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terça-feira, 21 de janeiro de 2025

A conjuntura internacional no começo de 2025

 Boletim Que Fazer – Janeiro de 2025


Trabalhadores da Amazon nos EUA em greve, dezembro 2024.


Economia mundial pós-pandemia

Após uma aguda recessão em 2020, fruto da pandemia de Covid-19, a economia global viveu anos de recuperação econômica. Muitos países recuperaram as perdas de produção daquela recessão; a taxa de desemprego voltou ao nível anterior à pandemia.

No entanto, novas contradições capitalistas foram postas em movimento. Houve, por exemplo, uma espiral inflacionária a nível global, seguida de um aumento das taxas de juros. Esse quadro piorou ainda mais o alto endividamento, sobretudo nos países dominados, e tem pressionado para baixo as taxas e perspectivas de crescimento. O mercado de trabalho ficou ainda mais precarizado, sem recuperação do poder de compra dos salários, atingidos pela carestia.

Em 2024, a economia global cresceu cerca de 3%, inclusive com várias potências imperialistas em nova recessão ou estagnadas, como é o caso da Alemanha, maior potência do bloco europeu e já em seu segundo ano seguido de crescimento zero.

Os ganhos da recuperação capitalista pós-pandemia, obviamente, se concentraram nos burgueses, que ampliaram ainda mais suas fortunas. Para as massas trabalhadoras de todos os países, esse período significou aumento da exploração e da carestia de vida.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Declaração sobre o cessar-fogo em Gaza

Assessoria de Imprensa do Comitê Central do Partido Comunista da Grécia (KKE)

18-01-2025

Em Gaza palestinos retornam para seus bairros reduzidos a escombros.

O acordo de cessar-fogo Israel-Hamas é um acordo frágil de fato, pois nenhum dos fatores que levaram a esse conflito desapareceu: a agressão do estado terrorista de Israel contra o povo palestino, por um lado, e os antagonismos, particularmente na região do Oriente Médio, que estão aumentando, por outro. Além disso, esse acordo de cessar-fogo não apaga nenhum dos crimes cometidos por Israel, que consistem um verdadeiro genocídio do povo palestino.

Aqueles que se apressam em associar o cessar-fogo à mudança na administração dos EUA, criando expectativas de avanços positivos em favor dos povos com uma remodelação "pacífica" do mundo, logo serão desmentidos.

Quaisquer que sejam as conveniências que impuseram uma falsa paz "com uma arma apontada para as cabeças dos palestinos", o acordo de cessar-fogo também foi influenciado pela resistência heroica do povo palestino, a luta contra a guerra dentro de Israel, bem como a solidariedade internacionalista dos povos do mundo inteiro. Essa solidariedade deve agora ser intensificada ainda mais para pôr fim à ocupação israelense e reconhecer o direito do povo palestino de ter sua própria pátria.

O KKE apela ao povo grego para intensificar a luta contra a política do governo ND, que, juntamente com as outras forças políticas do Euro-Atlantismo, reproduz o pretexto do "direito de autodefesa de Israel" e promove a melhoria das relações econômicas, políticas e militares do nosso país com um estado terrorista. A decisão do parlamento grego de reconhecer um estado palestino independente com Jerusalém Oriental como sua capital deve ser aplicada imediatamente.

Fonte: https://inter.kke.gr/en/articles/Statement-on-the-ceasefire-in-Gaza/

Edição: Página 1917







quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Há cinquenta anos a ditadura empresarial-militar prendeu e assassinou Hiran de Lima Pereira e Elson Costa.


Hiran de Lima Pereira

Nascido no Rio Grande do Norte, Hiran de Lima Pereira foi preso pela primeira vez em 1935, no Rio de Janeiro (RJ), após o levante comunista liderado por Luis Carlos Prestes. Em 1946, foi eleito deputado federal pelo Rio Grande do Norte pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e teve seus mandato e registro cassados em 1948, quando o PCB foi declarado ilegal. Em 1949, mudou-se para Recife (PE), onde foi redator do jornal Folha do Povo, organizado pelo PCB. Entre 1959 e 1964, foi secretário de administração da prefeitura de Recife. Em agosto de 1961, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, Hiran de Lima foi sequestrado por agentes do IV Exército, junto com David Capistrano e outros dirigentes comunistas. Desapareceu por dez dias até ser levado para a Ilha de Fernando de Noronha. Após ter saído da prisão, retornou às funções de secretário do Executivo Municipal de Recife e atuou como ator do grupo profissional Teatro Popular do Nordeste, na peça A Pena e a Lei, de Ariano Suassuna. Após o golpe militar de abril de 1964, Hiran passou a viver clandestinamente em Recife com sua família. Durante esse período, sua esposa, Célia Pereira, e sua filha, Sacha Lídice Pereira, foram detidas na casa onde moravam e feitas reféns por agentes do IV Exército, junto aos noivos de suas filhas, Ardigan e Nathanias, detidos na mesma ocasião. Em 1966, Hiran mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ) e, posteriormente, mudou-se para São Paulo (SP). Na passagem do ano de 1974 para 1975, esteve na residência da filha Sacha em São Paulo (SP), no bairro de Campo Belo. Até o ano de 1975, Hiran participou das atividades políticas promovidas pelo PCB como jornalista. Hiran de Lima Pereira manteve contato com sua esposa até o dia 9 de janeiro de 1975, quando marcou encontros para três datas: 13, 15 e 17 de janeiro. Hiran não compareceu ao primeiro encontro. Célia, por sua vez, foi presa em sua residência no dia 15 de janeiro, por agentes do DOI-CODI/SP, onde permaneceu durante três dias sob interrogatório e torturas. Por esse motivo, não pôde comparecer aos outros dois encontros marcados. Célia afirma que viu diversas pessoas encapuzadas sendo torturadas no DOI-CODI, sendo um deles com características físicas semelhantes às de Hiran. Um mês depois foi presa novamente junto com sua filha Sacha, quando foram interrogadas e mantidas encapuzadas. Após as prisões, Célia procurou o II Exército, e lá foi informada de que Hiran estava detido no Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS/SP). No DOPS, contudo, disseram-lhe que ele não estava lá. De acordo com o depoimento do sargento Marival Dias Chaves do Canto à Comissão Nacional da Verdade, Hiran de Lima teria sido levado a um centro clandestino de repressão, onde o torturaram e o mataram. Em seguida, os agentes teriam jogado seu corpo no Rio Novo, em um cemitério subaquático sob uma ponte da estrada SP-255, nas imediações de Avaré (SP). Na documentação do arquivo do DOPS/PR, Hiran consta entre os casos reunidos em uma gaveta intitulada “falecidos”. Entre março de 1974 e janeiro de 1976, inúmeros militantes foram mortos pela operação Radar, dentre as vítimas, 11 são desaparecidos políticos, cujos restos mortais não foram entregues às famílias até hoje, como é o caso de Hiran.

Elson Costa


Elson Costa foi militante histórico do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Jornalista de profissão, iniciou suas atividades políticas em Uberlândia (MG), onde liderou uma greve de caminhoneiros. Integrou o Comitê Central do partido, com a responsabilidade de produção e divulgação do jornal Voz Operária. Em função da militância no PCB, atuou em várias regiões do Brasil, além de ter participado de atividades em países do leste europeu. Elson foi monitorado, enquanto membro do PCB, desde o Estado Novo; com o golpe militar de 1964, teve os direitos políticos cassados e, dois anos depois, em junho de 1966, foi preso em decorrência da apreensão de cadernetas pertencentes a Luís Carlos Prestes, que revelavam nomes e áreas de atuação do partido na clandestinidade. Após cumprir pena em Curitiba (PR), adotou o nome de Manoel de Sousa Gomes e se transferiu para São Paulo (SP) em companhia da esposa, Aglaé de Souza Costa. Viveu na clandestinidade até ser vitimado pela “Operação Radar”, que resultou em sua prisão e desaparecimento em 15 de janeiro de 1975. Elson Costa foi detido em um bar, em São Paulo, próximo de onde residia, o que permitiu que sua prisão fosse testemunha pela vizinhança. A maior parte das pessoas que viram “Manoel de Sousa Gomes” ser levado pelos agentes da repressão não imaginavam se tratar do militante do PCB de nome Elson Costa. A família de Elson buscou informações do seu paradeiro no II Exército, além das várias correspondências a ministros e até ao presidente do regime ditatorial, Ernesto Geisel, todas sem sucesso. Elson foi uma das vítimas da “Operação Radar”, ofensiva do Exército dedicada ao monitoramento e desestruturação do PCB. Ao menos 11 militantes do PCB foram vítimas dessa investida sistemática e direcionada entre 1974 e 1976. Em documento produzido em março de 1975 pela 2ª Seção do II Exército revela as ações dos órgãos de informação e repressão para “Neutralização do PCB”, como foi intitulada a informação. Com o objetivo de desarticular o partido, foram elaborados estudos e monitoramentos de dirigentes cujas prisões eram fundamentais para a eliminação do PCB. A “Operação Radar” esteve sob a orientação direta do DOI de São Paulo, com a colaboração de outros DOIs e do Centro de Informações do Exército (CIE). Assim, a operação focou em realizar prisões e perseguições em inúmeros estados de dirigentes do PCB, levados a centros clandestinos para interrogatórios, onde desapareceram. A Casa de Itapevi, localizada na estrada da Granja, n° 20, que liga Barueri a Itapevi, na região metropolitana de São Paulo, é apontada como principal centro clandestino utilizado pelo DOI-CODI do II Exército e pelo CIE para tortura e execução dos presos desta operação. O ex-sargento Marival Chaves, em depoimento para a CNV, relatou algumas informações sobre as atividades ocorridas e sobre alguns agentes responsáveis que atuavam na Casa de Itapevi. Além disso, referiu-se aos nomes das vítimas que haviam sido torturadas e executadas no centro Clandestino, entre elas, Elson Costa. Em 2004, uma matéria da IstoÉ divulgou outras revelações feitas pelo ex-sargento Marival Chaves, que acompanhou vários casos ocorridos no DOI-CODI de São Paulo, sobre a “Operação Radar”. Entre elas, destacou-se a referência ao nome do coronel Audir dos Santos Maciel, o “Doutor Silva”, como responsável pelas ações de desaparecimento dos dirigentes do PCB, além de declarar que as vítimas foram executadas em chácaras clandestinas utilizadas para a tortura, assassinato e ocultação de cadáver pelos agentes.


Edição: Página 1917

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Elon Musk e a extrema direita alemã juntos na falsificação anticomunista*

Manifestação contra a extrema direita na Alemanha.

Recentemente, Alice Weidel, a líder do partido de extrema direita AfD da Alemanha, foi entrevistada pelo magnata e apoiador de Trump, Elon Musk. Em sua conversa virtual muito divulgada, Weidel deixou escapar que Hitler era um "comunista" e um "socialista" para mostrar a distância que supostamente a separa do nazismo, já que Hitler "não era um conservador" ou "um libertário" e que seu partido e ela são "exatamente o oposto".

Quem sabe? Talvez Weidel saiba mais do que os capitalistas industriais que apoiaram Hitler, como o então presidente da Associação da Indústria Alemã, Krupp. Talvez, na visão dela, até mesmo o capital alemão que doou milhões de marcos ao partido Nacional Socialista, efetivamente levando Hitler ao poder, também fosse comunista.

Talvez os monopólios americanos da Ford, General Motors, IBM, etc., que desempenharam um papel catalisador no apoio ao nazismo e obtiveram enormes lucros, fossem também apoiadores secretos do comunismo.

Ou talvez até mesmo os próprios chefes da Ford e da IBM, que receberam as medalhas da “Grã-Cruz” do Terceiro Reich, não soubessem no que estavam se metendo com Adolf...

Os capangas do capitalismo, como a AfD, competem com a União Europeia na propaganda de equiparar o fascismo ao comunismo. Essa doutrina de equiparação é uma necessidade para encobrir a forma mais bárbara de poder capitalista, o fascismo e o nazismo, e para caluniar a maior conquista dos povos, o socialismo-comunismo e o poder dos trabalhadores. Portanto, é natural, a confiança de monopolistas empresariais como Musk em tais forças...

*Comentário do jornal diário “Rizospastis”, órgão do CC do KKE, publicado em 11/1/25.

Fonte: https://inter.kke.gr/en/firstpage/

Edição: Página 1917

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Análise marxista ou apologia do capitalismo?

Pedro Pomar*
Maio de 1960

"...uma justa análise da situação objetiva do país exige algo mais. Exige que se ponha a descoberto as contradições de classe, que se diferenciem, com toda a nitidez, os interesses das classes oprimidas, dos trabalhadores, do conceito geral da nação em seu conjunto, o qual corresponde aos interesses da classe dominante."



A discussão ora aberta terá grande significação para o movimento revolucionário brasileiro. Apesar das diversas limitações confio em que na luta franca de opiniões todos nos esforçaremos por encontrar as soluções que sirvam à nossa grande causa.

Ante a confusão ideológica imperante, o centro dos debates deve girar, a meu ver, em torno da linha geral e da tática, pois disso depende, em última instância, o papel do Partido, a sua capacidade de transformar o proletariado em fator decisivo na formação da frente única anti-imperialista e democrática e em força dirigente da revolução brasileira.

No processo autocrítico iniciado após o XX Congresso do PCUS, nos foi imposta a tarefa de superar os erros dogmáticos e sectários, de natureza subjetivista, agravados pelo culto à personalidade, que impregnaram nossas concepções, quer quanto à teoria da revolução, quer quanto ao Partido, à sua política e aos seus métodos. Como um dos portadores dessas concepções e um dos responsáveis por esses erros, compreendo a necessidade de impedir sua repetição.

sábado, 11 de janeiro de 2025

Moçambique sem rumo à vista

Ana Barradas

10-01-2025

Parece estar chegando a um período menos agitado o drama moçambicano desencadeado pela oposição do cavaleiro solitário Venâncio Mondlane aos recentes e fraudulentos resultados eleitorais.



Como era de prever, ambas as partes – Frelimo e toda a oposição – tiveram de se entender às pressas para conter ao caos social e econômico e conciliar o irreconciliável tanto quanto possível.

Assim, vamos ter agora o “herói” Venâncio de cabeça baixa, debaixo da traição do chefe do seu partido, a participar no parlamento de Moçambique sem ter atingido o seu objetivo de vir a ser o grande líder do governo.

Esse sonho era desde o começo em si mesmo idealista porque, mesmo com o forte apoio popular que conseguiu concitar – no início inclusive de largos setores da burguesia, que depois se retraiu diante da sublevação da arraia miúda nas ruas – nunca teria a aprovação não só da Frelimo como da chamada comunidade internacional para subverter de pernas para o ar os resultados das eleições, ainda que problemáticos.

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