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segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Os Preconceitos Contra o Marxismo

 Henri Lefebvre*

   É necessário remontar aos princípios do cristianismo ou ao tempo das guerras de religião — embora o marxismo nada tenha de comum com uma nova religião — para encontrar na história uma doutrina tão atacada, tão caluniada e tão perseguida como é hoje a de Karl Marx.


Henri Lefebvre


   Tem-se desenvolvido uma violenta luta “ideológica” em torno deste grande pensador. Esta luta “ideológica” não é mais que uma manifestação e um aspecto de lutas de classes e de lutas políticas muito vastas, à escala de todo o mundo moderno. As “paixões” (isto é, os interesses) econômicas e políticas explicam a violência desta luta e o seu caráter pérfido e brutal.

   É sabido que, nos seus primórdios, a “ciência da natureza” suscitou a inquietação e a hostilidade dos poderes estabelecidos. A condenação de Galileu, ao afirmar que a terra gira, continua viva em todas as memórias. Esta condenação não passou, aliás, de um episódio, o mais conhecido, de uma longa, tenaz e dramática luta dos sábios pela liberdade da razão e pelo conhecimento científico. Censurava-se lhes, naquele tempo, a “impiedade” da ciência, pelo único fato de não explicarem todas as coisas pela “vontade de Deus” e pela “Providência”. Também neste caso a luta ideológica servia de capa a uma luta política. Quem paralisava a ciência nascente da natureza? Quem se opunha aos seus progressos? Os poderes estabelecidos originários da Idade Média, os mesmos que viriam a ser vencidos na Grade Revolução de 1789-1793, pelos princípios da Razão e da Liberdade.

   No entanto, muito raramente a reação contra os primeiros físicos ou químicos foi tão violenta como a ação empreendida nos tempos modernos contra os marxistas, como por exemplo na Alemanha hitleriana. Por que? Porque a ligação entre os objetivos da luta política e os da nova ciência era, então, menos clara e menos imediata que hoje. O Marxismo pretende ser essencialmente — e é — “ciência da sociedade e da história”. Ora, esse conhecimento científico da sociedade opõe-se direta e expressamente a certos “poderes estabelecidos” — os que representam a burguesia e o capitalismo —; mostra que o seu domínio perde toda a razão de ser e que será substituído por uma organização nova, mais racional e mais livre, da sociedade. Daí o ódio que suscita e que a hábil propaganda desses “poderes estabelecidos” espalha contra uma doutrina que, em si, se apresenta como exclusiva e simplesmente “científica”, com argumentos e provas “racionais”, e que apenas recorre a razão para se fazer compreender. (...)

*Henri Lefebvre (Hagetmau, 16 de junho de 1901 — Navarrenx, 29 de junho de 1991) filósofo marxista e sociólogo francês.

Edição: Página 1917

Fonte: Para Compreender o Pensamento de Karl Marx; Henri Lefebvre; Edições 70; 1981; Portugal.



 

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