Lenin**
O social-chauvinismo é a defesa da ideia de «defesa da pátria» na presente guerra. Dessa ideia decorrem, seguidamente, a renúncia à luta de classes durante a guerra, a votação dos créditos de guerra, etc. De facto os sociais-chauvinistas praticam uma política antiproletária, burguesa, pois de fato preconizam não a «defesa da pátria» no sentido de luta contra a opressão estrangeira, mas o «direito» de tais ou tais «grandes» potências de pilhar as colônias e de oprimir outros povos. Os sociais-chauvinistas repetem a mistificação burguesa do povo segundo a qual a guerra é travada pela defesa da liberdade e da existência das nações, e passam assim para o lado da burguesia contra o proletariado. São sociais-chauvinistas tanto aqueles que justificam e embelezam os governos e a burguesia de um dos grupos de potências beligerantes como aqueles que, a exemplo de Kautsky, reconhecem aos socialistas de todas as potências beligerantes igual direito a «defender a pátria». O social-chauvinismo, que é de fato a defesa dos privilégios, das vantagens, das pilhagens e das violências da «sua» burguesia (ou de qualquer burguesia em geral) imperialista, constitui uma completa traição a todas as convicções socialistas e à resolução do congresso socialista internacional de Basileia.***
O social-chauvinismo é a defesa da ideia de «defesa da pátria» na presente guerra. Dessa ideia decorrem, seguidamente, a renúncia à luta de classes durante a guerra, a votação dos créditos de guerra, etc. De facto os sociais-chauvinistas praticam uma política antiproletária, burguesa, pois de fato preconizam não a «defesa da pátria» no sentido de luta contra a opressão estrangeira, mas o «direito» de tais ou tais «grandes» potências de pilhar as colônias e de oprimir outros povos. Os sociais-chauvinistas repetem a mistificação burguesa do povo segundo a qual a guerra é travada pela defesa da liberdade e da existência das nações, e passam assim para o lado da burguesia contra o proletariado. São sociais-chauvinistas tanto aqueles que justificam e embelezam os governos e a burguesia de um dos grupos de potências beligerantes como aqueles que, a exemplo de Kautsky, reconhecem aos socialistas de todas as potências beligerantes igual direito a «defender a pátria». O social-chauvinismo, que é de fato a defesa dos privilégios, das vantagens, das pilhagens e das violências da «sua» burguesia (ou de qualquer burguesia em geral) imperialista, constitui uma completa traição a todas as convicções socialistas e à resolução do congresso socialista internacional de Basileia.***
O manifesto sobre a guerra adotado por unanimidade em 1912 em Basileia tem em vista precisamente a guerra entre a Inglaterra e a Alemanha com os seus atuais aliados, que eclodiu em 1914. O manifesto declara expressamente que nenhum interesse popular pode justificar semelhante guerra, conduzida «pelo lucro dos capitalistas e pelas vantagens das dinastias» com base na política imperialista e espoliadora das grandes potências. O manifesto declara expressamente que a guerra é perigosa «para os governos» (todos sem excepção), assinala o seu medo da «revolução proletária», aponta da maneira mais definida o exemplo da Comuna de 1871 e o de Outubro-Dezembro de 1905, isto é, o exemplo da revolução e da guerra civil. Deste modo, o manifesto de Basileia estabelece precisamente para a presente guerra a táctica da luta revolucionária dos operários à escala internacional contra os seus governos, a táctica da revolução proletária. O manifesto de Basileia repete as palavras da resolução de Estugarda, dizendo que, em caso de eclosão da guerra, os socialistas deviam aproveitar a «crise econômica e política» por ela criada para «acelerar a queda do capitalismo», isto é, utilizar as dificuldades criadas pela guerra aos governos e a indignação das massas para a revolução socialista.
A política dos sociais-chauvinistas, a justificação por eles da guerra de pontos de vista libertadores burgueses, a admissão por eles da «defesa da pátria», a votação a favor dos créditos, a entrada nos ministérios, etc., etc., são uma traição direta ao socialismo, só explicável, como veremos adiante, pela vitória do oportunismo e da política operária nacional-liberal no seio da maioria dos partidos europeus.
As referências falsas a Marx e Engels
Os sociais-chauvinistas russos (encabeçados por Plekhánov) referem a táctica de Marx na guerra de 1870; os sociais-chauvinistas alemães (do tipo de Lensch, David e Cª) referem as declarações de Engels em 1891 sobre a obrigatoriedade de os socialistas alemães defenderem a pátria em caso de guerra com a Rússia e a França juntas; finalmente, os sociais-chauvinistas do tipo de Kautsky, desejando reconciliar-se com o chauvinismo internacional e legitimá-lo, referem-se ao facto de Marx e Engels, condenando as guerras, se terem no entanto colocado constantemente, de 1854-1855 até 1870-1871 e 1876-1877, ao lado de um ou de outro Estado beligerante, uma vez que a guerra apesar de tudo se desencadeava.
Todas essas referências constituem uma revoltante deturpação das concepções de Marx e Engels para agradar à burguesia e aos oportunistas, tal como os escritos dos anarquistas Guillaume e Cª deturpam as concepções de Marx e Engels para justificar o anarquismo. A guerra de 1870-1871 foi historicamente progressista por parte da Alemanha até Napoleão III ser derrotado, pois este, juntamente com o Czar, oprimiu a Alemanha durante longos anos, mantendo ali o fracionamento feudal. E logo que a guerra se transformou em pilhagem da França (a anexação da Alsácia e da Lorena) Marx e Engels condenaram decididamente os alemães. De resto, logo no início dessa guerra Marx e Engels aprovaram a recusa de Bebel e Liebknecht de votar a favor dos créditos e aconselharam a social-democracia a não se juntar à burguesia, mas defender os interesses de classe independentes do proletariado. Transferir uma apreciação dessa guerra progressista burguesa e nacional-libertadora para a atual guerra imperialista é escarnecer da verdade. O mesmo diz também respeito, com maior força ainda, à guerra de 1854-1855 e a todas as guerras do século XIX, quando não existiam nem o imperialismo contemporâneo, nem as condições objectivas maduras do socialismo, nem partidos socialistas de massas em todos os países beligerantes, isto é, não existiam precisamente as condições das quais o manifesto de Basileia deduziu a táctica da «revolução proletária» em ligação com a guerra entre as grandes potências.
Quem refere hoje a atitude de Marx em relação às guerras da época da burguesia progressista e esquece as palavras de Marx «os operários não têm pátria» — palavras que dizem respeito precisamente à época da burguesia reacionária, caduca, à época da revolução socialista — deturpa Marx sem vergonha e substitui o ponto de vista socialista pelo burguês.
A Falência da II Internacional
Os socialistas de todo o mundo declararam solenemente em 1912 em Basileia que consideravam a futura guerra europeia como uma empresa «criminosa» e reacionaríssima de todos os governos, que devia acelerar a derrocada do capitalismo, gerando inevitavelmente a revolução contra ele. Começou a guerra, começou a crise. Em vez da táctica revolucionária, a maioria dos partidos sociais-democratas aplicaram uma táctica reacionária, colocando-se ao lado dos seus governos e da sua burguesia. Esta traição ao socialismo significa a falência da II Internacional (1889-1914), e nós devemos aperceber-nos do que causou essa falência, do que gerou o social-chauvinismo, daquilo que lhe deu força.
O Social-Chauvinismo é o oportunismo acabado
Durante toda a época da II Internacional decorreu por toda a parte uma luta no interior dos partidos sociais-democratas entre a ala revolucionária e a ala oportunista. Em vários países houve cisão segundo esta linha (Inglaterra, Itália, Holanda, Bulgária). Nenhum marxista duvidava de que o oportunismo expressava a política burguesa no movimento operário, expressava os interesses da pequena burguesia e da aliança de uma ínfima parte de operários aburguesados com a «sua» burguesia contra os interesses da massa dos proletários, da massa dos oprimidos.
Lenin e Rosa Luxemburgo denunciaram a traição da II Internacional. |
A guerra acelerou o desenvolvimento, transformando o oportunismo em social-chauvinismo, transformando a aliança secreta dos oportunistas com a burguesia numa aliança aberta. Além disso, as autoridades militares decretaram por toda a parte a lei marcial e a mordaça para a massa operária, cujos velhos chefes se passaram, quase sem excepção, para a burguesia.
A base econômica do oportunismo e do social-chauvinismo é a mesma: os interesses de uma ínfima camada de operários privilegiados e da pequena burguesia, que defendem a sua situação privilegiada, o seu «direito» às migalhas dos lucros obtidos pela «sua» burguesia nacional com a pilhagem de outras nações, com as vantagens da sua situação de grande potência, etc.
O conteúdo ideológico-político do oportunismo e do social-chauvinismo é o mesmo: a colaboração de classes em vez da sua luta, a renúncia aos meios revolucionários de luta, a ajuda ao «seu» governo em situação difícil em vez da utilização das suas dificuldades para a revolução. Se considerarmos todos os países europeus no conjunto, se não tivermos em atenção personalidades isoladas (mesmo as de maior prestígio), verificaremos que foi precisamente a corrente oportunista que se tornou o principal esteio do social-chauvinismo, e no campo dos revolucionários se ouve quase por toda a parte um protesto mais ou menos consequente contra ele. E se considerarmos, por exemplo, o agrupamento das tendências no congresso socialista internacional de Estugarda de 1907, verificaremos que o marxismo internacional era contra o imperialismo, enquanto o oportunismo internacional já então era a favor dele.
A Unidade com os oportunistas é a aliança dos operários com a «sua» burguesia nacional e a cisão da classe operária revolucionária internacional
Na época passada, antes da guerra, o oportunismo era frequentemente considerado um «desvio», um «extremismo», mas em todo o caso uma parte constitutiva legítima do partido social-democrata. A guerra mostrou que isso é impossível no futuro. O oportunismo «amadureceu», levou até ao fim o seu papel de emissário da burguesia no movimento operário. A unidade com os oportunistas tornou-se uma hipocrisia completa, de que vemos um exemplo no partido social-democrata alemão. Em todos os casos importantes, por exemplo na votação de 4 de Agosto(2), os oportunistas aparecem com o seu ultimato, pondo-o em prática com a ajuda das suas numerosas ligações com a burguesia, da sua maioria nas direções dos sindicatos, etc. A unidade com os oportunistas significa presentemente de facto a subordinação da classe operária à «sua» burguesia nacional, a aliança com ela para oprimir outras nações e lutar pelos privilégios de grande potência, sendo uma cisão do proletariado revolucionário de todos os países.
Por mais dura que seja em certos casos a luta contra os oportunistas que dominam em muitas organizações, por mais peculiar que seja em certos países o processo de depuração dos partidos operários dos oportunistas, esse processo é inevitável e fecundo. O socialismo reformista agoniza; o socialismo que renasce «será revolucionário, intransigente, insurrecto», segundo a justa expressão do socialista francês Paul Golay(1).
* Trecho de "O Socialismo e a Guerra" escrito em agosto de 1915, V.I Lenine Obras Escolhidas em seis tomos, Edições "Avante!", 1986, t2, p. 227.
** Vladimir Ilyich Ulianov: Revolucionário marxista, político comunista, principal dirigente e teórico do Partido Bolchevique, líder da Revolução de Outubro na Rússia em 1917, a primeira revolução socialista vitoriosa no mundo, fundador da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Nascimento: 22 de abril de 1870, Ulianovsk, Rússia
Falecimento: 21 de janeiro de 1924, Gorki Leninskiye, Rússia
*** Todos os grifos são nossos, Página 1917.
Notas:
* Trecho de "O Socialismo e a Guerra" escrito em agosto de 1915, V.I Lenine Obras Escolhidas em seis tomos, Edições "Avante!", 1986, t2, p. 227.
** Vladimir Ilyich Ulianov: Revolucionário marxista, político comunista, principal dirigente e teórico do Partido Bolchevique, líder da Revolução de Outubro na Rússia em 1917, a primeira revolução socialista vitoriosa no mundo, fundador da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Nascimento: 22 de abril de 1870, Ulianovsk, Rússia
Falecimento: 21 de janeiro de 1924, Gorki Leninskiye, Rússia
*** Todos os grifos são nossos, Página 1917.
Notas:
(1) Em 11 de Março de 1915, em Lausana, o socialista francês P. Golay fez uma conferência sobre o tema "O Socialismo Agonizante e o Socialismo que deve Renascer".
(2) Votação do Partido Social Democrata favorável aos créditos de guerra no parlamento alemão em 1914.
(2) Votação do Partido Social Democrata favorável aos créditos de guerra no parlamento alemão em 1914.
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