Ney Nunes
Lula-Alckmin, governo da burguesia ignora os "bons conselheiros". |
Alguns críticos do chamado governo de frente ampla, liderado por Lula e Alckmin, curiosamente silenciam sobre o caráter de classe desse governo, omitindo o óbvio: é um governo da burguesia. Suas críticas, em geral, ficam limitadas à política econômica e ao chamado "neoliberalismo", como se houvesse alguma viabilidade para outro tipo de gestão do capitalismo em sua fase atual.
O discurso desses críticos vem disfarçado por um verniz esquerdista e sempre recheado de proposições alternativas sobre medidas de austeridade fiscal, monetárias, privatizações e investimentos sociais. Vendendo a ilusão de que a gestão capitalista atual poderia prescindir dessas medidas neoliberais e adotar um receituário econômico combinando desenvolvimento e gastos sociais inspirado no modelo chinês.
Essas ilusões, porém, espatifam-se no choque com a muralha de ferro da realidade. Ainda assim, os ilusionistas continuam apregoando seus "bons conselhos" ao governo burguês de plantão. Mas Lula não dá ouvidos a estes "sábios", porque tem clareza de que as classes dominantes, as quais deve obediência, estão mais interessadas em aprofundar as medidas neoliberais para garantir seus lucros em tempos de crise crônica do capitalismo.
Essa muralha de ferro não surgiu agora, ela vem de longe. A burguesia brasileira nasceu e se desenvolveu umbilicalmente ligada de forma dependente às potências capitalistas. Primeiro com a Inglaterra e depois os EUA. No meio do percurso, o governo do presidente Getúlio Vargas se aproximou da potência emergente, a Alemanha, mas pendeu em definitivo para os EUA durante a Segunda Guerra Mundial.
Getúlio e Roosevelt negociam durante a Segunda Guerra. |
Na atualidade, a burguesia brasileira vive um processo parecido, seus negócios estão em grande medida se desenvolvendo com a China (a potência capitalista emergente que desafia a hegemonia dos EUA no âmbito do sistema imperialista), mas ela ainda preserva fortes laços econômicos, políticos e ideológicos com os EUA. No horizonte da classe dominante não existe nada que não seja continuar ligada de forma subalterna a um dos blocos imperialistas, de preferência, ao bloco que estiver vencendo a disputa.
Ao contrário do que os ilusionistas apregoam, o governo de frente ampla não se constitui numa simples tática do Partido dos Trabalhadores, ele faz parte mesmo da estratégia desse partido visando a preservação da institucionalidade burguesa, assim como, sua política externa está limitada a barganhar pequenas vantagens negociais, refletindo a histórica inserção subalterna do país no sistema imperialista.
Por mais que se esforcem, os "bons conselheiros" não conseguem encobrir que o PT é um partido com longa folha de serviços prestados à burguesia, portanto, um partido burguês que faz parte do leque de opções confiáveis para gerir o Estado e garantir que o poder continue seguro em suas mãos.
Edição: Página 1917
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