Nesse cenário extremamente difícil, a classe operária e as massas lutam
com grandes sacrifícios para sobreviver, tentam criar formas novas de apoio
mútuo e solidariedade entre si e os seus, e buscam resistir ao desemprego e à
exploração capitalista com greves e manifestações. Embora essas ainda sejam
pequenas e estejam dispersas, e atualmente muito dificultadas pela
pandemia, não há outro caminho para a libertação a não ser o da luta,
contando com nossas próprias forças.
Os vendedores de ilusões, os reformistas de ideologia burguesa
infiltrados entre as massas, buscam enganá-las com promessas de uma vida
melhor, dentro do capitalismo, sem luta, apenas votando em seus candidatos e
apoiando seus conchavos com os patrões. No entanto, a libertação das
classes dominadas somente pode ser conquistada pelas próprias classes dominadas.
1. A catástrofe sanitária da pandemia do coronavírus.
Neste ano, o Brasil tornou-se o centro mundial da pandemia de
coronavírus. Com o grande aumento de novos casos e novas mortes, o país já tem uma
em cada quatro vítimas da doença no mundo. A velocidade descontrolada de
expansão do vírus gera variantes ainda mais contagiosas e letais. Como
resultado, até agora são mais de 12 milhões de contaminados e mais de 300 mil
mortos.
As razões para essa desgraça não são apenas naturais ou biológicas. São
anos e anos de corte de verbas e de tentativas de desmonte do SUS por vários
governos (PT, MDB, PSL) em nome do “ajuste fiscal”. Na pandemia, as
carências ficaram mais explícitas. UTIs lotadas, falta de materiais básicos
para intubação, incluindo oxigênio, pessoas morrendo na fila de espera, no chão
das UPAs ou mesmo em casa, sem assistência médica. Os/as trabalhadores/as da
saúde suportando cargas elevadíssimas de trabalho e de pressão, muitas vezes
sem equipamentos de proteção individual. Ao menos no primeiro semestre não há
perspectivas de qualquer melhoria – pelo contrário.
Esta crise é ainda mais agravada pela sabotagem intencional dos governos
burgueses. O governo Bolsonaro sabota, intencionalmente, por todos os meios
possíveis, o combate à pandemia. Seu ex-ministro da saúde deixou milhares de
testes perderem a validade e recusou o fornecimento de oxigênio para Manaus no
pior momento da crise, substituindo por uma viagem para promover cloroquina.
Quanto às vacinas, Bolsonaro proibiu o governo federal comprar a Coronavac e
seu ex-ministro recusou a oferta da Pfizer. O ministro da economia quis acabar
com os gastos mínimos obrigatórios com saúde (e educação). Muitos governos
estaduais apoiam e compactuam com o governo federal, fecharam hospitais de campanha
e não adotam medidas de prevenção. E todos juntos, governos federal e
estaduais, permitem que os trabalhadores continuem se contaminando no
transporte urbano e nos locais de trabalho ou na necessidade de que cada um
encontre seu sustento por conta própria em meio à pandemia. A esses governos só
uma preocupação move: o lucro da burguesia. E os trabalhadores são os
mais atingidos pela barbárie dessa pandemia.
Que o proletariado e as massas não se deixem enganar com os acordos
burgueses como a reunião de Bolsonaro com os presidentes da câmara, do
senado, do STF e governadores. Seu objetivo é só iludir e ganhar tempo. Ao
invés disso, digamos: “Senhores, Patrões, chefes supremos / Nada esperamos
de nenhum / Sejamos nós que conquistemos / A terra mãe livre e comum”.
2. A catástrofe econômica da crise do capital.
Camaradas, a crise do capital na pandemia agravou a grande recessão de
2014-16, que o capitalismo no Brasil nunca superou. O desemprego
atinge 14 milhões de trabalhadores/as, fora 10 milhões que sequer conseguem
buscar emprego. Dentre os que estão “empregados”, 34 milhões são informais.
Para todos esses, a carestia torna ainda mais difícil a vida na exploração
capitalista.
Completam o quadro da crise o aumento dos juros e do dólar, o
encarecimento dos alimentos (arroz, carne, óleo etc.), da gasolina e do gás e a
estagnação dos salários. As perspectivas são de agravamento da crise neste
semestre, com quedas recordes nos indicadores de confiança da burguesia
(indústria, construção, comércio) e do “consumidor”. Uma nova recessão
está a caminho.
Também neste caso, a ação do governo se voltou, intencionalmente, para
deteriorar as condições de vida da classe operária e das massas. Em primeiro
lugar, a partir de setembro de 2020, o auxílio emergencial foi cortado pela
metade (de R$ 600 para R$ 300). Neste ano, o auxílio foi cortado totalmente. O
resultado foi o esperado pela burguesia e seu governo: os índices de pobreza no
país bateram recordes. Mas o discurso do “ajuste fiscal” reforçou o apoio da
burguesia ao governo. Como sempre, a exploração do/a operário/a é o lucro do
patrão.
Quando não foi mais possível negar o auxílio, o governo e o congresso se
somaram para criar algo limitado a 15% do gasto de 2020 e ainda usá-lo como
justificativa para novos cortes. A chamada PEC Emergencial viabilizou
juridicamente o congelamento de salários de servidores, principalmente nos
estados e municípios, entre outros “ajustes”.
Isso não foi surpresa, já que a crise tem sido aproveitada pelo
governo para “passar a boiada” das “reformas” econômicas, destruição ambiental,
medidas armamentistas-repressivas, entre outras. As “reformas” aprovadas já
incluem a autonomia do Banco Central e uma regulação privatizante dos setores
de gás (incluindo a Petrobrás) e saneamento. Já estão no congresso as propostas
de privatização dos Correios e da Eletrobrás (o “ajuste” no Banco do Brasil,
que prevê milhares de demissões, também tem avançado), além das “reformas”
administrativa e tributária. Na crise, o estado capitalista distribui fartos
benefícios ao capital e doença, mortes e exploração à classe operária e às
massas.
3. A catástrofe política do governo de extrema-direita, fascista.
Em relação às medidas repressivas, além da progressiva
eliminação de todo o controle na aquisição de armas – que facilmente acharão
seu caminho para as milícias e o crime organizado. Bolsonaro propõe um maior
controle do governo federal sobre as polícias militares estaduais,
centralizando o aparelho repressivo como na última ditadura militar. Bolsonaro
também passa explicitamente para a repressão política, mediante prisões
policiais e inquéritos baseados na Lei de Segurança Nacional da ditadura, e
ameaças de decretação de Estado de Sítio.
O governo Bolsonaro, como qualquer governo burguês, se baseia no binômio
exploração capitalista e repressão – ambos agravados pela crise. Mas também o
governo Bolsonaro, como governo de extrema-direita, fascista, organiza uma
escalada autoritária. O desfile dos “camisas negras” em frente à sua casa é um claro sinal
disso, que deve ser somado às medidas armamentistas e às milícias.
Classes dominantes e classes dominadas
A burguesia permanece unida enquanto classe em torno do seu programa
hegemônico e mantém o apoio a Bolsonaro como o instrumento para sua implantação. Esse apoio da
burguesia e esse programa permitiram o acordo com o centrão e a eleição dos
presidentes da câmara e do senado, assim como os primeiros avanços das
“reformas”.
O agravamento da pandemia e da crise econômica causam pressões por
ampliação da vacinação (e o acúmulo de promessas sempre adiadas
sobre centenas de milhões de novas doses) e por novas medidas
emergenciais para o capital. Estão sendo preparadas isenções bilionárias de
impostos, novos programas de crédito e a renovação, talvez em definitivo, do
programa de cortes de salários e de jornada e de suspensão do contrato de
trabalho, aprofundando a devastação da “reforma” trabalhista.
Uma parte da pequena burguesia abandonou Bolsonaro, seja por defender o
lavajatismo e pelas denúncias de corrupção de Bolsonaro e seus filhos, seja
pela “gestão” da pandemia. Parcela significativa da pequena burguesia segue
como base fiel e cada vez mais coesa em apoio ao seu representante de
extrema-direita, fascista.
Esse abandono de parte da pequena burguesia em relação a Bolsonaro
estimula na “esquerda” institucional e no reformismo/oportunismo clamores por
frentes “amplas”, “democráticas”, “nacionais”, justificativas para mais
subordinação à burguesia.
Essa mesma parcela pequeno burguesa também passou a depositar suas
esperanças na candidatura Lula, como forma de não sair dos limites
institucionais e jogar a “luta” para 2022. E Lula não os decepcionou. No seu
primeiro discurso eleitoral, fez questão de lembrar como seu governo foi
pró-capital, como a burguesia nunca ganhou tanto dinheiro como naquela época.
Lula buscou, mais uma vez, mostrar-se como um competente, racional e confiável
gestor do capitalismo brasileiro. Não à toa, o discurso foi visto como a versão
oral da “Carta ao Povo Brasileiro” de 2002.
Ou seja, é cada vez mais claro que a classe operária e as massas não
podem esperar nada, nem um pouquinho assim, da burguesia, do reformismo e dos
seus governos. Lembrando mais uma vez a Internacional: “Façamos nós por
nossas mãos / Tudo o que a nós nos diz respeito”.
O caminho da libertação das classes dominadas, exploradas, é longo e
difícil. Especialmente difícil neste momento de crises conjuntas no Brasil. Mas
nossa única saída é nos juntarmos com nossos irmãos e irmãs de classe,
nossos/as companheiros/as de trabalho e de luta, e resistirmos juntos,
protestarmos juntos, nos organizando cada vez mais em nossos locais de
trabalho, de estudo, de moradia.
Lutamos por emprego, por salários, por melhores condições de trabalho e
de vida.
A partir dessas lutas cotidianas, concretas, de suas vitórias e
derrotas, passaremos a lutar por cada vez mais, até nos transformarmos nos
verdadeiros donos e donas de tudo o quanto é produzido.
Esse é o caminho da libertação das
massas dominadas e de construção do socialismo!
Cem Flores ☭
26/03/2021
Fonte: https://cemflores.org/2021/03/26/contra-o-capitalismo-o-fascismo-e-a-opressao-da-burguesia-e-dos-seus-governos-so-existe-um-caminho-a-resistencia-e-a-luta-da-classe-operaria-e-das-massas/
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