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segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Foram os erros que colocaram a perder a Revolução Russa?

Francisco Martins Rodrigues*
Janeiro/Fevereiro de 1992

Gorbachev, o último coveiro da Revolução Soviética.


Nem só revisões e renegações produz o eclipse do movimento comunista. Surgem também, ainda que raramente, tentativas de interpretação e superação da crise, na linha do marxismo. Tom Thomas, militante da corrente M-L francesa, editou há alguns meses em volume as suas reflexões, a que deu o título: “A propósito das revoluções do século XX, ou o desvio irlandês”.(1)

O “desvio irlandês” é uma ideia sugestiva que o autor foi buscar numa carta de Marx, de 1869:

Pensei durante muito tempo que o regime irlandês seria derrubado pelo ascenso da classe operária da Inglaterra. Hoje estou convencido do contrário: os operários ingleses não farão nada enquanto não se desembaraçarem da Irlanda. É na Irlanda que se deve fazer alavanca”.

Regresso ao ponto de partida

Marx intuía pois a tendência que veio a manifestar-se: a revolução, bloqueada nos países onde as condições econômico-sociais estão maduras para o socialismo, abriu caminho onde as condições não estão maduras, nos países atrasados. O nosso século — conclui Thomas — foi preenchido justamente com o “desvio irlandês” do processo revolucionário mundial: as grandes revoluções na Rússia e na China, arrastando uma torrente de revoluções nacionais anti-imperialistas, em Cuba, Vietnam, Argélia, etc.

É verdade que, entretanto, aconteceu o imprevisível: as revoluções, depois de ter degenerado em miseráveis caricaturas sob a égide do capitalismo nacional de bandeira socialista, são reabsorvidas pelo mercado imperialista mundial. Seja como for, conclui Thomas, “o caminho está agora livre porque o capitalismo realizou a sua obra de estabelecer sobre toda a superfície do globo as mesmas relações sociais, pôr as mesmas classes nas mesmas situações e perante os mesmos inimigos. O ‘desvio irlandês’ cumpriu a sua tarefa. Chega a época das revoluções proletárias, embora com algum atraso sobre as previsões. É para ela que nos devemos preparar, voltando-nos para o futuro e deixando que os mortos enterrem os seus mortos”.

É estimulante esta capacidade para encarar o processo histórico no seu movimento global, sem cair nas habituais dúvidas existenciais sobre se a revolução é mesmo inevitável e a ditadura do proletariado é mesmo legítima. Resta, contudo, a questão: porque é que esse gigantesco ciclo revolucionário nos países atrasados fracassou de maneira tão generalizada e foi incapaz de detonar revoluções proletárias socialistas nas metrópoles do capital, como seria a suposição de Marx e, mais tarde, de Lenin, Mao, etc.? Porque terminou nesta obscura agonia e não num salto para uma etapa mais avançada da revolução?

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Após a queda de Assad, uma verdadeira linha de resistência deve ser construída

Kemal Okuyan

Secretário Geral do Partido Comunista da Turquia (TKP) 

Kemal Okuyan


Discutir se é uma guerra civil ou uma intervenção estrangeira na Síria é um esforço fútil. O país tem sido uma zona de conflito onde é completamente ambíguo quem é “doméstico” e quem é “estrangeiro”.

É obviamente difícil, nessas circunstâncias, determinar a força motriz dos últimos acontecimentos que, em última análise, desencadearam a queda de Assad. É claro, no entanto, que a propaganda de que “o povo derrubou um ditador” dos países da OTAN, principalmente entre eles os EUA e o Reino Unido, e a Turquia (que é um membro da OTAN, mas também atua com ambições neo-otomanas) é apenas uma retórica falsa.

O governo na Síria foi enfraquecido por intervenções estrangeiras, guerra prolongada, sanções econômicas, práticas que falharam em unificar o povo, corrupção, políticas econômicas liberais, conflitos entre países que deveriam ser aliados de Assad, que apenas impuseram à Síria políticas para seus próprios interesses. Isso causou o fim daquele governo, quer ele caísse ou fosse derrubado.

Essas causas profundas de fraqueza tornaram o colapso inevitável diante da agressão israelense, das intervenções abertas dos EUA, da intervenção secreta do Reino Unido, da presença militar que a Turquia tentou legitimar invocando o direito de lutar contra o “separatismo curdo” e da recente operação realizada por todas essas potências de forma coordenada.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Intervenção e conflito imperialista na Síria

Aleppo, cidade devastada pela guerra.


O Gabinete de Imprensa do Comitê Central do Partido Comunista da Grécia (KKE), na sua declaração sobre os acontecimentos na Síria, destaca o seguinte:

“A intervenção na Síria e a predominância dos jihadistas é outro “elo da cadeia” de acontecimentos perigosos para os povos lançados pelas potências imperialistas dos EUA, da UE, da OTAN da Turquia e de Israel na região a partir do Oriente Médio. Surgem como continuação do massacre em curso contra o povo da Palestina, dos ataques contra o povo do Líbano, dos ataques contra o Irã.

O KKE tem-se posicionado de forma consistente e firme sobre os acontecimentos na Síria desde o início de 2011, expondo as mudanças perigosas contra o povo que ocorreram após a chamada Primavera Árabe. Hoje, as mesmas forças reacionárias, “reformadas” pela Turquia, membro da OTAN, autodenominam-se “rebeldes” e são apresentadas pelos meios de comunicação burgueses supostamente como “libertadores” do povo sírio. Repete-se a mesma propaganda “sobre a restauração da democracia” que foi o pretexto usado pelos imperialistas para as guerras no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, etc., fazendo hoje do Oriente Médio uma região em chamas.

O KKE deixou claro que apesar das diferenças ideológicas e políticas com o regime burguês sírio, apesar das críticas que exerce às suas políticas, denuncia os planos dos EUA, Israel e Turquia que envolvem interferência nos assuntos internos de um país soberano.

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Apontamentos sobre Trotsky — O mito e a realidade

Miguel Urbano Rodrigues*



Transcorridas quase duas décadas sobre a desagregação da União Soviética, pouco se escreve e fala sobre Gorbatchov. A grande mídia internacional quase esqueceu o político e o homem que guindaram a herói da humanidade quando contribuía decisivamente, através da perestroika, para a reimplantação do capitalismo na Rússia.

Paradoxalmente, Trotsky continua a ser um tema que fascina muitos intelectuais da burguesia, alguns progressistas, e dezenas de organizações trotskistas na Europa e sobretudo na América Latina.

Sobre o homem e a obra não foram nas últimas décadas publicados livros importantes que acrescentem algo de significante aos produzidos pelos seus biógrafos, nomeadamente a trilogia do Historiador polaco Isaac Deutscher.

Nem um só dos partidos e movimentos trotskistas conseguiu afirmar-se como força política com influência real no rumo de qualquer país.

Porque então a tenaz sobrevivência, não direi do trotskismo, mas do nome e de algumas teses do seu criador no debate de ideias contemporâneo? Isso não obstante ser hoje pouco frequente a reedição dos seus livros.

A contradição encaminha para uma conclusão: uma percentagem ponderável dos modernos trotskistas desconhece a obra teórica e a trajetória política de Trotsky.

Cabe chamar a atenção para o fato de a maioria dos intelectuais burgueses das grandes universidades do Ocidente que assumem a defesa e a apologia da intervenção de Trotsky na História serem anticomunistas. O seu objetivo precípuo é combater a URSS e o que a herança da Revolução de Outubro significa para a humanidade. Trotsky e Stalin são utilizados por esse tipo de "sovietólogos" como instrumentos na tarefa de combater e desacreditar o comunismo.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Burguesia e bolsonarismo

Ney Nunes 

03-12-24

A cúpula neofascista.


Desde a invasão dos palácios em Brasília, promovida pela extrema direita no dia 08 de janeiro de 2023, o bloco burguês no poder vem tentando domesticar o bolsonarismo (versão brasileira do neofascismo), contendo os seus excessos. Para alcançar esse objetivo, atua em duas frentes, a primeira pela via policial-jurídica: investigando e punindo a matilha enfurecida que executou o quebra-quebra em Brasília, estendendo agora essa iniciativa à liderança político-militar representada principalmente pelo ex-presidente Bolsonaro, generais Braga Netto e Augusto Heleno. A segunda frente é de natureza política, cooptando e protegendo políticos e militares bolsonaristas. Exemplo maior disso é o tratamento amistoso dispensado pelo oligopólio midiático ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ex-ministro do governo Bolsonaro e ardoroso defensor do ex-presidente.

Sabedores do lastro eleitoral bolsonarista, que segue fortalecido após as últimas eleições municipais apesar de todas as barbaridades cometidas pelo ex-presidente e sua camarilha, culminadas no plano terrorista dos facínoras, que incluía até mesmo o assassinato do atual presidente, do seu vice e de um ministro do STF. O bloco burguês hegemônico prepara a decapitação da cúpula, mas ao mesmo tempo, sabe que não pode prescindir do grosso da tropa bolsonarista, dentro e fora dos quartéis.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

O Pacote Fiscal do Teto de Gastos de Lula: mais um ataque da burguesia contra os trabalhadores

Coletivo Cem Flores

02-11-2024

Na quarta-feira, dia 27 de novembro, Lula tirou o dele da reta e mandou Haddad anunciar o novo pacote fiscal do governo em cadeia nacional. Haddad encheu a boca para anunciar, sorridente, vários cortes bilionários de despesas públicas com programas sociais para fazer cumprir o teto de gastos de Lula.


Governo burguês conspira contra o povo trabalhador.


Como se numa competição para ver quem agrada mais à burguesia e sua ofensiva de classe contra a massa trabalhadora, o ministro-chefe da casa civil, Rui Costa, afirmou orgulhoso que

O que está sendo colocado aqui é um absoluto compromisso do governo do presidente Lula com o equilíbrio fiscal, a responsabilidade fiscal e o arcabouço fiscal. Esse conjunto de medidas foi construído conjuntamente, por todos os ministros e muitos foram ouvidos. Aqui todos nós temos responsabilidade com esse país. O que está se fazendo hoje é garantindo que esse desequilíbrio de longo prazo não ocorrerá. É reafirmar, através de medidas firmes, como o realinhamento do reajuste do salário mínimo e, com ele, todas as despesas a ele indexadas, trazendo esse crescimento para o crescimento do arcabouço fiscal”.

Desde o início, já estava claro que esse novo teto de gastos, aprovado em 2023, era incompatível com as regras existentes de vários desses programas e políticas – como denunciamos no nosso documento sobre a política econômica do governo burguês de Lula. Isso inclui os pisos constitucionais de saúde e educação, a política de aumento do salário mínimo, os pisos de benefícios vinculados a ele, como aposentadorias, benefícios de prestação continuada (BPC), seguro desemprego, entre outros. Programas e políticas que atendem milhões de famílias trabalhadoras, especialmente as mais pobres.

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Mobilização do KKE e do KNE contra a visita do Secretário-Geral da OTAN à Grécia

Grécia fora da guerra! Nem terra nem água para os assassinos dos povos!


Na terça-feira, 26 de novembro de 2024, a Organização do Partido Ática do KKE e a Organização da Região Ática do KNE realizaram uma mobilização em massa no centro de Atenas contra a visita de M. Rutte, Secretário-Geral da OTAN a Atenas.

Milhares de gregos atenderam ao chamado do KKE


Milhares de pessoas e jovens participaram da mobilização, gritando os slogans: "Grécia fora da guerra!" e "Nem terra nem água aos assassinos dos povos".

Apelando à mobilização, as organizações do KKE e do KNE enfatizaram o seguinte:

"Poucos dias após o uso de armas americanas e britânicas contra a Rússia pelo regime de Zelensky, a subsequente atualização da Doutrina Nuclear pela Rússia, os recentes lançamentos de mísseis e os avisos de que a guerra está se tornando "global"...

Paquistão: Sinais de uma revolução em curso

 – A revolta que a mídia corporativa do ocidente silencia

Junaid S. Ahmad [*]

Revolta no Paquistão.

"Pelas cenas que vimos, parecia a guerra entre a Palestina e Israel. Foi um jogo sangrento e brutalidade é uma palavra demasiado pequena para descrever o que estes canalhas sádicos estão a fazer. Quando fugimos dali, havia cadáveres debaixo dos nossos pés. As forças policiais estão agora a disparar de forma aleatória e contínua”.
Estudantes da Universidade Islâmica Internacional – Islamabad (IIU-I)

Os acontecimentos impressionantes das últimas 48 horas no Paquistão, e especificamente na capital Islamabad, continuam à espera de uma cobertura séria por parte do mundo. O regime da lei marcial não conseguiu impedir que manifestantes de todo o país marchassem e entrassem em Islamabad. Apesar de ter sido necessário importar milhares e milhares de contentores de transporte para isolar a cidade e impedir as pessoas de entrarem na capital, o establishment militar não conseguiu impedir a sua entrada. No entanto, o dilúvio de tergiversações incessantes que emanam do Inter-Services Public Relations (ISPR), o serviço de propaganda dos militares, tem continuado incessantemente e de modo nauseabundo.

A ferocidade da selvajaria estatal fez parar temporariamente o movimento de protesto. O antigo primeiro-ministro Imran Khan tem exigido sistematicamente que não só o seu Movimento para a Justiça seja totalmente pacifista como também desista nas situações em que haja a probabilidade de o seu próprio sangue ser derramado às mãos deste regime violento.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Greve Geral na Grécia

Uma mensagem de revolta dos trabalhadores por salários e rendimentos dignos, contra o envolvimento do nosso país na guerra.

Partido Comunista da Grécia (KKE)

Um mar de pessoas inundou as ruas de Atenas e outras cidades da Grécia em 20 de novembro de 2024 .

Trabalhadores gregos contra o arrocho e a guerra.

Milhares de grevistas, que participaram da greve nacional de 24 horas dos sindicatos dos setores público e privado da economia, apresentaram suas justas reivindicações. Eles exigiram aumentos salariais, dinheiro para os sistemas de saúde e educação públicos e para que a Grécia saísse dos matadouros de guerra.

O militarismo e as próximas guerras

István Mészáros*

2003


Palestina: genocídio e destruição confirmam o avanço da barbárie. 



[...] A produção militarista, hoje em dia primariamente personificada no "complexo militar-industrial", não é uma entidade independente, regulada por forças militaristas autônomas que são também responsáveis pelas guerras. Rosa Luxemburgo foi a primeira a colocar estas relações na sua perspectiva correta, já em 1913, na sua obra clássica "A Acumulação do Capital", publicada em inglês cinquenta anos mais tarde, e na qual a autora sublinhava profeticamente, há noventa anos, a crescente importância da produção militarista, sublinhando que:

Em última análise, o próprio capital controla este movimento automático e rítmico de produção militarista através da ação legislativa e de uma imprensa cuja função consiste em moldar a chamada “opinião pública”. É por isso que este domínio particular da acumulação capitalista parece capaz de expansão ilimitada.

Estamos, por conseguinte, preocupados com um conjunto de indeterminações que devem ser encaradas como partes de um sistema orgânico. Se queremos lutar contra a guerra enquanto mecanismo de governo mundial, como o devemos fazer, a fim de salvaguardar a nossa própria existência, temos de situar as mudanças históricas que tiveram lugar nas últimas décadas no seu quadro causal próprio. A concepção de um Estado nacional superpoderoso, que controlaria todos os outros, seguindo os imperativos imanentes da lógica do capital, só pode conduzir ao suicídio da Humanidade. Ao mesmo tempo, deve também reconhecer-se que a contradição aparentemente insolúvel entre aspirações nacionais — que explodem ciclicamente em antagonismos devastadores — e internacionalismo só pode ser resolvida se for regulada numa base totalmente equitativa, o que é completamente inconcebível na ordem hierarquicamente estruturada do capital.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

A Grécia deve ser imediatamente afastada da guerra imperialista na Ucrânia.

O governo ND não tem legitimidade para arrastar o povo e o país para o massacre.
Gabinete de Imprensa do CC do Partido Comunista da Grécia (KKE), 19/11/2024.



Por ocasião do primeiro ataque realizado pelas forças armadas ucranianas em uma área de fronteira dentro do território russo com um míssil ATACMS de longo alcance, o Gabinete de Imprensa do KKE relata o seguinte:

"Após a permissão dos EUA e da OTAN para o regime de Zelensky usar mísseis de longo alcance da OTAN contra a Rússia e a subsequente atualização da Doutrina Nuclear da Rússia para "usar armas nucleares caso ela ou seu aliado sejam atacados com armas não nucleares", é óbvio que a guerra imperialista na Ucrânia entre a OTAN e a Rússia atingiu um novo nível de escalada e possível generalização com consequências imprevistas para os povos.

A China de Mao a Xi Jinping*

Renildo Souza**

"Ao tratarmos de China, discutindo capitalismo e socialismo, é indispensável escaparmos do dogmatismo, da mente fechada, das interpretações simplistas ou até mesmo das elucubrações fantásticas dos que se contentam em proclamar insistentemente, como exercício de autoconvencimento, de que a China é socialista."

 



[...] Aqui, cabem algumas advertência e ressalvas sobre a avaliação do período das reformas. A análise parcial, economicista e convencional dos prisioneiros das ilusões sobre a China mostra-se contraproducente, porque mascara a natureza daquela formação social, isola a economia das suas relações sociais gerais e de longo prazo e bloqueia a apreensão dos processos reais do capitalismo do século XXI. A recusa de compreensão da totalidade dos múltiplos aspectos e contradições sociais fundamentais do processo chinês é uma perspectiva epistemológica estranha ao materialismo histórico. Ademais, essa atitude é uma forma de desarmar a crítica social, que é indispensável para compreensão do pós-capitalismo. Ao tratarmos de China, discutindo capitalismo e socialismo, é indispensável escaparmos do dogmatismo, da mente fechada, das interpretações simplistas ou até mesmo das elucubrações fantásticas dos que se contentam em proclamar insistentemente, como exercício de autoconvencimento, de que a China é socialista.

terça-feira, 12 de novembro de 2024

O derrotismo social-liberal

Ney Nunes

12/11/2024

"O curioso, é que desde a campanha eleitoral de 2002, quando Lula obteve seu primeiro mandato presidencial, essa política derrotista vem sendo posta em prática e, transcorridos vinte e dois anos, o resultado é justamente o avanço da direita"

 

Ney Nunes

   

Os carcomidos sociais-liberais, variante mais à direita do reformismo (no Brasil representados pelo Partido dos Trabalhadores e seus sócios menores), não se cansam de repetir argumentos falaciosos e contraditórios para defender a democracia burguesa, ou seja, a ditadura das classes exploradoras. De tanto repetirem, é provável que até já acreditem nas suas próprias invencionices.

Mas, não estamos aqui nos dirigindo a esses infelizes personagens, até porque, seria a mais pura perda de tempo. Queremos, isto sim, alertar aos jovens trabalhadores que começam a participar da luta de classes e a se interessar pelos debates políticos. Esses jovens, devido a pouca experiência que têm, correm o sério risco de caírem no pântano da confusão e do derrotismo, face ao bombardeio das concepções sociais-liberais que, não por acaso, são tão bem acolhidas pelo oligopólio midiático.

sábado, 9 de novembro de 2024

Volta Redonda - Nove de Novembro de 1988

Ernesto Germano Parés *

2005

Volta Redonda, 1988, greve histórica dos operários da CSN.


Várias vezes, em seminários e palestras de que participei, pediram-me para contar a história do 9 de novembro e os acontecimentos na Companhia Siderúrgica Nacional. A ação do Exército contra operários em greve, resultando no assassinato de três jovens metalúrgicos, é uma curiosidade permanente entre os que vivem dentro do movimento sindical e todos os que se preocupam e acompanham os movimentos sociais em nosso país.

Sempre que solicitado, contei esta história e respondi as perguntas que iam sendo feitas. Mas sempre evitei escrever sobre aqueles fatos e posso justificar.

Em primeiro lugar, por ter estado tão envolvido nos acontecimentos, temo me estender demasiadamente nos detalhes dos acontecimentos e na narrativa dos fatos e acabar fazendo um longo texto que ninguém teria paciência de ler. Depois, preocupo-me com a possibilidade de esquecer um ou outro companheiro, deixar de citar alguém. Por fim, minha maior preocupação é não permitir que a emoção tome conta das lembranças e o texto acabe se alongando em detalhes pouco importantes para uma análise.

Agora, vencendo essas preocupações, resolvi fazer uma tentativa (que pode até não chegar ao final e ninguém lerá estas linhas iniciais) de registrar minha homenagem aos que enfrentaram a violência do capital com as únicas armas que têm: a união, a solidariedade e a coragem.

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Comunistas gregos bloqueiam carretas com munições destinadas à Ucrânia

Comunicado do PC da Grécia (KKE) 

08-11-2024


No dia 6 de Novembro, ao meio-dia, membros do Partido Comunista da Grécia (KKE) e da Juventude Comunista (KNE) na cidade de Tírnavos bloquearam seis carretas que transportavam munições para a Ucrânia.




Os caminhões com placas da Ucrânia, Polônia e Bulgária transportavam foguetes de um acampamento militar na região e tinham como destino final a Ucrânia, no âmbito dos acordos governamentais para aumentar o nível de envolvimento do país na guerra imperialista na Ucrânia, com constantes entregas de material de guerra ao governo Zelensky.

Destaque-se que o transporte de material criminoso e perigoso ocorreu ao meio-dia numa região residencial com milhares de habitantes.

Com slogans como “Nem terra nem mar para os assassinos do povo”, “Nenhum envolvimento, nenhuma participação, fora das forças da OTAN da Grécia”, os membros do KKE e do KNE, apesar da presença de forças policiais, bloquearam decisivamente o caminho das carretas, demonstrando praticamente a vontade da grande maioria do povo de impedir a participação da Grécia nos planos imperialistas mortais dos EUA-OTAN-UE no massacre do povo na Ucrânia e noutros lugares.

A posição inabalável dos membros do KKE e do KNE significou que a carga mortal não passou por Tírnavos. Os caminhões regressaram carregando os slogans “Assassinos da NATO, vão para casa” que os membros do KKE escreveram em tinta vermelha.




Durante a manifestação, as pessoas saíram das suas casas e aplaudiam os membros do KKE e do KNE. Após a saída dos caminhões, ocorreu uma passeata pelas ruas da cidade. Com slogans e anúncios em alto-falantes, as organizações KKE e KNE informaram o povo da cidade sobre a sua mobilização, apelando ao povo para estar vigilante e reforçar a luta pelo desligamento do nosso país dos planos imperialistas, para a cessação da transformação da região da Tessália numa ponte para os EUA, a OTAN e a UE.

Na mobilização participou uma grande delegação de autoridades municipais de Tírnavos, liderada pelo prefeito comunista, Stelios Tsikritsis , que destacou, entre outras coisas, que "o povo de Tírnavos, com as suas tradições militantes, enviou a sua mensagem contra a guerra vários vezes, e não permitirá que cargas mortais passem pela cidade, não permitirá que nosso país continue se envolvendo no matadouro imperialista. Nosso slogan é “Nem uma ponte para assassinos, nem um alvo para retaliação”.

Vasilis Metaxás , deputado do KKE, destacou no seu discurso na mobilização: “Denunciamos o governo da ND que, em nome dos grupos empresariais locais, esvazia os depósitos militares gregos de munições e envolve o país numa guerra imperialista injusta. O governo tem grandes responsabilidades, pois nos envolve no massacre de pessoas. O povo tem força para intervir de forma dinâmica nos acontecimentos e mostrar a saída das guerras imperialistas. Seguimos em frente; Não vamos deixá-los seguir em toda a Grécia.


Fonte: https://inter.kke.gr/en/articles/KKE-and-KNE-block-trucks-with-ammunition-heading-to-Ukraine/

Edição: Página 1917

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

À População

O Presidente do Conselho de Comissários do Povo

Vladimir Uliánov (Lenin)

19 de Novembro de 1917, Petrogrado.




Camaradas operários, soldados, camponeses, todos os trabalhadores!

A revolução operária e camponesa venceu definitivamente em Petrogrado, dispersando e prendendo os últimos restos do reduzido número de cossacos enganados por Kerensky. A revolução venceu também em Moscou. Antes de ali terem chegado alguns comboios com forças militares vindos de Petrogrado, em Moscou os cadetes e outros kornilovistas assinaram as condições de paz, o desarmamento dos cadetes e a dissolução do Comitê de Salvação (1).

Da frente e das aldeias chegam todos os dias e a todas as horas notícias de que a maioria esmagadora dos soldados nas trincheiras e dos camponeses apoia o novo governo e as suas leis sobre a proposta da paz e a entrega imediata da terra aos camponeses. A vitória da revolução dos operários e dos camponeses está assegurada, pois a maioria do povo já se ergueu a seu favor.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Santo Dias, herói da classe operária.

 Póstuma

 Jorge Vieira. 


Até tu, meu companheiro,  morto?

Quem te matou e porque vão motivo?

Melhor te havias enquanto morto-vivo

Se rebelando contra tais matantes 

Que pouco a pouco te tiravam a vida

Cansando o corpo e reduzindo o sangue 


Que te transformem em herói pouco importa 

Há que contarmos um a menos nosso 

Há que sabermos uma palavra morta 

Há que entendermos como hoje entendo 

Que tua morte foi fértil semente 

Mas foi também desfalque no conjunto 

Que se compõe dessa nossa toda gente 


Até tu, meu companheiro, morto?

Vê esse povo que a cova te leva 

Vê essa luz que abristes nas trevas 

Pra iluminar a estrada dessa massa

Mostrando que a luta continua 


Se tua morte foi pra nós desgraça 

Sabe que a queda não foi somente tua

Foi a queda de mais uma  etapa

Que nosso povo ultrapassou a sangue e tapa 

Suor desespero e dores

Sabe que tua morte,  na verdade 

Foi mais semente no pomar de liberdade 

Que estão plantando os trabalhadores.


A Santo Dias da Silva, operário metalúrgico, assassinado pelas costas por um PM, durante uma greve em 1979, em São Paulo,  Brasil.

Santo Dias da Silva (Terra Roxa, 22 de fevereiro de 1942 – 30 de outubro de 1979) 

domingo, 20 de outubro de 2024

Há um ano do 7 de outubro

Giaime Ugliano

10/10/2024

O dia 7 de outubro de 2023 não “tudo começou”: a narrativa da mídia burguesa [1] que o define como um “raio vindo do nada”, “mal absoluto”, “um pedaço da Shoah na Terra Santa” tenta impor retrospectivamente uma leitura dos acontecimentos abstraída do contexto histórico e com o objetivo, portanto, de inverter a relação entre opressores e oprimidos, entre o colonialismo dos colonos de Israel e a justa e legítima luta de libertação da resistência palestina.




O que aconteceu no dia 7 de Outubro, e o que vem acontecendo há um ano graças às ações da resistência palestina, é o regresso explosivo à cena midiática e, portanto, às consciências do povo, da questão nacional e colonial palestina não resolvida, sua história de décadas de  resistência à ocupação, quebrando o padrão que via as relações entre os países árabes e Israel se normalizarem cada vez mais, como relatamos no artigo anterior sobre o tema [2] . A unidade das facções da resistência palestina, ao derrubar a cerca que transforma Gaza numa prisão ao ar livre, negou a invencibilidade e a perfeita organização da máquina de guerra sionista e desencadeou uma onda de solidariedade sem precedentes na maioria dos países do mundo, com um movimento de protesto - especialmente a partir das universidades - que ainda hoje está vivo. Este artigo pretende fazer um breve balanço da situação , um ano após o início do recrudescimento do conflito, apresentando alguns aspectos relevantes para a luta em apoio à Palestina mas remetendo para maiores informações a referências específicas publicadas anteriormente. 

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Lenin e a democracia burguesa

V. I. Lenin

I Congresso da Internacional Comunista (2 a 6 de Março de 1919). Teses e Relatório Sobre a Democracia Burguesa e a Ditadura do Proletariado.

Lenin (terceiro da esquerda para a direita) na mesa do Primeiro Congresso da Internacional Comunista.

1 - O crescimento do movimento revolucionário do proletariado em todos os países provocou esforços convulsivos da burguesia e dos seus agentes nas organizações operárias para encontrarem argumentos ideológico-políticos para defender a dominação dos exploradores. Entre estes argumentos destaca-se particularmente a condenação da ditadura e a defesa da democracia. A falsidade e a hipocrisia de tal argumento, repetido de mil maneiras na imprensa capitalista e na conferência da Internacional amarela em Fevereiro de 1919 em Berna, são evidentes para todos aqueles que não querem trair as teses fundamentais do socialismo.

2 - Antes de mais, este argumento utiliza os conceitos de "democracia em geral" e "ditadura em geral", sem colocar a questão de saber de que classe se trata. Tal formulação da questão, à margem das classes ou acima das classes, pretensamente do ponto de vista de todo o povo, é troçar descaradamente da doutrina fundamental do socialismo, a saber, a doutrina da luta de classes, que os socialistas que se passaram para o lado da burguesia reconhecem em palavras mas esquecem de fato. Porque em nenhum país capitalista civilizado existe a "democracia em geral", existe apenas a democracia burguesa, e não se trata de "ditadura em geral", mas de ditadura da classe oprimida, isto é, do proletariado, sobre os opressores e exploradores, isto é, sobre a burguesia, com o objetivo de superar a resistência oposta pelos exploradores na luta pela sua dominação.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

NOVO CONGRESSO – OS MESMOS ERROS (I)

Que Fazer*

O PCP vai realizar o seu XXII Congresso em dezembro. As teses que estão a ser submetidas à discussão dos militantes repetem dos mesmos erros da resolução do XXI Congresso, como não podia deixar de ser, perante a total ausência de discussão político-ideológica.  Esses erros estão em linha com o Programa aprovado em 2020 no XXI Congresso.

 


De início, podemos afirmar, sem receio de errar, que a discussão será extremamente deficiente por diversas razões. A mais importante é de natureza organizativa. A organização encontra-se muito debilitada, muitos organismos deixaram simplesmente de reunir, outros cujas reuniões há longos meses não são convocadas. Segue-se uma outra que se prende com o (não) exercício do centralismo democrático. Muitos militantes afastaram-se por considerarem que a sua opinião não é levada conta e os que manifestavam opiniões discordantes das da direção foram liminarmente afastados há bastante tempo. Uma terceira razão é a debilidade ideológica que leva muitos membros do Partido a não darem a devida importância ao debate preparatório do Congresso e/ou confiarem completamente na direção. 

Dito isto, vamos às questões de substância. 

 

1.A situação internacional. O imperialismo. O mundo “multipolar” 

O imperialismo é o estágio de desenvolvimento em que se encontra o capitalismo atualmente. Lenin fez a análise das características desse estágio de desenvolvimento e essas características correspondem exatamente à observação do desenvolvimento do capitalismo de hoje, mostrando o rigor científico da análise de Lenin em 1916 em O Imperialismo fase suprema do capitalismo. 

Hoje a situação do capitalismo corresponde à exponenciação dessas características. 

Lenin afirmou ainda que esta é a última fase do modo de produção capitalista a que se seguirá, pelas leis do materialismo histórico, o novo modo de produção, o socialismo, isto é, o capitalismo será a última forma que a história concede aos modos de produção classistas, a forma da existência de todos os modos de produção anteriores, à exceção do comunismo primitivo. 

Lenin combate com toda a força das evidências da sua teoria, a concepção de Kautsky sobre o imperialismo. Considera este último, como hoje se poderia dizer, que o imperialismo era o fim da história. 

Kautsky considerava como imperialismo apenas a agressividade militar de algumas potências. Se várias potências aumentassem o seu poderio de modo a que se estabelecesse um único “imperialismo”, então passaria a haver o funcionamento harmonioso do mundo, reinaria a paz, a concórdia e a harmonia. Chamava-lhe ele o “ultra-imperialismo”. Qualquer pessoa hoje só pode rir-se disto. Mas não, esta concepção não está tão morta como se poderia imaginar.

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