Seus coveiros serão as classes trabalhadoras e os povos oprimidos de todos os países!
Cem Flores
11/07/2025
“sob o capitalismo não se concebe outro fundamento para a partilha das esferas de influência, dos interesses, das colônias, etc., além da força de quem participa na divisão, a força econômica geral, financeira, militar, etc.”
Lênin. O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo (1916).
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Irã respondeu com seus misseis aos ataques israelenses. |
(1ª parte)
- As agressões imperialistas dos EUA, potência imperialista hegemônica, porém em declínio relativo.
Neste primeiro quarto do século 21, o mundo vive permanentemente sob guerras imperialistas e sob constantes ameaças de guerras imperialistas. O principal agressor, de longe, é o imperialismo dos EUA – principal potência imperialista mundial sob todos os aspectos (econômico, financeiro, tecnológico, militar, ideológico etc.), mas em declínio relativo, especialmente diante da ascensão do imperialismo chinês.
Apenas neste século, os EUA participaram da guerra do Afeganistão (2001-21), encerrada com a vitória do Talibã; guerra do Iraque (2003-11), que resultou na derrubada do governo e destruição do país, seguida de intervenção militar (2014-21); guerra da Líbia (2011), igualmente destruindo o país e derrubando o governo, com nova intervenção (2015-19); e guerra civil da Síria (2014 até hoje), com o mesmo objetivo de derrubar o governo ao custo de destruir o país. Uma operação militar dos EUA, iniciada em 2007, afetou de uma só vez Argélia, Chade, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal, Nigéria e Marrocos. Também ocorreram intervenções militares nas Filipinas (2002-17) e no Paquistão (2004-18); em Uganda, Congo, Sudão do Sul e República Centro-Africana (2011-17); na Nigéria (2013-24), nos Camarões (2015), na Somália (2007 até hoje) e no Iêmen (2002 até hoje).
Os EUA são o principal país fornecedor de armas e financiador da Ucrânia na guerra interimperialista com a Rússia (2022 até hoje). Muito embora Trump minta dizendo que esses gastos chegariam a quase R$2 trilhões (US$350 bilhões), o número oficial do departamento de defesa dos EUA é algo como metade disso (R$ 1 trilhão, ou US$ 183 bilhões). Institutos independentes reduziram esse valor para menos de R$ 700 bilhões (US$ 120 bilhões), enquanto estudo que considera o real valor presente das armas fornecidas (muitas já fora de uso pelas forças armadas dos EUA) e a destinação direta para a Ucrânia reduziram ainda mais esse valor para R$ 280 bilhões (US$ 51 bilhões).
Na agressão imperialista mais recente, de 21 de junho deste ano, os EUA promoveram um gigantesco e bilionário bombardeio militar nas instalações nucleares e entraram em guerra no Irã (2025).
Além disso, o imperialismo dos EUA impôs sanções econômico-financeiras nestes últimos 25 anos ao menos a Cuba e Venezuela; Rússia, Belarus e Coréia do Norte; Myanmar, Sudão, Angola, Camarões, Nigéria, Zâmbia, Moçambique; Irã, Iraque, Líbia e Síria; além de dezenas de outros países sob diferentes outros tipos de sanções.
- As guerras imperialistas no século 21
As guerras imperialistas são os instrumentos de última instância para manter ou refazer a partilha do mundo entre os monopólios capitalistas e entre as grandes potências imperialistas. Com essas guerras ou a ameaça delas – pelas armas, com chantagens, mediante sanções – os imperialistas buscam garantir zonas de influência (econômica, financeira, política, militar), conquistar novas ou destruir as dos seus adversários. Politicamente, isso significa intervenções armadas diretas ou indiretas das potências imperialistas, apoio militar a governos aliados (Israel), atuação para derrubar governos inimigos ou aliados dos seus adversários (Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão, Irã) e mesmo tentativas de destruição de países inteiros, eliminando concorrentes.
Essas zonas de influência imperialista representam acesso privilegiado/exclusivo ao fornecimento de matérias-primas (energéticas, como o petróleo, ou alimentares) e outros insumos básicos (minerais, como as terras raras usadas na indústria militar e de tecnologia), a força de trabalho barata, a infraestruturas e mercados consumidores, bem como a capacidade de dificultar ou impedir esse acesso a seus adversários e concorrentes. Essa dominação imperialista da maioria dos países do mundo (dominados) também busca a projeção do poder global da potência imperialista, mediante bases militares, governos aliados ou fantoches, acordos econômico-financeiros privilegiados para o capital imperialista etc.
Tudo isso se traduzindo, é claro, em lucros bilionários para os grandes monopólios transnacionais dos países imperialistas nos ramos militar (fornecimento de armas), tecnológico (desenvolvimento de novas tecnologias militares), logístico e construção, energia (empresas de petróleo e gás), e de diversos outros setores, impulsionando as economias dos países imperialistas, seus lucros e sua concentração de renda e riqueza.
Os EUA mantêm mais de 20 bases militares imperialistas em mais de 10 países do Oriente Médio, região de intensa disputa imperialista há décadas. São mais de 50 mil militares, além de sistemas de defesa aérea, caças e frotas navais.
Os adversários dos países imperialistas nessa partilha do mundo são, em primeiro lugar, os demais países imperialistas, aos quais se quer impedir a conquista de zonas de influência, mantendo a partilha existente, ou avançar sobre zonas alheias, alterando a partilha, em último caso, pela força. No entanto, os principais atingidos por essas contradições interimperialistas são os países dominados, que sofrem as consequências (econômicas, políticas, culturais e ambientais) da dominação imperialista e nos quais nos quais acontecem efetivamente as guerras imperialistas. Esses países dominados podem estar envolvidos em conflitos regionais das potências imperialistas (Ucrânia, Palestina), serem produtores ou possuidores de reservas de matérias-primas (países árabes produtores de petróleo, Congo) ou seus aliados (Iêmen) e ex-colônias (Mali, Burkina Faso). Ou ainda, países que ambicionam (ou ambicionavam) posições de liderança regional (Iraque, Síria, Líbia, e agora o Irã), ampliando seu arco de alianças/influência e confrontação com outras lideranças regionais e/ou aliados preferenciais dos países imperialistas, como Israel no Oriente Médio.
Seja nos países imperialistas, seja nos países dominados, a dominação imperialista representa, sem nenhuma exceção, um aumento da exploração das classes trabalhadoras, sua maior opressão pelas classes dominantes nacionais e uso dos trabalhadores e seus filhos como bucha de canhão nas guerras imperialistas.
- O sistema imperialista mundial e a crítica ao oportunismo
O imperialismo, sua dominação global, o sistema mundial que ele configurou e a divisão internacional do trabalho que ele gera, a dominação imperialista exercida sobre o proletariado e as demais classes trabalhadoras nos países imperialistas e dominados, e sobre os povos oprimidos de todo o mundo, são aspectos centrais para a análise da conjuntura da luta de classes proletária e revolucionária no Brasil e no mundo.
Por isso, o Cem Flores tem buscado estudar o imperialismo e seu sistema mundial de exploração e dominação para poder analisá-lo de maneira materialista e científica, baseado no marxismo-leninismo. Isso nos parece fundamental para a definição da justa posição comunista na luta de classes.
É igualmente fundamental a crítica sem tréguas a todo o tipo de reformismo, revisionismo e oportunismo pequeno burgueses. Atualmente, os oportunistas criam inúmeras teses para defender a burguesia e seus governos (cada vez mais abertamente), seja a do seu próprio país, recaindo em nacional-chauvinismo ou nacional-desenvolvimentismo, seja a de outros países dominados. Esses traidores – em pleno século 21, após mais de um século de imperialismo e inúmeros exemplos históricos de fracasso das posições oportunistas, revisionistas e reformistas entre os partidos comunistas e de seguidas traições da burguesia – continuam a defender uma idealizada e ilusória independência, soberania ou autonomia nacional ou o desenvolvimentismo, porém sempre nos marcos do capitalismo dominado. Essa defesa de um desenvolvimento nacional capitalista, de uma industrialização burguesa, de uma inserção internacional “alternativa” e outras teses similares nada mais são do que justificativas, na teoria e na prática, para a manutenção da exploração econômica e para a subordinação política do proletariado pela burguesia.
Nos dias de hoje também há teses oportunistas para defender potências imperialistas (China e Rússia) e seus sistemas de exploração das classes trabalhadoras, justificados (na verdade, ocultando-os) pelas suas contradições interimperialistas com os EUA e os países imperialistas europeus e os delírios pequeno-burgueses sobre um mundo “multipolar”, sobre “imperialismos aliados” dos países dominados que promoveriam, de fora, o tão sonhado desenvolvimento capitalista interno – algo seguidamente negado pelos exemplos históricos concretos, como é o caso atual das relações coloniais de novo tipo entre China e Brasil.
Essa crítica nos é fundamental porque compreendemos, com Lênin, que “a luta contra o imperialismo é uma frase oca e falsa se não for indissoluvelmente ligada à luta contra o oportunismo”.
A seguir transcrevemos as passagens que entendemos relevantes sobre o tema do capítulo 4 (O Sistema Imperialista Mundial no Começo do Século 21) do nosso Documento Base, publicado em julho de 2023:
O sistema imperialista mundial agrava a exploração da classe operária e das demais classes dominadas em todos os países, com a mesma contradição fundamental entre burguesia e proletariado atuando nas condições específicas de países imperialistas e de países dominados, e de maneira distinta em cada país a depender da luta de classes. O imperialismo também é um brutal sistema de poder e de dominação (política, ideológica, militar) que visa garantir e reforçar os interesses dos monopólios e dos países dominantes uns contra os outros e sobre todos os demais. A guerra é parte necessária e essencial do imperialismo (pg. 113).
O caráter destrutivo do imperialismo, além da brutalidade das crises econômicas sobre as condições de vida das massas, também se manifesta nas guerras imperialistas (uma dezena nessas duas primeiras décadas do século 21, do Afeganistão à Ucrânia), na devastação ambiental global, na concentração de uma riqueza incalculável nas mãos de uma burguesia cada vez mais reduzida e poderosa e na ampliação da pobreza, da miséria e da exploração para a absoluta maioria (pg. 114).
(…) disputas crescentes, econômicas, financeiras, tecnológicas, políticas, ideológicas e militares, no limite, às guerras imperialistas … têm caracterizado o mundo desde o início do século 20. Trata-se de guerras de conquista e/ ou de manutenção das zonas de influência (ou mesmo de destruição da influência dos concorrentes), do estabelecimento de alianças político-econômico-militares para definir aliados e isolar concorrentes. Diplomacia, ameaças e chantagens, e ações de dissuasão também desempenham papel similar, em menor escala (pgs. 121-122).
Nessas condições de crise do sistema imperialista mundial e agravamento das contradições interimperialistas, de ofensiva burguesa e tendência ao fascismo, a guerra surge como consequência inevitável das disputas das grandes potências imperialistas por zonas de influência ao redor do mundo – sujeitas a constante contestação e pressão por redivisão. Assim, as guerras do século 21, em geral, envolvem uma potência imperialista (EUA na absoluta maioria; França e Inglaterra, como aliadas dos EUA; Rússia) ou um firme aliado (Israel) contra um país dominado cuja zona de influência ou o controle sobre sua produção de matérias-primas está em disputa (Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria, Ucrânia), além de um sem número de guerras ou conflitos regionais (Palestina, Líbano, Iêmen). O conflito principal que está se agravando, no entanto, é entre as duas principais potências imperialistas, EUA e China, cujos atritos tendem a crescer e, possivelmente, passar das esferas comercial, tecnológica, financeira, político-diplomática e ideológica para a esfera militar – o que já pode ser sentido na corrida armamentista que se acelera (pgs. 134-135).
Ou seja, a perspectiva é de acirramento de conflitos e disputas, sanções e retaliações, e guerras – nada mais distante que o róseo cenário de “multilateralismo” desenhado pelo reformismo e pelo oportunismo (pg. 135).
Em setembro do ano passado, divulgamos as Resoluções Políticas do nosso 3º Encontro de Organização: Fortalecer nossa Organização Comunista no seio do Proletariado e das Massas Trabalhadoras, no qual também tratamos da questão do imperialismo e de onde extraímos a citação do título deste artigo:
5.8. A atual fase da Guerra na Palestina, iniciada com as ações militares do Hamas em território israelense em outubro de 2023, é consequência direta da ocupação colonial de Israel. A Faixa de Gaza é um campo de concentração a céu aberto, inteiramente controlado por Israel, desde a coleta de impostos e transferências financeiras até o fornecimento de água. Israel também mantêm milhares de reféns políticos palestinos presos. Os ataques israelenses à Gaza e à Cisjordânia constituem crimes de guerra e ações de genocídio contra o povo palestino, com mais de 41 mil mortos (dos quais pelo menos 10 mil crianças), 100 mil feridos e a quase totalidade da população de Gaza deslocada de suas casas. A guerra tem se generalizado na região, incluindo ações armadas dos Hutis no Mar Vermelho e um ataque ao território de Israel; ataques israelenses a grupos na Síria e no Iraque, a posições do Hezbollah, no Líbano, e contra o Irã, que têm revidado em ataques ao território israelense. A solidariedade à resistência palestina levou a grandes manifestações e a ocupações de universidades ao redor do mundo, como nos EUA, Inglaterra, França. É preciso atuar ativamente para reforçar a defesa proletária da causa palestina, reafirmar sua autodeterminação e barrar a mão armada do invasor colonialista e imperialista! (pg. 12).
- A atuação imperialista no Oriente Médio e o papel de Israel e do Irã
É a partir, portanto, do sistema imperialista mundial, de suas contradições e de suas guerras que deve ser analisado o maciço e criminoso ataque imperialista dos EUA ao Irã e suas instalações nucleares, em 21 de junho, dando sequência aos não menos criminosos ataques israelenses, iniciados uma semana antes. Mais especificamente, devemos analisá-los no contexto das disputas interimperialistas no Oriente Médio pelo controle da maior produção (entre um terço e um quarto) e das maiores reservas mundiais de petróleo (mais da metade) e gás, pelo controle das rotas marítimas de ligação entre oriente e ocidente (que transportam cerca de um terço do petróleo global, dos quais 20% pelo estreito de Ormuz) e pelas tentativas de derrubada de governos inimigos e instalação de governos aliados (ou fantoches) de cada potência imperialista envolvida. Mais concretamente, no contexto da guerra Palestina-Israel, que entrou em nova fase a partir de outubro de 2023 e se tornou crescentemente um conflito regional, envolvendo Líbano, Jordânia, Síria, Egito, Iêmen e outros países, e considerando o papel de potência regional do Irã, com seus países e grupos aliados na região, e seus antagonismos com Israel e com seu principal apoiador imperialista mundial, os EUA.
Israel é o principal aliado político, econômico e militar do imperialismo dos EUA no Oriente Médio, praticamente sua cabeça de ponte na região. No entanto, o arco de aliados dos EUA é bem mais amplo, englobando diversos países árabes como Arábia Saudita (aliado histórico dos EUA, não obstante sua participação como convidada nos Brics), Emirados Árabes Unidos, Catar (sede da maior base militar dos EUA na região), Jordânia (governo árabe mais próximo de Israel), Bahrein (sede da 5ª frota da marinha dos EUA), Kuwait (sede da maior quantidade de bases militares dos EUA na região) e Egito (em aliança estratégica com os EUA, recebendo mais de R$ 7 bilhões para cooperação militar todos os anos).
Os gastos militares dos EUA em apoio a Israel são históricos e bilionários, constituindo a maior parte das verbas militares dos EUA no exterior desde a 2ª Guerra Mundial. Porém esses gastos bateram todos os recordes desde o começo da nova fase da guerra de Israel contra a Palestina, em outubro de 2023. Em estimativa conservadora e incompleta, esses subsídios e empréstimos somaram mais de R$ 100 bilhões (US$ 18 bilhões), nos doze meses de outubro de 2023 a setembro de 2024. Nesse mesmo período, os gastos militares totais dos EUA no Oriente Médio superaram R$ 130 bilhões.
Auxílio militar dos EUA para Israel, 1959-2024 (em 2024, últimos 12 meses até setembro). Inclui subsídios militares e empréstimos.
A maior parte desses recursos, no entanto, enche obrigatoriamente os bolsos dos monopólios transnacionais dos EUA fornecedores de armas e equipamentos militares – os famosos mercadores da guerra – como Boeing, General Dynamics, Lockheed Martin, Northrop Grumman, Raytheon etc. Para o capital, a guerra e todos os seus horrores são apenas mais um meio de lucrar e ampliar os seus lucros.
A esse grupo de monopólios transnacionais mercadores da guerra se juntou, desde 2023, a Petrobras, com a manutenção e o aumento de suas exportações de petróleo para Israel. O relatório do Conselho de Diretos Humanos da ONU, divulgado em 30 de junho, acusa a Petrobrás (junto com outros monopólios petrolíferos, como a inglesa BP e a americana Chevron) de fornecer petróleo e combustível de aviação a Israel na sua guerra genocida contra a Palestina. Os dados disponíveis mostram que o Brasil exportou para Israel 2 milhões de barris de petróleo em 2023 e 2,7 milhões em 2024, um aumento de aproximadamente um terço. Com isso, o Brasil forneceu 9% do petróleo bruto para Israel de outubro de 2023 a julho de 2024. O Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro denunciou que a Petrobrás, não apenas está sonegando informações sobre suas exportações para Israel como, mais grave ainda, realiza triangulações no exterior com navios e empresas da Itália, Turquia e Egito e desliga os localizadores de GPS de seus navios ao entrar no Mar Mediterrâneo ou outras rotas marítimas para Israel – tudo isso com o claro objetivo de buscar ocultar essas vergonhosas vendas.
A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e a Federação Única dos Petroleiros (FUP) comprovaram que o “Brasil forneceu para Israel o petróleo bruto e refinado para operar sua frota de caças, tanques e outros veículos e operações militares, bem como as escavadeiras que atuam destruindo a infraestrutura nos campos de refugiados e cidades da Cisjordânia ocupada”. Para eles, com razão, isso torna o Brasil um “estado cúmplice de genocídio”. Só que a conclusão, a linha e a ação política que tiram desses fatos se restringiu, até onde sabemos, a publicar uma carta aberta para Lula, na qual defendem:
“conclamamos o Governo Brasileiro a continuar do lado certo da História e reafirmar seu compromisso com o Direito Internacional, respeitando os pareceres consultivos da Corte Internacional de Justiça, impondo um embargo energético interrompendo a exportação de petróleo para Israel, e a paralisação imediata de projetos com empresas de energia israelenses”.
“Expressamos nosso total apoio às declarações do governo brasileiro e solicitamos a adoção de medidas imediatas, incluindo o comprometimento em suspender a venda e/ou o transporte de suprimentos energéticos a Israel, inclusive àquelas empresas que possam revendê-los ao país”.
Ou seja, fatos inegáveis mostram que o estado brasileiro, sob a direção do governo burguês de Lula, é cúmplice de genocídio ao vender petróleo para a máquina de guerra israelense. No entanto, o reformismo dessas direções sindicais os leva a elogiar o governo – ignorando a diferença entre seus discursos e suas ações – e apenas “solicitar” ou “conclamar” ações governamentais. Esse legalismo e institucionalismo os impediram de buscar o caminho das ações proletárias, com os próprios operários (petroleiros, estivadores, ferroviários etc.) bloqueando com suas ações militantes as exportações a Israel – como já ocorreu na Grécia e na França, por exemplo.
Por outro lado, vários países da região tiveram historicamente governos que se aliavam preferencialmente à União Soviética, integravam o bloco dos países não-alinhados ou, na condição de inimigos de Israel, apresentavam contradições com os EUA. Neste século, três países desse grupo foram destruídos (em sua economia e infraestrutura, organização político-social e mesmo unidade nacional), derrotados militarmente pelo imperialismo dos EUA e tiveram seus governos derrubados: Iraque (2003), Líbia (2011) e Síria (2024). O atual esforço de guerra dos EUA e de Israel, entre outros objetivos, visa aplicar o mesmo receituário ao Irã.
O Irã é governado desde a revolução islâmica, em 1979, por aiatolás reacionários, sustentados pelas forças armadas e policiais, e tendo como base de apoio os grupos religiosos. Esse regime repressivo representa os grandes capitalistas. A concentração de renda é imensa: o 1% burguês mais rico tem 30% da riqueza do país e os 10%, quase dois terços. Enquanto isso, um terço dos iranianos está na pobreza e o desemprego chega a metade dos homens entre 25 e 40 anos, conforme publicação de Michael Roberts. A elevada inflação de alimentos, os baixos salários e uma crise de moradia levaram ao crescimento de manifestações e protestos de trabalhadores.
Há mais de uma década a economia do país está estagnada, fundamentalmente por causa dos bloqueios, sanções e ataques das principais potências imperialistas, com os EUA à frente – que provocaram perdas econômicas trilionárias ao Irã. Os períodos de baixos preços do petróleo no mercado internacional também prejudicam a economia iraniana, em que 80% das exportações e 60% das receitas do governo vem do setor petrolífero. Esse efeito combinado também provoca crises energética e hídrica no país. Os gastos militares são crescentes, devido à necessidade de conter ou contra-atacar as ofensivas de Israel e do imperialismo dos EUA.
Mesmo nessas condições, o Irã é atualmente a única potência regional do Oriente Médio opositora de Israel e dos EUA. Nessa condição e sob parceria econômica, política e militar cada vez mais intensa com a Rússia e a China, o Irã lidera um conjunto de organizações armadas no exterior – Líbano (Hezbollah), Iêmen (Houtis), milícias xiitas na Síria e no Iraque (após a derrubada de seus governos) – e apoia grupos da resistência palestina (principalmente o Hamas e a Jihad Islâmica). Todos esses grupos e países também são alvos dos ataques imperialistas.
Edição: Página 1917
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