Ney Nunes
A mais recente ameaça, enviada através de uma carta do Presidente dos EUA, Donald Trump, ao governo Lula, comunicando a imposição da tarifa de 50% aos produtos brasileiros, agitou os meios políticos, empresariais e midiáticos em todo o país. Ela se insere no contexto da persistente crise da economia capitalista que se arrasta desde 2008 com o estouro da bolha imobiliária norte-americana e das suas consequências, entre as quais, a mais determinante é a crescente e acirrada disputa interimperialista entre as principais potências mundiais.
A imposição de sanções econômicas e o protecionismo desenfreado fazem parte do arsenal da disputa pela hegemonia no sistema imperialista. A União Europeia e os EUA vêm fazendo uso desse arsenal com cada vez mais intensidade, configurando a antessala do conflito bélico mundial que se desenha no horizonte geopolítico. Não por acaso, os gastos militares das grandes potências apresentaram vertiginosa subida nos últimos anos e os planos são de continuarem aumentando, num claro preparativo para a próxima etapa da disputa interimperialista.
É nesse contexto que o governo Trump volta suas baterias contra o Brasil, país tratado, desde o século passado, como área reservada ao domínio dos EUA, assim como toda a América Latina. O crescimento da influência econômica chinesa e a consolidação de um bloco capitalista alternativo aos EUA e União Europeia, os Brics, é percebido pelos norte-americanos como uma séria ameaça à hegemonia do dólar no comércio internacional e ao domínio dos EUA na região.
Pretexto político
A ofensiva protecionista contra o Brasil tem um claro pretexto político, assinalado na carta de Donald Trump, apoiar seu mais fiel e subserviente aliado político, o ex-presidente Bolsonaro. Na carta, Trump não tem o mínimo escrúpulo ao se intrometer em questões internas e exigir o fim do processo contra a corja da extrema-direita bolsonarista. Faz isso, a despeito dos EUA terem saldos positivos na balança comercial e de serviços com o Brasil, tornando sem efeito qualquer argumento de ordem econômico-financeira.
O lambe-botas Bolsonaro correu para se congratular com Trump, agradecendo o apoio. Da mesma forma seus seguidores festejaram a imposição de tarifas, esquecendo que parte importante da sua base no empresariado será prejudicada nos negócios. Logo essa contradição poderá implicar em sérios prejuízos eleitorais para a extrema-direita brasileira, porque ficou exposto o enorme grau de subserviência da corja bolsonarista ao imperialismo norte-americano.
Burguesia vassala do imperialismo
Por sua vez, a burguesia brasileira, umbilicalmente ligada de forma subalterna ao sistema capitalista internacional, não é detentora de nenhum projeto nacional, independente, autônomo, frente ao domínio das potências e blocos imperialistas. Assim como no período anterior à Segunda Guerra Mundial, quando se dividia entre as potências do Eixo (Alemanha, Japão e Itália) e o bloco dos Aliados (EUA, Reino Unido, França e URSS), atualmente os interesses das facções burguesas estão na corda bamba na disputa entre o bloco comandado por EUA/UE e a aliança liderada por China/Rússia.
O governo burguês de Lula/Alckmin passa longe de qualquer viés anti-imperialista, sua reação ao aumento tarifário dos EUA e a intromissão nos assuntos internos do Brasil será na exata medida que as facções burguesas dominantes determinarem. Até aqui, temos notas das associações empresariais e editoriais na mídia burguesa protestando contra as medidas protecionistas e a intromissão nos assuntos internos. Ao final, o grau dessa reação será definido pelos prejuízos contabilizados pelos oligopólios empresariais brasileiros e as alternativas por eles encontradas no mercado mundial.
Depositar qualquer confiança nas classes dominantes e nos seus políticos lacaios para o enfrentamento com o sistema imperialista é trilhar o caminho certo da derrota e da desmoralização política.
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