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segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Aspectos da Luta Política e Ideológica nas Fileiras do Movimento Comunista Internacional*

*Artigo da Seção de Relações Internacionais do CC do Partido Comunista da Grécia (KKE) sobre a recente teleconferência internacional dos Partidos Comunistas

 



O reflexo do debate político-ideológico no 

Movimento Comunista Internacional

 

É claro que questões político-ideológicas importantes continuam a atormentar o movimento comunista internacional. Cabe dizer que dos encontros internacionais participam partidos como o Partido Comunista Francês e o Partido Comunista Espanhol, que tiveram um papel de liderança na corrente oportunista do chamado "Eurocomunismo", assim como outros partidos que participam do “pilar” do centro oportunista europeu atual, o chamado “European Left” (Partido da Esquerda Europeia) e o GUE/NGL, o grupo europeu de "esquerdas" no Parlamento Europeu, que, como temos avaliado, chegou a funcionar como um tipo de representação do European Left  no Parlamento Europeu. Inclusive participam partidos que rejeitaram o marxismo-leninismo, a foice e o martelo, e a construção do socialismo na URSS.

 

O debate sobre a questão da participação nos governos burgueses

 

A questão da participação ou apoio dos partidos comunistas em governos “de esquerda”, “progressistas” que surgem no âmbito da gestão do capitalismo continua sendo um ponto-chave na polêmica política-ideológica. Em primeiro lugar, porque os partidos que têm essa posição política com construções ideológicas diversas como a "humanização" do capitalismo, a "democratização" da UE ou as "etapas rumo ao socialismo", a chamada "ruptura com a política da direita” alimentam ilusões sobre a gestão do sistema. Eles estão lavando o papel sujo da socialdemocracia e focando suas críticas em uma forma de gestão burguesa, o neoliberalismo. Tais forças ignoram e subestimam as leis que regem a economia capitalista e o caráter concreto e irreversivelmente reacionário do Estado burguês que não é anulado por nenhuma forma de gestão burguesa. Essas forças remetem a luta pelo socialismo para uma “perspectiva de longo prazo” e na prática assumem grandes responsabilidades perante os povos, pois se recusam a realizar o trabalho árduo diário de agrupar forças sociais que se chocam com os monopólios e o capitalismo.

 

Portanto, vemos que eles se concentram em soluções de gestão governamental, votando a favor até de gastos militares destinados às necessidades da OTAN, as missões imperialistas por exemplo na zona do Sahel, ou substituindo a demanda pela retirada do país da OTAN pela demanda por sua "dissolução" indefinida e abstrata. O resultado de tal política pode ser visto na Espanha, onde o Partido Comunista da Espanha participa de um governo que está gerenciando a pandemia de maneira bárbara e antipopular, está tomando novas medidas antioperárias com base nas orientações da UE, ao mesmo tempo em que atinge o ponto de tomar medidas para prejudicar Cuba e, claro, participar dos planos da OTAN

 

A confusão em torno do conceito de imperialismo

 

Basicamente são as mesmas forças que tratam o imperialismo não com critérios leninistas, ou seja, como capitalismo em sua fase de monopólio, mas meramente como uma política externa agressiva. Assim, eles ignoram que em nosso tempo os monopólios, os estados capitalistas e suas alianças estão em conflito por matérias-primas, energia, recursos minerais, rotas de transporte, fatias de mercado. Ainda mais porque alguns partidos rejeitam o fato de que o antagonismo entre os monopólios seja a base para o acirramento das contradições em escala internacional.

 

Nessa questão, esses partidos se concentram na política externa agressiva dos EUA, da OTAN e de outras potências fortes, interpretando unilateralmente a “agressão imperialista” e propondo o chamado “mundo multipolar” como solução. No entanto, a posição que limita o imperialismo apenas aos EUA, bem como a posição de que a coexistência de muitos “polos” internacionais onde um polo controlará o outro, resultando em um “mundo pacífico”, é completamente desorientadora para os povos. Está escondendo a realidade. Está fomentando ilusões de que pode haver um imperialismo "não agressivo", um suposto capitalismo “amante da paz".

 

O KKE e os demais partidos criticaram visões similares que foram apresentadas no século passado, tanto por forças oportunistas na Europa, quanto pelo PCUS, especialmente após sua virada oportunista em seu XX Congresso, quando prevaleceu a linha da “competição pacífica” dos dois sistemas sociopolíticos

 

A cooperação “antifascista” com as forças burguesas

 

Alguns partidos ficam confusos pelo fato de o sistema capitalista em vários casos usar o cão de guarda do sistema, ou seja, várias forças fascistas e usá-las para promover vários planos das classes burguesas, como aconteceu na Ucrânia. Mesmo algumas forças que reconhecem que o fascismo "nasce e se cria" no capitalismo tendem a separar essa questão da luta contra o capitalismo; levam à percepção de cooperação “antifascista” com certas forças burguesas ou mesmo ao seu apoio.

 

Hoje, no que diz respeito aos eventos internacionais, destaca-se a extrema importância da avaliação do KKE como resultado do estudo da História da Segunda Guerra Mundial. Que esta guerra foi imperialista e injusta tanto para as potências capitalistas fascistas quanto para os países capitalistas "democráticos", que também cometeram grandes crimes contra a humanidade, como o bombardeio nuclear de Hiroshima e Nagasaki. Que esta guerra foi justa apenas para a URSS e os movimentos de guerrilha e libertação popular nos países ocupados, onde os comunistas desempenharam um papel fundamental.

 

Essa posição está diretamente relacionada ao presente, à manifestação das contradições interimperialistas na Ucrânia, quando os EUA, a OTAN e a UE usam as forças fascistas na Ucrânia para seus planos geopolíticos e, por outro lado, a Rússia capitalista promove os interesses de seus próprios monopólios. É óbvio que os EUA, as alianças imperialistas da OTAN e da UE, bem como as classes burguesas que as constituíram, têm grandes responsabilidades em relação a esses acontecimentos. Ao mesmo tempo, a burguesia russa também tem enormes responsabilidades pela situação atual. Todos que atualmente pertencem a essa buruesia, tiveram um papel de liderança na dissolução da URSS. O 30º aniversário da sua dissolução foi recentemente celebrado. Então, Yeltsin e as forças sociais e políticas que o seguiram se preocupavam em derrubar a URSS, eles não estavam interessados, por exemplo, no que iria acontecer com a Crimeia, quantos milhões de russos e falantes de russo viviam fora das fronteiras da Rússia, o que iria acontecer com eles. Portanto, é uma provocação ver os políticos que então apoiaram Yeltsin para derrubar a URSS, a denunciar constantemente Lenin pela dissolução da URSS e convocar para uma "luta antifascista" na Ucrânia.

 

A abordagem atual da China

 

Além disso, a questão do confronto ideológico-político sobre o que é o socialismo é de suma importância. Existem vários partidos que “chamam carne de peixe”. Há alguns anos, surgiram várias teorias sobre o “socialismo do século 21” ou “socialismo do bem estar”, como eram chamados vários governos socialdemocratas da América Latina, que tentavam administrar o sistema capitalista com slogans promovidos como “radicais” e medidas de mitigação da miséria extrema do povo. Hoje em dia a atenção se concentra na China, que diz estar construindo "socialismo com características chinesas", mas o que está sendo construído lá nada tem a ver com o socialismo, com os princípios e as leis científicas da construção socialista. O socialismo consiste na socialização dos meios de produção, do poder dos trabalhadores, a planificação central. Nada disso existe na China atual, onde os monopólios chineses determinam os desenvolvimentos, promovem suas decisões através do Partido Comunista da China, que, entre outras coisas, levam a enormes desigualdades e injustiças sociais.

 

Esta questão não tem apenas uma dimensão teórica, mas também uma dimensão diretamente política, e está vinculada à luta pela supremacia no sistema imperialista entre os EUA e a China.

 

A questão da luta pela supremacia no sistema imperialista

 

Esta questão não é simples, porque está demonstrado na prática que em condições similares, quando a supremacia do sistema imperialista se viu questionada, ocorreram grandes confrontos militares, envolvendo dezenas de países, com milhões de mortos pelos lucros dos capitalistas em conflito.

 

Hoje, os EUA continuam sendo a maior potência política, econômica e militar do imperialismo no mundo, seguidos de perto pela China. Devido à lei do desenvolvimento desigual do capitalismo vemos que os monopólios chineses estão conquistando posições importantes no mercado capitalista mundial, na exportação de bens e capitais.

 

Infelizmente, alguns partidos comunistas tentam erroneamente usar formas do passado novamente, falando de uma nova "guerra fria", com a diferença de que na posição da URSS contra os EUA, eles agora colocam a China. No entanto, a situação atual nada tem a ver com o confronto entre a URSS e os EUA, pois hoje há um enfrentamento no terreno do conflito entre os monopólios, ou seja, um confronto intraimperialista. O KKE no seu posicionamento destacou essa diferença, enquanto outros partidos como o Partido Comunista do México, o Partido Comunista do Paquistão, destacaram o caráter capitalista da China atual, enquanto o Partido Comunista Filipino-1930 falou claramente do hegemonismo expansivo da China contra os países vizinhos do Pacífico, o qual é usado como pretexto pelos EUA para intervir na região.

 

Não se trata, de forma alguma, um caso de confronto entre capitalismo e socialismo como alguns partidos como o Partido Comunista do Brasil têm argumentado erroneamente. Não tem sentido os comunistas tomarem a iniciativa em campanhas políticas como a do Partido Comunista do Canadá pela libertação da diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, filha do presidente do monopólio chinês, cuja fortuna pessoal ultrapassa 3,4 bilhões de dólares, que foi detida durante algum tempo por causa do duro conflito entre os monopólios de alta tecnologia. Não é apropriado que um partido comunista organize uma mobilização para uma empresária, cuja fiança chegou a 7,5 milhões de dólares, inclusive no mesmo momento que em dezenas de países ao redor do mundo os comunistas são levados aos tribunais (p.ex. Ucrânia, Polônia), são presos (p. ex Suazilâdia), estão perseguidos (p. ex. Cazaquistão), são assassinados a sangue frio (p.ex. Paquistão, Índia) e necessitam da nossa solidariedade internacionalista.

 

Cabe dizer, neste momento, que o KKE enviou deputados, eurodeputados e outros quadros para os julgamentos de comunistas e partidos perseguidos, na Ucrânia, na Polónia, há alguns anos nos países bálticos, denunciou assassinatos e perseguições de comunistas em outros países como Paquistão, Cazaquistão, Sudão, Índia, Venezuela e outros países, levantando tais questões no Parlamento Europeu.

 

Sobre a questão da “unidade”

 

Nas fileiras do Movimento Comunista Internacional não pode haver uma "unidade" artificial com forças que questionam e revisam os "fundamentos" do marxismo-leninismo, como os princípios da revolução e da construção socialista em nome de "ficar no que por hora nos une”. Tal "unidade", além da imagem falsa e desorientadora que daria aos comunistas de todo o mundo, também é perigosa, pois "meia verdade é sempre mentira". Além disso, esconde as divergências que existem no movimento comunista e dificulta a discussão para que possam ser superadas. Se os comunistas não têm uma visão completa do mundo imperialista e se concentram apenas nos EUA-OTAN, ou neoliberalismo, ou fascismo, separando-os da "matriz" que os gera - ou seja, do capitalismo e da necessidade de derrubá-lo - eles serão levados para opções trágicas.

 

O KKE, ciente desta situação e esclarecendo o povo sobre isso, está atualmente liderando o movimento anti-imperialista em nosso país contra as bases dos EUA e da OTAN, contra os chamados "acordos de defesa" da Grécia com os EUA e a França, contra o envolvimento das forças armadas gregas em missões além-fronteiras, pela retirada das alianças imperialistas da OTAN e da UE, com o povo no poder. Levando tudo isso em consideração, o KKE aplica todas as suas forças contra as políticas antipopulares do governo do ND, SYRIZA e outros partidos burgueses, bem como a luta contra as formações fascistas criminosas, buscando criar as condições prévias para a Aliança Social, a derrubada do capitalismo, para colocar um fim no círculo vicioso da exploração de classe e das guerras imperialistas.

 

Sobre o rumo do reagrupamento revolucionário do movimento comunista internacional

 

É necessário continuar e aprofundar ainda mais o debate político-ideológico e esclarecer as questões. Não temos acordo com a troca de caracterizações entre os partidos, mas queremos desenvolver uma discussão substancial. Além disso, buscamos realizar ações conjuntas e convergentes sobre os pontos em que isso é possível e, particularmente, expressar solidariedade internacionalista.


Apoiamos as formas existentes de troca de opiniões e cooperação entre os partidos comunistas, como reuniões internacionais, regionais e temáticas dos partidos comunistas.


Apoiamos as formas mais avançadas de cooperação do Movimento Comunista Internacional como a "Iniciativa Comunista Europeia" (ICE) e a "Revisão Comunista Internacional" (RCI) para a formação de um polo comunista que lutará pelo reagrupamento revolucionário e a unidade do movimento comunista armado com nossa visão de mundo, o marxismo-leninismo.

 

O recente XXI Congresso do nosso Partido elaborou critérios importantes para a nossa cooperação mais estreita com os partidos comunistas que: a) defendem o marxismo-leninismo e o internacionalismo proletário, a necessidade de formar um polo comunista internacional, b) enfrentam o oportunismo, o reformismo, rejeitam a gestão de centro-esquerda e qualquer variação da estratégia de etapas, c) defendem as leis científicas da revolução socialista com as quais avaliam o curso da construção socialista, procuram investigar e tirar conclusões de problemas e erros, d) têm uma frente ideológica contra percepções errôneas sobre o imperialismo, particularmente aquelas que separam sua agressão militar de seu conteúdo econômico, enfrentam qualquer aliança imperialista, e) desenvolvem laços com a classe trabalhadora, procuram atuar no movimento sindical, nos movimentos dos setores populares das camadas médias, buscam integrar a luta cotidiana pelos direitos operários e populares numa estratégia revolucionária contemporânea pelo poder operário.

 

A teleconferência internacional dos partidos comunistas, as teleconferências da Iniciativa Comunista Europeia e da Revista Comunista Internacional, também realizadas no último período, ajudam nosso Partido a estudar melhor a situação do movimento comunista internacional e de todas as formas de cooperação, destacando, com base nos critérios anteriormente mencionados, as prioridades e ações conjuntas com outras partidos.


Edição: Página 1917 

Publicado no jornal “Rizospastis” em 22/01/22.

Fonte: https://inter.kke.gr/es/articles/Aspectos-de-la-lucha-ideologica-y-politica-en-las-filas-del-movimiento-comunista-internacional/

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