Ney Nunes
Uma classe extremamente minoritária na sociedade não pode manter o poder durante séculos apenas pela coerção das classes exploradas. É necessário cooptar para o seu campo indivíduos e segmentos das classes exploradas, colocá-los a seu serviço político e ideológico para construir o consenso que vai cimentar e proporcionar estabilidade a sua dominação.
A burguesia conta com mais de um século de experiência nesse sentido. Ela, em geral, não constitui mais do que dois por cento da população total de um país, mas consegue subjugar o restante do povo, fazendo-os acreditar que seus interesses particulares são os interesses da maioria. Não teria como fazer isso utilizando apenas os membros da sua classe, precisa trazer para o seu lado quadros intelectuais e políticos oriundos das demais classes que tenham capacidade de elaborar, propagandear e agitar as suas propostas para o conjunto da sociedade.
São esses intelectuais e políticos que vão dar credibilidade ao discurso burguês. Eles são cooptados nas associações profissionais, sindicatos, igrejas, universidades para atuar nessas entidades, mas também na mídia e nas instituições do Estado burguês. De forma geral, esses traidores de classe são muito bem remunerados e, dependendo do seu campo de atuação, acabam por obter vantagens materiais que os levam a ascender socialmente, chegando até mesmo a se tornarem ricos detentores de grandes rendas e patrimônios.
É assim que essa grossa camada de defensores do capitalismo cumpre o papel fundamental de garantir a perpetuação de um sistema em que uma ínfima minoria de exploradores domina amplas massas exploradas. Sua ação diuturna para disseminar o consenso, se combina com a coerção do aparelho repressivo estatal e paraestatal. Uma reforça e justifica a outra, alternando seu peso de acordo com a necessidade. Quando o consenso enfraquece, aumenta a necessidade da coerção explícita, quando o consenso está fortalecido, a coerção funciona na surdina. Mas tanto um, como outro são indispensáveis ao domínio burguês.
Esse estado de coisas só é desafiado em períodos de crise econômica e social profunda, quando grande parte do proletariado passa a desconfiar do discurso enganoso dos lacaios da burguesia e a enfrentar o aparelho repressivo, ameaçando a estabilidade do Estado burguês. A história demonstra que isso não é tarefa fácil, mas não impossível. Para que os desafiantes da ordem burguesa tenham chance de sucesso, precisam mais do que vontade, necessitam de organização e de constituir um exército capaz de suplantar as tropas dos lacaios a serviço do capitalismo em todos os campos da guerra de classes.
Edição: Página 1917
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