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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Convergências Impossíveis

Ney Nunes
20/06/2020



    Quais seriam na atualidade, se é que existem, as convergências estratégicas e táticas entre os comunistas revolucionários (hoje é indispensável a qualificação dos comunistas, já que o termo “comunista” é usado por diferentes partidos e pessoas que se dedicam a prolongar a vida do capitalismo) e o Partido Comunista do Brasil (PC do B)?

   Existiriam na questão do anti-imperialismo, ou da defesa da soberania e dos interesses nacionais?

     Nesse caso basta nos fixarmos em dois pontos bem concretos e conhecidos: primeiro a atuação contra o monopólio da Petrobras, quando o PC do B esteve à frente da Agência Nacional do Petróleo (ANP) durante os governos Lula/Dilma, o segundo foi o posicionamento favorável ao recente acordo para uso da Base de Alcântara pelos EUA. Ambos os casos valem mais do que mil documentos ou discursos retóricos do PC do B, eles são suficientes para desmascarar seu anti-imperialismo de fachada.

     Talvez com relação a estratégia da revolução brasileira? A estratégia é bem clara: aliança com a burguesia, defesa da democracia (burguesa, é óbvio) e por um projeto de desenvolvimento nacional. Mas em questão de fundamental importância, é melhor deixarmos o próprio PC do B explicitar a sua estratégia:

 “A experiência demonstrou que as coalizões amplas e heterogêneas, decorrentes de uma realidade pluripartidária diversificada, são necessárias tanto às vitórias eleitorais quanto à governabilidade”
“O 13º Congresso apresenta ao povo e à coalizão que sustenta o governo, em especial às forças políticas de esquerda e aos movimentos sociais, a convicção de que a tarefa política central do momento é a de mobilização de apoio para que o governo realize as mudanças que a Nação reclama por meio das reformas estruturais democráticas, tendo como ideia-força um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento” (1)

      Quem sabe teríamos acordo sobre o balanço dos governos Lula/Dilma? Aqui também é melhor transcrever a resolução aprovada no congresso de 2013:
 
Nesta década se destacam quatro grandes realizações, ainda em movimento e em construção, mas delineadoras de um novo tipo de desenvolvimento que vai fortalecendo o país com o resgate do papel do Estado, afirmação da soberania nacional, ampliação da democracia e crescimento econômico com progresso social

A democracia voltou a florescer, a partir da diretriz do novo governo de respeitar e valorizar as manifestações do povo e dos trabalhadores fortalecendo suas entidades, estabelecendo o diálogo e a negociação como base para as relações entre o governo e os movimentos sociais” (1)

          Será que na linha política diante da atual conjuntura encontramos alguma convergência? A nota do Comitê Central do PC do B, publicada em abril/2020, não deixa margem para dúvidas:

 Neste contexto, o Partido mobiliza a sociedade para as medidas de prevenção, de continuidade do isolamento social; realiza firme combate às atitudes irresponsáveis e criminosas de Bolsonaro; empreende a defesa da vida, da democracia e da Constituição Federal.”(2)

“Persistir na articulação de uma ampla frente de salvação nacional, em defesa da vida, da democracia, do emprego e do Brasil. Uma frente capaz de impedir que Bolsonaro promova o caos e crie condições para o país livrar-se da crise e vencer a pandemia. Com esse propósito, o Partido deve intensificar o seu diálogo com amplas forças da sociedade, partidos, entidades, personalidades e lideranças. Nessa frente de salvação nacional, têm protagonismo o Congresso Nacional, os governadores, o STF, entidades e instituições da sociedade civil, como CNBB, Comissão Arns, OAB-Federal, SPBC, ABC, ABI, hoje conjugadas no Pacto pela Vida e pelo Brasil. Devem participar os partidos e parlamentares de um largo espectro político, personalidades do mundo da cultura e da ciência, as centrais sindicais, a UNE, a UBES, a Conam, a UBM, a CMB e um elenco de movimentos sociais e frentes desse setor”(2)

      Talvez na caracterização da China de Xi Jinping como o novo farol do socialismo?


“Sob a estratégia segura e a condução serena de Xi Jinping, a República Popular da China, sem declarações grandiloqüentes, sem adotar políticas de hostilidade contra nenhum país, propõe e pratica uma forma avançada de relações internacionais, baseada na cooperação e no ganho mútuo, na defesa de soluções pacíficas para as controvérsias, no respeito à autodeterminação dos povos e no rigoroso compromisso com o direito internacional e a Carta das Nações Unidas. A “Iniciativa um Cinturão e uma Rota” é um exemplo do que a China chama de desenvolvimento compartilhado.”
Viva o Socialismo com características chinesas!(3)

      Definitivamente fica impossível encontrar qualquer ponto de convergência ou aproximação dos comunistas revolucionários com o PC do B além do vocábulo “comunista”, do qual, pelo que se noticiou, a direção desse partido pretende se livrar, ou pelo menos esconder ao máximo, como já vinha fazendo nas suas últimas campanhas eleitorais.


1 - Resoluções do 13º Congresso do Partido Comunista do Brasil, São Paulo, 16 de novembro de 2013.

2 – Nota do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Brasília, 18 de abril de 2020.

3 – Nota da Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil.












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