discursos do demagogo são perpassados por indicações de segredos obscuros, escândalos revoltosos e crimes impronunciáveis. Ao invés de discutir questões sociais e políticas de maneira objetiva, ele culpa as pessoas más por todas as doenças da qual padecemos. Está sempre acusando negociatas, corrupção ou sexo. Ele posa como cidadão indignado, que deseja limpar a casa, e promete fazer revelações sensacionais. As vezes faz seguir essas promessas de histórias fantásticas, de arrepiar o cabelo. Entretanto, assim como ele geralmente não mantém sua promessa, ele sugere que seus segredos são pavorosos demais para serem contados em público e que seus ouvintes sabem muito bem do que ele está falando. Ambas as técnicas, a performance tanto quanto a suspensão das revelações, trabalham a seu favor."


Os conceitos de liderança e ação democrática estão tão profundamente envolvidos na dinâmica da moderna sociedade de massa que seu sentido não pode mais ser aceito como dado na presente situação. Em contraste com os príncipes e senhores feudais, a ideia do líder emergiu com a ascensão da democracia moderna. Relacionava-se então com a eleição, pelos partidos políticos, daqueles a quem eles delegavam a autoridade de falar e agir em seu favor e que, ao mesmo tempo, supunham qualificado para guiar o homem comum através da argumentação racional. Desde a famosa Soziologie des Parteiwesens, de Robert Michel, que não é mais assim: a ciência política demonstrou que essa concepção clássica, rousseauniana, não correspondia mais à realidade. Através de diversos processos, como o enorme crescimento numérico dos partidos modernos, sua dependência a concentradíssimos interesses disfarçados e, enfim, à sua própria institucionalização, o verdadeiro funcionamento democrático da liderança, até o ponto em que ele de fato foi alcançado na realidade, havia desvanecido. Não obstante o fato de que em decisões importantes a democracia de base, como oposição à opinião pública oficial, vez por outra ainda mostre surpreendente vitalidade, a interação entre partido e liderança tornou-se mais e mais limitada a manifestações abstratas da vontade da maioria através de votações e, os mecanismos dessa últimas, em grande parte sujeitos ao controle das lideranças estabelecidas. A liderança tornou-se em si mesma cada vez mais rígida e autônoma, perdendo, na grande maioria da vezes das vezes, contato com as pessoas. Concomitantemente, o impacto da liderança sobre as massas deixou de ser de todo racional, passando a revelar claramente alguns dos traços autoritários, que sempre estão latentes onde o poder é controlado por uns poucos. As figuras ocas e infladas de líderes como Hitler e Mussolini, investidas de uma falso "carisma", são as últimas beneficiárias dessas mudanças societárias ocorridas dentro da estrutura de liderança. Tratam-se de mudanças que também afetam profundamente as próprias massas. Quando as pessoas sentem que realmente não estão em condições de determinar seu próprio destino, como aconteceu na Europa; quando se desiludem a respeito da autenticidade e efetividade dos processos políticos democráticos; então, elas são tentadas a entregar a substância da autodeterminação democrática e arriscar sua sorte com aqueles que eles ao menos consideram poderosos: seus líderes. Freud(1) descreveu as organizações hierárquicas, como exércitos e igrejas, em termos de mecanismos de identificação e introjeção autoritários que podem se impor sobre grande número de pessoas, sem exceção dos grupos cuja essência é o anti-autoritarismo, como são, antes de mais nada, os partidos políticos. Embora aparentemente distante agora, esse perigo é a contrapartida dos procedimentos com os quais uma liderança procura se autoperpetuar. A observação geralmente feita de que, hoje, a democracia fomenta os movimentos e forças anti-democráticas é um dos mais claros sinais de manifestação desse perigo.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Os Sovietes ou o Parlamento

Nikolai Bukharin*
1919

"A experiência revela que onde quer que seja que a burguesia goze de direitos políticos, ela usa esses direitos para enganar os trabalhadores e os camponeses. Porque tem a imprensa, ambos, os jornais diários e os periódicos, em suas mãos: porque tem uma grande riqueza a sua disposição, a burguesia é capaz de corromper funcionários públicos, para empregar em seu benefício os serviços de centenas de milhares de agentes; é sempre capaz de ameaçar e intimidar seus escravos para sua própria vantagem, e, de fato, organiza as coisas de tal forma que nenhuma parte do poder lhe escape às garras."

A diferença fundamental entre o sistema parlamentar e o Poder Soviético já é conhecida. Sabe-se que os Sovietes não concedem direitos políticos às classes não-produtoras. O país é governado pelos conselhos eleitos pela população trabalhadora em seus locais de trabalho, nas oficinas, nas minas, e nas aldeias. Os capitalistas, os proprietários de terras, intelectuais de classe média, banqueiros, corretores, e especuladores, comerciantes e lojistas, padres e monges, em resumo, todos aqueles que formam o exército negro do capitalismo, são privados do direito do voto e ficam sem poder político.

A Assembleia Constituinte (ou Parlamento, dos quais os membros são eleitos para representar circunscrições territoriais) é a base da República Parlamentar. A maior soberania da república comunista pertence ao Congresso dos Sovietes.

Em que um difere do outro?

No fato de que para a Assembleia Constituinte, não são apenas os representantes eleitos dos trabalhadores e camponeses, mas também os representantes dos proprietários, banqueiros, e capitalistas, os representantes de toda a classe capitalista e seus parasitas.

Nicolai Bukharin
A Ditadura Capitalista
A experiência revela que onde quer que seja que a burguesia goze de direitos políticos, ela usa esses direitos para enganar os trabalhadores e os camponeses. Porque tem a imprensa, ambos, os jornais diários e os periódicos, em suas mãos: porque tem uma grande riqueza a sua disposição, a burguesia é capaz de corromper funcionários públicos, para empregar em seu benefício os serviços de centenas de milhares de agentes; é sempre capaz de ameaçar e intimidar seus escravos para sua própria vantagem, e, de fato, organiza as coisas de tal forma que nenhuma parte do poder lhe escape às garras.

Todas as pessoas, aparentemente, participam das eleições, mas, sob esse pretexto, se esconde o domínio do capitalismo, que se manifesta no direito de voto e em todos os privilégios “democráticos” concedidos ao povo, mas que cuida bem de preservar os seus próprios privilégios. Portanto, nos países burgueses republicanos, sob a máscara do sufrágio universal, o poder se encontra inteiramente nas mãos das grandes forças do capitalismo.

Sob o sistema parlamentarista cada cidadão deposita seu voto nas urnas a cada quatro ou cinco anos, e o campo é então limpo para que os membros do Parlamento, Ministros de Gabinete, e Presidentes, administrem tudo sem a interferência das massas trabalhadoras. Enganados e explorados por seus funcionários, os trabalhadores não tem parte alguma na administração do estado capitalista.

O Sistema Soviético
Na República Soviética, nascida da ditadura dos trabalhadores, a administração repousa sob bases inteiramente novas. Não se trata de uma organização de funcionários independentes das massas e dependentes dos capitalistas. O governo central está estabelecido nas grandes organizações de classe dos trabalhadores e camponeses: as uniões industriais, os comitês de fábrica, conselhos locais de trabalhadores e camponeses, e organizações de soldados e marinheiros. A partir do centro estendem-se milhares e milhões de fios condutores que conduzem aos Sovietes provinciais, aos Sovietes municipais, aos Sovietes locais e, finalmente, aos Sovietes de fábrica e oficinas.

Veja, por exemplo, o Soviete Econômico Central (ou Conselho). É composto por representantes de comissões industriais, comitês de fábrica e instituições similares. Por um lado, os sindicatos industriais abraçam toda a atividade industrial, possuem ramificações em várias cidades e são mantidos pelas massas dos trabalhadores organizados. Por outro lado, existem hoje em todas as fábricas um comitê eleito pelos trabalhadores. Os comitês de fábrica se agrupam e enviam seus representantes ao Soviete Econômico Central, que elabora planos para mudanças econômicas e administração da produção. Da mesma forma, o organismo central da administração é composto de representantes trabalhadores, e repousa sobre as organizações de massa da classe trabalhadora.

Iniciativa Popular
Portanto, temos uma instituição bem diferente da república capitalista. Não apenas porque os não-produtores são privados do direito do voto; não apenas porque o país é administrado por trabalhadores e camponeses, mas acima de tudo porque o Governo Soviético está em constante relação com as massas organizadas, e assim, a todo momento, a maior parte da população se une à administração do Estado. Todo trabalhador organizado exerce uma influência, não apenas porque, uma ou duas vezes ao mês, ele elege homens em quem põe a sua confiança para representa-lo, mas porque as uniões industriais podem elas mesmas elaborar os seus próprios planos de organização. Tais planos são examinados pelos Sovietes responsáveis, pelo Soviete Econômico, e, se aprovado, ele se torna lei assim que o Comitê Executivo Central dos Sovietes os ratifica. Uma união industrial, ou um comitê de fábrica pode assim tomar parte no trabalho comum de construir novas formas de vida.

A Nova Situação dos Trabalhadores
Na república capitalista, a posição do Estado melhora à medida em que as atividades das massas são restringidas, pois os interesses das massas estão em conflito com os do Estado capitalista. A República Soviética, que corporifica a ditadura das massas populares, não poderia subsistir por um único instante sem o seu apoio. Ao contrário, sua força cresce à medida que as massas se tornam cada vez mais conscientes, e quanto mais ativos se tornam em todas as direções: na fábrica e na oficina, e em cada cidade e aldeia.

Antes da Revolução de Outubro, as organizações de trabalhadores e camponeses eram simplesmente os instrumentos da guerra de classes contra o domínio e possessão dos capitalistas. As organizações lutaram contra o capital por maiores salários e jornadas de trabalho mais curtas, e nas aldeias lutaram pela expropriação das terras. Agora que o poder está nas mãos dos trabalhadores e camponeses, se tornaram as engrenagens do mecanismo governamental. As uniões industriais não estão simplesmente lutando contra o capitalismo. Como parte orgânica e integrante do Governo Soviético dos Trabalhadores, eles se unem na organização da produção e da atividade econômica. Da mesma forma, os camponeses e os Sovietes, não apenas guerreiam contra os usurários da aldeia, os capitalistas e os proprietários do solo, mas como órgãos do governo, como rodas do mecanismo deste gigante, o Estado dos trabalhadores e camponeses, eles trabalham para elaborar novas leis agrárias.

A Vitória dos Trabalhadores
Portanto, pouco a pouco, através das organizações de trabalhadores e camponeses, as mais extensas seções da população ativa são convocadas a participar dos assuntos do Estado. Nenhum outro país oferece nada que se compare a isso, porque nenhum outro país conheceu a vitória da classe trabalhadora, a ditadura do proletariado, a República dos Sovietes.

Muito já foi escrito sobre a ditadura do proletariado, mas ninguém sabia exatamente de que forma ela seria realizada. A Revolução Russa nos mostrou a forma precisa dessa ditadura. É a República dos Sovietes. É por isso que o brasão dos Sovietes está inscrito nas bandeiras das melhores fileiras do proletariado internacional.

* Um dos principais líderes da Revolução Socialista de 1917 na Rússia.

Não a Todas as Drogas!

Em uma chamada sobre o Dia Mundial Contra as Drogas, o Escritório de Imprensa do KKE* destaca:


O Dia Mundial Contra as Drogas nos coloca diante de um problema grave para os trabalhadores e a juventude: a política perigosa do governo SYRIZA que, com o consenso de outros partidos (ND, KINAL, etc.), impulsiona legislativa e ideologicamente a legalização das drogas e a discriminalização do uso.

Política esta que:

- Desconsidera a maconha como droga, aumentando constantemente seu uso. A idade do primeiro contato com a cânabis está diminuindo paulatinamente, especialmente entre os jovens em idade escolar, ocasionando o aumento da dependência. Atualmente o Indicador de Aplicação de Tratamento com a substância principal da dependência da cânabis em nosso país atingiu o índice de 46%, frente aos 25% de 5 anos atrás.

- Continua reforçando os substitutos de heroína (metadona, buprenorfina) como principal modelo de tratamento, que já são utilizados em vários países da UE como as principais substância de dependência pelas quais os usuários procuram tratamento e em 5 países da UE as mortes por substitutos já superam as mortes causadas pelo consumo de heroína. Os “badalados” programas de substituição, que, supostamente, resolveriam o problema, certamente não funicionaram, e, depois de seu fracasso, se anunciam como solução os Centros de Uso Supervisionado.
Por uma vida completa, não em doses. Não para todas as drogas!  Cartaz da Juventude Comunista da Grécia
- Gradualmente promove o compromisso com as drogas e através dos Centros de Uso Supervisionado que marginaliza o usuário, reduz a motivação para o tratamento, fomenta o uso e fortalece a tolerância social para a difusão das drogas. O próximo passo do governo é um "programa de naloxona com base no lar", que consiste em educar o usuário e sua família para o consumo no lar com doses especiais dessa substância que sera proporcionada pelo Estado.

Contra essa política, que pretende deixar os jovens à margem da vida e da ação social, o KKE luta:

- Para que o ser humano seja o protagonista da vida social, em plena consciência.

- Para poder batalhar e criar de acordo com suas próprias necessidades e não escapar da realidade pelo mundo falso das drogas.

O KKE exige a criação de um Organismo Único de Tratamento e Reinserção Social, público e gratuito, apoio para os programas de tratamento "seco" (sem uso de substitutos) e os Centros de Prevenção, e advoga por uma política antidrogas que tenha um papel de vanguarda na redução da demanda, onde é fator fundamental a Prevenção Primária.

O KKE convoca o povo e a juventude para que lutem contra a legalização das drogas, a descriminalização da cânabis e a legalização do uso através dos Centros de Uso Supervisionado . A atitude do KKE contra todas as drogas é um critério de votação para o povo e a juventude antes das próximas eleições nacionais.

Para o KKE, a luta contra todas as drogas é um assunto de suma importância, e nesse contexto continuaremos afirmando iniciativas dentro dos movimentos de trabalhadores, de massas e estudantis".

27.06.2019

* Partido Comunista da Grécia


Tradução do Espanhol ao Português
André Nunes

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Burguesia, Pequena Burguesia e Proletariado*

Leon Trotsky

      Na época de ascensão e florescimento do capitalismo, a pequena burguesia, apesar de fortes acessos de descontentamento, quase sempre caminhou obediente na esteira do capitalismo. E não lhe restava outra coisa a fazer. Mas, nas condições de decomposição capitalista e da situação econômica sem saída, a pequena burguesia tenta, procura, experimenta livrar-se dos grilhões dos velhos senhores e dirigentes da sociedade. Ela é perfeitamente capaz de prender seu destino ao do proletariado. Para isso, basta uma coisa: a pequena burguesia ter confiança na capacidade de o proletariado dar à sociedade um novo rumo. O proletariado só pode inspirar-lhe essa confiança por sua própria força, pela segurança de suas ações, pela destreza de sua ofensiva contra o inimigo, pelo êxito de sua política revolucionária.
Trotsky, comandante do Exército Vermelho, passa as tropas em revista.

     Mas ai do partido revolucionário que não se mostra à altura da situação! A luta cotidiana agrava a instabilidade da sociedade burguesa. As pertubações políticas e as greves pioram a situação econômica do país. A pequena burguesia estaria disposta a conformar-se passageiramente com as crescentes privações, se chegasse, pela experiência, à convicção de que o proletariado é capaz de guiá-la por uma nova senda. Mas continue o partido revolucionário a mostrar-se, sempre, apesar da intensificação ininterrupta da luta de classes, incapaz de reunir em torno de si a classe operária, vacile, desoriente-se, contradiga-se: então a pequena burguesia perde a paciência e principia a ver nos trabalhadores revolucionários os fatores de sua própria miséria. Todos os partidos burgueses, inclusive também a social-democracia, impelem seus pensamentos nesta direção. E é quando a crise começa a adquirir uma intensidade insuportável que entra em cena um partido especial, cujo objetivo é trazer a pequena burguesia a um ponto candente e a dirigir seu ódio e seu desespero contra o proletariado. Esta função histórica desempenha hoje na Alemanha o nacional-socialismo, uma ampla corrente, cuja ideologia se compõe de todas as exalações pútridas da sociedade burguesa em decomposição. 
     A principal responsabilidade política pelo crescimento do fascismo cabe naturalmente à social-democracia. Desde a guera imperialista que o trabalho desse partido consiste em expulsar da consciência do proletariado a ideia de uma política autônoma, inspirando-lhe a crença na eternidade do capitalismo e obrigando-o a ajoelhar-se diante da burguesia decadente. A pequena burguesia só pode seguir o operário, se vê neste o novo senhor. A social-democracia ensina o trabalhador a ser lacaio. A um lacaio, a pequena burguesia não seguirá. A política do reformismo tira ao proletariado a possibilidade de guiar as massas plebeias da pequena burguesia, e já por isso as transforma em carne de canhão do fascismo. 


*O artigo completo encontra-se em: Revolução e Contra-revolução, Ed. Lammert, 1968.


quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Proletariado e Pequena Burguesia

                                                                                                Francisco Martins Rodrigues
                                                                                                                 Em Anti-Dimitrov                                                                                                                                   

                                                                                        

   O povo revolucionário, operário-pequeno-burguês, unido na luta pela democracia e pela salvação da nação — é esta a argamassa ideológica com que Dimitrov construiu a sua política de frente popular antifascista. Argamassa estranha ao princípio marxista da luta de classe proletariado-burguesia.

— Mas como? — dirão aqueles que se agarram à aparência das palavras para fugir ao encadeamento dos raciocínios. — Não disse Dimitrov com toda a clareza que “só a atividade revolucionária da classe operária ajudará a utilizar os conflitos que surgem inevitavelmente no campo da burguesia para minar a ditadura fascista e a derrubar”? Não insistiu ele incansavelmente na necessidade de agrupar o proletariado num “exército combativo único lutando contra a ofensiva do Capital e do fascismo”?

Sem dúvida. Mas aquilo que deu com uma mão, tirou com a outra. Uma atividade realmente revolucionária do proletariado contra o fascismo tinha como único suporte a crítica às outras classes antifascistas, a demarcação face a elas, a independência política — justamente aquilo que Dimitrov lhe retirou. O que Dimitrov chamava de “atividade revolucionária da classe operária”, e desde então passou a ser entendido pelos partidos comunistas como tal, é a ocupação das primeiras linhas da luta comum antifascista, é o papel de servente e força de choque do movimento geral (isto é: burguês) antifascista.

Cabe ao proletariado desempenhar o principal papel na luta do povo” — esta fórmula “avançada” que, desde há meio século, centristas e revisionistas repetem à boca cheia como prova do seu leninismo, é talvez a sua maior falsificação do leninismo, na medida em que, sob uma aparência radical, ilude a questão da hegemonia. Hegemonia do proletariado, a palavra incômoda que Dimitrov se “esqueceu” de usar, uma só vez que fosse, no seu relatório.*

Lenine não se cansara de denunciar como os mencheviques, sob frases sonoras acerca da “acão revolucionária do proletariado”, negavam a este o papel de condutor do processo revolucionário e lhe reservavam um papel vistoso mas subalterno de motor ao serviço da burguesia liberal, uma vez que o punham a lutar “na vanguarda” das reivindicações políticas dessa burguesia.

Preparar a revolução, dissera Lenine, é em última análise levar o proletariado a diferenciar-se como classe face a todos os partidos burgueses. A independência política do proletariado não depende apenas da existência de um partido operário. Ela depende da capacidade de o seu partido “lhe revelar, pela teoria e pela prática, todas as facetas da burguesia e da pequena burguesia.

Era justamente essa revelação das “facetas da burguesia e da pequena burguesia” que Dimitrov suprimia quando calava o papel contra-revolucionário por elas desempenhado no ascenso do fascismo, quando inventava um alinhamento revolucionário da social-democracia e dos partidos pequeno-burgueses para justificar um bloco com essas forças, quando recuperava os valores da Democracia e da Nação. A pretexto de melhor isolar o fascismo, comprometia de fato toda a possibilidade de diferenciação do proletariado como classe e retirava toda a capacidade revolucionária à política de frente popular. Não são as frases sobre a “atividade revolucionária da classe operária” que podem anular este fato.

Somos um partido da classe”, “um partido revolucionário”, mas estamos prontos às ações comuns com as outras classes e os outros partidos; temos um objectivo final revolucionário, mas estamos prontos a lutar em comum pelas tarefas imediatas; temos métodos revolucionários de luta, mas estamos dispostos a apoiar os métodos de luta dos outros partidos(32).

Com esta formulação, tipicamente centrista, do discurso de encerramento do congresso, Dimitrov tentou fazer crer que o proletariado podia pôr-se ao serviço das reivindicações da pequena burguesia sem renunciar à defesa dos seus próprios interesses revolucionários, adotar os métodos reformistas de ação das outras classes sem desistir dos seus próprios métodos revolucionários de luta, apoiar a liberalização do regime burguês sem abandonar a luta pela revolução.

Isto era uma falsificação completa do leninismo. Lenine considerava necessários todos os compromissos e manobras tácticas, lutas por reformas, etc., apenas desde que favorecessem em cada momento a elevação da consciência revolucionária do proletariado, a sua preparação para o combate decisivo. Lenine não tinha dúvida sobre “a necessidade, a necessidade absoluta de a vanguarda do proletariado, de a sua parte consciente, do partido comunista, manobrar, fazer acordos e compromissos com os diversos grupos de proletários, os diversos partidos de operários e pequenos empresários”. Mas, acentuava, “a questão está em saber aplicar esta táctica de modo a elevar e não baixar o nível da consciência geral do proletariado, o seu espírito revolucionário, a sua capacidade de lutar e de vencer”.

O que Dimitrov fez foi quebrar a unidade leninista entre táctica e estratégia. A um lado ficou, empalhada, a fidelidade aos princípios, a outro lado, a política do possível em tempos de fascismo. Somos revolucionários, mas enquanto não há condições para a revolução, vamos sendo reformistas...

A vida iria comprovar o fracasso desta política. Ao rebaixar a intervenção política do proletariado ao nível aceitável para a pequena burguesia, no âmbito da frente popular, os partidos comunistas aprisionaram o movimento operário, e com ele todo o movimento popular, nos limites do democratismo burguês, castraram-no, impediram-no de se voltar a levantar. Quando a política de frente popular foi levada às suas últimas consequências, descobriu-se que o proletariado perdera pelo caminho o seu bem mais precioso, a consciência dos seus interesses próprios, a independência política.

E assim, a política de Dimitrov não só bloqueou a passagem à luta revolucionária, que prometera para depois da queda do fascismo, como inclusive comprometeu por toda a parte esse próprio movimento antifascista que tanto ansiava por reforçar.

 Fonte: https://www.marxists.org/portugues/rodrigues/1985/anti-dimitrov/01.htm

* Grifos do editor: Página 1917.




Caro leitor, ajude a divulgar o Página 1917, compartilhe nossas publicações nas suas redes sociais.