A Aberrante Dependência Estrangeira
Por Revolução Brasileira em 18/03/2022.
O recente conflito entre Rússia e OTAN fez
suscitar no Brasil (até mesmo nos jornalões burgueses) a discussão em torno da
dependência do país na importação de fertilizantes (em especial dos grupos NPK
– nitrogenados, fosfatados e potássicos). O Brasil consome anualmente cerca de
43 milhões de toneladas, sendo aproximadamente um terço para cada grupo. É o
maior importador de fertilizantes no mundo, comprando até 85% daquilo que
consome. A dependência do mercado estrangeiro é aberrante: o Brasil importa até
95% dos fertilizantes nitrogenados (comprando de Rússia, China e Oriente
Médio), até 75% dos fertilizantes fosfatados (adquiridos da Rússia, China e
Marrocos) e até 95% dos fertilizantes potássicos (vindos da Rússia, Belarus e
Canadá).
Essa
dependência se mostra ainda mais dramática num cenário como o presente, em que
a queda das importações pode levar ao aumento dos preços dos alimentos – seja
pela elevação do preço dos fertilizantes importados seja pelo impacto negativo
nas colheitas em caso de desabastecimento.
Esse
impacto poderia ser atenuado caso a Petrobras, hoje nas mãos de uma camarilha
ultraliberal, não estivesse nos últimos anos se desfazendo de suas fábricas de
fertilizantes nitrogenados. As operações ocorrem sempre de forma suspeita e
lesiva ao patrimônio público – mas sempre com a benção do STF e TCU. A estatal,
que já vem se retirando do mercado de fertilizantes nitrogenados desde 2015,
vem acelerando o processo desde então com a hibernação das unidades do Sergipe
e Bahia em 2018 (e que foram arrendadas em 2020 pela Proquigel Química,
pertencente ao grupo Unigel) e da unidade no Paraná em 2020 (esta última
motivando a mobilização grevista em fevereiro do mesmo ano). Uma outra unidade
de nitrogenados, a UFN3, situada em Três Lagoas (MS), cuja construção foi
iniciada pela Petrobrás (sendo paralisada com 80% das obras concluídas em 2014)
foi adquirida recentemente por um grupo de investidores russos da Acron.
Mesmo
no setor privado a desnacionalização pode comprometer ainda mais o mercado
interno. Nos últimos cinco anos a multinacional suíça Eurochem fez três
aquisições de indústrias do ramo de fertilizantes no Brasil, como a
Fertilizantes Heringer, Fertilizantes Tocantins e a Serra do Salitre.
Um
país de produção agrícola tão elevada se mostrar tão suscetível às flutuações
na dinâmica internacional é um sintoma crítico da dependência e do subdesenvolvimento
característicos de nosso país, sempre entregue aos desígnios de uma classe
dominante subordinada aos interesses estrangeiros. A falta de uma postura de
confronto com o liberalismo – em especial por parte da esquerda – leva à
manutenção deste quadro de dependência que resulta em graves prejuízos à
população brasileira, diariamente vítima deste assalto em detrimento da
acumulação de uma minoria – vide a própria Petrobrás, uma empresa estatal que
hoje faz um papel de Robin Hood às avessas, assaltando a população com preços
exorbitantes na venda de combustíveis e outros derivados, praticando preços
atrelados aos valores internacionais, mesmo sendo quase auto suficiente em sua
produção, tudo isso para garantir a remuneração de acionistas privados (a maioria
estrangeiros).
Esse
cenário só poderá mudar quando a esquerda estiver orientada em atender os
interesses e soberania do povo brasileiro. Para tal, deve assumir uma postura
de confronto com o grande capital, promovendo reformas e nacionalizações e não
subordinando-se a ele numa política ilusória de conciliação de classes. A
esquerda precisa urgentemente debater a Revolução Brasileira. Precisa tematizar
sobre o poder, e não sobre governos. Essas questões não se resolvem com
alianças eleitorais. Resolvem-se, ao contrário, com a Revolução. Tendo como
aliados os trabalhadores, não seus algozes.
Edição: Página 1917
*Fonte:https:https://revolucaobrasileira.org/18/03/2022/a-petrobras-e-os-fertilizantes/
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