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domingo, 28 de maio de 2023

A “Plataforma Mundial Anti-Imperialista” — oportunistas em trajes “anti-imperialistas”

Em Defesa do Comunismo*

11/05/2023

Na Primeira Guerra Mundial imperialista, a separação organizacional dos comunistas dos social-chauvinistas foi o pré-requisito essencial para poder travar a luta contra a guerra e o domínio do capital. Hoje enfrentamos uma situação semelhante internacionalmente.

A Quinta-coluna e seus disfarces.

A “Plataforma Mundial Anti-Imperialista” — oportunistas em trajes “anti-imperialistas”

Alguns partidos que se autodenominam comunistas acreditam que se deve ficar do lado de uma das facções concorrentes na guerra.

6 de maio de 2023 — Comissão Internacional da Organização Comunista (KO – Alemanha). Publicado em https://kommunistische.org/internationalismus/die-world-anti-imperialist-platform-opportunisten-im-antiimperialistischen-gewand/.

A eclosão da guerra na Ucrânia expôs implacavelmente a falta de consenso dentro do movimento comunista internacional. Por um lado, alguns partidos que se autodenominam comunistas acreditam que se deve ficar do lado de uma das facções concorrentes na guerra. Por exemplo, o Partido Comunista Espanhol (PCE) está atualmente envolvido como parte da coalizão Esquerda Unida (IU) no governo da Espanha - um governo envolvido na guerra na Ucrânia e que enviu uma grande quantidade de armamento para a Ucrânia. Por outro lado, existe toda uma gama de partidos que apoiam a invasão russa da Ucrânia e assumem a propaganda do Estado russo (por exemplo, a alegada "desnazificação" da Ucrânia) para justificar a guerra.

Esta posição de social-chauvinismo e oportunismo não é nova - é a mesma já apresentada pelos oportunistas da Segunda Internacional durante a Primeira Guerra Mundial.

Isso se opõe à posição da corrente leninista do movimento comunista mundial: a classe trabalhadora deve desenvolver sua própria ação independente e a tarefa dos comunistas é construir seu próprio partido.

A parte dos partidos oportunistas que se aliam à China e à Rússia nos conflitos imperialistas globais encontra agora uma expressão organizativa a nível internacional: a chamada Plataforma Mundial Anti-Imperialista (PMAI) [1], uma rede em que várias organizações se uniram pela primeira vez em Paris em maio passado e pintaram um quadro muito heterogêneo: uma multidão de partidos e organizações que cobrem um amplo espectro do “comunista” ao “nacional-patriótico”. Existem partidos que também se organizam no Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários (EIPCO) [2] , como o PC do Líbano, ou o Partido Comunista dos Trabalhadores da Rússia, que se recusou a assinar a declaração conjunta condenando a guerra interimperialista já em fevereiro de 2022. Existem organizações abertamente nacionalistas, como a Vanguardia Española da Espanha e a Vanguardia Venezolana da Venezuela – e também há partidos abertamente social-democratas, como o PSUV, partido do governo venezuelano.

Nem todas as partes que participaram ou já participaram das reuniões estão entre os signatários da primeira convocação e não está claro quantos fazem parte da plataforma e com que nível de engajamento. No entanto, o objetivo das organizações reformistas não é criar estruturas estáveis ​​e centralizadas, ou seja, estruturas com unidade ideológica e eficácia na ação. Essas conexões frouxas, nas quais várias organizações podem ser incorporadas e desmembradas sem cumprir critérios reconhecíveis, têm sua respectiva função para pequenas e grandes organizações: servem como vitrines para as pequenas organizações, aumentando assim sua visibilidade, que de outra forma é bastante limitada. As organizações maiores prometem expandir seu raio de influência e usar a situação para fazerem-se de palestrantes. Mais geralmente, porém, sua função é também injetar ideias e perspectivas burguesas no campo revolucionário, criar confusão, distorcer a realidade e difamar as organizações revolucionárias. De qualquer forma, seria um erro subestimar a importância da PMAI: é uma parte bastante relevante do movimento comunista mundial que participa desse contexto.

Tudo isso é feito em nome do "anti-imperialismo". Mas como esses partidos realmente definem o imperialismo e a luta contra ele?

No ponto 6 da Declaração de Paris da PMAI [3], fala-se da "superexploração e pilhagem do mundo" e da "escravização dos países em termos militares, diplomáticos e políticos da dívida" como características de um país imperialista. Além disso, quaisquer focos de crises e guerras no planeta são interpretados como resultado da tentativa dos EUA de manter sua hegemonia global (ponto 1). De acordo com a PMAI, essa política é diretamente contrariada pela China e pela Rússia, que dão às nações menores a oportunidade de recuperar sua “soberania nacional” por meio de suas políticas comerciais e ajuda militar. É exatamente por isso que esses estados e seus aliados são alvo da agressão imperialista ocidental, já que a OTAN não poderia aceitar que esses países se libertassem da escravidão imperialista. A conclusão da PMAI, que perpassa todas as suas declarações: o confinamento à luta contra a OTAN, a negação do caráter imperialista da Rússia e da China, a justificação e o apoio à sua política externa, incluindo a guerra liderada pelos russos na Ucrânia.

Não é por acaso que partidos e organizações que convocam as classes trabalhadoras de seus países a se reunirem sob a bandeira de Estados burgueses também adotam posições oportunistas de direita em outras áreas. Em sua análise do imperialismo, eles separam a categoriade sua base econômica e tentam caracterizar os interesses dos monopólios russo, chinês etc. como “promotores da paz” ou “não agressivos”. Eles negam as análises fundamentais de Lênin, segundo as quais o monopólio, não importa onde governe, ultrapassa as fronteiras nacionais em seu desejo de lucros extras e determina a política de seu estado. Enquanto a PMAI considera em suas declarações a supremacia econômica dos EUA como um dos pontos de partida para a escravização do mundo, ela apoia a expansão econômica e militar da Rússia e da China sem querer reconhecer a formação de novas dependências para outros países menores. Alimenta-se a ilusão de um possível capitalismo pacífico, segundo o qual seria possível, sem os agressores ocidentais, ter um sistema econômico justo em que os Estados burgueses agissem “em pé de igualdade” uns com os outros e não mais interferissem nos assuntos nacionais dos outros estados.

O conceito de imperialismo da PMAI não tem nada a ver com o de Lênin. Para Lênin, o imperialismo é uma fase de desenvolvimento do capitalismo, o capitalismo monopolista, em que a competição se transforma em guerra entre monopólios pela divisão do planeta, e em que o desenvolvimento desigual leva a um constante questionamento do equilíbrio de poder. Países mais fracos lutam para subir na hierarquia, países mais fortes travam guerras para manter sua supremacia. De forma totalmente arbitrária e não científica, a PMAI pensa que pode fazer uma divisão rígida entre países mais fracos e países mais fortes, sendo chamados apenas os países mais fortes econômica e militarmente de imperialistas. A consequência prática disso é apoiar os capitalistas mais fracos em sua luta para escalar a hierarquia global.

Deve-se, portanto, não apenas apoiar governos reacionários e anticomunistas como os do Irã, da Rússia ou do Cazaquistão, mas também pode-se colocar ao lado daqueles que até recentemente foram e ainda são aliados próximos do mesmo imperialismo ocidental contra o qual lutamos, como a Arábia Saudita, que nos últimos meses vem provando que pode ser mais do que apenas um "estado vassalo". Ou pode-se até sentir simpatia por alguns representantes da burguesia nos próprios países ocidentais, inclusive os mais reacionários. Se de fato são o Partido Democrata nos Estados Unidos e os liberais ao redor do mundo que muitas vezes abraçam as tendências mais expansionistas e agressivas do imperialismo ocidental, então seus rivais eleitorais podem ser retratados objetivamente como aliados do campo anti-imperialista. É por isso que Marco Rizzo, líder do revisionista “Partido Comunista” na Itália, escreve no Facebook [4] que Donald Trump é uma figura “anti-establishment”, enquanto o Partido Comunista dos Trabalhadores da Rússia não vê nenhum problema em oferecer um fórum em seu site para um representante do chamado “Comunismo do Make America Great Again” [5], ou seja, um apoiador de Trump dos EUA.

Desta forma, não apenas se distancia do marxismo-leninismo, mas se torna seu inimigo aberto. Isso também é tristemente refletido pelo horário e local da reunião: no mesmo mês em que a PMAI realizou sua conferência em Caracas, o PSUV intensificou seus ataques contra o Partido Comunista da Venezuela (PCV), que luta contra as medidas antioperárias do governo burguês de Maduro e há anos sofre repressão estatal. Enquanto o PCV adverte repetidamente contra as tentativas do governo burguês do PSUV de banir completamente os comunistas e querer esmagar o partido comunista, supostos "comunistas" de todo o mundo não estão ao lado dos camaradas venezuelanos, mas sentam-se à mesma mesa de um partido governante do capitalismo, que persegue os comunistas, continua a privatizar a propriedade estatal e realiza ataques aos direitos da classe trabalhadora.

Contra a orientação da PMAI estão, entre outros, os 33 partidos e organizações comunistas e operárias que assinaram a declaração conjunta contra a guerra imperialista. Por outro lado, há também, por exemplo, os comunistas ucranianos da Frente Operária da Ucrânia (RFU) e da União dos Comunistas da Ucrânia (UKU), que lutam contra o seu próprio governo e contra a guerra imperialista sob o condições mais difíceis.

Ao contrário do que querem fazer crer os partidos oportunistas de direita da PMAI, esta atitude não é de forma alguma um reforço indirecto da OTAN. São sobretudo os partidos de orientação marxista-leninista e internacionalista que são particularmente ativos na prevenção da sua própria burguesia e da OTAN de participarem na guerra. Em abril do ano passado, por exemplo, membros do KKE bloquearam trilhos ferroviários pelos quais insumos militares seriam enviados para o fronte na Ucrânia. O PCTE organizou uma manifestação intitulada “Suas guerras, nossos mortos!”, onde milhares de comunistas marcharam pelas ruas de Madri exigindo a saída da Espanha da OTAN. Duas semanas antes, o TKP [6] se manifestou em frente à base aérea de Incirlik em seu país contra a implantação de novas unidades da OTAN.

Só quem não quer entender isso não vê a possibilidade de combater os dois campos imperialistas simultaneamente e que é um dever combater o imperialismo como sistema, fruto necessário do capitalismo que só a revolução socialista pode erradicar. Aqueles que se recusam a entender isso e acusam os outros de não terem uma análise para sustentar suas posições, apesar da miríade de documentos usados ​​por partidos como o KKE para explicar suas posições sobre o imperialismo, só podem ser descritos como oportunistas incorrigíveis.

Exemplo disso é Joti Brar, cofundador da plataforma e vice-presidente do Partido Comunista da Grã-Bretanha – Marxista-Leninista (CPGB-ML), que também faz parte da PMAI. Brar acusa o KKE de condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia como um expediente político para satisfazer seu próprio eleitorado, que busca a pureza da identidade. Brar acusa o KKE de ocupar assentos parlamentares na Grécia e afirma que é por causa de sua suposta proximidade com o estado que não apóia o imperialismo russo – uma afirmação que seria quase absurda mesmo se o próprio CPGB-ML não compartilhasse visões com partidos governantes capitalistas e não apoiassem estados capitalistas como a Rússia e a China.

Brar também não tem vergonha de espalhar a mentira de que o KKE não só usa sua autoridade ideológica, mas também seus recursos, seu dinheiro, para persuadir, comprar e até ameaçar [7] partidos que podem não pensar como eles. No final, a conclusão é clara: o KKE, partido que como nenhum outro contribuiu para a mobilização da resistência contra as guerras da Iugoslávia, Iraque e Afeganistão, que foi o principal organizador da resistência popular contra a política de empobrecimento da UE e da burguesia grega e o que fez mais do que qualquer outro PC no mundo para a ressurreição do movimento comunista mundial, é um agente do imperialismo.

Todas essas declarações foram feitas por Brar em reunião do Center for Policy Innovation (CPI), organização fundada e dirigida por Caleb Maupin, jornalista do Russia Today que acaba de publicar um livro que chama de “aquele que mais se aproxima de um manifesto do Comunismo MAGA” [8]. O chamado CPGB-ML, ao contrário de seu nome, não é nem comunista nem marxista-leninista, mas um exemplo de força que se pinta de vermelho para realmente apoiar a política burguesa. Tais forças tendem a buscar a aliança com a reação mais tenebrosa. Por exemplo, em 2019, o CPGB-ML convocou a eleição do “Partido do Brexit” do político de extrema-direita Nigel Farage para garantir a aplicação da saída da UE [9]. Assim, o CPGB-ML e outros grupos que se atrevem a difamar os comunistas como agentes do imperialismo são, de fato, eles próprios, objetivamente, tais agentes – eles, como os vários partidos “eurocéticos” de direita na Europa, estão espremendo os interesses dos setores mais fracos do classe capitalista que se vê prejudicada pela adesão à UE ou que vê os seus lucros ameaçados pela atual política de confronto com a Rússia e a China. Apesar de sua veia "anti-imperialista", esses partidos apenas defendem uma orientação de política externa diferente dos estados imperialistas em que operam, ou seja, um meio diferente de atingir o mesmo objetivo: garantir e expandir os lucros de seu capital monopolista e financeiro.

Embora não haja mais um campo socialista oposto ao imperialismo, surgiu um campo de pequenas facções e alguns grandes partidos que, em nome da luta contra o imperialismo dos EUA e seus aliados mais próximos, está pronto para atacar qualquer outro país capitalista e apoiar a aliança imperialista. Este campo, que agora se forma na PMAI, é um obstáculo à formação de um polo revolucionário internacional e à reconstrução dos partidos comunistas em todos os países. A fundação da PMAI aprofundou a divisão do movimento comunista, serviu de plataforma para as forças opostas à reforma revolucionária do movimento – e, portanto, a única saída para a crise do movimento comunista.

Na Primeira Guerra Mundial imperialista, a separação organizacional dos comunistas dos social-chauvinistas foi o pré-requisito essencial para poder travar a luta contra a guerra e o domínio do capital. Somente por meio dessa separação as revoluções proletárias na Rússia, Hungria, Finlândia e Alemanha foram possíveis - e porque essa separação veio tarde demais e os comunistas não estavam preparados para a revolução, a revolução pôde ser esmagada em todos os lugares, exceto na Rússia.

Hoje enfrentamos uma situação semelhante internacionalmente - novamente o social-chauvinismo tenta fazer do movimento revolucionário o apêndice da política de guerra de um ou outro centro imperialista. E ainda hoje temos que forçar a separação dessas forças. A corrente defendida pela PMAI deve ser derrotada politicamente e marginalizada na classe trabalhadora, promovendo a auto-organização da classe trabalhadora independentemente da política burguesa e contra o sistema capitalista em geral, contra os capitalistas de todos os países.

___________

Notas:

[1] https://wap21.org/.

[2] O Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários (EIPCO) é uma conferência anual de partidos comunistas de diferentes nações. Em 1998, o Partido Comunista da Grécia (KKE) realizou a primeira reunião para debater as experiências dos partidos e redigir declarações conjuntas.

[3] A declaração de fundação: https://wap21.org/?p=566.

[4] https://www.facebook.com/MarcoRizzo.Ufficiale/posts/pfbid02k38wfsXfivyVqKB4W7w7XuAnzimgePneny3nEcZWDxDP1rjde3sEz2ZifFVhriskl.

[5] Movimento que teoriza o envolvimento de comunistas no Partido Republicano e particularmente na ala de Donald Trump (MAGA de “Make America Great Again”).

[6] https://www.youtube.com/watch?v=lkdrVX4AuqM.

[7] O vídeo da palestra pode ser encontrado aqui: https://www.youtube.com/watch?v=4eS1NLBmgug. A PMAI também publicou o texto deste discurso em seu site: https://wap21.org/?p=3233

[8] https://www.youtube.com/watch?v=8czU4Tp1sx8.

[9] https://thecommunists.org/2019/05/07/news/galloway-farage-brexit-party-eu-election/, recuperado em 25/04/2023.

*Fonte: https://emdefesadocomunismo.com.br/a-plataforma-mundial-anti-imperialista-oportunistas-em-trajes-anti-imperialistas/

Edição: Página 1917

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