Índice de Seções

quarta-feira, 29 de abril de 2020

O Essencial e o Descartável

 Ney Nunes

   A pandemia do coronavírus e o consequente agravamento da crise capitalista que se arrasta desde 2008 vêm descortinando a dura realidade que a mídia e as instituições burguesas fazem de tudo para ocultar. A situação de extrema dificuldade em que já vivia a maioria da população, vai se tornando desesperadora. Face a redução da atividade econômica, as empresas não hesitam em demitir e cortar salários dos trabalhadores para preservar seus lucros às custas do aumento da exploração. Os milhões que estão fora do mercado de trabalho formal estão praticamente sem meios de subsistência, restritos a um abono de emergência insuficiente, de apenas seiscentos reais.


Trabalhadores do comércio protestam contra demissões em Porto Alegre.

   As principais armas conhecidas até agora para deter a velocidade do crescimento da pandemia e reduzir o impacto sobre o sistema de saúde, são o isolamento social e os cuidados com a higiene. É o que repetem a exaustão os infectologistas e profissionais da área médica. Somente trabalhadores essenciais deveriam se manter em atividade, até que a curva de infectados diminua, possibilitando assim, a que todos os necessitados de atendimento hospitalar possam receber a devida assistência.

    Mas no capitalismo, o essencial, em primeiríssimo lugar, é sempre manter e aumentar os lucros dos grandes monopólios empresariais. Para isso, mesmo com o risco de causar mais dezenas de milhares de mortes, a classe burguesa (grandes empresários), e seus lacaios no governo Bolsonaro e no oligopólio midiático seguem defendendo o retorno do maior número possível de atividades. São verdadeiros genocidas! A vida dos trabalhadores e dos seus familiares para eles é um problema secundário.

   Toda essa situação vai descortinando aos poucos quais os verdadeiros interesses das classes sociais, geralmente encobertos pelas ideologias e fantasias destinadas a fazer parecer interesse de todos o que, na verdade, só interessa e convém a uma minoria de privilegiados. Assim faz a burguesia todo o tempo e agora também durante a pandemia. Querem nos fazer acreditar que estão preocupados com o desemprego, com as dificuldades do povo, quando estão é demitindo em massa e cortando salários.

Hospitais em colapso com o rápido crescimento do número de infectados.
   

     O essencial, nesse momento, para os trabalhadores e a maioria da população é a defesa da vida humana. Essencial é reduzir de todas as formas as possibilidades de contágio, mesmo que a atividade econômica fique reduzida, pelo tempo que for necessário, ao que realmente importa para garantir a sobrevivência, como, por exemplo, os serviços de produção e distribuição de energia, de tratamento de água e esgoto, de telecomunicações, de saúde e pesquisa, a produção e distribuição dos medicamentos, alimentos e produtos de higiene e limpeza. Essencial é garantir um abono suficiente para a sobrevivência dos mais necessitados. Mas a lógica do capitalismo é outra, estimula a anarquia econômica e indisciplina social em defesa do seu interesse particular de continuar auferindo lucros imensos, mesmo às custas de dezenas ou centenas de milhares de mortes. Totalmente descartáveis são a burguesia e seus lambe-ovos defensores de interesses mesquinhos.

   A realidade está apontando a falência do sistema capitalista para prover as mínimas necessidades sociais. A defesa da vida, do progresso, da paz e da justiça revelam-se objetivos inalcançáveis enquanto persistir esse sistema de exploração. É cada vez mais urgente que os trabalhadores tomem consciência dos seus reais interesses e da sua capacidade de organizar e liderar o conjunto dos demais explorados na luta para edificar uma sociedade livre da burguesia, livre da exploração, a sociedade socialista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro leitor, ajude a divulgar o Página 1917, compartilhe nossas publicações nas suas redes sociais.