Cento e setenta anos da primeira ferrovia brasileira (1854 -2024)
![]() |
Ferroviários posam junto da locomotiva "Baroneza" - 1920. |
Notícias e análises sobre temas históricos e da atualidade, abordando história, economia, política e relações internacionais a partir da perspectiva marxista-leninista e da luta dos trabalhadores pelo socialismo.
![]() |
Ferroviários posam junto da locomotiva "Baroneza" - 1920. |
Ney Nunes
29/04/2024
![]() |
Primeiro de Maio, anos oitenta, Brasil. |
Ao final do século passado, mais precisamente entre o final dos anos setenta e os anos oitenta, quando vivíamos o ocaso da ditadura empresarial-militar instaurada com o golpe de 1964, participei ativamente de algumas manifestações do Primeiro de Maio. Embalados pelas greves que ressurgiam com força pelo país, em especial nas cidades com grandes concentrações operárias, conseguíamos mobilizar e construir atos do dia do trabalhador com conteúdo classista que reforçavam as bandeiras de luta do movimento sindical.
Nesses atos, os protagonistas eram os trabalhadores e suas organizações sindicais e políticas, não havia lugar para governantes e politiqueiros burgueses. Milhares de trabalhadores se reuniam com objetivo de demonstrar suas insatisfações e para reforçar as reivindicações diante da burguesia e do governo. O caráter internacional da luta de classes e a necessária unidade e solidariedade para enfrentar o capitalismo eram pontos destacados pelos oradores e nos muitos panfletos das organizações e partidos envolvidos com aquelas mobilizações.
A partir dos anos noventa, com as derrotas sofridas pela classe trabalhadora no Brasil e no mundo, derrotas que aprofundaram a exploração e a precarização do trabalho, começava um longo período de retrocesso nas lutas operárias e na consciência de classe. A descaracterização do Primeiro de Maio foi, entre os vários mecanismos para dissolver essa consciência classista, uma das mais significativas. O "Dia do Trabalhador" passa a ser chamado de "Dia do Trabalho", as concentrações combativas e de reivindicações se transformam em shows midiáticos com sorteios de prêmios, em vez dos dirigentes da luta operária, são os políticos burgueses os convidados de honra.
Assim, já temos três décadas dessa deformação do Dia Internacional dos Trabalhadores, chegando hoje ao ponto de vermos essas entidades sindicais esvaziadas, burocratizadas, dirigidas por uma camada de pelegos a serviço da subordinação ao patronato, convocarem atos de primeiro de maio sob o signo da conciliação de classes. Esses lacaios do capital transformaram o dia de combate da classe trabalhadora em dia de festa e de farsa.
O longo período de retrocessos na luta e na consciência de classe dos trabalhadores precisa chegar ao fim. Essa é uma premissa essencial para não cairmos de vez no poço sem fundo que nos reserva a barbárie capitalista. Levantemos bem alto a bandeira da solidariedade internacional da classe trabalhadora, contra os exploradores, contra a guerra imperialista e contra o genocídio na Palestina.
Pela paz entre os povos! Pelo Socialismo!
Edição: Página 1917
![]() |
25 de novembro de 1975: golpe contra a Revolução dos Cravos |
Viva o 22 de abril, nascimento de Lenin!
A atualidade do pensamento do revolucionário e fundador do Estado Soviético atormenta os que se colocam a serviço da perpetuação do sistema de exploração do proletariado.
"A burguesia liberal, dando reformas com uma das mãos, retira-as sempre com a outra, as reduz a nada, utiliza-as para subjugar os operários, para os dividir em diversos grupos, para perpetuar a escravidão assalariada dos trabalhadores. Por isso o reformismo, mesmo quando é inteiramente sincero, transforma-se de fato num instrumento de corrupção burguesa e enfraquecimento dos operários."
Neste mês de abril de 2024, registramos os 170 anos da inauguração da primeira ferrovia no Brasil. Aproveitando esse marco, vamos publicar uma série de artigos e trechos de livros que abordam história e atualidade do transporte ferroviário em nosso país. (Editor)
![]() |
Locomotiva a vapor, Juiz de Fora-MG, 1964. |
Douglas Apratto Tenório*
A ferrovia é uma das invenções mas extraordinárias da humanidade. A aplicação da força expansiva do vapor a uma máquina móvel que circula sobre um caminho artificial, constituído por duas trilhas de ferro, é o ponto de partida para um novo período da história, em que o homem põe a seu serviço tais elementos, como forças cooperadoras, em suas atividades, na busca incansável de domínio.
Decorrido mais de um século e meio de sua invenção e difusão, o transporte ferroviário não perdeu a sua importância e, hoje, mais do que nunca, ele se acha valorizado. Nem o automóvel nem o avião consegue diminuir a importância fundamental das ferrovias no contexto das comunicações. Somente um rio navegável ou uma costa litorânea bem proporcionada tem capacidade de transporte equivalente a uma via-férrea. Ela é um elemento importante para o desenvolvimento da vida coletiva. Não são poucos os estudiosos que comparam os problemas enfrentados pelos países integrados através do avião ou por outro tipo de transporte com aqueles países integrados por estradas de ferro, sobretudo os de grandes dimensões territoriais. Mostram esses especialistas as sérias implicações herdadas pelos primeiros e os problemas menores enfrentados pelos últimos.
Porém, a ferrovia teve seu lado negativo. Foi um eficiente instrumento de dominação e subjugamento, um agente da política de dominação mansa e de exploração sutil: o imperialismo econômico. Por conta disso, a história das ferrovias em países como o Brasil, põe em evidência os numerosos equívocos que nortearam sua política, os quais de difícil retificação, uma vez implantados, gravitam pesadamente sobre o corpo social, com serviços insuficientes quanto ao número, defeituosos quanto a qualidade, incorretos quanto aos traçados e, consequentemente, onerosos.
As ferrovias de capital britânico exerceram, no Brasil, um papel muito significativo, tanto na parte econômica-política, como no processo de desenvolvimento social. Durante o período imperial até os primeiros anos do regime republicano, importantes transformações surgiram no plano das comunicações do país, impulsionadas, sobretudo, pelo transporte ferroviário, trazido pelo capital britânico e dirigido pelos seus prepostos aqui e na Inglaterra.
[...] destacamos o surgimento do transporte ferroviário na esteira das grandes transformações econômicas e sociais que sacudiram o Brasil na segunda metade do século XIX e, ao mesmo tempo, os benefícios e distorções cometidas na sua implementação, a partir dos interesses do exterior que dirigiram e ditaram os rumos a seguir, sem auscultar os verdadeiros interesses nacionais no setor, contribuindo sobremaneira para a lastimável situação em que se encontra na atualidade o transporte ferroviário brasileiro.
*Douglas Apratto Tenório, professor, doutor em história, jornalista, escritor, historiador. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Alagoas (1972), mestrado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (1992) e doutorado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (1994).
Fonte: Capitalismo e Ferrovias no Brasil; Douglas Apratto Tenório; HD Livros Editora, 1996.
Edição: Página 1917
Ney Nunes
01/04/2024
O Governo João Goulart foi deposto há sessenta anos, em 01/04/1964, pelo golpe empresarial-militar, um explícito conluio da burguesia brasileira com o imperialismo norte-americano. Mas os golpistas preferiram deixar registrado o dia 31 de março como aniversário do golpe, receavam a identificação com o primeiro de abril, popularmente conhecido como "dia da mentira".
![]() |
Gregório Bezerra, preso e torturado logo após o golpe de 1964. |
O receio fazia sentido, afinal, a propaganda política que antecedeu o golpe tinha entre eixos principais "salvar a democracia" e "combater a corrupção". O que logo se revelaria uma grande mentira. A democracia foi enterrada e os novos governantes se fartaram na corrupção. As prisões, torturas e assassinatos dos opositores do regime tornaram-se rotina. De imediato os alvos principais foram comunistas, sindicalistas e militares legalistas. O golpe tinha um endereço certo: silenciar o movimento operário-camponês e qualquer ameaça de contestação.