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domingo, 31 de outubro de 2021

Sem mais mortes por lucros da COSCO!

 KKE (Partido Comunista da Grécia)

Esta frase estava escrita na enorme faixa que os trabalhadores penduraram nos escritórios da empresa na quinta-feira, 28/10, enquanto milhares de trabalhadores e jovens estiveram do lado dos grevistas do monopólio chinês da COSCO. Com a luta, deflagrada após a trágica morte do colega, os portuários exigem a assinatura de um acordo coletivo, o reforço das medidas de segurança no trabalho, uma comissão de saúde e segurança, contratações, etc.




     Cabe assinalar que o monopólio chinês, sem respeitar o aniversário nacional de 28 de outubro de 1940, quando se iniciou a heroica luta antifascista do povo grego contra os invasores fascistas, buscou neste dia declarar ilegal a greve operária. No entanto, este esforço da COSCO não foi aprovado e as medidas judiciais contra a greve foram rejeitadas como inválidas.

Uma grande batalha foi travada e vitoriosa, disse Nikos Xourafis, presidente da Federação Territorial dos Trabalhadores do Pireos, falando no grande comício de trabalhadores na Estação de Contêineres COSCO. “conseguiram unir os trabalhadores e dar uma resposta como um só punho ”, disse ele , explicando que “nossa força” fez lobby para rejeitar a tentativa do empregador de proibir a greve dos trabalhadores da COSCO.

“Saudamos esta grande manifestação, gritando: chega de mortes devido aos lucros da COSCO!”, afirmou Sotiris Poulikogiannis, presidente do Attica Metal Union, em seu discurso. Ele destacou que a morte de trabalhadores “não é nosso destino, nem é má sorte”, e esclareceu que “queremos um trabalho com direitos, com dignidade, para poder viver e criar nossos filhos”.




Centenas de sindicatos de toda a Grécia expressam sua solidariedade com a luta heroica dos trabalhadores no porto de Pireo, contra a postura intransigente do monopólio chinês. A solidariedade transcende fronteiras. Assim, mobilizações de solidariedade foram realizadas por sindicatos em Istambul (Turquia), em Livorno (Itália), enquanto mensagens de solidariedade chegam constantemente de sindicatos de vários países: Chipre, Suécia, Espanha, Cazaquistão, Egito, América Latina, etc.

Edição: Página 1917

Fonte: https://inter.kke.gr/es/articles/No-mas-muertos-por-las-ganancias-de-COSCO/


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Nem Fascismo nem Revolução*

Francisco Martins Rodrigues 

“Não existe meio termo entre a ditadura da burguesia e a ditadura do proletariado. Todos os sonhos de uma solução intermediária não passam de lamentações reacionárias de pequeno-burgueses.” Lenin(1)

 

Frentes Populares: "vitórias" que resultaram em derrotas.


Aparentemente, a questão da estratégia foi deixada de parte no relatório de Dimitrov e nos debates do congresso. Concentrando-se nas questões políticas imediatas, Dimitrov não poupou críticas aos “apelos sem futuro a favor da luta pela ditadura do proletariado”, às “frases gerais e às palavras de ordem gerais sobre a saída revolucionária da crise”, às “fórmulas gerais que não dizem nada”(2). “Eliminamos — disse no discurso de encerramento — as frases sonoras sobre as perspectivas revolucionárias”, a fim de “desembaraçar os nossos partidos de qualquer tendência para substituir a atividade bolchevique por frases revolucionárias ou discussões estéreis sobre a apreciação da perspectiva”(3).

Na realidade, esta preocupação de eficácia política encobria um propósito deliberado de desacreditar como “doutrinária” a perspectiva da revolução proletária, porque ela era inconciliável com a política de Frente Popular.**

O oportunismo na tática impunha o abandono da estratégia. E, no lugar onde antes estava a meta da conquista revolucionária do poder, surgiu uma espécie de semiestratégia, o governo de frente única proletária ou de frente popular, como “etapa intermediária” entre a ditadura fascista e a ditadura do proletariado. Este foi o embrião da teoria da “revolução democrático-popular”, lançada no ano seguinte por Dimitrov, a propósito da guerra de Espanha. Aos “apelos sem futuro a favor da ditadura do proletariado” iria suceder a luta “realista” pela semi-revolução operário-pequeno-burguesa.

Um governo de novo tipo

Que espécie de governo era o governo de frente única proposto por Dimitrov como coroamento da política de Frente Popular?

A sua posição acerca do assunto apresenta, como todo o relatório, duas faces: de um lado, irrepreensíveis garantias de princípio; do outro lado, soluções políticas concretas, que as comprometem e anulam. Só pondo em confronto estas duas faces compreenderemos como o reformismo e a retórica revolucionária se casam como um todo em Dimitrov, num típico jogo centrista.

Os comunistas, disse Dimitrov, deviam estar preparados sem hesitação para a formação de um governo de frente única proletária ou de frente popular, de luta contra a reação e o fascismo, governo que não tinha que se manter no quadro da democracia burguesa mas devia adotar “medidas resolutas contra os magnatas contra-revolucionários da finança e os seus agentes fascistas”. “Exigimos de cada governo de frente única... que realize reivindicações radicais"... “por exemplo, o controle da produção, o controle dos bancos, a dissolução da polícia, a sua substituição pela milícia operária armada, etc.”. O erro dos comunistas alemães ao entrar no governo de Saxe em 1923 fora justamente não terem utilizado as suas posições “antes de tudo para armar o proletariado”. 

O governo de frente única era, pois, muito claramente um governo a formar quando o aparelho de Estado da burguesia estivesse “suficientemente desorganizado e paralisado”, “na véspera da vitória da revolução soviética”. Era “no fundo, uma questão quase análoga” à palavra de ordem de Governo Operário e Camponês defendida pelo 4º e 5º congressos da IC(4).

Esta a face revolucionária. Passemos agora à concretização.

A formação do governo de frente única dependia da existência de uma “crise política”. Esta expressão, que Dimitrov, não por acaso, usou insistentemente(5), significava uma alteração radical em relação ao passado, cujo alcance é necessário sublinhar, antes de irmos mais longe.

Até aí, a IC considerara como condição para se poder encarar o apoio ou participação dos comunistas em qualquer governo a existência de uma crise revolucionária, isto é, de uma situação em que o regime burguês no seu conjunto se encontrasse à beira do descalabro. O papel do Governo Operário e Camponês seria precisamente precipitar o colapso do poder burguês, acelerar a instauração do poder soviético.

Ao substituir, de forma aparentemente casual, “crise revolucionária” por “crise política”, Dimitrov deslocava a questão do governo para um terreno inteiramente novo. A entrada dos comunistas para o governo passava a ser admissível e necessária numa situação em que os trabalhadores e os seus sindicatos “se insurjam impetuosamente contra o fascismo e a reação, mas sem estarem ainda prontos a sublevarem-se para lutar sob a direção do partido comunista pela conquista do poder soviético”, quando as forças aliadas exigissem “medidas implacáveis contra os fascistas e os outros reacionários”(6). 

Quer dizer: Onde antes se tinha em vista um governo para acabar com o capitalismo, agora tratava-se de um governo para acabar com o fascismo. Por isso mesmo, seria “um organismo de colaboração da vanguarda revolucionária do proletariado com os outros partidos antifascistas, no interesse de todo o povo trabalhador, um governo de luta contra a reação e o fascismo”, tendo como base uma “plataforma anti-fascista”. Um tal governo, avisou Dimitrov, “não pode trazer a salvação definitiva”, porque “não está à altura de derrubar a dominação de classe dos exploradores”(7). Destinava-se a “esmagar ou derrubar o fascismo, sem passar imediatamente à liquidação da ditadura da burguesia”(8).

Vemos agora porque falou Dimitrov em “crise política” em vez de “crise revolucionária”. Porque estava a introduzir um princípio novo, até então considerado inadmissível: a aceitação das responsabilidades de governo pelos comunistas sem sair do quadro do capitalismo.

O Governo de Frente Popular surge-nos assim em dois cenários inteiramente opostos. O primeiro é o de um governo revolucionário, formado em situação de crise revolucionária (o aparelho de Estado desorganizado e paralisado), que se apoia nos operários armados, expropria os magnatas, estabelece o controle da produção e dos bancos, etc. O segundo é o de um governo antifascista mas não revolucionário, formado em situação de crise política, que se apoia na coligação do partido comunista com os partidos democrático-burgueses e cujo objetivo não é passar à liquidação da ditadura da burguesia.

A contradição entre as duas perspectivas é flagrante. Como é que um governo de “colaboração” do PC com o PS e outros partidos burgueses, que não estaria “à altura de derrubar a dominação dos exploradores”, iria tomar “medidas resolutas” contra os magnatas da finança e os fascistas? Como é que os operários armados, de posse do controle da produção, se iriam manter nos limites de uma mera plataforma antifascista? E se o aparelho de Estado estaria “paralisado e desorganizado” e os operários armados, o que impediria então os comunistas de conduzirem o proletariado à conquista do poder?

Dimitrov deu duas versões antagônicas do governo de Frente Popular, uma revolucionária e outra meramente “democrática”. E, das duas, a que ficava a valer na prática era a segunda. Porque, ao tomar a coligação com os partidos democrático-burgueses como a base do governo, os comunistas transformavam automaticamente em declarações inócuas de intenções todas as “exigências” sobre milícias operárias e controle da produção. Uma via excluía a outra. Ou se apontava a luta antifascista operária e popular para a conquista de um governo revolucionário, capaz de levar de vencida as resistências, vacilações e traições da democracia burguesa, governo que seria, esse sim, o primeiro passo na conquista integral do poder pelo proletariado. Ou se colocava a luta antifascista no quadro de um governo de coligação com a democracia burguesa e, para atingir esse objetivo, teria que se ir renunciando inevitavelmente, passo a passo, a todas as pretensões revolucionárias.

Dizer que o governo de Frente Única estaria garantido contra uma possível degenerescência pelo fato de se apoiar num movimento combativo de massas contra a reação e o fascismo(9) era apenas uma forma de iludir a questão. Os movimentos antifascistas de massas, por muito combativos que fossem, teriam (e tiveram) as pernas cortadas se girassem na órbita de um governo de colaboração proletariado-pequena burguesia, formado para combater só a reação fascista e não o capitalismo.

A pergunta que se coloca é, portanto, a seguinte: o governo de frente única era um governo popular revolucionário ou um governo democrático-burguês? Tinha como função ser a “véspera da revolução soviética” ou promover a restauração da democracia burguesa com a cooperação do proletariado?

E aqui pomos o dedo na ferida das contradições dimitrovianas. O que Dimitrov tentou, com a palavra de ordem de governo de frente única, foi ganhar a social-democracia e as forças democrático-burguesas em geral para a colaboração com os comunistas contra o fascismo, mas sem romper declaradamente com a anterior linha revolucionária da IC. As duas faces contraditórias do seu governo resultam da mistura de dois discursos: “colaboração dos partidos antifascistas sem derrubar a burguesia”, quando falava para a democracia burguesa; “operários armados e controle da produção”, quando se dirigia aos operários. Para uns, plataforma antifascista; para os outros, “véspera da revolução soviética”.

Deste modo, a garantia de Dimitrov de que o governo de frente única seria “fundamentalmente diferente”, “diferente em princípio” de qualquer governo social-democrata(10) (garantia que E. Hoxha repete como um eco sem lhe juntar um único argumento(11) surge-nos na sua verdadeira dimensão. O governo de frente única seria efetivamente diferente dos habituais governos social-democratas porque podia contar agora com o apoio e participação dos comunistas. A diferença consistia em que seria um governo “progressista”, mas também de colaboração de classe, também no quadro do capitalismo. Seria um governo burguês “de novo tipo”, a tapar o caminho à revolução proletária, no preciso momento em que as convulsões do fascismo podiam pôr em risco a própria sobrevivência da sociedade burguesa.

A História pregou uma peça cruel a Dimitrov ao alinhar os seus governos de Frente Popular em duas tristes categorias: todos os que foram formados em período de ascenso da reação fracassaram na tarefa de deter o fascismo e a guerra (Espanha, França, Chile); todos os que foram formados em período de ascenso da revolução (no fim da guerra mundial, na Europa oriental) fracassaram na tarefa de fazer a passagem ao socialismo e não conseguiram mais do que instaurar o capitalismo de Estado.

* Trecho do cap. III do livro Anti-Dimitrov.

** Grifos do editor.

Notas: 

1) Lenine, no 1° Cong. da IC. 

(2) Dimitrov, 52,103,116. 

(3) Id, 163. 

(4) Id., 86-93. 

(5) Id., 88, 89, 93. 

(6) Id., 88. 

(7) Id., 90, 93.

(8) Id., 129.

(9) Id., 91.

(10) Id., 90. 

(11) E. Hoxha, Eurocomunismo, cap. II.

Edição: Página 1917. 


quarta-feira, 27 de outubro de 2021

A Atualidade de O Capital

A Atualidade de O Capital*

Jacob Gorender

19-05-1993

Jacob Gorender (1923-2013)

*Este artigo, derivado da conferência realizada em 19/05/93, na PUC-SP, visa demonstrar a existência de uma estreita relação entre as formulações teóricas contidas em O Capital, de Karl Marx, e as características centrais da fase atual do capitalismo.

A minha conferência hoje é o início de um ciclo. Ninguém aqui deve esperar que eu ofereça um painel completo de uma obra como O Capital em uma única noite. Hoje, pretendo apresentar um quadro geral dessa obra de Karl Marx, referir-me à sua atualidade e chamar a atenção para algumas questões que dizem respeito exatamente ao seu caráter geral. Os aspectos mais particulares, as muitas contribuições especiais dessa obra ficarão a cargo dos conferencistas seguintes.

Falarmos na atualidade de O Capital não parecerá, porventura, uma arrogância depois dos desmoronamentos dos regimes do Leste Europeu que se diziam baseados na teoria marxista, tanto em Marx, quanto em seus principais seguidores, particularmente em Lenin (daí ter se criado o termo marxismo-leninismo)? Ou depois do sucedido nesses países e do fato de que, em todos eles ou na grande maioria, se faz um esforço enorme para a implantação do capitalismo? Como então afirmar que a obra de Marx tem atualidade? Não será ela uma obra ultrapassada, que os fatos desmentiram e, com isso, merece a atenção apenas dos eruditos como um capítulo encerrado na história das idéias? Será isso?

Obviamente, a ofensiva do neoliberalismo, tanto prática como teórica e ideologicamente, desde os fins dos anos 70, quer fazer com que acreditemos na falência do marxismo. E o que sucedeu nesses últimos anos, com o esfacelamento dos regimes dirigidos pelos partidos comunistas do Leste Europeu e a dissolução da própria União Soviética, parece confirmar o prognóstico do neoliberalismo. Quero frisar, aqui, que me refiro precisamente ao neoliberalismo e não ao liberalismo do século XVIII. Embora um provenha do outro, eles pertencem a épocas muito diferentes e têm sinais diferentes.

O liberalismo, seja dos iluministas franceses, dos naturalistas, de economistas como Adam Smith e Ricardo, era uma ideologia realmente anti-operária, mas progressista para a época. Revolucionária mesmo, porque se dirigia contra o feudalismo e em certos aspectos até mesmo contra o colonialismo.

O neoliberalismo de hoje é uma ideologia das grandes empresas multinacionais, dos monopólios que, em número de algumas centenas, dominam o sistema capitalista mundial. E esse neoliberalismo se voltou com todos os canhões contra o marxismo e também alvejou o keynesianismo. Mas, este último foi um alvo, digamos, lateral, situado no próprio campo das idéias burguesas.

Como então  e a obra marxista mantêm sua atualidade? No mesmo ano de 1989, quando ruiu o Muro de Berlim, surgiu um artigo que logo a mídia internacional se encarregou de divulgar com grande alarde, um artigo que anunciava o fim da História, de autoria do politólogo norte-americano Francis Fukuyama. Depois desse artigo, Fukuyama compendiou sua obra num livro que já foi traduzido aqui no Brasil. Para o autor, o fim da História se dá com a proclamação de vitória final do liberalismo, da democracia liberal apoiada no sistema capitalista, no mercado capitalista.

Contudo, pouco depois, já no começo dos anos 90, iniciava-se nos Estados Unidos e, logo em seguida, também na Alemanha, no Japão e em outros países do sistema capitalista, uma recessão, que, não sendo muito profunda, se revela, entretanto, demorada, já se prolongando por dois anos. Eis porque se fala em estagnação e até mesmo em crise sistêmica, o que se ouve de economistas que nada têm de marxistas.

Junto a isso, vários fenômenos chamam a atenção, justamente fenômenos que colocam em foco a obra de Marx. Em primeiro lugar, o renitente e crescente desemprego, que é um fenômeno tanto de países adiantados quanto atrasados. É universal, pode-se dizer.

Percebe-se que a produção cresce, mas cresce também o desemprego, o que está ligado a uma revolução tecnológica e ao fato de que a classe operária, os trabalhadores intelectuais e manuais, desempregados por essa revolução, não têm tido a capacidade de resistir à ofensiva do capital começada já nos anos 70.

domingo, 24 de outubro de 2021

Reformismo e Revisionismo: Duas Moléstias Incuráveis!

 Ney Nunes

"Não é possível derrotar o exército do inimigo de classe enquanto as fileiras proletárias estiverem sabotadas pela quinta coluna reformista-revisionista."

     No início deste século XXI, duas enfermidades continuam a se abater sobre a luta do proletariado pela libertação do jugo da exploração capitalista: o reformismo e o revisionismo. Na verdade, são duas faces da mesma moléstia.  Essas duas vertentes alimentam a expectativa ilusória de que mudanças graduais no capitalismo e alianças com o inimigo de classe podem conduzir a uma situação melhor para o proletariado.

     Essa ilusão é disseminada tanto nos países secularmente dominados pela burguesia, quanto naqueles onde revoluções proletárias iniciaram a transição para o socialismo e que foram abortadas pela restauração capitalista comandadas pelo burocratismo contra-revolucionário, a exemplo do ocorrido na China e União Soviética.




     Não é possível derrotar o exército do inimigo de classe enquanto as fileiras proletárias estiverem sabotadas pela quinta coluna reformista-revisionista. Isso foi fartamente demonstrado por todas as revoluções vitoriosas no século XX. O combate ideológico e político, sem tréguas, aos elementos traidores e vacilantes é imprescindível para depurar o exército proletário dessa quinta coluna que age, em última instância, no sentido de preservar o poder das classes dominantes.

    Acobertados por uma fraseologia pretensamente radical, esses farsantes pequeno-burgueses procuram de toda a forma dividir e desviar o proletariado do caminho da independência de classe, da revolução socialista e da ditadura do proletariado. Seu projeto sempre foi, e continua sendo, a colaboração de classes, subalterno à burguesia e ao imperialismo.

      Combatê-los e destruí-los é questão de vida ou morte para a revolução proletária no Brasil e no mundo!

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

A Batalha de Moscou



Na "Batalha de Moscou", travada entre outubro de 1941 e janeiro de 1942, os exércitos nazistas foram barrados as portas de Moscou, essa foi a primeira grande derrota dos alemães durante a invasão da União Soviética na Segunda Guerra Mundial.

A Batalha de Moscou 1941

 

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Reencontrando Giocondo e Prestes


Ivan Pinheiro

14/9/2021

Eu não poderia deixar de socializar ao meu círculo de amizade e camaradagem um resumo dos pensamentos e sentimentos que me envolvem e fazem refletir, desde quando, há poucos dias, li um texto de Luiz Carlos Prestes, de março de 1981 (“Aprender com os erros do passado, para construir um partido novo, efetivamente revolucionário”), e, logo em seguida, assisti o documentário “Giocondo Dias – um clandestino ilustre”, do cineasta Wladimir Carvalho, lançado recentemente.

Como se sabe, Prestes e Giocondo protagonizaram uma intensa luta interna que levou à divisão do PCB no início da década de 1980. Prestes era o Secretário Geral antes da divisão e Giocondo passou a sê-lo em seguida, até sua morte em 1987.

A coincidência dessas leituras foi impactante. Esses dois camaradas foram – em épocas e por razões diferentes – as minhas principais referências políticas no PCB, inclusive no momento em que, como militante do partido, fui obrigado a fazer uma escolha dramática entre os distintos caminhos que os dois seguiriam. Como minha militância sindical à época resultava em alguma exposição pública, foi natural ter sido convidado para conversas particulares com ambos e que obviamente eu as aceitasse. No meu caso, esses encontros foram muito mais para ouvir do que dialogar, até porque havia poucas informações sobre as divergências, além dos rumores.

Depois de conhecer opiniões de outros quadros e de intermináveis debates na célula em que militava, consolidei uma opinião que me dividia ao meio: concordava (e ainda concordo) com a maioria das críticas do camarada Prestes expostas na Carta aos Comunistas (de março de 1980), mas não com sua decisão de sair do PCB antes do seu próximo Congresso Nacional, que iniciou-se em 13 de dezembro de 1982 [¹], o que pode ter sido um dos fatores que inviabilizaram o seu projeto de criar um novo partido, efetivamente revolucionário, como anuncia no texto.

Respeito a opinião dos que consideram que naquele momento já não havia mais espaço no partido para a luta interna, mas penso que essa conclusão só é razoável se a análise daquela correlação de forças levar em conta apenas a que existia no interior do então Comitê Central, em que Prestes não só era minoritário, mas vítima de isolamento e apagamento político, que ficam evidentes em alguns depoimentos no filme sobre Giocondo e que percebi no dia em que o Cavaleiro da Esperança foi recebido calorosamente no aeroporto do Galeão, ao retornar de um longo exílio em Moscou após a anistia política, no final de 1979.

Alguns dias antes desse evento, fui procurado por um dos poucos membros do CC que ficaram clandestinos no Brasil e escaparam de ser presos e desaparecidos, como os camaradas que Prestes homenageia no texto. Os demais membros do CC estavam no exílio, uma parte em Moscou e Praga, outra em Paris, Roma, Lisboa e outros destinos. Este camarada, com quem me encontrava em “pontos” [²] e que me dava assistência em questões que extrapolavam o âmbito da célula de bancários a que eu pertencia, orientou-me, segundo ele em nome do Secretariado do CC, a não comparecer à recepção do camarada Prestes, porque a ditadura podia “desconfiar” que eu fosse militante do partido! Em vão, ponderei que a figura de Prestes, um herói nacional, extrapolava em muito as fronteiras do partido e que uma recepção expressiva a ele seria um importante ato público contra a ditadura e favorável à imagem do PCB.

Apesar de desconfiado, respeitando essa orientação levei de carro ao Galeão três camaradas bancários, entre os quais minha então companheira, e os fiquei aguardando no estacionamento do aeroporto, decepcionado porque o som dos discursos não descia ao subsolo! Só tive certeza de que se tratara de uma manobra para esvaziar a recepção a Prestes quando, alguns dias depois, veio a público a luta interna, desconhecida até então por todos os militantes de base do partido.

Luiz Carlos Prestes

Minha opinião divergente da posição de Prestes, de romper com o partido sem insistir mais na luta interna (que fatos como o mencionado explicam), era baseada na vivência que eu tinha entre os camaradas que atuavam no movimento sindical, não só no Rio de Janeiro, onde eu era presidente do Sindicato dos Bancários e coordenava a Intersindical estadual, mas em outros Estados. Entre minhas tarefas vinculadas à Fração Sindical do CC, estava o esforço do partido para criar articulações intersindicais estaduais, na perspectiva de uma central sindical nacional. Eu circulava, portanto, entre camaradas que atuavam diretamente nas lutas em defesa dos interesses dos trabalhadores, em geral mais refratários à conciliação de classe.

domingo, 17 de outubro de 2021

O Aríete da Burguesia e do Imperialismo

Ney Nunes

16/10/2021 

    É muito significativo que apenas alguns dias após o aniversário da Petrobrás (dia 03 de outubro a empresa completou 68 anos da sua fundação), num movimento claramente articulado, o presidente Bolsonaro, seu ministro da economia, Paulo Guedes e o presidente da Câmara, Arthur Lira, em locais e ocasiões distintas, anunciassem a intensão de levar a cabo a privatização do que resta da Petrobrás, completando assim, a entrega do petróleo brasileiro para os grupos empresariais que dominam a exploração e o refino no mundo.


Vendilhões da pátria a serviço da burguesia e do imperialismo.

     O que levaria um governo, há um ano das eleições, ostentando baixíssimos índices de aprovação popular, acossado por denúncias escabrosas de corrupção, conduta genocida durante a pandemia e com a maioria da população amargando desemprego e subemprego, cometer mais esse crime de lesa-pátria?

     Só mesmo um presidente acovardado diante do poder dos grandes monopólios empresariais, ameaçado de terminar o mandato às voltas com processos na justiça que podem comprovar, entre outras coisas, o enriquecimento ilícito do seu clã familiar, poderia se colocar de forma tão servil e descarada como um aríete a serviço dos interesses da burguesia e do imperialismo.

     Percebendo que sua tentativa de impor uma ditadura de cunho pessoal e militarista não encontrou respaldo suficiente nas classes dominantes (de quem é um mero serviçal), acabou tendo que se render integralmente às negociações e determinações das facções políticas hegemônicas da burguesia brasileira e do capital estrangeiro. Tudo indica que, apesar do conjunto de medidas tomadas pelo seu governo em benefício dos exploradores, Bolsonaro, entregando de bandeja a Petrobrás, busca obter um salvo conduto definitivo para si mesmo e sua camarilha, oferecendo em troca o que resta do patrimônio público à sanha dos capitalistas.  


O Partido Comunista

Graciliano Ramos (09/12/1945)



     O meu prezado José Lins, romancista José Lins do Rego, teve há dias, em artigo da imprensa vespertina, um grito de sinceridade, natural no homem que forjou o Ciclo da Cana-de-Açúcar e a figura inesquecível de Vitorino Papa-Rabo. Esse grito deve ter ecoado — longe — e é inútil mencionar tudo quanto encerra o artigo, certamente lido com amargura e raiva por muito político vaidoso.

     É a confissão espontânea de que o Partido a que se filia o escritor ruiu fragorosamente por ser uma confusa mistura de paixões e interesses diversos. Andou às "tontas", “sem contato com as massas” e, “num pleito livre, admirável espetáculo de civismo", perdeu em vinte e quatro horas todos os sonhos acariciados em longos meses de cegueira voluntária, cegueira que o autor de “Banguê ", depois dessa louvável franqueza, tenta inexplicavelmente prolongar.

     Aí José Lins se embaraça em contradições. Afirma que só os comunistas têm um “plano estabelecido, com palavras de ordem, firmeza de ação para determinar fins". "Esses homens são um bloco e rolam como um bloco sobre os fatos”.

     Que devemos concluir? José Lins diz quatro vezes que essas forças batidas representam a democracia — asserção duvidosa — e conclui:

"Por tudo isso, cada vez mais se faz urgente a fundação de um partido democrático que una o Brasil, que seja o verdadeiro amigo do povo, um complexo de ideias generosas, de compromissos com a dignidade humana, sem sectarismo, a bem de nossa terra e de nossa gente".

     Reproduzi o período inteiro, a fim de notarmos a incongruência do nosso querido romancista.

     Quem vai estruturar esse partido? Naturalmente os mesmos homens que se revelam agora incapazes, com certeza pouco dispostos a visitar favelas, pichar muros, viajar centenas de léguas para dizer quatro palavras a algumas dúzias de operários. Assevera José Lins que apesar de terem os "melhores propósitos, a consciência limpa", não conseguiram chegar às massas.

     Como poderiam chegar? Não nos interessam os bons propósitos e a consciência limpa de certos privilegiados que rodam nos automóveis, infinitamente longe de nós. Basta que um desses cavalheiros, em momento de enjoo, se refira à canalha dos morros, à malta dos desocupados para se desvanecerem todos os bons propósitos. Vivem na superfície, reciprocam amabilidades, incham em demasia — e supõem que atrás deles há multidões emboscadas esperando milagres impossíveis. Nesse período citado integralmente, José Lins, depois de ter sido tão honesto, cai na demagogia e nas promessas vagas. Um partido que seja o verdadeiro amigo do povo, um complexo de ideias generosas, de compromissos com a dignidade humana. Linguagem diferente da linguagem ordinária do criador de “Fogo Morto". Palavras, nada mais.

     Isso que José Lins deseja fundar, sem indicar os meios, já existe, segundo ele próprio declara:

"Só o Partido Comunista foi um órgão inteiriço em todo o território nacional."

     Diabo! Não é suficiente? Ou será que não somos amigos do povo, não possuímos ideias generosas nem dignidade humana? José Lins não admite semelhante coisa. Observador por índole e por ofício, sabe perfeitamente isto, o único amigo do povo é o povo organizado; temos ideias bem claras, e as ideias generosas dos amigos da onça nos deixam de orelha em pé; a nossa dignidade é pouco mais ou menos igual à dos outros bichos que a humanidade produz.

     Sinto discordar do meu velho amigo José Lins, grande cabeça e enorme coração. Discordo. Penso como Vitorino Papa-Rabo, notável sujeito que deixou de ser personagem de romance e a esta hora deve fazer discursos numa pequena célula remota, no interior da Paraíba.

Fonte: https://www.marxists.org/portugues/graciliano/1945/12/09.htm

Edição: Página 1917.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O professor

Cora Coralina



Professor, “sois o sal da terra e a luz do mundo”.

Sem vós tudo seria baço e a terra escura.

Professor, faze de tua cadeira,

a cátedra de um mestre.

Se souberes elevar teu magistério,

ele te elevará à magnificência.

Tu és um jovem, sê, com o tempo e competência,

um excelente mestre.

 

Meu jovem Professor, quem mais ensina e quem mais aprende?

O professor ou o aluno?

De quem maior responsabilidade na classe,

do professor ou do aluno?

Professor, sê um mestre. Há uma diferença sutil

entre este e aquele.

Este leciona e vai prestes a outros afazeres.

Aquele mestreia e ajuda seus discípulos.

O professor tem uma tabela a que se apega.

O mestre excede a qualquer tabela e é sempre um mestre.

 

Feliz é o professor que aprende ensinando.

A criatura humana pode ter qualidades e faculdades.

Podemos aperfeiçoar as duas.

A mais importante faculdade de quem ensina

é a sua ascendência sobre a classe

Ascendência é uma irradiação magnética, dominadora

que se impõe sem palavras ou gestos,

sem criar atritos, ordem e aproveitamento.

É uma força sensível que emana da personalidade

e a faz querida e respeitada, aceita.

Pode ser consciente, pode ser desenvolvida na escola,

no lar, no trabalho e na sociedade.

Um poder condutor sobre o auditório, filhos, dependentes, alunos.

É tranqüila e atuante. É um alto comando obscuro

e sempre presente. É a marca dos líderes.

 

A estrada da vida é uma reta marcada de encruzilhadas.

Caminhos certos e errados, encontros e desencontros

do começo ao fim.

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

O melhor professor nem sempre é o de mais saber,

é sim aquele que, modesto, tem a faculdade de transferir

e manter o respeito e a disciplina da classe….

 

Fonte:  “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”. Global Editora, 1997.

Edição: Página 1917

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

A Setembrada de Jair Bolsonaro e a Situação dos Trabalhadores

Centro de Estudos Victor Meyer (CVM), 05/10/2021.

No dia 7 de setembro, Jair Bolsonaro articulou uma tentativa de golpe de estado, curiosamente anunciada com bastante antecedência, cujo objetivo seria a instauração do estado de exceção. Ele contava, para isso, com o apoio da sua massa fascistoide de seguidores, a colaboração ativa das polícias militares estaduais e, no mínimo, a neutralidade ou simpatia das Forças Armadas.

Fascismo bolsonarista ensaiando o golpe. 


Entretanto, o fracasso dessa intentona, reconhecido publicamente pelo capitão, não resultou na imputação de crime de responsabilidade nem na consequente instalação de um processo de impeachment, por atentado às “instituições democráticas”, como seria natural se a letra das leis burguesas fosse minimamente seguida.

Ao contrário, após as comemorações dos “democratas” em relação ao fiasco do Sete de Setembro, fez-se um pesado silêncio. É que o capitão ainda tem, para a burguesia, um papel a cumprir, considerando as firmes posições de seu governo contra os interesses da classe trabalhadora.

Por isso podemos dizer que o fracasso da “setembrada bolsonarista” não alterará em nada a ofensiva dos capitalistas contra os trabalhadores, ofensiva que se observa pela análise dos resultados das atuais campanhas salariais. 

A intentona golpista de Jair Bolsonaro

A tentativa golpista tem seus antecedentes. Em muitas oportunidades, Bolsonaro ameaçou virar a mesa da institucionalidade burguesa e dar um golpe para enquadrar os demais poderes e instaurar a sua ditadura pessoal. Em abril de 2020, fez discurso pregando o golpe diante do quartel general do Exército; no mês de agosto passado, patrocinou um desfile de tanques da Marinha, para amedrontar parlamentares que iriam decidir sobre o futuro do voto impresso. Porém jamais foi tão longe quanto nas manifestações de extrema direita do Sete de Setembro.

Milhares de pessoas nas principais cidades, mobilizadas pelas redes sociais e subvencionadas pelo dinheiro de empresários bolsonaristas, bradaram em uníssono o grito “eu autorizo”, de apoio ao golpe. O capitão chegou a dizer publicamente que não cumpriria ordens vindas de um ministro da Suprema Corte e que iria convocar o Conselho da República – o que foi interpretado entusiasticamente por seus seguidores como o sinal verde para a declaração do almejado Estado de Sítio.

No dia seguinte, caminhoneiros autônomos, ou motoristas assalariados cumprindo ordens de seus patrões, bloquearam estradas em 15 estados e ameaçavam cortar as linhas de abastecimento das cidades.  As condições para um golpe bem-sucedido, misturando táticas que deram certo no Brasil em 1964 e no Chile em 1973, pareciam estar se configurando: a um significativo apoio de massas pequeno-burguesas nas manifestações, associava-se agora a ameaça do desabastecimento provocada pelos caminhoneiros.

O que aconteceu depois, entretanto, foi um anticlímax inesperado para os militantes bolsonaristas. Em vez de consumar o golpe final, o capitão fez um patético apelo aos caminhoneiros parados a favor da suspensão do movimento, alertando que a ação prejudicava a “economia” e os “mais pobres”. Bateu em retirada.

E o pior ainda estava por vir: no dia 9, Bolsonaro emitiu uma nota à nação se retratando pelos discursos proferidos na antevéspera. Atribuiu-os ao “calor do momento”. A nota foi redigida por ninguém menos que Michel Temer, trazido de São Paulo expressamente para isso a bordo do avião presidencial. Esse líder da “velha política”, outrora tão combatida pelo capitão, também serviu de ponte para um telefonema, visando a retomada de relações com aquele mesmo ministro do STF que dois dias antes havia sido chamado de “canalha” pelo próprio Bolsonaro.

Poucas horas depois, o que era humilhação transformou-se em puro escárnio. Foi divulgado o vídeo de um luxuoso jantar em que Temer e alguns representantes da fina flor da burguesia paulistana gargalhavam diante da performance de um convidado que imitava Bolsonaro, ridicularizando-o sem piedade. 

O que deu errado?

Nos dias seguintes aos acontecimentos, apareceram muitas interpretações sobre quem teria impedido o sucesso do golpe tantas vezes prometido e anunciado. Teria sido o vigor da resposta do STF ao discurso provocativo de Bolsonaro? Teria sido a habilidade diplomática de Temer?

Nada disso. Como já afirmamos aqui diversas vezes, golpes militares dependem muito pouco da simples vontade de um presidente e muito mais das condições objetivas dadas pelas correlações de forças entre as classes sociais fundamentais. A burguesia brasileira entende que o seu domínio social não está ameaçado pelos trabalhadores e, assim, não está disposta a renunciar ao seu poder político direto, em favor de um líder de extrema direita que, além de tudo, vem demonstrando incompetência na gestão dos negócios burgueses, como ficou demonstrado na condução da pandemia e ao criar seguidas crises institucionais.

Diversas notas de associações burguesas e de lideranças da classe dominante deixaram claro que o momento não é para isso e, sendo assim, também as Forças Armadas não se mexeram, pois sabem que são enormes as possibilidades de fracasso político de um golpe militar, sem base de sustentação na classe dominante e no imperialismo americano. E as Polícias Militares, onde Bolsonaro tem grande número de adeptos, também não se moveram, por não estarem seguras de que suas ações teriam a cobertura do Exército.

Não à toa, o comandante da força terrestre divulgou um pronunciamento no dia 17 de setembro, alertando seus comandados para não se deixarem “contaminar por fake news”. Segundo ele, seria “preciso buscar a verdade dos fatos” e, na dúvida, consultar os superiores. Provavelmente, tinha em mente alguma eventual quebra na hierarquia, incentivada pela rede bolsonarista. 

A um ano das eleições presidenciais

O interesse predominante da burguesia brasileira, em especial da fração financeira que comanda o bloco no poder, é a retomada da normalidade dos negócios e, nesse sentido, não querem nem impeachment nem golpe. Querem que a temperatura esfrie para passarem no Congresso as lucrativas privatizações de empresas públicas e as chamadas “reformas”, que têm como objetivo aumentar a exploração dos trabalhadores e retirar ou rebaixar seus direitos. E querem tempo para viabilizar a “terceira via”, construindo um candidato confiável para as eleições presidenciais do próximo ano.

Nem Bolsonaro nem Lula são candidatos ideais para a burguesia, mas ambos acabaram sendo apoiados e aceitos nos respectivos mandatos presidenciais ao acolherem e se amoldarem ao programa do capital financeiro, cada um a seu modo. A insistência de Bolsonaro em criar crises políticas desnecessárias, ao lado de sua gestão ineficiente, e a inclinação de Lula pelo “nacional-desenvolvimentismo” pequeno-burguês são pedras no sapato da fração hegemônica do capital, mas não configuram antagonismo insuperável.

O governo de Bolsonaro atingiu um recorde de desaprovação nas pesquisas de opinião: 53% avaliam-no como ruim ou péssimo. Num confronto eleitoral com Lula no primeiro turno o capitão teria apenas 26% das intenções de voto, contra 44% do seu principal oponente. Já os candidatos da “terceira via”, nenhum deles alcançaria no momento mais de 10% no primeiro turno, o que mostra que hoje a alternativa só teria alguma chance se Bolsonaro fosse impedido de concorrer.

A base de massa da “terceira via” também não é relevante. As manifestações convocadas no dia 12 de setembro contra Bolsonaro (e contra Lula) foram bem menores que as de 7 de setembro, promovidas pela extrema direita, e as de 2 de outubro, lideradas pelo PT.

Deve-se admitir que a ascensão dos neofascistas no cenário político, fenômeno que não é somente brasileiro, parece ter vindo para ficar no país. Embora não contem ainda com um partido político, organizam-se por meio de redes sociais, dispõem de recursos financeiros expressivos (internos e externos), mobilizam-se com facilidade e estão se preparando para um confronto armado. Sua base são a pequena-burguesia afetada pela crise econômica (pequenos comerciantes, caminhoneiros autônomos e prestadores de serviços), membros do aparelho repressivo legal (Forças Armadas, polícias civis e militares) e ilegal (milícias com domínio territorial), pecuaristas e membros de igrejas neopentecostais e do lumpemproletariado.

Nas mãos do Centrão, para não sofrer processo de impeachment, e envolto em escândalos de compra de vacinas e de “rachadinhas”, a campanha de Bolsonaro não poderá contar mais com a bandeira da luta anticorrupção, que alimentou a sua eleição em 2018. Ele e seus seguidores têm esperança em dois fatores para chegar ao segundo turno com alguma chance de sucesso: a recuperação da economia e o aumento e extensão do Bolsa-Família, agora com nova etiqueta eleitoral (Auxílio-Brasil).

Após 600.000 mortes, grande parte delas ocasionadas pelo negacionismo governamental e que atingiu duramente os trabalhadores (ver aqui também pesquisa do CESTEH/Fiocruz), é certo que o controle da pandemia pela vacinação está resultando em alguma recuperação do setor terciário e aumento na ocupação informal. Mas mesmo os economistas burgueses vêm diminuindo gradativamente a previsão de crescimento para 2022, situando-o agora no patamar de 1,6%, em função das restrições externas e internas.

O tal “Auxílio-Brasil” também tem dificuldade de decolar e a solução encontrada pelo governo para o seu pagamento foi uma pedalada fiscal revestida de emenda constitucional: a origem do dinheiro viria do adiamento de recursos destinados a honrar dívidas da União Federal já determinadas judicialmente (precatórios). Pelo que se sabe, o Bolsa Família com novo nome teria o seu valor aumentado de cerca de R$ 189,00 (em média) para R$ 300,00 por mês, e o número de beneficiados aumentaria ligeiramente, passando de 14,6 para 16 milhões.

Considerando que só o botijão de gás de cozinha está custando hoje cerca de R$ 120,00 e os produtos da cesta básica tiveram aumento de mais de 30% em apenas um ano, percebe-se que o impacto do auxílio pretendido na subsistência das famílias mais pobres está muito aquém do mínimo necessário para a sua subsistência, tanto em valor, quanto em relação ao número de famílias abrangidas. 

Situação atual e perspectivas de luta dos trabalhadores

A situação dos trabalhadores agravou-se brutalmente nos últimos anos, particularmente entre 2020 e 2021, com a perda de direitos provocada pela “reforma trabalhista”, o rebaixamento dos salários, a carestia, o desemprego e os ataques dos capitalistas contra a atuação nos locais de trabalho.

Patrões chamam a polícia para reprimir metalúrgicos no Paraná.

Os capitalistas estão sendo estimulados pela nova “reforma trabalhista” a não negociar mais por intermédio dos sindicatos, de modo a impor a sua vontade à massa dos trabalhadores. Apenas para exemplificar, os patrões dos grupos de autopeças não negociam mais convenção coletiva com o sindicato dos metalúrgicos de Campinas e a Petrobras passou a solicitar a “mediação” do TST no momento de renovação do acordo coletivo.

O governo Bolsonaro impulsionou essa ofensiva que, na conjuntura aberta com a pandemia, assumiu maior extensão e grau ainda mais elevado com a redução de salários e de jornada de 10 milhões de trabalhadores, suspensão de contrato, massificação de acordos individuais, aumento dos contratos intermitentes, prevalência dos acordos sobre a legislação trabalhista.

Os resultados desse processo sobre as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores desde o início do ano até o momento podem ser compreendidos na análise dos dados e das informações oferecidas principalmente pelo DIEESE e pelos portais de notícias dos sindicatos e oposições sindicais. Vamos destacar aqui o problema do rebaixamento dos salários e do aumento da exploração dos trabalhadores pelos capitalistas, reforçada pela política econômica de Guedes-Bolsonaro.

O semestre concluído em junho de 2021 aponta com nitidez o rebaixamento dos salários diante da inflação, com quase 59% dos reajustes salariais situados abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) que o IBGE utiliza para medir o custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 a 5 salários mínimos, ou seja, principalmente dos trabalhadores e destes os assalariados cuja renda média é de R$1.800,00 e que tendem a gastar todo o seu rendimento em itens básicos, como alimentação, medicamentos, transporte etc. O resultado da inflação para os trabalhadores é a perda do poder de compra dos salários, enquanto para os capitalistas tem o sentido de aumentar a mais-valiasalários abaixo do valor da força de trabalho – ou seja, que não conseguem comprar os bens necessários à manutenção de sua força de trabalho – implicam aumento da exploração absoluta dos trabalhadores pelo capital porque precisam trabalhar mais para garantir a reprodução de si e de sua família.

De acordo com o DIEESE, apenas 24,8% dos os trabalhadores conseguiram reajustes acima do INPC, 16,3% iguais e 58,9% abaixo do INPC. Na prática, o aumento do custo de vida corrói o poder de compra do salário imediatamente ao dia seguinte e ao longo dos meses a partir da data-base, anual, de tal modo que tanto os reajustes iguais como os acima do INPC acabam rebaixados. O que exige ultrapassar a limitação das datas-base impostas pela legislação trabalhista, travando-se a luta sempre que a inflação ameaçar o poder aquisitivo dos salários.

Entende-se então a importância que a luta por reajustes salariais voltou a ocupar nas campanhas do semestre findo. Nas 252 greves no setor privado que o DIEESE registrou, 34 greves ou 13,5% tiveram esta como a principal reivindicação. Contudo, predominaram negociações ao invés de greves, nestas a principal reivindicação foi a manutenção das condições vigentes ou o descumprimento de direitos, em sua maioria por empresa mediante acordos coletivos e não de convenções coletivas de trabalho. Nenhuma greve de solidariedade aconteceu. Em síntese: os trabalhadores continuam numa situação geral de defensiva e desorganização.

Mas há sinais, ainda isolados por enquanto, de que este sonho escravocrata pode terminar num pesadelo para os capitalistas. O número de horas paradas (e de greves) que vinha diminuindo desde 2016, até atingir o ponto mais baixo em 2020, voltou a aumentar no primeiro semestre de 2021.

Um exemplo encontra-se na base do sindicato dos metalúrgicos do ABC, ligado à CUT. Na Toyota de São Bernardo, os operários em assembleia aprovaram o reajuste integral (não parcelado) pela inflação de 10,42% retroativo à data base (1º de setembro). É pouca coisa, se levarmos em conta que o percentual de reajuste necessário em julho, estimado pelo DIEESE era de 9,85%. Ou seja, um ganho de apenas 0,57%. Mais importante mesmo foi a conquista do vale-alimentação. Mesmo estes pequenos ganhos tiveram como pressuposto a mobilização. Esta é a explicação para o recuo dos capitalistas do setor de máquinas e equipamentos (G2) que pretendia dar reajuste menor, ainda por cima parcelado. Assembleia massiva com aprovação de “aviso de greve” – nos termos da Lei nº 7.783, de 1989, o aviso deve ser entregue com 48 horas de antecedência e de 72 horas no caso dos serviços essenciais– conduziu o patronato a mudar a posição.

Os trabalhadores estão se deparando com o resultado da ofensiva dos capitalistas com apoio governamental e de todo o aparato estatal da burguesia, conforme noticiamos no F&C 31 e que agora começam novamente a enfrentar nas presentes campanhas salariais.

A pressão dos operários nas fábricas tem levado à radicalização dos dirigentes que, quase sempre dispostos a conciliar com os patrões, admitem que estes querem “congelar o piso de entrada” nas empresas para contratar pessoal com salários mais baixos. Mas alegam “desrespeito” à legislação quando a prática patronal, demonstrada até a exaustão por todas as greves na história da luta dos trabalhadores no Brasil e no mundo, sempre desrespeita, sempre quer tratar o trabalhador como escravo ou pior, como veremos adiante, no caso dos metalúrgicos do Paraná, como gado.

Na campanha salarial dos metalúrgicos da Grande Curitiba, organizada pelo sindicato ligado à Força Sindical, chama atenção a realização de greves por empresas, para forçar os patrões a negociação. Em setembro, os trabalhadores paralisaram pelo menos as fábricas da Oregon Tool e da Omeco, nesta inclusive há mais de 20 dias. O caso mais grave aconteceu na Oregon que impediu o sindicato de consultar os trabalhadores na porta da fábrica, por meio de uma votação secreta, a respeito da proposta de Participação nos Resultados (PPR). Acionou a justiça alegando risco ao patrimônio que, atendendo a empresa, mandou a polícia “fiscalizar” a ação do sindicato. Quer dizer, o aparato policial ostensivo (batalhão de choque, viaturas e camburões) e a ameaça de demissão pelas empresas impediram a votação.

A direção sindical pelega, sempre pautada pela defesa da paz social, do “equilíbrio de forças entre capital e trabalho” (como se o desequilíbrio já não começasse no fato dos patrões estarem organizados com maior força somente por serem patrões, proprietários dos meios de produção e de vida), teve de reagir a esta ameaça ao seu papel como sindicato. Elevou o tom, para se apresentar como o porta-voz dos trabalhadores, porém sem admitir a auto-organização dos operários no chão da fábrica: os trabalhadores não podem ser “tratados como gado que vai entrar para trabalhar, sem poder falar, só trabalhar, trabalhar e outras pessoas falarem em nome dele.” Ou seja, que os patrões querem impor a sua “comissão de trabalhadores” ao invés da comissão “do sindicato”. A direção do sindicato dos metalúrgicos de Curitiba chegou mesmo a apontar, na atitude da gerência da Oregon e na repressão policial garantida pelo governo estadual, a influência da setembrada bolsonarista. Mas a repressão da PM nas demais empresas (Omeco, Indumec, Multivac) deixa entrever que a ação foi concertada entre as empresas com apoio do Sindimaq, o sindicato patronal do setor e que agiram respaldadas na justiça. Diante disso, o sindicato poderia ter convocado os trabalhadores a expressar coletivamente solidariedade aos grevistas e a mobilizar-se contra a ação repressiva, pela liberdade de organização nas fábricas, porém preferiu reduzir a luta à denúncia na Assembleia Legislativa do Paraná.

O caso desta fábrica de apenas 276 empregados, por ser representativo da situação mais ampla dos trabalhadores, deixa claro aos operários a necessidade de romper os limites em que o movimento se encontra. A classe precisa superar os limites da legislação trabalhista que atrela os sindicatos ao Estado, que limita o reajuste salarial e as demais reivindicações coletivas às datas-bases das categorias em cada município, dividindo e separando os trabalhadores em diferentes datas, que impede a organização nos locais de trabalho e que obriga a avisar a greve com antecedência, enfraquecendo o único poder de pressão disponível nas circunstâncias frente ao poder generalizado do capital e seu Estado. Na perspectiva estratégica da mobilização independente da classe operária, as pequenas lutas preparam as grandes lutas.

Edição: Página 1917

Fonte: http://centrovictormeyer.org.br/fatos-critica-no-32-a-setembrada-de-jair-bolsonaro-e-a-situacao-dos-trabalhadores/


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