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terça-feira, 9 de março de 2021

Por um Feminismo Revolucionário

Cecilia Zamudio

   No dia 8 de março se comemora a mulher trabalhadora revolucionária. A comunista Clara Zetkin propôs a comemoração na conferência de mulheres socialistas de 1910, para homenagear a luta das mulheres contra a exploração capitalista. É lembrado o assassinato, pelas mãos do grande Capital, de 129 operárias em greve, queimadas vivas em uma fábrica têxtil nos EUA: os donos da fábrica fecharam as portas com elas dentro e atearam fogo para fazê-las queimar (como medida de "dissuasão" para evitar que outras trabalhadoras seguissem seu exemplo de luta). Se comemora a luta pela justiça social, pelos direitos da classe trabalhadora, a luta contra o patriarcado e o capitalismo, cujos mecanismos estão perfeitamente articulados entre si. 


Mulheres operárias: mão-de-obra barata na indústria têxtil.
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  O 8 de março também foi marcado como uma data eminentemente revolucionária pelos acontecimentos de 8 de março de 1917 na Rússia czarista: milhares de mulheres foram às ruas clamando por seus direitos, contra a exploração e as guerras que a burguesia impunha ao povo: elas detonaram a Revolução de Outubro. Após a Revolução de Outubro, as mulheres conquistaram seus direitos econômicos, sociais, sexuais e reprodutivos: o direito de votar para todas as mulheres (não apenas para as proprietárias como na Grã-Bretanha), direito ao divórcio, direito ao aborto, plenos direitos de estudar e garantia de trabalho, moradia, saúde e educação, etc. Todos esses direitos ainda não estão garantidos na grande maioria dos países capitalistas. 

   Nós, mulheres, somos a parte mais atacada da classe explorada. Somos vítimas das guerras imperialistas, da pilhagem capitalista que empobrece regiões e países inteiros, das privatizações e da precariedade, e também somos vítimas do machismo incessantemente promovido pela mídia e por toda a indústria cultural do capitalismo. Porque o capitalismo se sustenta fragmentando e dividindo a classe explorada: é por isso que a indústria cultural do capitalismo difunde incessantemente paradigmas de discriminação como o machismo e o racismo. 

   Somos as trabalhadoras exploradas, estudantes, artistas, desempregadas e aposentadas que estão sendo privadas de uma vida digna, às vezes até de alimentação, moradia, acesso à saúde, acesso à educação, etc. Estamos privados de condições de trabalho e de remuneração dignas pelos capitalistas que tiram a mais-valia do nosso trabalho. Somos as mães cujo trabalho em casa não é reconhecido, aquelas que ficam na precariedade absoluta, sem pensão. Somos mulheres migrantes levadas a sofrer as piores explorações: em máquinas terríveis, borrifadas com veneno na agroindústria, condenadas à exploração da prostituição ou a serem coisificadas e saqueadas como "barrigas de aluguel". Nós somos as meninas estupradas e forçadas a dar à luz. Somos designados por este sistema como alvo das frustrações aberrantes que este sistema provoca, da misoginia que fomenta. Por isso galopa o feminicídio: porque a mídia banaliza a tortura e toda discriminação alienante funcional ao capitalismo, porque a violência exercida de forma estrutural arrasta seu ódio contra nós. Somos vítimas do capitalismo e de sua barbárie, vítimas do machismo que o próprio capital promove; mas também somos mulheres lutadoras e revolucionárias. 


    O 8 de março não é o dia das princesas, nem das empresárias exploradoras. As mulheres opressoras, as Cristine Lagarde, as Thatchers, as Hillary Clintons e outras ... aquelas que lucram a devastar florestas, a oprimir populações, com escravização de milhares de trabalhadoras em fábricas de horror, que também lucram promovendo o machismo através de seus meios de alienação massiva, elas são a classe exploradora, assim como os homens da classe exploradora. 

   Ao capital interessa nos manter atadas à divisão sexual do trabalho, aos trabalhos não remuneradas, à discriminação salarial por sermos mulheres. Ao capital convém uma classe explorada pulverizada e derrotada, impedida de unidade pelo machismo, racismo, xenofobia, individualismo e outras alienações que a classe exploradora se encarrega de cultivar. Diante de uma realidade tão brutal, o reformismo, sempre servindo para impedir questionamentos profundos, pretende encapsular nossa luta e superficializá-la, ocultando seu caráter de classe, encobrindo a funcionalidade que o machismo tem para o capitalismo.  

   Os reformistas, que procuram continuar a enganar-nos com a fábula cínica de um suposto e impossível “capitalismo com rosto humano”, procuram esconder que não conseguiremos mudar a cultura profundamente machista que reina em todo o mundo, a não ser que tomemos o controle dos meios de produção e, portanto, os de difusão e educação. Nesse sistema, toda uma artilharia de submissão ideológica é implementada pela classe burguesa; os paradigmas da opressão são ativamente forjados de múltiplos lados: desde as instituições religiosas historicamente funcionais às classes dominantes, passando pela grande indústria audiovisual e até os videogames "inofensivos". Para combater essa alienação em larga escala, que tanto causa sofrimento, obviamente são necessárias medidas para subverter a ordem social vigente. Abolir o patriarcado não será possível sem abolir o capitalismo. 

   Os cavalos de Tróia da burguesia tentam nos fazer acreditar que as mulheres exploradoras são nossas irmãs, quando elas também participam na perpetuação desse sistema que devora a natureza, explora os seres humanos (a classe trabalhadora) e perpetua o machismo, o racismo, o individualismo, os comportamentos e discriminações fundamentais para a manutenção deste sistema apodrecido. 

   As mulheres revolucionárias sabem que a sociedade de classes se perpetua na violência: aquela violência exercida pela classe exploradora (que possui os meios de produção) contra as maiorias exploradas e precarizadas, e sabemos também o peso que o machismo significa para a unidade da classe explorada. Lutamos também por um feminismo revolucionário, para opor-se à infame apropriação que o sistema está tentando fazer da luta feminista, com seus aberrantes Cavalos de Tróia e seu discurso de "irmandade poli classista" (como tivéssemos que ter "irmandade" com uma capitalista exploradora, uma cafetina ou uma líder do complexo militar-industrial pelo simples fato de ser mulher!). 

   Lutamos contra toda exploração, e nossa luta contra a opressão das mulheres trabalhadoras, avançamos lutando dia a dia contra o machismo, contra a classe burguesa, contra uma ordem social de explorações concatenadas; lutando contra a raiz que sustenta as desigualdades sociais: combatendo contra um sistema que incentiva a opressão das mulheres porque precisa dessa opressão como mecanismo de dominação e divisão da classe explorada; lutando contra um sistema que incentiva a violência machista como controle social (como válvula de escape pérfida das frustrações que tal sistema cria); lutando contra um sistema em que um punhado de bilionários capitalizam moendo a humanidade e fatiando o planeta. 

   O feminicídio galopante é parte da barbárie de um sistema econômico, político, social e cultural, o capitalista, violento em sua essência e perverso em sua lógica. Um sistema baseado na exploração dos trabalhadores e no saqueio da natureza, é um sistema que precisa banalizar a exploração, a injustiça social e a tortura.  

  A luta pela emancipação da mulher e a luta contra o capitalismo são indissociáveis. Por um feminismo revolucionário, que não é uma foto de capa, mas sim uma luta cotidiana, que luta contra toda exploração.

Fonte: https://cecilia-zamudio.blogspot.com/?m=1

Edição: Página 1917

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