Índice de Seções

segunda-feira, 11 de maio de 2020

A Bandeira Vermelha em Tempos de Coronavírus


Ângeles Maestro [*]
08/Maio/2020

A entrada do Exército Vermelho em Berlim, fixada na poderosa imagem do soldado pendurando a Bandeira Vermelha no Reichstag, marcou não só o fim da Segunda Guerra Mundial, mas também a ilustração de quais foram as forças decisivas capazes de derrotar o monstro nazi, engendrado pelo próprio capitalismo em crise.


Soldados do Exército Vermelho hastearam a bandeira vermelha  no prédio do Parlamento alemão, o Reichstag.
A devastadora experiência da invasão alemã, juntamente com a memória viva da Revolução de Outubro e da subsequente vitória contra toda a reação internacional permitiram ao povo soviético entender qual é exatamente o dilema formulado por Rosa Luxemburgo, " Socialismo ou Barbárie " e em que medida a defesa da vida e a luta pelo socialismo são uma e a mesma coisa. Assim se construiu a mais heroica saga de todos os tempos.

Há outra imagem intimamente ligada à anterior, menos conhecida e até ocultada, mas que tem as mesmas raízes. No campo de extermínio de  Mauthausen , em junho de 1941, ou seja, alguns dias após o ataque nazi à URSS, quando para aqueles que ali estavam presos parecia não haver aspirações futuras, criou-se a organização clandestina dos comunistas espanhóis nesse campo. À noite, nus, aproveitando o facto de os terem juntado no pátio para uma desinfeção, no lugar programado para aniquilar toda a esperança, tomam-se as primeiras decisões para criar a estrutura que, quatro anos depois, permitiria a libertação do campo pelos próprios prisioneiros.

Foi essa vontade inquebrantável de lutar e ter esperança, juntamente com a assunção da responsabilidade de cada um na tarefa coletiva de preparar o necessário parto de uma nova sociedade, que coloque como objetivo central o desenvolvimento de todas as capacidades de todos os seres humanos, que tornaram possível a vitória da URSS e tantas gestas ocultadas, como a de  Mauthausen.

Hoje, quando nos depauperados  hospitais os doentes se amontoam devido à falta de recursos que foram engolidos pelo capital privado e quando há milhões de pessoas que perderam o seu emprego, enquanto se delapida a vitalidade, a inteligência e a criatividade daqueles que não têm recursos para as desenvolver, nestes difíceis momentos, a bandeira vermelha no Reichstag é a mais contundente afirmação de esperança no futuro. Porque a infeção é causada pelo coronavírus, mas a epidemia é o capitalismo.

Os processos revolucionários que, por diferentes razões, se desviaram dos seus objetivos iniciais, não morreram. Sobrevivem na memória e no coração dos seus povos e de todos os oprimidos no mundo. E o mais importante de tudo não são as derrotas, mas as tentativas temporariamente falhadas no inevitável caminho para derrotar a barbárie capitalista e iluminar a verdadeira História da humanidade.

[*] Médica, dirigente da Red Roja espanhola.
Fonte: https://resistir.info/pandemia/angeles_08mai20.html
Edição: Página 1917.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro leitor, ajude a divulgar o Página 1917, compartilhe nossas publicações nas suas redes sociais.

Comentários ofensivos e falsidades não serão publicados.