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terça-feira, 25 de junho de 2024

A quarta onda da dependência brasileira

José Raimundo Trindade

14/02/2021

O Brasil ingressou na segunda década do século XXI marcada pelos sinais de recrudescimento das formas clássicas de dependência.





A dificuldade de compreensão do acelerado processo de desorganização política e econômica, com perda de soberania nos últimos anos requer que olhemos, mesmo que num primeiro ensaio, o comportamento histórico do capitalismo, observando como as contradições dos ciclos históricos do capital se integram ao comportamento das diferentes formas de dependência econômica das sociedades periféricas, neste caso específico do Brasil. O texto que segue trabalha como uma tese implícita: o esgotamento do chamado “quarto Kondratieff”[i] regula e impõe uma acelerada e radical agenda neoliberal que condiciona a chamada quarta dependência brasileira, atrelada a um padrão econômico centrado em bens primários e em perda de capacidade industrial e tecnológica, acompanhada por crescentes restrições de direitos sociais e de soberania nacional.

O processo de globalização, a crise da dívida dos anos 1980 e a dinâmica econômica passiva brasileira a partir da década de 1990 aprofundaram as precárias condições de desenvolvimento autônomo, seja pela desnacionalização de segmentos expressivos da indústria, seja pela elevação da vulnerabilidade externa nos principais aspectos a ser considerados: na capacidade produtiva (elevação e maior dependência de investimento externo direto), tecnológica (baixa capacidade de estruturação de um sistema nacional de inovação e baixa dinâmica tecnológica) e financeira (investimentos financeiros, empréstimos e financiamentos). Por fim, as específicas condições econômicas enfrentadas na década de 1990, fruto do esgotamento do Modelo de Industrialização por Substituição de Importações, a transição ao regime neoliberal e assim o reduzido papel do Estado na economia compuseram o quadro mais geral em que ingressamos no século XXI.

A divisão internacional do trabalho estabelece três zonas na economia mundial: o centro, a semiperiferia e a periferia, sendo que essa divisão aparece funcional para garantir a apropriação de mais-valia pelos centros e novos-centros, permitindo o desenvolvimento do capitalismo nas regiões de liderança tecnológica e o subdesenvolvimento (em condições de dependência) nas regiões de menor progresso tecnológico. A reprodução do capital assume formas diversas em diferentes momentos históricos, o que a faz se readequar às mudanças produzidas no sistema mundial e na divisão internacional do trabalho, de forma que reorganize a produção sobre novos eixos de acumulação e/ou novos valores de uso, o que permite historiar a reprodução do capital e diferenciar os padrões que se estabelecem nacionalmente.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Afinal, o que é esse governo Lula-Alckmin?

Cutucadas do Página 1917



Não pode ser considerado um governo de "conciliação de classes", porque é um governo da burguesia que zela exclusivamente pelos interesses da classe dominante.

Não concilia nada, simplesmente aplica os planos de exploração do proletariado e distribui migalhas para conter as massas jogadas na indigência.

São meros gestores da barbárie capitalista.


Edição: Página 1917

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Extrema direita e “Frente Popular” na França

Dimitris Koutsoumbas , Secretário Geral do CC do KKE*.

21/06/2024


Numa entrevista no dia 19 de Junho à estação de rádio “Real”, Dimitris Koutsoumbas , Secretário Geral do CC do KKE, referiu-se aos resultados das recentes eleições europeias na Grécia e no resto da União Europeia. No que diz respeito à Grécia em particular, destacou que: “um aumento eleitoral significativo do KKE foi marcado após 5,35% nas eleições europeias de 2019, 7,2% em maio de 2023 e 7,7% em maio de 2023, nas eleições parlamentares, e agora 9,25%. Confirmaram-se os processos positivos que se desenvolvem na sociedade, nas lutas, nas eleições nas organizações de massas. Uma corrente de questionamento da política dominante expressa pela política da Comissão Europeia, da UE, do governo da ND está a ser estabilizada e parcialmente reforçada e, claro, esta corrente é expressa principalmente pelo aumento do prestígio e pela ação conjunta de ações mais amplas forças populares com o KKE.

Numa pergunta do jornalista sobre a ascensão da extrema direita na União Europeia, destacou o seguinte:

 “Deixe-me destacar brevemente dois fatos da experiência histórica. Nos últimos 20 anos, diversas frentes se formaram supostamente para enfrentar a extrema direita que vemos constantemente se fortalecendo. Há provas disso, uma vez que os chamados partidos de esquerda na Europa se tornaram uma “lavadora” para políticas antipopulares. Isto também se aplica a Chirac, Sarkozy, Hollande, Macron, etc., alguns dos quais foram convidados aqui pelo Senhor Tsipras, que deixaram espaço para as forças da extrema direita se apresentarem supostamente como anti-sistêmicas, quando não o são, uma vez que estão a implementar as políticas da União Europeia.

A segunda questão é o conteúdo desta política, da própria “Frente Popular”, que na Grécia é apresentada como uma solução por aqueles que apelam à “construção de uma frente contra a direita e a extrema direita”. Esse conteúdo também se reflete em seus candidatos. Já terão visto que Hollande também é um candidato em França, cujo governo desempenhou um papel de liderança em planos antipopulares que minam os Acordos Coletivos, expandindo formas “flexíveis” de trabalho. Além disso, para além das suas fronteiras, a França assumiu um papel de liderança numa série de intervenções e guerras da União Europeia e da OTAN.

Claro que nas posições desta “Frente Popular”, a progressista, parece que ninguém questiona as opções básicas da União Europeia, a “transição verde”, as regras fiscais, o Fundo de Recuperação, etc. Quanto à questão da guerra na Ucrânia, que é uma questão fundamental sobre a qual Le Pen faz demagogia e ganha força, este chamado “agrupamento progressista”, a “Frente Popular” em França e noutros lugares, está empenhado em garantir o envio de armas necessárias para Kiev. Na verdade, o novo líder do Partido Socialista, como devem ter visto, Raphael Gluksmann, está a criticar Macron por não ter fornecido armas suficientes para o massacre na Ucrânia.

Então, qual é a extrema direita e qual é a centro-esquerda?”

*Partido Comunista da Grécia

Fonte: https://inter.kke.gr/es/articles/Sobre-la-extrema-derecha-y-el-Frente-Popular-en-Francia/

Edição: Página 1917

 



quinta-feira, 20 de junho de 2024

Lula comanda o assalto ao Estado

Nildo Ouriques*

10/06/2024

"A crença nas virtudes da administração democrática da ordem burguesa alimentada pelo liberalismo de esquerda sob condução de Lula e o PT nada tem de ingênua. É expressão dos interesses da classe dominante até onde for possível manter a constituição e a liturgia republicana antes da explosão social e do protesto anárquico das classes populares."

O Estado é o comitê de negócios da burguesia, afirmou Marx em 1848. A despeito da autoridade, a verdade é que a sentença nunca gozou de plena aceitação no movimento comunista. Na Europa, não faltaram intelectuais, movimentos e partidos que muito rapidamente descartassem tanto as certezas quanto a crítica certeira de Marx e assumissem sem qualquer inibição a luta no interior do Estado não somente porque era possível, mas, sobretudo, porque seria necessário.

 

Lula comanda o assalto ao Estado

O revisionismo teórico ganhou força política quando alguns socialistas contestaram as teorias de Marx logo após a morte de Engels em 1896. O mais famoso deles - desde logo não único - foi Eduard Bernstein quem atacou frontalmente a perspectiva anunciada pelos fundadores do socialismo revolucionário ao indicar que o capitalismo abria possibilidades imensas a todas as classes (Las premisas del socialismo y las tareas de la socialdemocracia). O ataque revisionista obviamente não poupou elogios a Marx mas indicou que sua imensa contribuição teórica foi possível apesar de Hegel. Um pouco mais tarde (1896-97) em polêmica com Kaustky, Rosa Luxemburgo e outros socialistas, Bernstein sapecou: "para mim, o que comumente se chama objetivo final do socialismo não é nada, e o movimento é tudo". Astuto, Bernstein afirmava que seu revisionismo não era anti-marxista mas, ao contrário, apenas um esforço para erradicar os resíduos utópicos que julgava existirem na teoria de Marx e na dialética hegeliana em favor da "ideia de desenvolvimento" ou o conceito de evolução.

O conto é longo mas recordei essa polêmica a propósito da “securitização” da dívida promovida pelo governo Lula, que, obviamente, não ganhou os noticiários e, sintomaticamente, nem mesmo a atenção do espírito crítico do petismo ou da bancada do PSOL em suas redes digitais. O silêncio sobre esse assalto ao Estado praticado à luz do dia merece reflexão. A cobrança de impostos sobre "blusinhas" e as privatizações das praias ocuparam a atenção de todos nesse campeonato infinito de pequenas causas.

domingo, 16 de junho de 2024

Não há saída em Nuseirat: o grande massacre de resgate de reféns

Jeffrey St. Clair*
14/06/2024

Os americanos sabiam. Os americanos ajudaram. Os americanos forneceram as bombas, os helicópteros, os caças, as balas e os projéteis dos tanques. Os americanos assistiram ao desenrolar do ataque. Eles assistiram do cais de Biden. Eles assistiram de drones. Eles observaram enquanto as ruas se enchiam de sangue, corpos e membros. Depois, os americanos elogiaram a operação de resgate e nada disseram sobre as crianças e mulheres palestinas mortas. Nada sobre os amputados e os eviscerados. Nada sobre os três reféns que aparentemente também foram mortos no ataque israelita, incluindo um cidadão americano. 


Gaza, destruição e genocídio.

Alguns dos israelenses vieram vestidos como palestinos, falando árabe e parecendo refugiados. Alguns vieram escondidos em caminhões civis. Outros pairavam acima em helicópteros de ataque Apache, esperando para atacar.

O vizinho Hospital Al-Aqsa já estava lotado de pacientes dos ataques aéreos dos dias anteriores, antes de começar a receber os feridos e mutilados do dia mais sangrento do ataque de Israel a Gaza. Al-Aqsa já estava com poucos suprimentos, com poucos medicamentos, água e energia. Os corredores do hospital já estavam cheios de pacientes gemendo, enfaixados, se recuperando de ferimentos e cirurgias sem analgésicos. Os funcionários já estavam sobrecarregados, cansados ​​e estressados, quando ouviram as primeiras explosões, por volta das 11h. 

Dezenas de ataques aéreos foram seguidos por rajadas de tiros de armas pequenas e granadas lançadas por foguetes. Algumas explosões pareciam muito próximas do hospital. Alguém disse que as IDF ligaram para o hospital minutos antes e alertaram a equipe para evacuar porque também era um alvo. Mas as enfermeiras e os médicos não abandonavam os seus pacientes. Talvez tenha sido desinformação ou apenas mais um boato de uma guerra infernal.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

KKE fortalecido nas eleições europeias.

Editorial do Página 1917

O Partido Comunista da Grécia (KKE) obteve expressiva votação nas eleições para o parlamento europeu, conquistando 368 mil votos, 9,25%.

KKE
Comício da campanha eleitoral do KKE em Atenas.

A linha política correta e a inserção orgânica nas fileiras do proletariado levam o KKE a avançar com passos firmes na luta de classes e no terreno eleitoral. Sem cair nos desvios oportunistas e eleitoreiros o partido grego segue avançando, obteve 5,35 % nas eleições europeias  de 2019 e agora chega a 9,25% dos votos, garantindo o mandato de dois deputados.

Enquanto muitos dos partidos ditos da esquerda que giraram a direita e capitularam diante do capitalismo amargam retrocessos eleitorais, o KKE não cedeu as pressões do identitarismo burguês, tem como centro a luta de classes, a defesa dos interesses do proletariado em aliança com setores populares e mantém a luta contra as agressões neocoloniais e guerras interimperialistas que hoje ameaçam a própria sobrevivência da humanidade.

Os resultados eleitorais do KKE, mesmo sabendo como são fraudulentas as eleições burguesas que se realizam sob o domínio econômico dos monopólios empresariais, provam que a inserção orgânica na luta das massas trabalhadoras possibilita arrancar vitórias até mesmo no minado terreno eleitoral burguês. Além disso, confirmam a necessidade de construção de partidos comunistas que façam jus ao nome, sem concessões oportunistas, sem alianças com os inimigos de classe, que sejam internacionalistas na prática, vocacionados para a luta pelo poder proletário e instauração do socialismo.

Avante camaradas do KKE!

Saudações pela vitória!

Edição: Página 1917.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

Renovação no PCB?

Leôncio Basbaum*

10 de Setembro de 1957

A imprensa comunista do país acaba de publicar um informe do Sr. L. C. Prestes à última reunião do CC do PCB, verificada em meados de agosto p.p. Trata-se, como diz o documento, de “um primeiro e modesto passo no sentido de vencer as dificuldades que hoje enfrentamos”.

Leôncio Basbaum

Há sem dúvida muita coisa interessante nesse documento, e a mais importante delas é o reconhecimento da péssima e lamentável situação a que chegou o PCB: “uma pequena seita desligada das massas”, num momento em que mais do que nunca sua presença se fazia necessária. Desapareceu quase totalmente o sentido baluartista dos documentos anteriores, nos quais se falsificava simplesmente a real situação do PCB perante a base do Partido e perante as massas. Esse é, sem dúvida, o lado positivo do documento. A autocrítica, o reconhecimento de erros antigos e profundos de catastróficas consequências, ainda que insuficiente, é também um lado positivo.

Não vamos examinar aqui as causas que levaram o CC a cometer toda essa longa série de erros. Isto poderá ser objeto de um estudo futuro. No momento nos interessa examinar o que significa o documento, o que lhe falta, o que falta ao CC para que se coloque à altura das necessidades do Partido e dos interesses do povo brasileiro.

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Sobre o resultado das eleições no México

Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista do México

04/06/2024

O processo eleitoral no México foi concluído com a votação no domingo, 2 de junho, para eleger o Presidente da República, Câmaras de Deputados e Senadores, Governos da Cidade do México e outras entidades, diversas legislaturas locais e governos municipais de vários estados.

Manifestação do PCM

O processo eleitoral foi marcado pela intervenção governamental em favor do seu partido MORENA, pela utilização de programas sociais, ou seja, pelo lucro da pobreza extrema, pela demagogia dos dois grandes blocos burgueses e das suas candidatas, Claudia Sheinbaum e Xóchitl Gálvez, as campanhas sujas, pelo desperdício obsceno de dinheiro, tanto das prerrogativas do Instituto Nacional Eleitoral (INE), como de fontes estranhas (ou de grupos empresariais ou do crime organizado), pela violência.

Ficou visível o rol de traição governamental do Partido do Movimento Cidadão ; também é um elemento notável que, desde o ponto de vista programático, Sheinbaum e Gálvez estivessem enquadrados na mesma plataforma, com diferenças menores e não essenciais. Fundamentalmente, ambas ratificaram o compromisso de levar a frente a gestão do capitalismo.

Os resultados são claros: foi eleita Claudia Sheinbaum, que terá maioria qualificada para levar a cabo o conjunto de medidas legislativas que considera necessárias uma vez que o PRI e o PAN não terão uma correlação de forças que as dificulte. Será implementado o chamado Plano C, que entre outras medidas visa colocar a Guarda Nacional sob controlo militar. Desde o início da campanha, os empresários ditaram as suas prioridades. Hoje é verificável a satisfação da classe dominante, do poder dos monopólios, com este resultado, com as felicitações imediatas dos banqueiros e das câmaras patronais.

domingo, 2 de junho de 2024

Países árabes e muçulmanos hipócritas ajudam Israel a matar mais palestinos enquanto o condenam

Mustafa Fetouri*

02/06/2024

A maioria dos países do mundo, grandes e pequenos, expressou sua condenação e indignação com o genocídio israelense na Faixa de Gaza, que ocorre há mais de 194 dias. Em linguagem diplomática ou apenas com palavras diretas, como na África do Sul, cada Estado disse a Israel o que pensa de sua invasão militar do enclave palestino. Por outro lado, alguns países também foram claros ao expressar seu apoio ao Estado de Ocupação do apartheid, como os EUA, por exemplo, cujo presidente, Joe Biden, em muitas ocasiões descreveu seu apoio a Israel como um apoio “firme”. Isso tem sido repetido em muitas ocasiões e é um fato desde que Israel foi criado há 75 anos.

Palestinos fogem dos bombardeios em Rafah. (AP - Abdel Kareem Hana)

Apesar de alguma hipocrisia evidente nessas posições declaradas, elas foram mantidas de modo geral, embora com mudanças na linguagem diplomática, pois enfrentam a gravidade e o genocídio multifacetado e as crescentes manifestações de fome em Gaza. Em outras palavras: os países que apoiam Israel, em grande parte, não reverteram suas posições, apesar de atenuarem seu discurso quando as expressaram publicamente.

Surpreendentemente, ou talvez não, a maior parte da hipocrisia política e da inconsistência entre palavras e ações vem, na verdade, de onde, infelizmente, a Palestina esperava algum tipo de solidariedade: o mundo árabe e muçulmano.

sábado, 1 de junho de 2024

Crise climática capitalista e luta de classes no RS

Luta Operária

maio 2024



O Rio Grande do Sul (RS) enfrenta a maior catástrofe climática de sua história. No dia 16 de maio de 2024, os números oficiais indicavam 151 mortos e 104 desaparecidos, além de mais de 538 mil desalojados. Cidades inteiras foram devastadas pela força das águas e outras tantas ficaram isoladas devido aos problemas nas estradas causados pela água.

Apesar de todas essas consequências sobre a população, em sua maioria trabalhadora, a principal preocupação do capital e seu Estado tem sido, como sempre, de garantir seus lucros. Com inúmeras estradas bloqueadas, as grandes empresas estão sendo impactadas sobretudo pela dificuldade de garantir a circulação de mercadorias. Por exemplo, o complexo da GM em Gravataí está parado desde o dia 1º de maio, por falta de matéria-prima e retorna a operar dia 20/05 com apenas um turno. A REFAP, em Canoas, seguiu operando durante a enchente, apesar de estar a 2 quilômetros da entrada do bairro Mathias Velho, um dos mais atingidos. Só reduziu a produção porque não estava conseguindo escoar a produção e ficaram com os estoques lotados. A Tramontina deu férias coletivas para 4 mil trabalhadores em Carlos Barbosa. A Gerdau paralisou sua produção em Charqueadas e Sapucaia do Sul. A Dalleaço, em São Leopoldo, foi uma das poucas grandes empresas do RS que foi diretamente afetada pela enchente. Outras empresas fora do estado também estão sendo impactadas. A Volkswagen estuda dar férias coletivas para os trabalhadores de três fábricas em [São Paulo] devido à falta de peças. A montadora Stellantis, precisou paralisar pontualmente a produção da sua planta em Córdoba, na Argentina, também devido ao impacto da enchente na cadeia logística.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS) tem falado que 94,3% da atividade econômica foi afetada. O que o presidente da FIERGS, Arildo Bennech Oliveira, não diz é que esse impacto é indireto. Em fala publicada pelo jornal Zero Hora, Oliveira mente descaradamente:

“Nós temos hoje 90% do nosso PIB industrial alagado. A situação das empresas é muito difícil e precisamos destas medidas com a maior brevidade possível. Um dos pontos altos da nossa conversa, hoje, foi garantir empregos (se referindo a reunião da FIERGS com o vice-presidente Geraldo Alckmin). Então o crédito e as medidas trabalhistas são as questões mais urgentes para que as empresas possam manter os mais de 500 mil empregos diretos.”

Sabemos que apenas uma pequena parcela das grandes empresas foi atingida diretamente pelas águas. A maior parte destas fica em polos produtivos em locais mais altos que o nível dos rios. Bem diferente do local de moradia dos trabalhadores, dos pequenos comerciantes e das empresas de pequeno e médio porte.

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