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sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Duas Correntes Chavistas Disputam a Sigla "PCV"

Carlos Aquino*

22/05/2023 

Carlos Aquino


Há pouco mais de 52 anos, no ato de instalação do 4º Congresso do Partido Comunista da Venezuela (PCV), em 23 de janeiro de 1971, Manuel Taborda, veterano dirigente operário comunista, finalizou seu discurso com uma frase lapidar: “Este partido ninguém destrói!” [1] .

Naquela época, a proclamação tinha uma conotação especial devido às recentes, significativas e traumáticas divisões sofridas pelo PCV com a vanguardismo guerrilheiro, no final dos anos 1960, e logo depois com o social-reformismo no início dos anos 1970.

Passado o tempo, os pecevistas atuais a levantam automaticamente como clichê, a recitam como um mantra, a repetem com tintas de imutabilidade catequética ou de desígnio divino. Por esta razão, a diferenciação entre comunista e pecevista não é casual, mas necessária, pois o primeiro possui o conhecimento, a ética, a consciência de classe e a coerência que devem distinguir aqueles que assumem a doutrina marxista-leninista, enquanto o segundo exige apenas ser membro do PCV – que, embora mantenha o nome, há décadas deixou de ser um verdadeiro Partido Comunista.

Quando a máquina do PSUV-Governo finalmente executa sua intenção de ter novamente a sigla "PCV" validando e apoiando a gestão presidencial - reeditando o abjeto seguimento que tiveram com Hugo Chávez-, o Bureau Político (BP), chefiado por Oscar Figuera, tira a poeira da frase de Taborda e denuncia um "assalto ao Partido".

O que não compreendem totalmente muitos pecevistas e alguns dos poucos comunistas que ainda sobrevivem no PCV, é que este partido já foi assaltado por uma corrente chavista, liderarda por Figuera, e que por mais de duas décadas esteve no comando destruindo-a política, ideológica, moral e organicamente, reproduzindo o estilo de liderança personalista e autoritário do seu "Comandante".

Enquanto alguns ex-militantes, junto com funcionários inescrupulosos do PSUV, convocavam um suposto “Congresso Extraordinário de Bases do PCV”, para 21 de maio de 2023 em Caracas, o BP lançou através das “redes sociais”, onde faz ativismo, a campanha "Eu defendo o PCV".

Mas, pergunto: defender o PCV ou os dirigentes do BP? Porque são eles que têm promovido no PCV a reivindicação do "legado" de Chávez e que ele seja tido como ídolo; são eles os que têm praticado as violações estatutárias mais grosseiras e descaradas; eles que tornaram crime não se subordinar ou ser submisso a quem se apresenta como cacique; são eles que desacreditaram o significado de chamar-se comunista. A eles eu disse e digo não, porque justamente por tudo isso, depois de mais de uma década combatendo seus desvios reformistas e oportunistas, decidi romper publicamente e propor a reconstrução revolucionária do PCV com os princípios do marxismo-leninismo, portanto, uma linha de ruptura com todo “progressismo” e populismo, que é exatamente o oposto desse “Congresso Extraordinário de Bases”.

Na época, apesar de desprezar Saddam Hussein, rejeitava-se a guerra ilegal dos Estados Unidos contra o Iraque. Da mesma forma, se opor às sanções contra o Irã e também denunciar a teocracia despótica dos aiatolás; ou ser contra a injustificável invasão russa da Ucrânia e ao mesmo tempo condenar o regime reacionário do país agredido. De igual maneira, o repúdio firme e inequívoco às ações ilegítimas e tortuosas do PSUV para ganhar a sigla "PCV" de forma alguma significa apoio ao BP que tão vergonhosamente turvou a trajetória do outrora glorioso PCV.

Mais cedo ou mais tarde, talvez até por uma nova geração, depois de uma profunda e dura autocrítica, deverá assumir a tarefa transcendental de reagrupar e reconstruir o movimento comunista venezuelano. Nossos esforços continuam sendo dedicados a esse objetivo, e possivelmente essas linhas sejam de alguma utilidade. Enquanto isso, há muitas lutas para continuar travando. [2]

Notas:

 [1] "Discurso de Manuel Taborda", in PCV, IV congresso. Documentos e resoluções , Secretaria Nacional de Propaganda, Caracas, 1971, p. 63. 

[2] Prefácio às Respostas a Diosdado. Em defesa do projeto comunista , Editorial Aurora, Caracas, 2023.

* Carlos Aquino é ex-dirigente do PCV.

Edição: Página 1917








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