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quinta-feira, 4 de junho de 2020

Aviso aos Navegantes*

     René Dreifuss**


     Fica evidente para o empresariado transnacional que a promoção dos seus interesses não se realizará unicamente pelo exercício do inegável poder econômico das suas empresas multinacionais baseado no volume, grau de concentração e integração produtiva, diversificação e infra-estrutura científico-tecnológica, assim como em sua estrutura oligopolística de mercado. É necessário, também, desenvolver uma competência organizacional própria e a capacidade política de influenciar, quando não determinar, as diretrizes macroeconômicas e políticas, orientando o mercado e as instituições estatais, no próprio país ou além de suas fronteiras¹. Além disso, é fundamental manter uma presença político-cultural nas diversas sociedades, que funcionam como verdadeiros palcos de operações do capital transnacional.

    Assim se dá, paralelamente à superação dos sistemas econômicos nacionais, um processo de transnacionalização de ação política das classes dominantes numa sequência histórica de complexidade crescente, fundamental para a realização do capitalismo global.

      A ação política das classes dominantes extravasa o âmbito nacional e, o que é mais importante, o faz não somente através dos seus aparelhos de estado nacional, mas pela viabilização de seu poder classista supranacional, através de articulações transnacionais proporcionadas pela densa rede organizacional de elites orgânicas existentes, tanto nos países “centrais” como nos “periféricos”.

     A elite orgânica, em sua dimensão organizacional para o planejamento e execução da ação política é um fenômeno do capitalismo avançado, ciente de si mesmo. Essas elites orgânicas – agentes coletivos e organizadores de ação estratégica transnacional, compreendendo milhares de empresários, profissionais liberais, acadêmicos, militares, dirigentes do alto escalão do governo e de empresas estatais, técnicos e administradores do aparelho estatal e alguns políticos – estruturam-se fora do âmbito do aparelho de estado e das organizações partidárias convencionais. Mais ainda: as elites orgânicas “superam” os partidos, tanto em capacidade estratégico-política quanto na profundidade das suas ações. Poderíamos dizer: os partidos burgueses visam o governo; as elites orgânicas visam o Estado².


 * A Internacional Capitalista; René Dreifuss;  p.265-266; Editora Espaço e Tempo; 1987.

**René Armand Dreifuss, Nascimento: 02/01/1945, Montevidéu – Falecimento: 04/05/2003, Rio de Janeiro.

 "René teve uma vasta e sólida formação intelectual formou-se em história e ciência política pela Universidade de Haifa, Israel. Obteve, na Grã-Bretanha, em 1974, sempre na área da ciência política, o título de mestre na Universidade de Leeds, e o de doutor na Universidade de Glasgow, Escócia, em 1980. Seu currículo exibe uma ampla e diversificada participação em palestras, seminários, conferências, simpósios etc., tanto no Brasil como no exterior. Poliglota (falava e escrevia em espanhol, português, inglês, francês, alemão e hebraico), publicou, em revistas brasileiras e internacionais, várias dezenas de artigos sobre assuntos políticos nacionais e latino-americanos, Forças Armadas e sociedade e, nos últimos tempos, cultivando a abordagem multidisciplinar, relações internacionais. Escreveu vários livros, sendo logo o primeiro um best-seller, que vem merecendo sucessivas edições, 1964: A Conquista do Estado (Vozes, 1981). Seguiram-se a Internacional Capitalista (Espaço & Tempo, 1986); O Jogo da Direita na Nova República (Vozes, 1989); Política, Poder, Estado e Força - Uma Leitura de Weber (Vozes, 1993); A Época da Perplexidade (Vozes, 1996)."  [Fonte]

Notas:

¹ R.A. Dreifuss, 1964, op. cit., pg. 49, 65-66, 104-105, 482-483.

² Grifo do editor: Página 1917

 

    

    

    


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