Índice de Seções

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Amnésia Seletiva

A Doença Senil do Reformismo

Ney Nunes

     Nos últimos meses observamos um fenômeno inusitado, trata-se de uma amnésia seletiva que vem contaminando setores da chamada “esquerda”. Diferentemente da “justiça seletiva”, que é uma prática da institucionalidade burguesa para alijar adversários políticos e jogá-los na cadeia sem culpa formada, conforme sucedido com o ex-presidente Lula, essa amnésia seletiva constitui-se numa operação de propaganda, visando encobrir na história recente, tudo aquilo que exponha contradições de determinada vertente político-ideológica.

    Segundo definição médica, amnésia seletiva é a incapacidade de lembrar certos fatos que aconteceram num determinado período de tempo, podendo estar relacionada ao estresse prolongado ou ser consequência de um evento traumático.  Na política isso se chama oportunismo. É justamente com essa “incapacidade de lembrar” que nos deparamos em alguns artigos e pronunciamentos recentes sobre os governos Lula e Dilma. Os autores, com seus esquecimentos seletivos, dão a entender que nesse período estávamos vivendo num quase paraíso, onde liberdade, justiça social e prosperidade imperavam.


Repressão contra a greve dos profissionais do ensino, setembro 2013, RJ.
   

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Carta de Despedida de Che a Fidel

A Fidel Castro

Fidel


Neste momento lembro-me de muitas coisas - de quando o conheci no México, na casa de María Antonia, quando me propôs juntar-me a você; de todas as tensões causadas pelos preparativos.

Um dia vieram me perguntar quem devia ser notificado em caso de morte, e a possibilidade real desse fato causou um impacto. Mais tarde, soubemos que era verdade, que numa revolução se vence ou se morre (se ela for autêntica).

Atualmente, tudo tem um tom menos dramático, porque somos mais maduros. Mas o fato se repete. Sinto que cumpri com a parte do meu dever que me prendia à revolução cubana em seu território e me despeço de você, dos camaradas, do seu povo, que agora é meu.
Guevara e Fidel
Renuncio formalmente a meus cargos no Partido, a meu posto de ministro, à minha patente de comandante e à minha cidadania cubana. Legalmente nada me vincula a Cuba, só laços de outra ordem que não se podem quebrar com nomeações.

Recordando minha vida passada, acho que trabalhei com suficiente integridade e dedicação para consolidar o triunfo revolucionário. Minha única deficiência grave foi não ter tido mais confiança em você desde os primeiros momentos na Sierra Maestra e não ter percebido com devida rapidez suas qualidades de líder revolucionário.

Vivi dias magníficos e, ao seu lado, senti o orgulho de pertencer ao nosso povo nos dias brilhantes, embora tristes, da crise caribenha (dos mísseis). Raramente um estadista foi mais brilhante do que você naqueles dias, orgulho-me também de te ter seguido sem vacilar, identificado com a tua maneira de pensar e de ver e apreciar os perigos e os princípios.

Outras serras do mundo requerem meus modestos esforços. Eu posso fazer aquilo que lhe é vedado devido à sua responsabilidade à frente de Cuba, e chegou a hora de nos separarmos.

Quero que se saiba que o faço com uma mescla de alegria e pena. Deixo aqui minhas mais puras esperanças de construtor e os meus entes mais queridos. E deixo um povo que me recebeu como filho. Isso fere uma parte do meu espírito. Carrego para novas frentes de batalha a fé que você me ensinou, o espírito revolucionário do meu povo, a sensação de estar cumprindo com o mais sagrado dos deveres: lutar contra o imperialismo onde quer que seja. Isso me consola e mais do que cura as feridas mais profundas.

Declaro uma vez mais que eximo Cuba de qualquer responsabilidade, a não ser aquela que provém do seu exemplo. Se minha hora final me encontrar debaixo de outros céus, meu último pensamento será para o povo e especialmente para ti, que te digo obrigado pelos teus ensinamentos e pelo teu exemplo, ao que tentarei ser fial até ás últimas consequências dos meus actos; que estive sempre identificado com a politica externa da nossa revolução, e continuo a estar; que onde quer que me detenha sentirei a responsabilidade de ser revolucionário cubano, e como tal actuarei. Não lamento por nada deixar nada material para minha mulher e meus filhos. Estou feliz que seja assim. Nada peço para eles, pois o Estado os proverá com o suficiente para viver e para ter instrução.

Teria muitas coisas que dizer a ti e ao nosso povo, mas sinto que não são necessárias as palavras e não podem expressar o que eu desejaria; não vale a pena deitar mais borrões no papel.

Até a Vitória Sempre! Pátria ou morte!

Abraço-te com todo o meu fervor revolucionário.

Ernesto 'Che' Guevara
1965

Os Dez Dias que Abalaram o Mundo


John Reed (1887-1920)
   Os mencheviques e os social-revolucionários acreditavam que a Rússia não estava amadurecida economicamente para a revolução social, que só era possível uma revolução política. Segundo eles, as massas russas não estavam educadas suficientemente para tomar o poder nas suas mãos; qualquer tentativa nesta via não faria senão provocar uma reação, através da qual um oportunista sem escrúpulos poderia restaurar o antigo regime. Por conseguinte, quando os socialistas "moderados" foram forçados a assumir o poder, não ousariam fazê-lo.

   Acreditavam que a Rússia deveria passar as mesmas fases de desenvolvimento que a Europa ocidental, atingindo finalmente e ao mesmo tempo com o resto do mundo, o paraíso socialista. Assim, naturalmente concordavam com as classes possuidoras que a Rússia devia tornar-se primeiro um Estado parlamentar, ainda que, um pouco mais aperfeiçoado em relação às democracias ocidentais. Em consequência, insistiam na participação das classes possuidoras no Governo. Daí a sustentá-las ia apenas um passo. Os socialistas "moderados" precisavam da burguesia, mas a burguesia não precisava dos socialistas "moderados". Assim, os ministros socialistas foram obrigados a ceder, pouco a pouco, todo o seu programa, enquanto as classes possuidoras tornavam-se cada vez mais exigentes.

Caro leitor, ajude a divulgar o Página 1917, compartilhe nossas publicações nas suas redes sociais.