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terça-feira, 15 de maio de 2018

Democracia Burguesa no Brasil: O Mito Reforçado.


Ney Nunes

          Se considerarmos a vigência da constituição de 1988, completamos três décadas de regime político democrático burguês em nosso país. Para o senso comum, reforçado diuturnamente pelo oligopólio midiático, vivemos numa “democracia”, assim mesmo, sem nenhuma caracterização de classe, como se o regime político fosse neutro e não estivesse subordinado aos interesses da burguesia.

      Antes de mais nada, é preciso dizer que a mudança de regime ocorrida nos anos oitenta do século XX, quando transitamos da ditadura empresarial-militar para a democracia burguesa, foi uma mudança progressiva do ponto de vista da luta do proletariado. Saímos de um regime obscurantista e repressivo, onde a manifestação pública de oposição ao governo implicava em correr o risco de prisão, tortura e morte, para outro, onde, em princípio, pelo menos isso estaria descartado.

     
O golpe de 1964, ditadura empresarial-militar.

  Dito isso, precisamos esclarecer que os dois regimes, a ditadura empresarial-militar instalada após o golpe de 1964 e a democracia burguesa consolidada com a constituição de 1988, têm algo relevante em comum: os dois respondem ao interesse fundamental da classe dominante, ou seja, a continuidade e o desenvolvimento do capitalismo.
      Vejam que o caráter progressivo da democracia burguesa foi relativo à ditadura e, de forma alguma, pode ser uma conceituação estática. Superada essa transição, a democracia burguesa se revela muito mais apetrechada no sentido de cumprir a missão primordial de todo sistema político burguês: a garantia do desenvolvimento capitalista. Nesse momento, o seu caráter progressivo, do ponto de vista da luta de classes, se dissolve. Para confirmarmos essa tese é suficiente verificar como nos últimos trinta anos as diversas esferas do poder do Estado atenderam as demandas das classes dominantes. 

Sarney e Ulisses, constituição de 1988 resguarda o poder do capital.
      

            É inequívoco que o regime político, consolidado com a constituição de 1988, mostrou-se muito mais eficiente no sentido de preservar a hegemonia burguesa e de protegê-la das intempéries da luta de classes. Mesmo agora, sofrendo com um desgaste nunca visto nos últimos trinta anos, vendo todas as suas instituições envolvidas em escândalos de corrupção, esse regime segue atacando o proletariado, aprovando leis, emitindo decisões judiciais e executando políticas em favor dos interesses burgueses.

     A superioridade da democracia burguesa reside justamente nesta sua capacidade de parecer o que, na verdade não é, ou seja, uma verdadeira democracia. Como falar em democracia, eleições livres, direitos iguais, etc., quando tudo favorece o poder econômico dos oligopólios empresariais, dessa minoria parasitária detentora do capital. Essa realidade é mascarada por todos os meios disponíveis na sociedade, mas, sem dúvida, o mais eficiente deles é a cooptação de agentes políticos oriundos das próprias classes exploradas, ou daqueles que se arvoram como seus representantes. Esses cooptados passam a agir em consonância com o projeto burguês, dividindo o exército proletário, desorganizando e desmoralizando a única classe em condições de levantar uma alternativa de poder frente à burguesia.

2013, a democracia burguesa em ação.

     Os apressadinhos que correm para salvar a “democracia”, sob o argumento de que ela estaria ameaçada, estão reforçando o mito de uma democracia ilusória, dissociada dos interesses de classe. Deveriam refletir sobre qual é a democracia que estão querendo salvar. A ilusória ou a burguesa? A ilusória não precisa de salvação porque não existe. Já a democracia burguesa, essa é bem concreta e está em pleno vigor no Brasil, suas instituições têm desferidos golpes e mais golpes contra as liberdades democráticas e os direitos elementares do povo trabalhador. Em vez de socorrer esse decadente regime político burguês, nossa atuação deve ir em sentido contrário, expondo sua verdadeira face de classe, de exploração do povo trabalhador e levantando a bandeira da democracia proletária, socialista, dos produtores, nesta, o poder político e econômico não ficará nas mãos de uma minoria parasitária.

 



 
                                                                                      

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