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sexta-feira, 4 de julho de 2025

O cinismo do governo burguês de Lula-Alckmin e seus aliados

Coletivo Cem Flores

Boletim Que Fazer – Julho de 2025

Lula e seus parceiros do Congresso: Hugo Motta e Davi Alcolumbre

O atual conflito entre governo e congresso

Em 25 de junho, o congresso derrubou, por ampla maioria de 383 deputados (75%), o aumento no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) decretado pelo governo. Esse fato desfez semanas de acordões e conchavos entre os dois poderes, que buscam mais medidas para cumprir a meta fiscal deste ano, e revelou a fragilidade da base de apoio do governo.

Desde então, os atritos entre governo e congresso se intensificaram. De um lado, o governo recorre ao STF, na tentativa de reverter o veto do congresso e, juntamente com seus aliados de “esquerda”, lança-se em uma cínica campanha de crítica ao parlamento por defender o interesse dos mais ricos. De outro, os presidentes do legislativo e outros líderes parlamentares reagem publicamente e ameaçam mais retaliações caso o governo siga nessa linha.

Essa disputa já antecipa a briga eleitoreira que veremos no ano que vem, com cada partido e facção burguesa buscando manter ou ampliar sua influência na máquina estatal capitalista. O governo e o PT usam o episódio para tentar diminuir a queda de popularidade e tentar mobilizar sua base militante e eleitoral. Já o congresso, liderado pelos partidos de direita, busca reforçar seu poder, visando mais grana de emendas parlamentares e resultados eleitorais positivos como nas eleições municipais de 2024.

Governo e congresso possuem o mesmo programa

Diante de mais um conflito entre forças políticas burguesas, não podemos nos iludir: apesar da recente elevação dos atritos, que também envolve o pagamento das emendas parlamentares, tanto o governo quanto o congresso, no fundamental, possuem o mesmo programa. Ambos atendem a um só patrão: as classes dominantes do país.

Governo, congresso e judiciário, nos últimos anos, consolidaram e avançaram a ofensiva de classe burguesa contra o proletariado e demais trabalhadores no Brasil.  Um exemplo é o teto de gastos, reformulado da era Temer e aprovado pelo governo Lula e pelo congresso em 2023, cujas exigências estão por trás do conflito pontual sobre o IOF. Além disso, todos estão juntos no atendimento de outras demandas empresariais, como a reforma tributária, a independência do banco central, o aumento das privatizações, a manutenção da reforma trabalhista (um suposto “excesso de proteção desprotege o trabalhador”, defendeu o presidente do STF), o ataque aos aposentados etc.

Em toda essa ofensiva, o governo burguês Lula-Alckmin possui um papel central. Enquanto há o desentendimento em torno do IOF, ele segue com seus cortes bilionários contra os trabalhadores (alguns até derrubados pelo congresso!) e planeja ainda mais arrocho. E para os ricos? Festa de comemoração de mais um plano safra recorde no palácio do planalto, além de receberem do governo um trilhão de juros por ano!

Governo e congresso são farinha do mesmo saco

O tal congresso e o seu “centrão”, que também defendem os interesses da burguesia, são formados, em sua maioria pela base governista. Partidos de direita como União Brasil, Republicanos, PRD, PSD, PP e MDB possuem vários ministérios. Os atuais e os anteriores presidentes da câmara e do senado foram apoiados pelo governo em suas candidaturas.

Os parlamentares (inclusive do PT e seus aliados de “esquerda”) continuam regados farta e frequentemente pelo governo com emendas bilionárias – até mesmo em meio ao atual atrito, como ocorreu na transferência de mais de um bilhão de reais na semana da votação da derrubada do decreto do IOF. Importante lembrar que na sua campanha eleitoreira, Lula considerava esse esquema “a maior bandidagem” da história da república. Para ver como não podemos confiar em discurso de político burguês!

Por isso, não passa de cinismo o governo e seus aliados, mais uma vez, fingirem que representam os interesses dos trabalhadores e dos mais pobres – enquanto apenas o congresso representaria o interesse dos ricos. Essa ladainha já caiu por terra há muito tempo, e se torna ainda mais ridícula neste quinto governo do PT, o mais à direita de todos. A disputa entre eles é só pra ver quem fica com mais recursos e poder. Prova disso é que, enquanto com a mão esquerda o governo estimula a campanha de redes sociais, com a mão direita a ex-presidente do PT e atual ministra defende o presidente da câmara, o mesmo que fazem o atual presidente do PT, seu líder na câmara, o ministro da fazenda etc.

Pra nós, o de sempre nos governos dos patrões: exploração, pobreza, migalhas que sobram…

Não cair na enrolação do governo e seus aliados

Com a proximidade de 2026 e diante das várias dificuldades, o governo Lula-Alckmin se utiliza desse atrito com o congresso para, mais uma vez, enrolar os trabalhadores. E a chamada “esquerda”, majoritariamente a reboque desse governo burguês, tem se mobilizado para reforçar essa ilusão. O que não é novidade na ação desses oportunistas.

Nosso papel é não cair nessa armadilha, denunciar e combater não apenas o congresso burguês como instrumento do inimigo de classe, mas também esse governo, que completou dois anos e meio de continuidade da ofensiva de classe burguesa – e a previsão daqui para frente é de ainda mais arrocho.

Esse governo em nada representa os trabalhadores e em nada contribui para o avanço de nossa luta. Aliás, nem sequer representa um combate de fato à extrema-direita, que apesar de combalida com processos e prisões, segue como força política e eleitoral.

Nosso papel também não é servir de conselheiro a esses inimigos de classe, como fazem alguns (apoiadores) “críticos”. É uma ilusão infantil achar que esse governo poderia fazer um “giro à esquerda” quando está profundamente comprometido (por suas políticas, por sua composição, por sua ideologia, por sua história) com os interesses das classes dominantes. O PT está fazendo sua política burguesa como sempre o fez, e não mudará. Ele não é refém da burguesia, mas sim um de seus melhores representantes. Nosso foco deve ser atuar nas contradições que surgem no meio da massa e no descontentamento concreto, na busca por avançar a posição proletária e nos fortalecermos no combate aos nossos inimigos de classe, tanto os declarados como os camuflados.

04/07/25

Edição: Página 1917

Fonte: https://cemflores.org/2025/07/04/o-cinismo-do-governo-burgues-de-lula-alckmin-e-seus-aliados/

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