Francisco Martins Rodrigues
Maio/Junho de 2000
A enormidade passou sem
reparos, tão vulgar se tornou a excomunhão da extrema esquerda. Mesmo assim, é
um pouco forte que um dirigente do Bloco de Esquerda use nesta matéria os
mesmos conceitos de um Mário Soares.
“Mas não é verdade que a
extrema esquerda, contesta, tal como a extrema direita, a legitimidade do
regime democrático? ”. A pergunta ingénua finge ignorar o essencial: a extrema direita luta para suprimir as
liberdades democráticas, no interesse da burguesia; a extrema esquerda luta
para suprimir o capital, no interesse da democracia dos trabalhadores. Os dois
extremos “antidemocráticos” que Rosas iguala têm apenas esta diferença: os fascistas lutam para esmagar os
trabalhadores, os comunistas lutam para esmagar a burguesia.
Quem defende e quem está
contra a democracia? Bastaria perguntar como se posicionaram face à explosão
democrática popular de 1974-75[1] extrema esquerda, extrema direita e
“democratas” para ter uma resposta prática ao problema.
E quanto ao argumento
infalível de que na União Soviética e China “o comunismo conduziu à ditadura”,
ninguém na esquerda ignora que justamente por o socialismo e o comunismo não
terem sido possíveis nesses países, devido ao seu atraso, degeneraram as suas
revoluções em ditaduras — não proletárias, mas burguesas.
Apenas aos olhos do
burguês que vê na atual democracia capitalista a única democracia possível e
quer defendê-la contra ambos os “extremos” surgem fascistas e comunistas como
semelhantes. É singular que Rosas se coloque nessa posição.
Notas:
[1] O autor refere-se à
Revolução dos Cravos, Portugal, abril de 1974.
Fonte: https://anabarradas.com/
Edição:
Página 1917
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