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segunda-feira, 9 de junho de 2025

Síria: A Rendição Programada, o Fantoche Jolani e o Rosto Cru do Imperialismo Capitalista

Isabel Lourenço 

09.06.25


Enquanto os meios de comunicação ocidentais noticiam com entusiasmo a “normalização” da Síria e a suspensão das sanções econômicas americanas como uma vitória diplomática, o que de fato ocorre é a consagração de um regime fantoche, a desintegração final da soberania síria e a celebração do triunfo absoluto do imperialismo financeiro global.

EUA e seu terrorista vassalo.


Abu Mohammad al-Jolani, antigo chefe da Frente Al-Nusra, grupo oficialmente ligado à Al-Qaeda, é hoje recebido como estadista, respeitado como interlocutor e, acima de tudo, moldado para desempenhar um papel histórico: o de ser o primeiro jihadista de luxo a legalizar, em nome do Islã, a rendição de Jerusalém, a entrega do Golã, e o fim oficial da luta contra Israel.

Um Terrorista Transformado em Parceiro: A Farsa da Civilização Ocidental

Segundo o relato minucioso do escritor sírio Naram Sarjoun, publicado pelo Centre de Recherche sur la Mondialisation, a ascensão de Jolani ao poder é tudo menos espontânea. É o produto de anos de engenharia geopolítica, assessoria estratégica, e treino midiático para produzir um “líder islâmico moderado” — palatável o suficiente para as massas religiosas e servil o suficiente para o capital ocidental.

Não é coincidência que, tal como se fez com Mohamed Morsi no Egito ou com os líderes da oposição “rebelde” na Líbia, a CIA e os seus aliados tenham investido fortemente na formação política, retórica e gestual de Jolani. O objetivo era claro: criar um líder de plástico, com barbas e véus suficientes para enganar os fiéis, e com pragmatismo neoliberal bastante para entregar a pátria à pilhagem estrangeira. Para isso foi-nos apresentado como "salvador da pátria" um Jolani primeiro com fardamento "a la Fidel" que rapidamente mudou para um terno ocidental que lhe assenta mal. Uma encenação com um guarda roupa escolhido para a ocasião como já visto com o Mr. T-Shirt verde (Zelensky).

Religião Como Marketing de Guerra

A religião, nesse processo, não é mais do que um verniz decorativo. Uma ferramenta populista mal utilizada e mal interpretada, para manipular multidões já desgastadas por anos de guerra, fome e deslocação. Jolani não representa o Islã — representa os interesses mais imundos do capital. A sua “fé” é performativa, usada como instrumento para legitimar acordos de normalização com Israel, tratados secretos com multinacionais e concessões vergonhosas de território e soberania. Mas, atenção, o povo sírio está muito longe de ser seguidor cego deste novo embuste, é, sim, mais uma vez vitima, explorado e expropriado.

A assinatura do acordo de paz entre a “nova Síria” e Israel visa obter um selo de validade: não é apenas um tratado político, é uma encenação simbólica onde um dito jihadista "sunita" reconhece a “judeidade” de Israel, entrega Jerusalém e Al-Aqsa, e decreta o fim do conflito histórico com o sionismo. Uma farsa religiosa ao serviço do capitalismo geopolítico.

A Reescrita dos Mapas: Quando Israel Substitui a Palestina nas Escolas

A manipulação ideológica vai mais fundo. Em várias regiões da Síria sob o controle do governo de Jolani, tal como já acontece há anos em países do Golfo como os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita ou o Bahrein, os manuais escolares estão a ser reescritos. Os mapas mostram Israel onde antes se lia Palestina. As crianças aprendem que a fronteira sul da Síria é com Israel e não com os territórios ocupados.

Esta reconfiguração do imaginário escolar é uma prova inequívoca de que os aliados dos EUA não são soberanos — são protetorados ideológicos e econômicos, submetidos ao capital ocidental e ao eixo sionista-evangélico-globalista que define a política externa de Washington.

O Capital Como Verdadeiro Deus a verdadeira religião: O Império do Lucro.

Por detrás da linguagem diplomática e da teatralidade religiosa, está o único verdadeiro motor desta tragédia: o capital.

É o capital que exige o fim da resistência ao sionismo.

É o capital que exige concessões de gás e petróleo no litoral sírio.

É o capital que exige zonas desmilitarizadas controladas por Israel.

É o capital que se apodera das terras do leste sírio para cultivo intensivo sob gestão de empresas ocidentais.

É o capital que deseja a fragmentação da Síria em zonas autônomas, cada uma controlada por um ator estrangeiro — seja Turquia, Israel, EUA ou as FDS curdas.

E esse capital não tem rosto, pátria, religião ou moral. É uma entidade insaciável, devoradora, apátrida, pronta a negociar com jihadistas ou tecnocratas, desde que o lucro esteja garantido.

A Síria Fragmentada: Um Leilão de Territórios e Alianças

O mapa da nova Síria fala por si:

Colinas do Golã e Monte Hermon: formalmente entregues a Israel.

Sul da Síria: sob controle de segurança israelense.

Leste da Síria: entregue às FDS e seus aliados americanos.

Norte e Alepo: sob tutela turca, como parte do preço pago por Erdogan para se livrar do "problema curdo".

Centro e Damasco: transformados em centros de operações jihadistas internacionais.

Costa síria: reservada para exploração econômica por EUA, Rússia e Turquia.

Cada porção do país é negociada como mercadoria num mercado de geopolítica predatória.

Próximas Fases: O Hezbollah e o Irã na Mira

O imperialismo não termina com a Síria. O plano traçado entre os EUA, Israel e os seus aliados árabes prevê que Jolani e os jihadistas sob sua autoridade sirvam como tropas de assalto contra o Hezbollah no Líbano. Posteriormente, visam-se as milícias do Iraque e, por fim, o próprio Irã.

Tudo indica que se prepara uma nova fase de guerras por procuração, com jihadistas reabilitados como forças “oficiais”, legitimados por tratados e aplaudidos por Washington. O objetivo final é claro: destruir os últimos focos de resistência ao projeto global do capital, eliminar a influência iraniana, e fechar a Ásia Ocidental (Médio Oriente) à Rússia e à China.

Conclusão: Uma Nação em Ruínas, Um Povo Traído

O povo sírio, vítima há mais de uma década de guerra, embargo, deslocação e massacre, assiste agora à fase final da sua tragédia: a rendição oficial, apresentada como libertação. As sanções foram levantadas, mas o preço pago é incalculável — território, dignidade, cultura, fé e soberania.

A Síria de Jolani é o protótipo do modelo imperial: Estados geridos por fantoches treinados, com religião como marketing, e recursos naturais como troféus para investidores ocidentais.

Celebrar este acordo é celebrar a capitulação. Aplaudir Jolani é legitimar a ocupação. E apoiar este processo é alinhar-se com o capital mais sujo que alguma vez passou pela Ásia Ocidental (Médio Oriente): o que mata em nome de Deus, mas vende em nome do dólar e está ao serviço do Capital, o seu verdadeiro Deus Omnipresente e Omnipotente. Veremos como vão reagir as poucas forças contrárias a este plano.

Edição: Página 1917



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