Notícias e análises sobre temas históricos e da atualidade, abordando história, economia, política e relações internacionais a partir da perspectiva marxista-leninista e da luta dos trabalhadores pelo socialismo.
domingo, 28 de julho de 2024
A multipolaridade é a alternativa para continuar a pilhagem dos povos do mundo
quinta-feira, 25 de julho de 2024
Argentina: meio ano do governo Javier Milei
Rolando Astarita*
18/07/2024
Neste artigo revisamos alguns dos principais dados referentes à situação da economia argentina nestes primeiros sete meses do governo "La Libertad Avanza". Começamos destacando a profundidade da crise.
A economia, no fundo e estagnada
O primeiro trimestre de 2024 foi o pior desde a cris e de saída da convertibilidade em 2002. O PIB caiu 5,1% em termos homólogos; o consumo privado caiu 6,7%; A formação bruta de capital fixo (inclui construção, máquinas e equipamentos, equipamentos de transporte) caiu 23,4% (INDEC, também a seguir). No primeiro trimestre, em termos homólogos, a Construção variou -19,7%; Indústria de Transformação -13,7%; Intermediação financeira -13%, Comércio atacadista, varejista e de reparos -8,7%. A contrapartida foi o crescimento da Agricultura, pecuária e silvicultura (+10,2%).
No segundo trimestre, a economia estagnou nesses níveis. O estimador mensal da atividade econômica de abril caiu 0,1% frente a março, e caiu 1,7% frente ao mesmo período do ano anterior. O índice de produção industrial manufatureira em maio caiu 14,8% em termos anuais. No acumulado de janeiro a maio foi negativo em 15,2% em termos homólogos. O indicador da atividade de construção em Maio caiu, em termos homólogos, 32%.
Segundo a Câmara de Comércio e Serviços Argentina (CAC), a queda homóloga acumulada no Índice de Consumo, entre janeiro e maio, foi de 4,3%; A queda em maio, em termos reais, em termos homólogos, foi de 7,7%. O consumo representa 70% do PIB. Alguns itens foram particularmente afetados. O consumo de vestuário e calçado caiu 27% em maio, em termos homólogos; Transportes e veículos caíram 11,3%; Recreação e cultura despencaram 42,6%.
segunda-feira, 22 de julho de 2024
Os novos lacaios do imperialismo
Ney Nunes
22/07/2024
O festival de servilismo que assistimos aqui na periferia do sistema neste episódio da retirada do candidato do Partido Democrata dos EUA, Joe Biden, e sua provável substituição pela Kamala Harris é de impressionar. E não falo do servos tradicionais que se expressam pela Globo, CNN e demais congêneres, mas sim daqueles que se manifestam atualmente pelas redes sociais.
Kamala e Trump: duas faces da burguesia e do imperialismo |
Quanto aos servos da mídia tradicional, subalternos até a medula, nenhuma novidade porque esses têm introjetados o vírus do colonizado desde sempre e são bem remunerados. Já nas mídias sociais observamos um pessoal que se reclama "de esquerda" comemorar a saída do Biden e se colocar como torcedores da Kamala sem nenhum pudor. Como se houvesse diferença qualitativa entre Democratas e Republicanos, principalmente quando se trata da forma como lidam com os trabalhadores em seu próprio país e com os povos da América Latina, África e Ásia.
Os novos servos parecem esquecer o óbvio, Donald Trump e Kamala Harris representam facções distintas de uma mesma classe social: a grande burguesia norte-americana. Exatamente por isso, os dois candidatos têm uma folha corrida de excelentes serviços prestados ao imperialismo. Os trabalhadores, tanto nos EUA como no resto do mundo, não têm absolutamente nada a ganhar com a vitória eleitoral de um ou outro.
Talvez os novos apoiadores do imperialismo acreditem que os mísseis lançados sobre os povos ao redor do mundo pelos Democratas sejam mais "leves" do que os dos Republicanos, ou ainda, que a sua política econômica, voltada sempre para respaldar os interesses dos oligopólios multinacionais, seja mais compreensiva com os países da periferia capitalista.
Esses "esquerdistas" subalternos, que agem de forma similar aos seus oponentes "direitistas" vendendo doces ilusões acerca do imperialismo, são ainda mais perniciosos ao proletariado do que qualquer mídia vendida. Merecem com toda justiça o velho epíteto de lacaios do imperialismo.
Edição: Página 1917
sexta-feira, 19 de julho de 2024
A bela utopia marxista*
Francisco Martins Rodrigues**
Será que têm razão os que pensam, como o nosso leitor e assinante de primeira hora, Fernando Pulido Valente, que Marx errou quando considerou que o proletariado estaria em condições de desempenhar o papel revolucionário de abolir o sistema capitalista?
Talvez seja útil refletir sobre este tema a partir da conjuntura atual, na medida em que ela poderá dar-nos pistas para respondermos a esta interrogação e concluirmos algo mais, para assim irmos ao encontro das preocupações do nosso amigo leitor.
O que o momento atual nos diz com uma clareza cada vez maior é que o sistema não presta, o domínio da maioria é uma balela. A prova é que, apesar de se estarem sempre a queixar de não têm dinheiro para pagar centros de saúde, aumentos de salários, reformas, o buraco da segurança social, etc., os Estados são os primeiros a acorrer com milhares de milhões de euros aos bancos que, por irresponsabilidade e má gestão, fizeram evaporar num dia capitais que foram acumulados a partir do trabalho esforçado da mão-de-obra que os capitalistas controlam. Nesta operação internacional concertada de massiva apropriação privada de recursos públicos, o que vigora é o socialismo para os ricos e o capitalismo para os pobres, a privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos. Não se ouviu ainda falar, nem se ouvirá, de multas, sanções ou prisão para nenhum dos executivos responsáveis por este colapso de dimensões globais.
Perante o fracasso do neoliberalismo, não há terceira via, pelo que, enquanto não desaparecer, o capitalismo declinante poderá ser ainda mais perigoso. O modelo econômico que gerou a atual crise é o mesmo que origina o aumento das desigualdades que empurram as classes mais desfavorecidas para um endividamento sem fim à vista. Apesar da sociedade do conhecimento da qual tanto se esperou, a pauperização não cessa de aumentar em todo o mundo e também nos países europeus. O perigo de uma catástrofe mundial pode mesmo arrastar-nos a todos para a barbárie, se entretanto não ocorrerem acontecimentos que invertam esta marcha para o abismo.
quarta-feira, 17 de julho de 2024
Lula, finalmente, assumiu a presidência
Nildo Ouriques
19/06/2024
"Há aqueles que alimentam as esperanças de que o desgaste das pesquisas (sempre elas!) levem finalmente o governo a rever a política econômica e mudar de rumo, tomando distância da “austeridade”, agora considerada como a mãe do fascismo por uma novidade italiana. Outros, subitamente, se definem “por princípio” na “oposição de esquerda”, apelando para uma fuga do real de natureza doutrinária embora não vacilem na piscadela generosa para a agenda dos ministros identitários (Silvio Almeida, Anielle Franco, Cida Gonçalves…) mas antecipam que estarão prontos para apoiar o governo em caso de necessidade extrema."
É costume nas filas da esquerda liberal inocentar Lula e culpar seus ministros pelos “erros” nas políticas públicas. A ilusão de que a vitória de Lula era condição para derrotar o “fascismo”, barrar o “neoliberalismo” (seja lá o que isso significa!), tomar um fôlego e retomar a iniciativa política foi perdendo aderência após 6 meses de governo. Naquele momento, o encanto e o oportunismo de todos aqueles que votaram em Lula mudaram de direção para não perder a linha: começou a fase do ataque aos ministros.
Camilo Santana, por exemplo, foi o primeiro a ganhar a pecha de office boy da Fundação Lehmman porque a sensibilidade da pequena burguesia universitária semi-militante tem certa influência nos sindicatos e partidos políticos, que, por sua vez, não produzem teoria. Em consequência, importam das universidades os bordões destinados a simular a luta e justificar a impotência do governo diante da classe dominante na forma de apelos morais completamente impotentes. Assim, o ministro da Educação segue sob fogo cruzado de todo universitário digno de ser chamado militante. O Programa Pé de Meia é menos que caridade católica, mas goza de simpatia silenciosa nas filas da esquerda liberal porque há que fazer algo para os pobres que abandonam a escola aqui e agora, dizem com aquela seriedade dos que carregam alguma culpa na alma.
A despeito do perfil pra lá de baixo, a verdade é que Luciana Santos, ministra de Ciência e Tecnologia, não tem sido alvo da crítica, embora o raquitismo da pasta revele de maneira eloquente não somente a dependência científica e tecnológica do país, mas, sobretudo, a completa prostração do governo numa área estratégica para afirmação da soberania e melhoria das condições de trabalho do povo. Ocorre que a agência Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), por exemplo, é um órgão que sempre nutre esperanças de conseguir algum nesse deserto do real…
De igual modo, a “crítica” também não alcançou outros personagens menos afeitos à condição de classe dos universitários, como por exemplo, Carlos Henrique Fávero, a quem Lula já considerou com toda razão, o “ministro mais feliz” de seu governo. Não há dúvidas a respeito, basta ver o financiamento do Banco do Brasil – o festejado Plano Safra – considerado pelo presidente como o mais vultuoso de nossa história. O ministro Fávero, representante do latifúndio sorri, mas não agradece, afinal não deixa de defender seus interesses de classe, ao contrário da esquerda liberal, para a qual, a consciência de classe sequer figura como um valor.
terça-feira, 16 de julho de 2024
A aprovação da “Lei de Bases” e a situação na Argentina de Milei
Comitê Central do Partido Comunista Argentino
No dia 12 de junho, entre balas de borracha e gás lacrimogêneo contra o proletariado e o povo argentino, foram aprovadas a Lei de Bases, que representa uma nova e imensa ofensiva da burguesia contra a nossa classe, bem como uma ferramenta para maximizar os lucros dos monopólios locais e estrangeiros, à custa dos trabalhadores que continuam a carregar nos ombros a crise agravada pelo governo antioperário e antipopular de Javier Milei e Victoria Villarruel.
Protestos massivos marcaram a votação do projeto da Lei de Bases. |
A Lei de Bases representou um enorme passo em frente na implementação do plano econômico do Fundo Monetário Internacional. Enquanto o FMI exige a lei do imposto sobre o rendimento, a racionalização dos subsídios, o controle das despesas e uma política cambial mais flexível, no dia 13 de Junho, um dia depois da sessão do Senado, foi aprovado o desembolso de 800 milhões de dólares para o nosso país, numa gesto claro de aprovação da gestão e dos resultados ferozes do governo de Javier Milei. Esta aprovação faz parte das verificações aprofundadas que o Fundo tem realizado em nosso país a partir dos acordos firmados por Sergio Massa, então SuperMinistro da Economia; e hoje constitui a abertura de uma nova fase na Argentina, consolidando o plano econômico que o governo de Javier Milei, liderado por Luis Caputo, decidiu implementar.
Entre negociações, subornos e apoio de diferentes facções da burguesia, conseguiram aprovar uma das piores leis desde o regresso da democracia, o que significa um grande retrocesso em termos de direitos conquistados. Isto pode ser visto com o Regime de Incentivos a Grandes Investimentos (RIGI), que beneficia diretamente o capital com um projeto extrativista. Embora a burguesia local também se oponha, denunciando a concorrência desleal, nós, comunistas, não tomamos o partido dos empresários argentinos, pois a exploração não distingue entre capital estrangeiro e capital local; nem reconhecemos as suas tentativas de proclamar a defesa da "soberania", uma vez que procuram assim manter a exploração do nosso solo exclusivamente nas mãos dos monopólios locais. Pelo contrário, denunciamos que o RIGI abre caminho à maximização dos lucros capitalistas, neste caso do capital estrangeiro. É por isso que a proposta dos comunistas perante o RIGI e em vários pontos da Lei de Bases é que as alavancas da economia sejam nacionalizadas sob o poder dos trabalhadores, mas não neste sistema de exploração e pilhagem, mas sim num sistema em que os recursos são utilizados dentro de um planejamento em benefício das maiorias.
sábado, 13 de julho de 2024
A vitória esmagadora do «eles não!» no Reino Unido
abrilabril - editorial
8 DE JULHO DE 2024
«Nenhum governo deveria poder obter uma grande maioria a partir de uma minoria de votos. O sistema de votação de Westminster está a distorcer a nossa política e todos estamos a pagar o preço»
ELECTORAL REFORM SOCIETY
Já repararam na forma como os resultados eleitorais das Legislativas 2024 no Reino Unido foram apresentados? «Vitória histórica» foi a fórmula mais utilizada na comunicação social nacional, sendo que de seguida se destacava a enorme vantagem em deputados obtida pelo Partido Trabalhista, com quase dois terços dos deputados eleitos.
O que não encontravam em lado algum era o resultado em votos em percentagem, para obter os quais é necessário escavar na Internet. E isso não acontece por acaso, é uma ocultação deliberada, para ajudar a esconder uma realidade que faria questionar o sistema. O Partido Trabalhista tem 63,8% dos deputados eleitos com 33,8% dos votos. Se quisermos escrever de outra forma, e tendo em conta uma abstenção de 40,1% (a segunda maior dos últimos 106 anos, outro facto esquecido pelas «notícias»), podemos dizer que o voto de 20,3% dos eleitores garantiu ao Partido Trabalhista uma vitória esmagadora nos deputados eleitos.
E depois temos a desproporção oposta: um partido com 14,5% dos votos obtém cinco deputados e outro com 6,8% obtém quatro. Enquanto cada deputado do Partido Trabalhista necessitou de apenas 23,6 mil votos para ser eleito, cada deputado do Partido Conservador necessitou de 56 mil votos, cada deputado do Partido da Reforma necessitou de 820 mil votos e há dois partidos com 200 mil votos sem qualquer deputado. A desproporção entre votos recebidos e lugares atribuídos ao partido vencedor atingiu um nível histórico e é a maior desde 1922.
sexta-feira, 12 de julho de 2024
A Greve Ignorada
Ney Nunes
"A forte e valente greve dos metalúrgicos da Renault não foi ignorada por acaso, resultou da prioridade dada aos setores sindicais de classe média e aos movimentos identitários por aqueles que, do alto da sua arrogância, se dizem "vanguarda da revolução brasileira" ."
Os metalúrgicos da Renault no Paraná protagonizaram em maio um duro embate contra a multinacional francesa. Fora do noticiário local, pouco ou quase nada se ouviu falar sobre essa importante batalha da classe operária. Mesmo a autoproclamada "esquerda revolucionária" a ignorou por completo.
Metalúrgicos da Renault decidem pela greve. |
A greve, que durou um mês, enfrentou a clássica intransigência da patronal que está sempre em busca de aprofundar a exploração dos seus trabalhadores, além do respaldo canino da "justiça" do trabalho que decretou a greve ilegal e aplicou multa diária de 100 mil reais por dia ao sindicato da categoria.
A direção do sindicato dos metalúrgicos, filiado a Força Sindical, considerou que o acordo assinado após a greve "contém avanços", quando na verdade, excluindo o aumento no vale mercado para R$ R$ 1.400, de resto não houve avanço algum. Os salários foram reajustados pelo INPC + 0,5% e as novas contratações ficaram limitadas a 100 quando a reivindicação eram 300, mantendo assim o ritmo absurdo de produção exigido pela Renault que vem adoecendo os trabalhadores.
Avaliando o movimento, podemos constatar que os bravos metalúrgicos paranaense enfrentaram a um só tempo a patronal, a justiça burguesa e a quinta coluna instalada no sindicato. Foi a consciência de classe e a determinação dos operários que impediu uma derrota completa, possibilitando assim a emergência de uma nova vanguarda entre os metalúrgicos.
A forte e valente greve dos metalúrgicos da Renault não foi ignorada por acaso, resultou da prioridade dada aos setores sindicais de classe média e aos movimentos identitários por aqueles que, do alto da sua arrogância, se dizem "vanguarda da revolução brasileira" .
As ditas organizações da "esquerda revolucionária" que se limitam a escrever extensos programas de intenções e a fazer proselitismo nas redes sociais vão continuar refletindo o gueto pequeno-burguês identitário onde estão atoladas. E por mais histriônicas que sejam, elas é que acabarão por ser ignoradas pelo inevitável avanço da luta proletária em nosso país.
Edição: Página 1917
segunda-feira, 8 de julho de 2024
Frente Popular — Os Comunistas a serviço da Democracia Burguesa
As recentes eleições na França despertaram atenção e geraram muitas expectativas entre aqueles que empunham ou, pelo menos, dizem empunhar a bandeira da revolução socialista. Face ao crescimento eleitoral dos partidos neofacistas, o resultado obtido pela denominada Nova Frente Popular (NFP) tem sido objeto de comemorações apressadas e injustificadas. Esse bloco eleitoral da NFP reúne desde apoiadores da OTAN até defensores das reformas que atacam direitos duramente conquistados pelos trabalhadores franceses. Portanto, a ascensão dessa frente nas ultimas eleições não significa um enfraquecimento da extrema direita, que por sinal aumentou bastante sua representação no parlamento francês e europeu e muito menos enfraquece a hegemonia burguesa no interior do Estado imperialista francês.
Tentando contribuir para o esclarecimento sobre o significado dessa tática política das "Frentes Populares" e dos resultados advindos da sua aplicação, publicamos abaixo um pequeno enxerto do livro "O Anti-Dimitrov" de Francisco Martins Rodrigues.
Francisco Martins Rodrigues*
A política de frente popular foi a grande criação histórica do 7.º congresso da III Internacional Comunista (IC). Surpreendentemente, apenas três páginas do relatório de Dimitrov lhe são dedicadas. Mais estranho ainda, nelas não se encontra qualquer justificação de princípio para a virada que levou os partidos comunistas a alterar tão radicalmente a sua atitude face ao reformismo e ao democratismo burguês.
Isto não significa contudo que Dimitrov não tenha justificado à sua maneira a nova política. Ao longo do relatório foi introduzindo, como se se tratasse de evidências indiscutíveis, uma série de pontos de vista novos acerca das relações entre as classes na época do fascismo, as quais conduziam indiretamente à conclusão de que já não tinha validade o conceito leninista de hegemonia do proletariado.
A nossa tarefa consiste portanto, antes de mais, em pôr a descoberto os pressupostos de classe em que assenta a política dimitrovista de frente popular, para lhes medir a solidez, à luz do leninismo. Pressupostos de classe que só se encontram se passarmos para além da aparência exterior da argumentação, recheada de expressões marxistas-leninistas e de testemunhos de fidelidade aos interesses da classe operária e da revolução, para a lógica interna do raciocínio. Só então estaremos em condições de descobrir porque é que as profissões de fé “bolcheviques”, “leninistas-stalinistas” de Dimitrov redundaram em soluções políticas tão abertamente oportunistas como os pactos com os partidos burgueses, os governos de coligação, a dissolução da corrente sindical revolucionária, a fusão do partido comunista com a social-democracia, o aprisionamento da luta de classe do proletariado nos limites da democracia burguesa.
quarta-feira, 3 de julho de 2024
O direito de greve foi abolido no Brasil
Assembleia dos rodoviários de São Paulo. |
Estava anunciada para hoje uma greve dos trabalhadores em empresas de ônibus urbanos de São Paulo. As manchetes da mídia burguesa falavam em "greve de ônibus", esquecendo que ônibus ou qualquer outra máquina não faz greve. Quem faz greve são os seres humanos obrigados a vender sua força de trabalho para sobreviver, eles pertencem a uma classe social denominada "classe trabalhadora".
A mesma notícia, informa que uma decisão da "Justiça" determinou que, em caso de greve, 100% da frota de ônibus opere nos horários de pico e que nos demais horários, pelo menos 50% dos coletivos devem circular. Determina ainda que o sindicato sofrerá multa diária de R$ 100 mil caso descumpra a ordem judicial.
Decisões judiciais como esta vem sendo aplicadas faz tempo, sejam em greves no setor público ou privado. Os sindicatos ficam assim encurralados pelo poder judiciário. Se cumprem a decisão judicial, a greve passa a não ter praticamente nenhuma efetividade, não alcançando seu objetivo de pressionar os patrões por uma negociação mais favorável. Em caso de descumprimento, o sindicato pode ter suas finanças arruinadas e seu funcionamento inviabilizado. Na prática, portanto, o direito de greve inscrito na constituição é abolido por decisões do poder judiciário.
Os trabalhadores não devem se iludir, esta denominada "democracia" não tem nada de democrática. A constituição e as leis só valem enquanto interessam à classe dominante que tudo controla. Vivemos na verdade é uma ditadura dos capitalistas. E ditadura não pode ser enfrentada apenas "por meios legais", porque suas instituições e suas leis não são legítimas. Se os sindicatos que representam os trabalhadores estão impedidos de fazer greve, que as greves sejam feitas pelos comitês de luta e mobilização eleitos e organizados nas assembleias. Era dessa forma que se fazia quando os sindicatos estavam proibidos ou sob intervenção, é assim que precisamos fazer na atualidade se quisermos avançar na luta por melhores salários e condições de trabalho.
terça-feira, 2 de julho de 2024
O Marxismo e a Questão Nacional
Andrés Nin*
1935
O problema de emancipação das nacionalidades oprimidas, particularmente agravado depois da guerra imperialista de 1914-1917 (que destruiu o monstruoso império plurinacional austro-húngaro em troca da balcanização da Europa, cheia de perigos e ameaças para a paz mundial), oferece indiscutível interesse para o movimento operário, que não pode desvincular-se de nenhum aspecto da luta emancipadora dos homens e dos povos e, em especial, para aqueles países que, como o nosso, já o expuseram tão vivamente.
Andrés Nin discursa em 15 de novembro de 1936, durante a Guerra Civil Espanhola, sob proteção da guarda da milícia feminina do POUM. |
A revolução social não se processa em linha reta, não é o Grand Soir, com que sonhavam os revolucionários ingênuos do século passado, a destruição espetacular do regime capitalista, como consequência de um ato de força breve e decidido, e a substituição quase automática da velha por uma sociedade mais justa e mais humana, surgida num abrir e fechar de olhos com todos os atributos de um mecanismo perfeito e regular.
Por mais surpreendente que pareça e apesar da experiência dos últimos anos, esta concepção ingênua e falsa ainda continua bem viva na consciência de numerosos militantes do movimento operário de nossos dias. Ela os impede de rechaçar todas as ações que não comportem, de maneira imediata, esta "revolução" maravilhosa que realizará a transformação catastrófica e radical da sociedade em vinte e quatro horas. Nem é preciso salientar que revolucionários desta categoria consideram com altivo menosprezo ou com absoluta indiferença problemas como o da libertação das nacionalidades oprimidas.