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terça-feira, 23 de setembro de 2025

Reféns da bolha pequeno-burguesa

 Ney Nunes

22/09/2025

Em 2013, durante o que se convencionou chamar de "jornadas de junho", muita gente foi surpreendida quando no seio dos protestos multitudinários, que aconteciam nas grandes cidades, surgiu uma repulsa aos partidos institucionais de todo o espectro político, especialmente aos ditos de esquerda (PCB, PCO, PSTU, PSOL) que lá estavam presentes com suas pequenas colunas de militantes, faixas e bandeiras. Ocorreram inclusive choques entre manifestantes, insuflados ou não pela extrema direita, e a militância desses partidos, que se viu obrigada em algumas cidades até mesmo a recolher suas bandeiras, visto que não estavam preparados, nem em número suficiente para enfrentar tal situação.

Junho de 2013, quando milhões foram às ruas.

Esses episódios serviram para demonstrar a enorme falta de inserção daqueles partidos, ditos "esquerdistas", no movimento de massas. Os resultados eleitorais, à época e nos anos seguintes, viriam confirmar o que já se sabia, partidos pretensamente "revolucionários" com registro eleitoral estavam cada vez mais adaptados a podridão da democracia burguesa, limitados ao calendário eleitoral e ao círculo estreito dos setores médios da população. Seus resultados eleitorais, recheados de zero vírgula alguma coisa, apesar de todas as distorções típicas de qualquer democracia burguesa, onde sempre prevalece o poderio econômico das classes dominantes, escancaram a tremenda falta de inserção desses partidos junto ao proletariado brasileiro.

Desde as jornadas de junho de 2013, a situação desses partidos continuou a mesma e até se agravou em termos de isolamento das massas exploradas. Eles seguem reféns da bolha pequeno-burguesa, reforçada em anos recentes pela militância  youtuber, geradora de inebriantes ilusões, mas que mantém basicamente o mesmo figurino: discursar para a bolha, buscando ampliar seus espaços nessa bolha e daí, quem sabe, tirar algum dividendo eleitoral. Nada de trabalho paciente, orgânico e prioritário junto ao proletariado, deixando o campo livre para os aparelhos político-ideológicos cristãos a serviço do capitalismo. É muito mais cômodo e sedutor viver de gravar vídeos nos seus confortáveis estúdios, circular de avião pelo país  disseminando conteúdo para consumo do gueto pequeno-burguês e ganhando um bom dinheiro com essas atividades.

Espremidos entre os dois blocos burgueses atualmente majoritários  na sociedade brasileira, o neofascismo bolsonarista e o liberalismo burguês, esses "esquerdistas" não podem trilhar outro caminho que não seja o da adesão, explícita ou disfarçada, ao bloco considerado "menos ruim" das classes dominantes. Não poderia ser de outra forma, afinal, são organizações, de cima a baixo, majoritariamente pequeno-burguesas. Alguns dos seus líderes que agitam por aí uma origem "pobre" e "periférica", há muito tempo ascenderam socialmente, a maioria deles, inclusive, nunca soube o que é bater um cartão de ponto. A História da luta de classes confirma que a pequena burguesia nunca foi uma classe revolucionária, sua posição intermediária entre as duas classes fundamentais, proletariado e grande burguesia, limita seu espaço ao eterno movimento pendular de adesão a uma ou outra força determinante da revolução e sempre de maneira subalterna.

Na atual conjuntura o proletariado não emergiu ainda como força política independente das demais classes sociais, não conformou sua vanguarda de luta, portanto, está a mercê dos dois blocos burgueses dominantes. Não será seguindo o caminho daqueles que continuam reféns da bolha pequeno-burguesa que poderá reverter esse quadro.  Somente combatendo o regime político das classes exploradoras e trilhando o caminho das lutas pelas suas reivindicações, da independência de classe e do anticapitalismo, o proletariado reunirá condições para colocar abaixo o domínio da burguesia.

Edição: Página 1917

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