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segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Aspectos da Luta Política e Ideológica nas Fileiras do Movimento Comunista Internacional*

*Artigo da Seção de Relações Internacionais do CC do Partido Comunista da Grécia (KKE) sobre a recente teleconferência internacional dos Partidos Comunistas

 



O reflexo do debate político-ideológico no 

Movimento Comunista Internacional

 

É claro que questões político-ideológicas importantes continuam a atormentar o movimento comunista internacional. Cabe dizer que dos encontros internacionais participam partidos como o Partido Comunista Francês e o Partido Comunista Espanhol, que tiveram um papel de liderança na corrente oportunista do chamado "Eurocomunismo", assim como outros partidos que participam do “pilar” do centro oportunista europeu atual, o chamado “European Left” (Partido da Esquerda Europeia) e o GUE/NGL, o grupo europeu de "esquerdas" no Parlamento Europeu, que, como temos avaliado, chegou a funcionar como um tipo de representação do European Left  no Parlamento Europeu. Inclusive participam partidos que rejeitaram o marxismo-leninismo, a foice e o martelo, e a construção do socialismo na URSS.

 

O debate sobre a questão da participação nos governos burgueses

 

A questão da participação ou apoio dos partidos comunistas em governos “de esquerda”, “progressistas” que surgem no âmbito da gestão do capitalismo continua sendo um ponto-chave na polêmica política-ideológica. Em primeiro lugar, porque os partidos que têm essa posição política com construções ideológicas diversas como a "humanização" do capitalismo, a "democratização" da UE ou as "etapas rumo ao socialismo", a chamada "ruptura com a política da direita” alimentam ilusões sobre a gestão do sistema. Eles estão lavando o papel sujo da socialdemocracia e focando suas críticas em uma forma de gestão burguesa, o neoliberalismo. Tais forças ignoram e subestimam as leis que regem a economia capitalista e o caráter concreto e irreversivelmente reacionário do Estado burguês que não é anulado por nenhuma forma de gestão burguesa. Essas forças remetem a luta pelo socialismo para uma “perspectiva de longo prazo” e na prática assumem grandes responsabilidades perante os povos, pois se recusam a realizar o trabalho árduo diário de agrupar forças sociais que se chocam com os monopólios e o capitalismo.

 

Portanto, vemos que eles se concentram em soluções de gestão governamental, votando a favor até de gastos militares destinados às necessidades da OTAN, as missões imperialistas por exemplo na zona do Sahel, ou substituindo a demanda pela retirada do país da OTAN pela demanda por sua "dissolução" indefinida e abstrata. O resultado de tal política pode ser visto na Espanha, onde o Partido Comunista da Espanha participa de um governo que está gerenciando a pandemia de maneira bárbara e antipopular, está tomando novas medidas antioperárias com base nas orientações da UE, ao mesmo tempo em que atinge o ponto de tomar medidas para prejudicar Cuba e, claro, participar dos planos da OTAN

 

A confusão em torno do conceito de imperialismo

 

Basicamente são as mesmas forças que tratam o imperialismo não com critérios leninistas, ou seja, como capitalismo em sua fase de monopólio, mas meramente como uma política externa agressiva. Assim, eles ignoram que em nosso tempo os monopólios, os estados capitalistas e suas alianças estão em conflito por matérias-primas, energia, recursos minerais, rotas de transporte, fatias de mercado. Ainda mais porque alguns partidos rejeitam o fato de que o antagonismo entre os monopólios seja a base para o acirramento das contradições em escala internacional.

 

Nessa questão, esses partidos se concentram na política externa agressiva dos EUA, da OTAN e de outras potências fortes, interpretando unilateralmente a “agressão imperialista” e propondo o chamado “mundo multipolar” como solução. No entanto, a posição que limita o imperialismo apenas aos EUA, bem como a posição de que a coexistência de muitos “polos” internacionais onde um polo controlará o outro, resultando em um “mundo pacífico”, é completamente desorientadora para os povos. Está escondendo a realidade. Está fomentando ilusões de que pode haver um imperialismo "não agressivo", um suposto capitalismo “amante da paz".

 

O KKE e os demais partidos criticaram visões similares que foram apresentadas no século passado, tanto por forças oportunistas na Europa, quanto pelo PCUS, especialmente após sua virada oportunista em seu XX Congresso, quando prevaleceu a linha da “competição pacífica” dos dois sistemas sociopolíticos

 

A cooperação “antifascista” com as forças burguesas

 

Alguns partidos ficam confusos pelo fato de o sistema capitalista em vários casos usar o cão de guarda do sistema, ou seja, várias forças fascistas e usá-las para promover vários planos das classes burguesas, como aconteceu na Ucrânia. Mesmo algumas forças que reconhecem que o fascismo "nasce e se cria" no capitalismo tendem a separar essa questão da luta contra o capitalismo; levam à percepção de cooperação “antifascista” com certas forças burguesas ou mesmo ao seu apoio.

 

Hoje, no que diz respeito aos eventos internacionais, destaca-se a extrema importância da avaliação do KKE como resultado do estudo da História da Segunda Guerra Mundial. Que esta guerra foi imperialista e injusta tanto para as potências capitalistas fascistas quanto para os países capitalistas "democráticos", que também cometeram grandes crimes contra a humanidade, como o bombardeio nuclear de Hiroshima e Nagasaki. Que esta guerra foi justa apenas para a URSS e os movimentos de guerrilha e libertação popular nos países ocupados, onde os comunistas desempenharam um papel fundamental.

 

Essa posição está diretamente relacionada ao presente, à manifestação das contradições interimperialistas na Ucrânia, quando os EUA, a OTAN e a UE usam as forças fascistas na Ucrânia para seus planos geopolíticos e, por outro lado, a Rússia capitalista promove os interesses de seus próprios monopólios. É óbvio que os EUA, as alianças imperialistas da OTAN e da UE, bem como as classes burguesas que as constituíram, têm grandes responsabilidades em relação a esses acontecimentos. Ao mesmo tempo, a burguesia russa também tem enormes responsabilidades pela situação atual. Todos que atualmente pertencem a essa buruesia, tiveram um papel de liderança na dissolução da URSS. O 30º aniversário da sua dissolução foi recentemente celebrado. Então, Yeltsin e as forças sociais e políticas que o seguiram se preocupavam em derrubar a URSS, eles não estavam interessados, por exemplo, no que iria acontecer com a Crimeia, quantos milhões de russos e falantes de russo viviam fora das fronteiras da Rússia, o que iria acontecer com eles. Portanto, é uma provocação ver os políticos que então apoiaram Yeltsin para derrubar a URSS, a denunciar constantemente Lenin pela dissolução da URSS e convocar para uma "luta antifascista" na Ucrânia.

 

domingo, 30 de janeiro de 2022

A Batalha de Moscou

A Batalha de Moscou foi uma campanha militar na Frente Oriental durante a Segunda Guerra Mundial. Se desenvolveu entre Outubro de 1941 e Janeiro de 1942. O Exército Vermelho da União Soviética barrou o ataque a Moscou, capital União Soviética. Ali estava um dos principais objetivos militares e de propaganda das forças do Eixo lideradas pela Alemanha nazista, que juntamente com a derrota em Stalingrado, foi o marco inicial da derrocada do nazifascismo na Segunda Guerra.



sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Lenin (22/04/1870 - 21/01/1924)

"A burguesia liberal, dando reformas com uma das mãos, retira-as sempre com a outra, as reduz a nada, utiliza-as para subjugar os operários, para os dividir em diversos grupos, para perpetuar a escravidão assalariada dos trabalhadores. Por isso o reformismo, mesmo quando é inteiramente sincero, transforma-se de fato num instrumento de corrupção burguesa e enfraquecimento dos operários."

Lenin






Lenin, coletânea de imagens.

Vladimir Ilyich Ulianov, Lenin ou Lenine (Simbirsk, 22 de abril de 1870 – Gorki, 21 de janeiro de 1924). ...

 

sábado, 15 de janeiro de 2022

A raiz das Grandes Mobilizações Está nos Enormes Problemas do Povo Provocados pela Restauração Capitalista

Entrevista sobre eventos no Cazaquistão com Eliseos Vagenas, membro do Comitê Central do Partido Comunista da Grécia (KKE) e diretor da Secretaria de Relações Internacionais do KKE.

 

Eliseos Vagenas, dirigente do KKE.

As recentes mobilizações massivas no Cazaquistão provocaram confrontos violentos e a intervenção das forças militares para reprimi-los. O presidente do país, Tokayev, falou de uma intervenção estrangeira de 20 mil homens armados, seguida da intervenção militar dos países da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC). A questão que se coloca é se essas mobilizações têm origem em eventos internos, ou se trata realmente de uma intervenção estrangeira, como aconteceu no caso da Ucrânia há alguns anos?

A raiz das grandes mobilizações populares que ocorreram no Cazaquistão está nos enormes problemas sociais e econômicos que a restauração do capitalismo causou ao povo deste país.

Milhões de pessoas vivem de salários e pensões de fome, milhões estão desempregados, forçados a se mudar dentro do país ou para a Rússia para ganhar a vida. Milhões de jovens, em uma sociedade onde a média de idade é baixa, se desesperam ao ver que seu futuro é sombrio.

Ao mesmo tempo, por outro lado, a opulência dos capitalistas é evidente, a riqueza energética é roubada por capitalistas locais e monopólios estrangeiros como a Chevron americana. Globalmente, os monopólios americanos, britânicos e europeus controlam 75% do setor mineiro da indústria, que é o mais importante deste país. A riqueza energética também vai para a UE, Rússia e China, que são os principais importadores da riqueza energética do país.

As enormes disparidades sociais levaram a ferozes lutas operárias. Como as autoridades reagiram? Há dez anos, na cidade de Zanahozen, as forças de segurança do regime assassinaram dezenas de trabalhadores em greve, ao que se seguiu uma intensificação da repressão, incluindo no processo a proibição do Partido Comunista do Cazaquistão, até hoje se recusam a legalizar o Movimento Socialista do Cazaquistão e foram proibidos mais de 600 sindicatos, aprovando novas leis sindicais para controlar completamente o movimento sindical, além disso,  se pois em marcha um esforço para apoiar as forças nacionalistas, incluindo a justificação de colaboradores nazistas locais, o chamado "Turkmen SS Legion", que atuou durante a Segunda Guerra Mundial.

As políticas econômicas e sociais impopulares são a causa das atuais mobilizações, nas quais o aumento do preço do GLP tem atuado como “a gota que transborda o vaso”. Este fato, no entanto, não contradiz em nada o fato de que um conflito interimperialista está em andamento na região e que esses eventos tentarão ser explorados pelos diferentes lados.

Vamos nos deter por um momento nas mobilizações populares. Elas não adotaram a mesma forma em todos os lugares. Em algumas áreas houve manifestações de greve massivas, em outras houve lutas de rua, em outras houve saques e vandalismo. Como isso se explica e, em última análise, quais são as reivindicações dessas mobilizações populares?

Nas regiões oeste e central do Cazaquistão, importantes lutas e greves ocorreram nos últimos dois anos. A iniciativa foi tomada pelos sindicatos informais de trabalhadores, os comitês de greve, os comitês de fábrica, pois, como disse, as autoridades aprovaram a lei sindical que proíbe a atividade e o funcionamento dos sindicatos que não sejam diretamente controlados pelo Estado e empregadores. Assim, especialmente na região do Cazaquistão Ocidental, havia uma experiência considerável de organização e luta. Foi a partir daí, centrado na cidade de Zanahozen, que começaram as novas mobilizações no início do ano, o fechamento de ruas, nesse processo prevaleceram as assembleias massivas de trabalhadores, que deram origem a mobilizações grevistas e manifestações de protesto. Nessas áreas, os próprios trabalhadores ficaram encarregados da segurança, com o apoio maciço de suas famílias. Nestes locais, a polícia e o exército inicialmente se recusaram a reprimir as mobilizações dos trabalhadores, enquanto as autoridades locais, em muitos casos, se renderam. Ali se manifestou a superioridade da luta dos trabalhadores organizados, que por meio das assembleias levou à promoção de reivindicações econômicas, que no processo avançaram para demandas políticas e se apresentaram por toda parte: exigiam-se maiores salários, redução da idade de aposentadoria, a redução dos preços da energia, a demissão de Nazarbayev e Tokayev, a livre formação de sindicatos e partidos políticos. Nas cidades do oeste do Cazaquistão, os grevistas formaram Conselhos e Comitês de Coordenação, que desempenharam um papel de liderança das mobilizações. Foi nessas áreas que se organizou a retirada das forças mobilizadas na noite de 8 de janeiro.

Em outros casos, onde o movimento não foi tão organizado, travaram-se ferozes batalhas de rua armadas, como no caso da antiga capital, Alma-Ata. Consideremos o seguinte: Hoje, trinta anos após a derrubada do socialismo, nas periferias das grandes cidades, como na antiga capital, vemos o surgimento de grandes favelas, semelhantes às da América Latina. Milhares de pessoas, aldeias inteiras, migraram para lá em busca de trabalho. Essas pessoas empobrecidas, que saíram às ruas indignadas com os altos preços e baixo padrão de vida, foram facilmente armadas pelas primeiras “ondas” de policiais e militares, que, após os primeiros confrontos, entregaram suas armas. Eles tomaram outras instalações da polícia e do exército e inclusive lojas de venda de armas e assim se armaram. Vários grupos provocadores também atuaram, saqueando, vandalizando prédios, etc. e estes fatos foram explorados pelo regime e grandes unidades militares foram mobilizadas para reprimir os movimentos trabalhistas e populares.

O fato de terem sido encontrados dois corpos de policiais e dois militares decapitados é apresentado pelo regime como prova de intervenção estrangeira. Não é certo?

Nas fileiras do chamado "Estado Islâmico", que atuava no Iraque e na Síria como parte dos planos imperialistas, também havia algumas dezenas de cazaques. Ninguém descarta seu retorno ao Cazaquistão após a intervenção militar russa na Síria e a derrota do "Estado Islâmico" naquele país. Tampouco se pode descartar a atividade desses grupos ou outros, que podem ser utilizados em diversos eventos e ter origens e planos distintos, como infiltração nos serviços de inteligência locais e organização de grupos de provocadores. No entanto, não foram essas forças que iniciaram essa mobilização popular, que se transformou em um levante de massas, enquanto a qualificação de "terroristas", "radicais" e "extremistas" que as autoridades cazaques jogam contra quem saiu as ruas contra a política que resulta no seu empobrecimento é, na verdade, um pretexto para desencadear a repressão.

Você mencionou como esses eventos foram usados. Vimos no passado as chamadas "revoluções coloridas", por exemplo na Ucrânia ou a chamada "primavera árabe". Existem semelhanças e quem pode aproveitar esses desenvolvimentos? 

Em primeiro lugar, tanto no caso da "revolução colorida" na Ucrânia, ou mais tarde na Bielorrússia, mas também em vários casos da chamada "primavera árabe", tivemos muitas evidências de intervenção estrangeira, financiamento, treinamento e preparação das forças políticas que assumiriam um papel destacado, aproveitando o agravamento dos problemas sociais e políticos. Isso não é evidente no caso do Cazaquistão e é claro que todos os principais "atores" estrangeiros (EUA, China, Rússia, UE) estão, de uma forma ou de outra, do lado do atual presidente, e o único desacordo é o aparecimento das forças militares da URSS. A situação e o desenrolar dos acontecimentos nada têm a ver com a Ucrânia, onde a burguesia estava dividida entre os EUA e a UE e a Rússia, por um lado, e onde havíamos visto claramente os diplomatas estrangeiros dirigindo manifestações pró-ocidentais, inclusive utilizando abertamente forças fascistas.

Está claro que no caso do Cazaquistão também os acontecimentos levaram a um rearranjo da burguesia e seus políticos. O presidente Tokayev e os empresários ao seu redor se afastaram, até certo ponto, do presidente anterior do país, N. Nazarbayev, que havia assumido o cargo de presidente vitalício do Conselho de Segurança. Políticos próximos a ele foram presos, incluindo Karim Massimov, ex-primeiro-ministro e chefe do Comitê de Segurança Nacional do país. Fica evidente que a “velha guarda” está sendo pressionada em uma "guerra" para redistribuir o poder econômico e político entre setores da burguesia cazaque.

Há também forças políticas, nacionalistas, islamistas, outras forças ligadas aos centros imperialistas do Ocidente, que claramente procuram manipular as forças populares que participaram das manifestações, mas não têm clareza política. Essas forças existem, não devemos ignorá-las, mas isso não apenas não diminui, mas também destaca a necessidade de o movimento popular organizado poder guardar suas mobilizações, como aconteceu nas áreas operárias no oeste do Cazaquistão.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Daniel Ortega Traiu a Revolução Sandinista

Miguel Urbano Rodrigues*

Nota do editor

Reproduzimos este artigo de Miguel Urbano Rodrigues publicado logo após a reeleição de Daniel Ortega para o terceiro mandato consecutivo como presidente da Nicarágua em 2016. Decorridos cinco anos, Ortega assume seu quarto mandato e as traições a Revolução Sandinista denunciadas no artigo de Miguel Urbano se aprofundaram.

A trajetória pessoal e política de Ortega, agora reeleito presidente da Nicarágua, é um caso de estudo. De dirigente da luta armada anti-somozista a possuidor de uma fortuna pessoal que supera a que o próprio Somoza extorquiu ao seu povo, de lutador pelo socialismo a patriarca de uma família de oligarcas, o sucesso de Ortega é o insucesso da libertação do seu povo.

Miguel Urbano Rodrigues


Daniel Ortega foi reeleito presidente da Nicarágua. É o terceiro mandato consecutivo.

O principal partido da oposição apelou ao boicote, mas a abstenção foi inferior à prevista pelas sondagens.

A vitória do candidato sandinista foi bem recebida pelo governo de Obama. As relações econômicas dos EUA com a Nicarágua são aliás consideradas corretas pelo Departamento de Estado.

Paradoxalmente, Ortega não abdicou do discurso de esquerda, cultivando uma imagem anti-imperialista que lhe permitiu nos últimos anos manter relações privilegiadas com Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e alguns partidos comunistas.

Mas a fachada progressista do regime é hoje incompatível com a realidade política, social e econômica do país.

Desde que perdeu as eleições presidenciais em 1990 Daniel Ortega imprimiu à FSLN uma orientação que deslocou gradualmente para a direita o partido revolucionário fundado por Carlos Fonseca Amador, que destruiu a ditadura de Somoza numa luta épica de anos. Fonseca, que foi o ideólogo da guerrilha, era um marxista criativo e talentoso. Conseguiu o que parecia impossível: unificou as três tendências da organização revolucionária, obtendo no combate ao somozismo o apoio da Igreja, dos sindicatos, dos trabalhadores e de intelectuais liberais.

A Revolução Sandinista vitoriosa em 1979


A vitória da FSLN, dirigida por Daniel Ortega e um punhado de comandantes com prestígio internacional, gerou uma grande esperança na América Latina. Transcorrida mais de uma década da morte do Che na Bolívia, os Sandinistas demonstraram que em circunstâncias excecionais a luta armada podia enfrentar e derrotar regimes apoiados pelo imperialismo.

Tive a oportunidade em 1983 de visitar a Nicarágua revolucionária e conhecer alguns dos comandantes sandinistas nesses dias em que a FSLN mobilizava a solidariedade das forças progressistas da América Latina e da Europa.

No exercício do poder, o governo da FSLN não demonstrou porem a mesma lucidez e firmeza da organização guerrilheira.

Alvo de uma ofensiva permanente do imperialismo americano, que financiou e armou os mercenários contra-revolucionários, a Frente Sandinista fracassou na tarefa de reconstruir a economia e perdeu gradualmente o apoio de amplos setores da população.

Cedendo a pressões de Washington, Ortega – contra a opinião de Fidel Castro - convocou eleições para a Presidência em 1990. A campanha eleitoral da oposição foi generosamente financiada pelos EUA. O desfecho foi a eleição da liberal Violeta Chamorro e ficou a assinalar o fim inesperado da Revolução Sandinista.

A CRISE DA FSLN

A Frente Sandinista mergulhou numa crise profunda logo após o seu afastamento do governo.

Daniel Ortega candidatou-se à Presidência nas eleições seguintes, tendo perdido novamente. Mas não foi uma surpresa a sua eleição em 2006. O desfecho era esperado.

Alguns dos comandantes mais destacados que haviam participado da guerra contra Somoza tinham rompido com Ortega por discordarem da guinada à direita que o ex-presidente imprimira ao partido. Entre outros, Ernesto Cardenal, Luis Carrion e Victor Tirado.

Ortega tinha optado por uma política de alianças incompatível com os princípios e a ideologia do sandinismo. Firmou nomeadamente um acordo com o ex-presidente Arnoldo Aleman, condenado a 20 anos de prisão por corrupção e branqueamento de capitais. Aleman fora, sublinhe-se, um somozista esforçado.

 

ROSARIO MURILLO, «A BRUXA»

 

Foi sobretudo a mulher, Rosario Murillo, que teve um papel decisivo na metamorfose do dirigente máximo da FSLN.

Professora, escritora, poeta, Rosario, que foi também guerrilheira, é uma católica fervorosa.

Amiga pessoal desde a juventude do arcebispo de Manágua, defendeu sempre a necessidade de boas relações com a Igreja. Teve o descaramento de propor o seu nome para o Premio Nobel da Paz.

Fez o marido esquecer que Don Miguel Obando y Bravo fora admirador de Anastasio Somoza e apoiara a contra-revolução.

Elevado a Cardeal, Obando cimentou uma íntima aliança com Daniel Ortega quando este voltou à Presidência em 2007.

Rosario, reeleita vice-presidente, concentra hoje nas suas mãos um enorme poder e acumulou em negócios ilícitos, uma fortuna colossal.

Ocorreu o inimaginável. A família Ortega-Murillo concentra hoje mais riqueza do que Somoza no auge da sua ditadura.

Quatro dos filhos de Daniel são multimilionários. Laureano negociou com a China o projeto de construção do Canal que ligará através da Nicarágua o Atlântico ao Pacifico, obra faraônica que ameaça arruinar o Canal do Panamá. Juan controla o audiovisual. Outros irmãos enriqueceram com a distribuição de petróleo barato recebido da Venezuela bolivariana. Um regabofe!

Rosario, conhecida pela alcunha de “Bruxa”, é a personalidade que domina a família e o governo.

DE HERÓIS A GRANDES EMPRESÁRIOS

A crise da FSLN principiou com a deserção de Sergio Ramirez, que foi vice-presidente da República no primeiro governo de Ortega.

Sergio, que estudou na Alemanha, era um socialdemocrata mascarado de revolucionário. Escritor de talento, passou em tempo mínimo de sandinista a inimigo da Revolução.

Seguiram-se outras rupturas com o passado, mais graves.

Humberto Ortega, irmão de Daniel, foi durante a luta armada o principal estrategista da guerrilha. Ministro da Defesa após a vitória, reformou o exército e aderiu à esdruxula doutrina do «centrismo». Recebeu inclusive a medalha do mérito militar dos EUA. A sua adesão ao capitalismo não surpreendeu. Enriqueceu no negócio das madeiras.

O ministro da Agricultura de Daniel, Jaime Weelock, é hoje um próspero empresário. Bayardo Arce, outro dos comandantes da insurreição, também enriqueceu rapidamente.

Daniel Ortega repete com frequência que a situação económica do país melhorou acentuadamente. Mas não diz que a Nicarágua recebeu durante os seus governos 4 800 milhões de dólares de organizações financeiras internacionais tuteladas pelos EUA.

Do FMI tem recebido elogios.

Daniel Ortega insiste em afirmar que pratica uma política de esquerda. Não se abstém de criticar o imperialismo nos seus discursos enquanto elogia Cuba e a Venezuela bolivariana. Mas Washington considera inofensiva essa oratória.

Poder-se-ia inferir deste artigo que encaro com pessimismo o futuro do povo Nicaraguense. Seria uma conclusão errada. A memória de Sandino, de Carlos Fonseca e da gesta heroica da insurreição guerrilheira que destruiu a ditadura de Somoza permanece viva no povo da Nicarágua. Um dia ele retomará a luta rumo ao socialismo interrompida pela traição de Daniel Ortega.

Estou consciente de que um governo do partido de extrema-direita seria pior do que o de Ortega-Murillo. Mas indigna-me a hipocrisia da mídia e dirigentes de esquerda que insistem em caracterizar o governo de Ortega como revolucionário.

Vila Nova de Gaia, Novembro de 2016

*Miguel Urbano Rodrigues: (Moura, 2 de agosto de 1925 – Vila Nova de Gaia, 27 de maio de 2017) foi um jornalista, escritor e político português. Foi redactor do Diário de Notícias entre 1949 e 1956, chefe de redacção do Diário Ilustrado (1956 e 1957), antes de se exilar no Brasil, onde foi editorialista principal de O Estado de S. Paulo (1957 a 1974) e editor internacional da revista brasileira Visão (1970 a 1974). Após a Revolução dos Cravos retornou a Portugal, foi chefe de redacção do Avante! em 1974 e 1975 e director de O Diário entre 1976 e 1985. Assistente de História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1974-75), presidente da Assembleia Municipal de Moura em 1977 e 1978, deputado pelo Partido Comunista Português entre 1990 e 1995 e deputado às Assembleias Parlamentares do Conselho da Europa e da União da Europa Ocidental, tendo sido membro da comissão política desta última.

Edição: Página 1917

Fonte: https: https://www.odiario.info/daniel-ortega-traiu-a-revolucao-sandinista/

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Os Preconceitos Contra o Marxismo

 Henri Lefebvre*

   É necessário remontar aos princípios do cristianismo ou ao tempo das guerras de religião — embora o marxismo nada tenha de comum com uma nova religião — para encontrar na história uma doutrina tão atacada, tão caluniada e tão perseguida como é hoje a de Karl Marx.


Henri Lefebvre


   Tem-se desenvolvido uma violenta luta “ideológica” em torno deste grande pensador. Esta luta “ideológica” não é mais que uma manifestação e um aspecto de lutas de classes e de lutas políticas muito vastas, à escala de todo o mundo moderno. As “paixões” (isto é, os interesses) econômicas e políticas explicam a violência desta luta e o seu caráter pérfido e brutal.

   É sabido que, nos seus primórdios, a “ciência da natureza” suscitou a inquietação e a hostilidade dos poderes estabelecidos. A condenação de Galileu, ao afirmar que a terra gira, continua viva em todas as memórias. Esta condenação não passou, aliás, de um episódio, o mais conhecido, de uma longa, tenaz e dramática luta dos sábios pela liberdade da razão e pelo conhecimento científico. Censurava-se lhes, naquele tempo, a “impiedade” da ciência, pelo único fato de não explicarem todas as coisas pela “vontade de Deus” e pela “Providência”. Também neste caso a luta ideológica servia de capa a uma luta política. Quem paralisava a ciência nascente da natureza? Quem se opunha aos seus progressos? Os poderes estabelecidos originários da Idade Média, os mesmos que viriam a ser vencidos na Grade Revolução de 1789-1793, pelos princípios da Razão e da Liberdade.

   No entanto, muito raramente a reação contra os primeiros físicos ou químicos foi tão violenta como a ação empreendida nos tempos modernos contra os marxistas, como por exemplo na Alemanha hitleriana. Por que? Porque a ligação entre os objetivos da luta política e os da nova ciência era, então, menos clara e menos imediata que hoje. O Marxismo pretende ser essencialmente — e é — “ciência da sociedade e da história”. Ora, esse conhecimento científico da sociedade opõe-se direta e expressamente a certos “poderes estabelecidos” — os que representam a burguesia e o capitalismo —; mostra que o seu domínio perde toda a razão de ser e que será substituído por uma organização nova, mais racional e mais livre, da sociedade. Daí o ódio que suscita e que a hábil propaganda desses “poderes estabelecidos” espalha contra uma doutrina que, em si, se apresenta como exclusiva e simplesmente “científica”, com argumentos e provas “racionais”, e que apenas recorre a razão para se fazer compreender. (...)

*Henri Lefebvre (Hagetmau, 16 de junho de 1901 — Navarrenx, 29 de junho de 1991) filósofo marxista e sociólogo francês.

Edição: Página 1917

Fonte: Para Compreender o Pensamento de Karl Marx; Henri Lefebvre; Edições 70; 1981; Portugal.



 

sábado, 8 de janeiro de 2022

Afastar as ilusões! Reforçar a necessária resistência proletária diante da ofensiva burguesa!

Cem Flores

07.01.2022

 

A crise mundial do capital, aberta e exposta desde 2008, vem deixando cada vez mais claro as entranhas podres do imperialismo – o sistema global de exploração capitalista atual e de destruição. As recessões e a estagnação econômica generalizada, a sanha burguesa por manter ou retomar as taxas de lucro, têm acirrado todas as contradições desse sistema. A burguesia e seus estados avançam contra seus inimigos de classe, a classe operária e as massas exploradas de todos os países, ou contra seus concorrentes diretos.

O capitalismo aprofunda a miséria no Brasil e no mundo.


O conflito entre as potências imperialistas, com destaque à disputa entre os EUA e a China, nos coloca cada dia mais próximos de mais uma grande guerra. As disputas no Mar da China ou na fronteira da Ucrânia são exemplos dos limites intransponíveis que a concorrência entre os monopólios impõe. A ilusão de um sistema imperialista pacífico, regulado pela potência hegemônica, pela ONU ou outro instrumento qualquer desses, só existe na cabeça dos ideólogos burgueses, que buscam disseminar a ilusão de que o capital pode ser controlado pelas instituições que servem à sua reprodução.

O imperialismo, fase apodrecida do capitalismo em que vivemos, se expressa nas contradições entre os monopólios transnacionais em grau muito mais elevado; na disputa pelas fontes de matéria-prima, majoritariamente nos países dominados; pelo domínio das rotas geográficas estratégicas; pelo controle dos mercados necessários à expansão de seus capitais. Essa necessidade intrínseca de expansão dos monopólios e de seus blocos imperialistas determina, em última instância, a ampliação dos conflitos interimperialistas, as tensões aumentadas entre países e capitais, as disputas políticas e os confrontos armados espalhados pelo mundo hoje.

Mas é na ofensiva contra a classe operária e os povos de todos os países que esse sistema expõe de maneira mais clara seu apodrecimento. O aprofundamento da crise imperialista empurra a burguesia a avançar na luta de classes contra os/as trabalhadores/as de todos os países. A necessidade da retomada de suas taxas de lucro impõe o aumento da exploração capitalista, da criação de mais valor, que necessariamente passa pela ofensiva contra a classe operária e as massas. É necessário rebaixar o patamar estabelecido das relações de trabalho, ampliando o valor extraído da força de trabalho, seja com o implemento de novas tecnologias ou, principalmente, pelo aumento das jornadas, pelo maior controle e intensificação da produção e pela piora das condições com que essa força de trabalho é reproduzida e vendida ao capital. Todos os aparelhos ideológicos e repressivo da burguesia – justiça, parlamento, governos, mídia – e suas “políticas públicas” vêm atrás “sacramentando” e “legalizando” esse novo patamar da exploração que vemos avançar a cada dia em todo o mundo. Tentando transformar em “normal” e “suportável” esse mundo de horrores.

Mas não há ação sem reação! A luta de classes é um fato da realidade, existe objetivamente, seja maior ou menor a consciência dela. A classe operária e os/as trabalhadores/as resistem mesmo sem ter sua posição própria e independente, de classe, no comando dessa resistência.

Para manter bilhões nesse “novo” mundo de barbárie, miséria e exploração, todos os aparelhos ideológicos e repressivo do capital avançam. No mundo elevam-se os gastos militares, ampliam-se as estruturas de repressão e a fachada das democracias burguesas vão desmoronando crescentemente. Trata-se de, internamente aos países, garantir a ordem necessária ao capital e, externamente, proteger os interesses dos verdadeiros donos do estado: os monopólios financeiros e seus aliados de classe. O pânico da burguesia com as explosões sociais, recorrentes nos últimos anos, e seu potencial de transformação ainda embrionário e espontâneo, deixa claro a necessidade que as classes dominantes têm de desenvolver seus mecanismos militares, políticos, jurídicos e ideológicos de controle social.

Nada mais natural que nesse quadro resgatem-se as ideologias que justificam essa barbárie capitalista. O fascismo ou outras ideologias reacionárias retomam seu papel, funcional às necessidades da burguesia nos períodos de graves crises, e “justificam” a ofensiva burguesa encontrando “inimigos” seja nos imigrantes que chegam à Europa ou aos EUA, nas populações dos países imperialistas concorrentes, nos pobres e miseráveis que esse sistema criou, nos negros, nos povos indígenas etc., de forma similar aos nazistas em relação aos judeus, nas décadas de 1930 e 1940. E, como sempre, em todos os processos de crise e de fascistização, o centro da ofensiva ideológica da burguesia é o combate ao seu verdadeiro inimigo de classe, pânico constante das classes dominantes de todo o mundo: o comunismo, os comunistas, a revolução!

Os capitais, nessa ação para tentar manter suas taxas de lucro, encontram nos partidos reformistas, revisionistas e oportunistas, aliados úteis para tentar travar, dividir e confundir a resistência das classes dominadas.

Seria viável, ainda mais na atual ofensiva burguesa imposta pela crise do imperialismo, acreditarmos que é possível, usando os instrumentos que essa mesma burguesia controla (o estado, as instituições jurídicas e políticas, o aparelho repressivo), alterar o sentido dessa ofensiva na luta de classes? É coerente acreditarmos que esses aparelhos, que existem para garantir a reprodução do capital, se moverão contra sua função essencial e servirão de instrumento de controle à ofensiva burguesa? Faz sentido acreditarmos que esses instrumentos com os quais os nossos inimigos de classe garantem e reproduzem sua exploração e dominação poderão ser usados contra essa exploração/dominação? Seria possível gerenciar o estado capitalista para atender aos interesses das classes dominadas?

A todas essas perguntas a única resposta é um gigantesco NÃO!

Essas perguntas resumem a ilusão e a mentira que o reformismo, o revisionismo, o oportunismo de plantão tentam nos vender todos os dias! Essas posições burguesas, inimigas da classe operária, que agem em nosso meio, que desarmam nossa capacidade de combate, que dividem nosso campo, que esterilizam nossa resistência, estão hoje mais presentes do que nunca. Apresentam-se como a “alternativa” que poderia combater o fascismo quando o que verdadeiramente fazem é nos desarmar nesse combate. Não será acreditando nos instrumentos do inimigo, na posição das classes dominantes que atua em nossas fileiras, que iremos alterar a barbárie que nos está sendo imposta. Nem mesmo aliviá-la! Só a luta da classe operária e dos/as trabalhadores/as com sua posição de classe pode frear essa ofensiva!

Essa ofensiva burguesa – econômica, política, ideológica e repressiva – alterou a conjuntura em todo mundo. De um lado, gigantescos monopólios, riqueza, opulência, luxo e do outro, miséria, pobreza, desemprego, fome, morte!  A pandemia nesses dois últimos anos deixou claro a todos esse quadro horroroso, quadro que os povos de todo o mundo já conheciam de seu cotidiano. A barbárie do sistema capitalista está completamente exposta.

Que alternativas podemos pensar nesse quadro? Que soluções a esse mundo apodrecido são possíveis do ponto de vista dos/as trabalhadores/as, da classe operária, do povo? O que fazer?

Afastar as ilusões reformistas, revisionistas e oportunistas que infestam a mal denominada “esquerda” é um primeiro e fundamental passo. Combater e criticar essa ideologia estranha à classe operária nos possibilita remover a cortina de fumaça que nos impede de ver claramente nossos objetivos a curto e a longo prazo. Combater e criticar essa ideologia que nos confunde e nos impede de identificar claramente nossos inimigos e nossos amigos. Que afasta a compreensão da necessidade de superação, de ruptura revolucionária desse sistema e o caminho para atingir esse objetivo.

Ou seja, recolocar no horizonte da classe operária e das suas lutas a questão do poder, da revolução, da derrubada do regime de escravidão assalariada do capitalismo e da construção do socialismo. Esse é o nosso norte, a estrela que deve nos guiar.

Esse longo caminho passa, necessariamente, por retomar a iniciativa proletária na luta de classes, por recolocar a posição da classe operária e das classes dominadas no comando de nossas ações e de nossa luta. 

Para isso, não há atalho à necessidade de participar da vida cotidiana das massas operárias e trabalhadoras, compartilhar suas dificuldades concretas e lutar a seu lado. As lutas já existem e estão sendo travadas. Trata-se de mergulhar nelas, aprender com elas e, nesse processo de luta e vida conjunta, apontar nosso norte e organizar a luta em função desse objetivo.

Esse processo impõe, aprendendo com as formas de luta concreta existentes hoje e com a experiência de nossa classe, retomar o marxismo-leninismo, a teoria científica que nos permite compreender as tendências da luta de classes e agir para retomar e colocar no comando a posição proletária nessa luta. Nesse processo reconstruir nosso principal instrumento de combate: o Partido Comunista, o partido do proletariado.

Não há como indicar que esse caminho será curto e tranquilo. Mas nossas vidas já são uma constante luta para sobreviver a cada dia. Do que se trata é de caminhar no sentido justo. De colocar toda nossa energia no caminho que possibilite, mais cedo ou mais tarde, a destruição desse sistema podre e a construção da sociedade onde seremos donos do que produzimos. O caminho da revolução socialista e da construção do comunismo.

Edição: Página 1917

Fonte:https://cemflores.org/2022/01/07/afastar-as-ilusoes-reforcar-a-necessaria-resistencia-proletaria-diante-da-ofensiva-burguesa/

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A Terceira Internacional e Seu Lugar na História

Lenin

Abril 1919

Os imperialistas dos países da “Entente”(1) bloqueiam a Rússia, tratando de isolar a República Soviética, como foco de contaminação, do mundo capitalista. Estas pessoas, que se gabam do caráter “democrático” de suas instituições, estão tão cegas pelo ódio à República Soviética que não percebem como eles próprios estão se fazendo de ridículos. Vejam: os países mais avançados, mais civilizados e “democráticos”, armados até os dentes, que têm todo o mundo sob domínio militar absoluto, temem como fogo o contágio  ideológico procedente de um país arruinado, faminto, atrasado e que, segundo eles, é inclusive um país semisselvagem!



Apenas esta contradição já abre os olhos das massas trabalhadoras de todos os países e ajuda a desmascarar a hipocrisia dos imperialistas como Clemenceau, Loyd George, Wilson(2) e seus governos.

Mas a nós, ajuda-nos não apenas a cegueira que o ódio aos Sovietes causa nos capitalistas, mas também as desavenças entre eles, que os levam a se atrapalharem mutuamente. Os capitalistas organizaram entre si uma verdadeira conspiração de silêncio, temendo mais que tudo a difusão de notícias verídicas sobre a República Soviética em geral, e de seus documentos oficiais em particular. Porém, o órgão principal da burguesia francesa,  Le Temps (3), publicou a notícia da fundação, em Moscou, da III Internacional, da Internacional Comunista.

Expressamos a este principal órgão da burguesia francesa, a este porta-voz do chauvinismo e do imperialismo francês, nosso mais respeitoso agradecimento. Estamos dispostos a enviar ao  Le Temps uma mensagem solene para manifestar nosso reconhecimento pela ajuda que nos presta de modo tão acertado e hábil.

A maneira com que o dito periódico redigiu sua matéria, baseando-se em nosso comunicado por rádio, mostra com evidente clareza a motivação desse órgão do dinheiro. Queria disparar um petardo contra Wilson, como para mortificá-lo, quando dizia: “Veja que pessoas são essas com as quais o senhor admite que se estabeleçam negociações!”. Os presunçosos que escrevem a mando dos ricos esquecem que seu empenho em aterrorizar Wilson com os bolcheviques se transforma, aos olhos das massas trabalhadoras, em uma propaganda a favor dos bolcheviques. Outra vez, nosso mais respeitoso agradecimento ao órgão dos milionários franceses!

A III Internacional foi fundada numa situação mundial na qual nem as proibições nem os pequenos e mesquinhos subterfúgios dos imperialistas da “Entente” ou dos lacaios do capitalismo, como Scheidemann, na Alemanha, e Renner, na Áustria, são capazes de impedir que entre a classe trabalhadora do mundo inteiro se difundam as notícias acerca desta Internacional e as simpatias que ela desperta. Esta situação foi criada pela revolução proletária que, de modo evidente, está sendo incrementada em todas as partes a cada dia, a cada hora. Esta situação foi criada pelo movimento das massas trabalhadoras em prol  dos Soviets, o qual já alcançou uma potência tal que se converteu verdadeiramente em um movimento  internacional.

A I Internacional (1864-1872) lançou as bases da organização internacional dos operários para a preparação de sua ofensiva revolucionária contra o capital. A II Internacional (1889-1914) foi uma organização internacional do movimento proletário, cujo crescimento se realizava  em amplitude, à custa de um declínio temporário do nível revolucionário, do fortalecimento temporário do oportunismo, que no fim das contas levou a dita internacional a um colapso vergonhoso.

De fato, a III Internacional foi fundada em 1918, quando o longo processo da luta contra o oportunismo e o social-chauvinismo conduziu, sobretudo durante a guerra, à formação de partidos comunistas em diversas nações. Formalmente, a III Internacional foi fundada em seu I Congresso(4), celebrado em março de 1919 em Moscou. E o aspecto mais característico desta Internacional, sua missão, é cumprir, colocar em prática os preceitos do marxismo e realizar os ideais seculares do socialismo e do movimento operário. Este aspecto, o mais característico da III Internacional, manifestou-se imediatamente no fato de que, a nova, a terceira “Associação Internacional dos Trabalhadores”, começou a  identificar-se já, desde agora, em certo grau, com  a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Sobre as Mobilizações Populares no Cazaquistão

Seção de Relações Internacionais do CC do KKE (Partido Comunista da Grécia).

01.05.2022



O KKE saúda as grandes greves operárias e mobilizações populares no Cazaquistão contra o aumento dos preços, o desemprego, a pobreza, a miséria e outros problemas sociais que o sistema capitalista criou para milhões de pessoas, 30 anos após a derrubada contra-revolucionária e a dissolução da URSS.

Expressamos nossa solidariedade aos milhares de trabalhadores que, desafiando o regime policial e a repressão, saíram as ruas exigindo a melhoria de seu nível de vida e expressando sua oposição ao saque dos recursos energéticos pelos monopólios.

Nós reivindicamos:

A libertação de todos os manifestantes detidos pela polícia, asssim como de todos os presos políticos.

A abolição de todas as leis anti-sindicais e anti-trabalhistas que colocaram na ilegalidade  centenas de sindicatos nos últimos anos, em um esforço do governo para controlar o movimento sindical.

A legitimação do Movimento Socialista do Cazaquistão e do Partido Comunista do Cazaquistão, que foram proibidos pelas autoridades do país.

Edição: Página 1917

Fonte: https://inter.kke.gr/es/articles/Sobre-las-movilizaciones-populares-en-Kazajistan/



terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Trechos do discurso de Giorgos Marinos, membro do Birô Político do Comitê Central do KKE (Partido Comunista da Grécia), em Berlim ,20/11/21.

A defesa dos princípios da construção socialista, do poder dos trabalhadores, da socialização dos meios de produção e do planejamento central é uma questão crucial.



(...) No transcurso do tempo foram experimentadas todas as formas de gestão capitalista, política restritiva ou expansionista e diversas fórmulas de gestão. Os governos burgueses liberais, socialdemocratas ou de aliados se alternam, mas o denominador comum é o apoio multifacetado ao grande capital, seu financiamento com bilhões de euros, a legislação que intensifica a exploração da classe trabalhadora, o esmagamento dos setores médios nas pedras do moinho dos monopólios.

Na prática, foi demonstrado que nunca houve e nunca haverá desenvolvimento capitalista para todos, os exploradores e os explorados; não existe capitalismo justo.

Em todos os lugares se confirma a seguinte conclusão indiscutível que enfatiza a culpabilidade do capitalismo: enquanto o desenvolvimento da ciência e da tecnologia permite que o povo trabalhador viva melhor, cresce o fosso entre a riqueza e a pobreza, o fosso entre o capital e o trabalho. As gerações mais jovens são forçadas a viver pior do que seus pais.

O capitalismo é um obstáculo ao desenvolvimento social, é o responsável pelos problemas dos trabalhadores e populares, pelas guerras imperialistas, e esta grande verdade vai mostrar o rumo da luta pela derrubada, pela abolição da exploração, pelo Socialismo que é a resposta para o século XXI.

O socialismo se identifica com o progresso social porque, em vez de ter como critério os ganhos de poucos, promove a satisfação das necessidades da maioria. O poder passa para as mãos da classe trabalhadora e é exercido com a participação do povo na tomada e implementação das decisões e no controle de todos os escalões de poder.

A grande vantagem do socialismo, o que é realmente novo, é a propriedade social sobre os meios de produção, sobre a riqueza produzida pelos trabalhadores. Com base nisso, o planejamento central pode definir e alcançar objetivos sociais determinados cientificamente na produção agrícola, industrial e nos serviços sociais.

Esta é a força motriz que permite garantir o direito ao trabalho para todos, reforçando todos os direitos, tendo como critério as exigências do século XXI, lançando as bases para a construção de relações mutuamente benéficas, para que os povos vivam em paz.

Defendemos as conquistas do socialismo na União Soviética, na República Democrática Alemã e nos demais Estados do socialismo. Não nos deixamos intimidar pelo exame crítico da construção socialista no século XX, dos erros e omissões, dos desvios oportunistas que impulsionaram a contra-revolução e a derrubada do socialismo.

Nos ensinamos! O estudo das causas da contra-revolução fortaleceu o KKE, ajudou-o a enriquecer suas posições sobre o socialismo que serão construídas com base nas novas possibilidades da ciência e da tecnologia.

Essas questões dizem respeito ao movimento comunista e são temas de debate. No entanto, a discussão deve ser ampliada ainda mais para que o movimento comunista enfrente os problemas político-ideológicos, se reagrupe em bases revolucionárias e se choque decisivamente com a burguesia, os governos, seus partidos, a social-democracia, o oportunismo e as alianças imperialistas.

Uma questão crítica é a defesa dos princípios da construção socialista, do poder dos trabalhadores, da socialização dos meios de produção e do planejamento central. Sem eles, o socialismo não pode ser construído, mas apenas uma caricatura dele, o capitalismo é mantido, a finalidade do lucro é mantida e a força de trabalho continua a ser uma mercadoria.

O movimento comunista é chamado a superar muitas armadilhas que confundem o socialismo científico e seus princípios. 

Apontamos isso levando em consideração a discussão em curso sobre a China e as expectativas sobre o chamado socialismo com “características chinesas”. Assinalamos os verdadeiros acontecimentos.

Na China, as relações de produção capitalistas predominaram faz muitos anos, monopólios foram criados, mais de 60% do PIB é gerado por grandes empresas, são exportados capitais para outros estados e a penetração é acelerada através da "nova Rota da Seda “, se reforça a exploração da força de trabalho no país e nos países onde o capital é investido. Na China existem cerca de 1.000 bilionários que podem ser membros do Partido, da direção e da assembleia nacional.

Consequentemente, não há base para comparar a NEP na Rússia pós-revolucionária, no início dos anos 1920, que deu os primeiros passos para a criação das bases socialistas e foi forçada a dar retrocessos temporários para a sobrevivência do poder dos trabalhadores, para ganhar tempo no confronto com a burguesia e a contra-revolução, para o contra-ataque.

O Partido Comunista da China fala de "prosperidade universal", porém quem prospera são os monopólios e seus lucros.

A classe trabalhadora como classe explorada vive com baixos salários e pensões, sem serviços de saúde e educação, direitos sociais reduzidos e com desemprego.

O critério de que houve redução da pobreza absoluta na China que se estima em uns poucos dólares por dia, não é uma prova de que o socialismo está sendo construído. A questão principal é por que existe uma enorme pobreza para o povo e uma enorme riqueza para o grande capital.

 

A China tem Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 14,4 trilhões de dólares de acordo com dados de 2019, ela reivindica a primazia no sistema capitalista frente aos EUA, tendo a burguesia e seus lucros como força motriz, tem um alto nível de forças produtivas, assim não é válida a sua caracterização como um "país em desenvolvimento".

Não houve, não existe e nunca haverá socialismo com monopólios, capitalistas e exploração. As relações de exploração serão reproduzidas e as posições sobre a construção de um país contemporâneo e forte no segundo centenário, como sustenta o Partido Comunista da China, serão desmentidas.

A propriedade social sobre os meios de produção e a economia de mercado são conceitos contrários e não podem ser aproximados através da chamada “economia socialista de mercado”, uma construção ideológica que gera confusão e ilusões.

Se o movimento comunista aceitar o capitalismo como se fosse socialismo, a crise se aprofundará e o caminho para o reagrupamento será ainda mais difícil.

A classe operária não deve estar sob a bandeira de nenhum centro capitalista, nem escolhe entre monopólios com base em sua origem. Ele enfrenta sua natureza exploradora em seu conjunto.

Na Grécia, há poucos dias, os trabalhadores do monopólio chinês da COSCO no porto do Pireu sofreram a morte de um colega de trabalho devido à intensificação do trabalho e à falta de medidas de proteção e segurança para a sua vida. Eles imediatamente organizaram uma greve de sete dias e colocaram suas reivindicações.

Os patrões usaram um mecanismo de interrupção da greve e recorreram aos tribunais burgueses para declarar a greve ilegal. Mesmo assim, os trabalhadores continuaram, eles venceram e o monopólio foi forçado a atender às suas demandas básicas, e a luta continua.

(...)A história mostra que só o povo pode salvar o povo, quando se move de forma decisiva no caminho da derrubada para assumir o comando do poder.

Edição: Página 1917.

Fonte: https://inter.kke.gr/es/articles/La-defensa-de-los-principios-de-la-construccion-socialista-el-poder-obrero-la-socializacion-de-los-medios-de-produccion-y-la-planificacion-central-es-un-tema-crucial/

 


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