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domingo, 17 de março de 2024

A luta do proletariado e das massas na luta de classes contra a burguesia e seus atuais limites

Coletivo Cem Flores
2023
Jamais reduziremos nossas tarefas ao apoio às palavras de ordem da burguesia reformista mais em voga. Perseguimos uma política independente e apresentamos apenas as reformas que são, sem dúvida, favoráveis aos interesses da luta revolucionária, que sem dúvida aumentam a independência, a consciência de classe e a eficiência de luta do proletariado.
                              Lenin: Mais uma vez sobre o Ministério da Duma (1906)

 

Após a derrota das experiências revolucionárias socialistas do século 20, que se somaram às crises do marxismo e do movimento comunista internacional, e diante da violenta crise que o capital atravessa, o proletariado e as demais classes trabalhadoras em todos o mundo sofreram muitas derrotas e recuaram de forma intensa no terreno da luta de classes. Suas teoria e organizações revolucionárias foram em grande parte abandonadas, desorganizadas ou derrotadas. Sua unidade e suas lutas apresentam enormes dificuldades para se firmarem e serem vitoriosas contra seus inimigos de classe. Concomitantemente, a burguesia passou à ofensiva em várias frentes, retomando e conquistando posições, avançando sobre as grandes massas para impor ainda mais exploração e opressão.
 
A luta do proletariado e das massas no Brasil é parte desse cenário geral. As lutas concretas dos explorados e oprimidos, que brotam da piora das suas condições de vida, encontram diversos e significativos limites políticos, ideológicos e organizacionais, que barram e impedem uma ação mais incisiva e efetiva contra o inimigo burguês e seus aliados. Um dos maiores desafios dos comunistas nesta conjuntura é transformar a crise e a ofensiva burguesa em oportunidades de avanço da luta e organização proletária.

Brasil: democracia burguesa em ação.


De forma mais concreta, são vários os fatores que limitam e emperram a luta do proletariado atualmente no Brasil. O desemprego elevado e a deterioração do mercado de trabalho, um dos principais efeitos da crise, criam um ambiente desfavorável para a luta sindical por melhores condições de trabalho, salários e benefícios, seja pelo aumento  de  concorrência  entre  trabalhadores empregados (formais e informais) e os que compõem o exército de reserva, seja pelo avanço do poder patronal. O reforço da repressão, desde a vigilância à repressão sanguinária, coloca aos explorados a exigência de um patamar mais elevado de organização. A prolongada ausência da posição revolucionária abre espaço para a influência crônica do reformismo e do oportunismo, que desorganizam e corroem os instrumentos de luta das massas, tornando-se verdadeiras armas do inimigo, sendo o exemplo claro a grande maioria dos sindicatos hoje.
Mesmo diante desses limites, as lutas concretas das massas trabalhadoras são uma realidade na atual conjuntura brasileira. Elas surgem na maior parte das vezes de forma espontânea. Durante os anos de 2012-16 ocorreu um importante ciclo de greves, em um cenário de menor desemprego e levante de bases de trabalhadores além das e por vezes contra suas direções sindicais. Esse ciclo de greves se combinou com grandes manifestações de rua, como as de Junho de 2013 e as ocupações estudantis, de 2016. Nos anos mais recentes, importantes greves e manifestações continuaram a acontecer, apesar de menores e bem mais defensivas. Exemplos disso são os protestos contra o governo, as greves operárias em grandes empresas e a mobilização dos trabalhadores de aplicativo.

O aumento da miséria nas periferias das grandes cidades, sobretudo na pandemia, impulsionou a ajuda mútua e os movimentos de solidariedade nas comunidades. O reforço da auto-organização popular, elemento necessário para sobreviver nessas regiões em período de crise, se fez sentir nos mutirões, nas cozinhas e creches comunitárias e nas campanhas de arrecadação. Tais sementes de poder proletário, no entanto, foram e são cotidianamente sufocadas seja pela cooptação e desmobilização das ditas “políticas sociais”, ou das ONGs empresariais, igrejas etc., ou ainda pela ação repressiva das polícias, do tráfico e das milícias.

No presente, a influência dos comunistas nessas lutas é quase nula, reflexo da nossa própria pequenez e fraca capacidade organizacional e teórica. As lutas do proletariado e das massas surgem em grande parte sem uma direção política e ideológica, marcadas por forte espontaneidade. As forças políticas burguesas, o reformismo e o oportunismo, buscam constantemente dirigir ou aplacar a rebeldia e as organizações que surgem na massa trabalhadora, conduzindo suas lutas para o terreno institucional e para o reforço de seus próprios grupos políticos. 

Os saldos da luta comunista são quase imperceptíveis atualmente e a posição proletária se encontra soterrada ideológica e politicamente, exigindo dos comunistas um esforço maior e crescente de organização e combate para conquistar a direção dessas lutas e acumular para uma alteração da atual correlação de forças.

As perspectivas de dificuldades para a vida proletária e das massas dominadas no Brasil atual são condições materiais, objetivas, para a eclosão de manifestações das massas. Dentre essas se incluem as manifestações de trabalhadores por fora da estrutura sindical oficial e pelega. Se incluem também o reforço do mutualismo, com seu duplo papel: “defensivo” diante da perda de renda e da carestia e de reforço da solidariedade e da ação autônoma de classe. Em suma, diversas reações proletárias e populares, autônomas, independentes, espontâneas podem surgir nos próximos períodos, mesmo diante das barreiras e dos limites atuais. O papel dos comunistas é se juntar a essas reações, lutar lado a lado com nossos irmãos e nossas irmãs de classe, divulgá-las, aprender com elas e contribuir na sua organização e direção.

Fonte: Documento Base, Coletivo Cem Flores, 2023, pág. 175/178.

Edição: Página 1917


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