Operários e operárias aprovam greve contra a brutal exploração nos canteiros de obras. Só com unidade e firmeza na luta teremos a força necessária para arrancar melhorias daqueles que vivem do nosso suor!
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Assembleias massivas e passeatas fortalecem a greve. |
Cem Flores
17.09.2025
Os operários da construção civil de Belém, Ananindeua e Marituba (PA) entraram em greve na última segunda-feira, dia 15 de setembro, por tempo indeterminado. Após um dia de paralisação e uma grande manifestação pelas ruas de Belém, a greve foi aprovada por centenas de trabalhadores da categoria em assembleia geral, em frente ao sindicato patronal.
A greve na região metropolitana de Belém expressa a indignação e a disposição de luta desses trabalhadores no enfrentamento à forma como estão sendo tratados pelos empresários e pelo governo. Essa justa rebeldia já estava latente nos canteiros de obras da região, gerando paralisações menores e mais pontuais, por fora do sindicato, nos últimos meses. Agora, em plena data-base, a luta alcançou uma unidade maior e se converteu em uma greve geral da construção civil.
Os pontos principais da pauta dos trabalhadores apresentada pelo sindicato da categoria são: 9,5% de reajuste salarial; cesta básica de R$ 270,00; participação nos lucros e resultados (PLR) em duas parcelas de R$ 378,00; classificação para as mulheres; fim do aviso trabalhado e classificação direta de servente para profissional. Ou seja, reivindicações básicas e emergenciais para manter o poder de compra e melhorar condições de trabalho da categoria, surgidas de sua realidade concreta de vida, trabalho e exploração.
Os patrões reagiram como sempre, desconsiderando totalmente as propostas. Sem sequer comparecer à última reunião de negociação, o sindicato patronal ofereceu reajuste de apenas 5,5% nos salários (na prática, pouco mais de R$ 5,00 de ganho real) e R$ 10,00 na cesta básica (passando de R$ 110,00 para R$ 120,00). Só para lembrar, a cesta básica calculada pelo Dieese para Belém foi de R$ 687,30 em agosto. Com o início da mobilização, a patronal recuou um pouco, mas a proposta continuou insuficiente e a greve permanece.
O governo da burguesia no estado está onde sempre esteve, do lado dos patrões, e já iniciou as tentativas de intimidar e reprimir a luta dos trabalhadores.
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Governo do Pará envia batalhão de choque para reprimir protesto operário. |
Os trabalhadores sabem que essa proposta dos patrões é uma verdadeira afronta. Por conta da COP 30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), a realizar-se em Belém em menos de 2 meses, bilhões de reais estão sendo investidos em obras, principalmente na área central de Belém, para construir e reformar os espaços da conferência, hospedar os participantes e facilitar seu deslocamento pela cidade. Essas obras implicam remoção de moradores e piora das condições de vida da população da periferia – assim como aconteceu com a copa do mundo de 2014. Os patrões estão enchendo os bolsos ainda mais (assim como os políticos, em vários esquemas de corrupção já denunciados). Isso tudo às custas de um gigantesco aumento na exploração dos trabalhadores.
As denúncias de pressão para entrega das obras da COP e de piora nas condições de trabalho são gerais entre os trabalhadores da categoria – também igual à experiência dos trabalhadores nos estádios da copa do mundo do Brasil. Jornadas que muitas vezes extrapolam as 12 horas diárias; trabalhadores sem EPI (botas, luvas e capacetes); comida estragada servida nos canteiros de obra; operários obrigados a trabalhar em condições insalubres, dentro de valas e esgotos; muito adoecimento e assédio. E se não bastasse isso tudo, atraso de salários e de pagamento de benefícios.
A esse aumento da exploração sobre os operários se soma vários impactos ambientais das obras da COP 30 que atingem os bairros de periferia da cidade onde moram os trabalhadores: desapropriação na marra, alagamentos, esgotos a céu aberto etc. Esse tem sido o verdadeiro “legado” que a COP 30 tem deixado aos trabalhadores de Belém e municípios em volta.
Já tivemos oportunidade de denunciar em publicação anterior a que interesses serve a realização dessa Conferência em Belém. Naquela oportunidade, afirmamos que “a COP dos patrões e dos poderosos é uma farsa montada por esses inimigos de classe e não pode ser um verdadeiro instrumento de combate ao colapso ambiental que atinge sobretudo as massas exploradas de todo o mundo. Não podemos ter ilusões com tal espaço nem compactuar com movimentos e grupos cooptados que legitimam essa farsa”.
Por isso, continuamos defendendo que “nessa COP 30, nosso lugar é do lado dos movimentos indígenas independentes que dobraram o governo do Pará em seu intento de retirar conquistas educacionais; do lado dos operários de Belém que têm paralisado as obras por salários e condições de trabalho; do lado dos corajosos moradores da Vila da Barca que se recusam a receber o esgoto dos ricaços e dos demais bairros da periferia de Belém que resistem aos impactos da conferência!”
Há meses essa panela de pressão na construção civil em Belém indicava que ia explodir. E a greve iniciada no dia 15 é mais uma demonstração de que, frente à ganância por lucros da burguesia, a paciência dos trabalhadores se esgotou, e a balela de uma COP 30 benéfica a todos não cola mais. Uma das palavras de ordem entoadas na manifestação já indica isso: “Ei patronal, preste atenção, está chegando um tsunami de peão”!, ecoando também o outro tsunami de peão que ocorreu meses atrás, na construção civil de Fortaleza (CE). Essa é a linguagem que todo trabalhador deve usar para ser entendido pelos patrões e pelo governo: união, organização e força na defesa de suas reivindicações imediatas. Preparando, assim, o derradeiro tsunami que vai limpar a terra desses parasitas do trabalho e da natureza.
Todo apoio à greve dos operários da construção civil de Belém, Ananindeua e Marituba!
A greve é justa! Nenhum passo atrás nas reinvindicações!
Fonte: https://cemflores.org/2025/09/17/todo-apoio-a-greve-operaria-na-construcao-civil-em-belem/
Edição: Página 1917
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