Póstuma
Jorge Vieira.
Até tu, meu companheiro, morto?
Quem te matou e porque vão motivo?
Melhor te havias enquanto morto-vivo
Se rebelando contra tais matantes
Que pouco a pouco te tiravam a vida
Cansando o corpo e reduzindo o sangue
Que te transformem em herói pouco importa
Há que contarmos um a menos nosso
Há que sabermos uma palavra morta
Há que entendermos como hoje entendo
Que tua morte foi fértil semente
Mas foi também desfalque no conjunto
Que se compõe dessa nossa toda gente
Até tu, meu companheiro, morto?
Vê esse povo que a cova te leva
Vê essa luz que abristes nas trevas
Pra iluminar a estrada dessa massa
Mostrando que a luta continua
Se tua morte foi pra nós desgraça
Sabe que a queda não foi somente tua
Foi a queda de mais uma etapa
Que nosso povo ultrapassou a sangue e tapa
Suor desespero e dores
Sabe que tua morte, na verdade
Foi mais semente no pomar de liberdade
Que estão plantando os trabalhadores.
A Santo Dias da Silva, operário metalúrgico, assassinado pelas costas por um PM, durante uma greve em 1979, em São Paulo, Brasil.
Santo Dias da Silva (Terra Roxa, 22 de fevereiro de 1942 – 30 de outubro de 1979)
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