Ney Nunes
20/06/2020
Quais seriam na atualidade, se é
que existem, as convergências estratégicas e táticas entre os comunistas
revolucionários (hoje é indispensável a qualificação dos comunistas, já que o
termo “comunista” é usado por diferentes partidos e pessoas que se dedicam a
prolongar a vida do capitalismo) e o Partido Comunista do Brasil (PC do B)?
Existiriam na questão do anti-imperialismo, ou da defesa da soberania e
dos interesses nacionais?
Nesse caso basta nos fixarmos
em dois pontos bem concretos e conhecidos: primeiro a atuação contra o
monopólio da Petrobras, quando o PC do B esteve à frente da Agência Nacional do
Petróleo (ANP) durante os governos Lula/Dilma, o segundo foi o posicionamento
favorável ao recente acordo para uso da Base de Alcântara pelos EUA. Ambos os
casos valem mais do que mil documentos ou discursos retóricos do PC do B, eles
são suficientes para desmascarar seu anti-imperialismo de fachada.
Talvez com relação a estratégia da
revolução brasileira? A estratégia é bem clara: aliança com a burguesia, defesa
da democracia (burguesa, é óbvio) e por um projeto de desenvolvimento nacional.
Mas em questão de fundamental importância, é melhor deixarmos o próprio PC do B
explicitar a sua estratégia:
“A experiência demonstrou que as coalizões
amplas e heterogêneas, decorrentes de uma realidade pluripartidária
diversificada, são necessárias tanto às vitórias eleitorais quanto à
governabilidade”
“O
13º Congresso apresenta ao povo e à coalizão que sustenta o governo, em
especial às forças políticas de esquerda e aos movimentos sociais, a convicção
de que a tarefa política central do momento é a de mobilização de apoio para
que o governo realize as mudanças que a Nação reclama por meio das reformas
estruturais democráticas, tendo como ideia-força um Novo Projeto Nacional de
Desenvolvimento” (1)
Quem sabe teríamos acordo sobre o balanço dos governos Lula/Dilma? Aqui
também é melhor transcrever a resolução aprovada no congresso de 2013:
“Nesta década se destacam quatro grandes realizações, ainda em movimento
e em construção, mas delineadoras de um novo tipo de desenvolvimento que vai
fortalecendo o país com o resgate do
papel do Estado, afirmação da soberania nacional, ampliação da democracia e
crescimento econômico com progresso social”
“A democracia voltou a florescer, a partir da diretriz do novo governo de
respeitar e valorizar as manifestações do povo e dos trabalhadores fortalecendo
suas entidades, estabelecendo o diálogo e a negociação como base para as
relações entre o governo e os movimentos sociais” (1)
Será que na linha política
diante da atual conjuntura encontramos alguma convergência? A nota do Comitê
Central do PC do B, publicada em abril/2020, não deixa margem para dúvidas:
“Neste
contexto, o Partido mobiliza a sociedade para as medidas de prevenção, de continuidade
do isolamento social; realiza firme combate às atitudes irresponsáveis e
criminosas de Bolsonaro; empreende a
defesa da vida, da democracia e da Constituição Federal.”(2)
“Persistir na articulação
de uma ampla frente de salvação nacional, em defesa da vida, da democracia, do
emprego e do Brasil.
Uma frente capaz de impedir que Bolsonaro promova o caos e crie condições para
o país livrar-se da crise e vencer a pandemia. Com esse propósito, o Partido deve intensificar o seu diálogo com
amplas forças da sociedade, partidos, entidades, personalidades e lideranças.
Nessa frente de salvação nacional, têm
protagonismo o Congresso Nacional, os governadores, o STF, entidades e
instituições da sociedade civil, como CNBB, Comissão Arns, OAB-Federal, SPBC,
ABC, ABI, hoje conjugadas no Pacto pela Vida e pelo Brasil. Devem participar os
partidos e parlamentares de um largo espectro político, personalidades do mundo
da cultura e da ciência, as centrais sindicais, a UNE, a UBES, a Conam, a UBM,
a CMB e um elenco de movimentos sociais e frentes desse setor”(2)
Talvez na caracterização da China de Xi Jinping como o novo farol do
socialismo?
“Sob
a estratégia segura e a condução serena de Xi Jinping, a República Popular da
China, sem declarações grandiloqüentes, sem adotar políticas de hostilidade
contra nenhum país, propõe e pratica uma forma avançada de relações
internacionais, baseada na cooperação e no ganho mútuo, na defesa de soluções
pacíficas para as controvérsias, no respeito à autodeterminação dos povos e no
rigoroso compromisso com o direito internacional e a Carta das Nações Unidas. A
“Iniciativa um Cinturão e uma Rota” é um exemplo do que a China chama de desenvolvimento
compartilhado.”
“Viva o Socialismo com características
chinesas!”(3)
Definitivamente fica impossível encontrar qualquer ponto de convergência
ou aproximação dos comunistas revolucionários com o PC do B além do vocábulo
“comunista”, do qual, pelo que se noticiou, a direção desse partido pretende se
livrar, ou pelo menos esconder ao máximo, como já vinha fazendo nas suas
últimas campanhas eleitorais.
1
- Resoluções do 13º Congresso do Partido Comunista do Brasil, São Paulo, 16 de
novembro de 2013.
2
– Nota do Comitê
Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Brasília, 18 de abril de 2020.
3
– Nota da Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil.
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