Manuel Augusto Araújo*
24/04/2023
No princípio do ano em Memphis, no estado de Tennessee, Tyre Nichols um jovem negro de 29 anos, morreu no hospital três dias depois de ter sido brutalmente agredido por cinco policiais. O que torna particular este ato de violência é ter sido cometido por cinco policiais negros de uma cidade em que o departamento da polícia é liderado por Cerelyn Davies, uma mulher negra.
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Policiais envolvidos na ocorrência de trânsito que terminou com a morte de Tire Nichols. A partir do canto superior esquerdo, os policiais Preston Hemphill, Tadarrius Bean, Demetrius Haley, Justin Smith, Emmitt... |
Para o quadro ficar completo seria curioso conhecer-se o gênero dos intervenientes nesse acontecimento, que demonstra que a violência policial não tem cor, é inerente a uma sociedade em que a coação exercida pelas classes dominantes tem muitas graduações, das mais persuasivas às que recorrem à força extrema em atos pontuais como este ou por guerras como as que têm sido postas em prática desde há muitos decênios para que o império continue a impor as suas regras. A xenofobia, o racismo, a homofobia são catalisadores num estado de sítio sempre pronto a explodir.
Deveria o brutal assassinato de Tyre Nichols, dado os seus intervenientes mais diretos, os policiais negros, ou mais longínquos, a chefia do departamento policial por uma mulher negra, ter feito implodir as fantasias que as lutas ditas fragmentárias das políticas de identidade e diversidade são o cerne das lutas que irão resolver as questões políticas, sociais e econômicas desta sociedade, tornando obsoletas as lutas de classe e, concomitantemente, os partidos e organizações de classe que continuam empenhados numa radical mudança social, mesmo que diferida no tempo, dado o quadro atual da realidade em que o capitalismo, embora que atravessando graves crises, é hegemônico.
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Tyre Nichols, morreu a 10 de janeiro de 2023, três dias após ser detido pela Polícia de Memphis, EUA. |
O que é inquietante, é que as evidências desnudadas pelo assassinato de Nichols em nada abalaram os bandos de ativistas nos EUA e seus seguidores, sobretudo no mundo ocidental, as suas retóricas publicitárias que parasitam por uma comunicação social cada vez mais propriedade e voz das oligarquias beneficiárias das desigualdades sociais que agravam o fosso entre os privilegiados e o complexo mundo do trabalho, cumprindo o que desde sempre foi e continua a ser um dos objetivos da burguesia, que é o de secundarizar e se possível tornar invisível a luta de classes para que a crença de se viver numa sociedade aberta seja dominante, pelo que há que inviabilizar o que coloque em causa a sua preponderância.