Índice de Seções

terça-feira, 7 de novembro de 2023

A Nossa Revolução*

A Nossa Revolução

Ney Nunes

09/11/2017

 Um acontecimento que, decorrido um século, ainda provoca análises, debates e paixões ao redor do mundo, não pode de forma alguma ser desprezado, ou corre-se o risco de ficar prisioneiro da ignorância sobre o passado e da cegueira em relação ao presente e ao futuro.

A Revolução Russa de 1917 nasceu das profundezas de uma crise terminal do sistema autocrático vigente na Rússia, combinada e potencializada pelas disputas interimperialistas que resultaram na Primeira Guerra Mundial. O componente mais especificamente russo dessa crise já tinha se manifestado com força na revolução derrotada de 1905, quando a tirania do regime dos Czares foi colocada em xeque pela mobilização dos camponeses e operários. Apesar da derrota da revolução, o regime dos Czares não teria longa sobrevida, os reveses militares da Rússia na guerra iniciada em 1914 e a situação miserável da maioria esmagadora do povo forneceram o combustível que reacendeu a chama que fora apagada pela repressão em 1905.


Manifestação na Rússia em 1917.

Mas nem só de revolta popular é tecida uma revolução vitoriosa, é preciso bem mais. A indignação e a disposição das massas para lutar necessitavam de uma base sólida, essa base foi construída pela teoria marxista, pela estratégia e táticas elaboradas e levadas a prática por um disciplinado partido revolucionário que soube se ligar de forma orgânica ao proletariado russo. Esse partido nasceu da cisão no interior da social-democracia, então a corrente política majoritária no movimento operário internacional, ela se deu a partir das divergências sobre as concepções de construção e funcionamento do partido e também do posicionamento diante da Primeira Guerra Mundial.

No entendimento da maioria da sua direção, o partido bolchevique não deveria ficar limitado às disputas eleitorais e lutas por reformas no interior do capitalismo, pelo contrário, ela compartilhava a compreensão de que a violência da ditadura do capital só poderia ser derrotada por um partido centralizado e inserido em todas as lutas do proletariado, preparado para operar sob as mais difíceis condições.

Iniciada a guerra, Lenin e seus camaradas denunciaram o oportunismo da social-democracia que capitulava diante das suas burguesias nacionais, apoiando no parlamento créditos para sustentar a guerra interimperialista.

A política bolchevique foi decisiva para que a revolução democrática de fevereiro avançasse em direção à revolução socialista de outubro. O desafio ao governo de conciliação de classes de Kerensky e ao regime democrático burguês não fazia parte do receituário das correntes reformistas. Sob o lema de Paz, Pão e Terra o partido bolchevique soube articular as mobilizações de massa com a devida preparação militar para a tomada do poder.

A revolução que despertou temor e ódio entre as burguesias ao redor do mundo, trouxe esperança para as massas exploradas. Mas não tardaria em receber um duro contragolpe dessas burguesias em apoio aos latifundiários e capitalistas russos: a sangrenta guerra civil de 1918−1921 tratou-se, na verdade, de uma abominável intervenção imperialista, liderada por Inglaterra, França, Estados Unidos e Japão contra o governo operário-camponês instaurado pela revolução socialista vitoriosa em 1917.


Comitê Central do Partido Bolchevique em 1917

     O comando da insurreição que derrubou o governo provisório e defendeu a revolução contra a intervenção estrangeira, o terrorismo e a sabotagem, garantindo a sua sobrevivência mesmo após o refluxo da situação revolucionária na Europa, em especial com a derrota da revolução alemã de 1919, foi obra de um partido dirigido por um coletivo de revolucionários que se mostrou a altura das gigantescas tarefas que estavam a sua frente. O papel histórico desse verdadeiro estado-maior da revolução, formado, entre outros, por: Lenin, Trotsky, Bukharin, Zinoviev, Kamenev, Smirnov, Tomsky, Sverdlov, Rykov, Piatakov, Rakovsky, Kollontai, Krupskaia, Stalin, Smilga, Sokolnikov, Rudztak, Krestinski, Radek, Serebriakov, Ryutin, Preobrazhenski, Rosengoltz, Boguslavski, não pôde ser apagado, em que pese as tentativas grotescas levadas a cabo durante o período do grande retrocesso político consolidado na URSS a partir de 1930 e que teria o seu capítulo final em 1991, com a desintegração da União Soviética e a restauração do capitalismo.

Muitos dos integrantes desse estado-maior revolucionário pagaram com a própria vida pela sua fidelidade às bandeiras da revolução socialista. Eles são nossos mestres inspiradores. Nada foi em vão, o legado deles e da Revolução de 1917 são, ainda hoje, um patrimônio valioso para a classe trabalhadora e as massas exploradas pelo capitalismo em todo o mundo.

* Artigo publicado por ocasião do centenário da Revolução de 1917.

   Edição: Página 1917



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro leitor, ajude a divulgar o Página 1917, compartilhe nossas publicações nas suas redes sociais.

Comentários ofensivos e falsidades não serão publicados.